Nine

Em dias ensolarados o céu não era de um azul reconfortante e infinito, durante as noites estreladas, elas não passavam de bolas de gás que explodiram a milhares de anos, seu brilho não me afetava mais, e o crepúsculo não tinha o vermelho sangue que me lembrava da fragilidade humana, ou o laranja que lembrava a pelagem das raposas.

Eu já não vivia, eu sobrevivia. Não por Ethan, não pela distância entre nós.

Em tempos de solidão você é obrigado a pensar, e eu pensei, e pensei demais. E descobri que não sei o que fazer se eu realmente voltar, não sei o que fazer se eu não puder voltar, se essa for minha única vida daqui para frente e eu simplesmente não sei e a estou desperdiçando com um Imperador que sequer sabe da minha existência ou se importa com ela.

A floresta estava cada vez mais deserta, sem canto dos insetos e dos pássaros comuns, a floresta estava sem vida, uma floresta vazia, uma flora completamente abandonada por seus antigos habitantes. O único sinal de que não era uma alucinação conjunta era a sensação completamente realista do vento beijando meu rosto agressivamente de tempos em tempos.

Cada passo era torturante, a cada mínimo movimento naquela floresta estranhamente silenciosa era uma tortura para mim, até que prestei atenção.

一 Parem. 一 falei alto o suficiente para eles escutarem, mas não ao ponto de gritar. E eles pararam, a única diferença deles para estátuas eram suas respirações.

O sol se posicionava às 18 horas, o horário do crepúsculo. Nenhum grilo, nenhuma coruja, nada, não havia nada, apenas o silêncio em uma floresta tão grande, com morros tão altos e íngremes quanto penhascos.

Dei mais um passo à frente e só então percebi. Minhas orelhas tremiam tanto que por pouco não alçava voo. Era uma farsa, havíamos entrado no terreno do inimigo, e era questão de segundos para que fossemos atacados.

Estiquei meu braço levemente para o lado.

一 Lua Nova… 一 falei e Ethan se pôs a frente de Angel como seu escudo pessoal. Sorri.

Minha mente estava entrando em sua fase de extremo poder, minha fase forte. Meu corpo queimava, meu sangue era como ácido em minhas veias, o calor que isso me proporciona é reconfortante, me faz sentir viva, capaz.

Em minha mão eu empunhava Moon em uma espada de um prateado pálido e completamente iluminado. Seu punhal era feito de pirita pura, com diamantes azuis esculpidos em formato de todas as fases da lua. A lâmina fina tinha 1 metro de comprimento, e em sua parte plana continha gravuras de estrelas e constelações, além de meu nome Lie Volpi na parte central.

Sei que não é muita coisa, mas em minha forma de guerra eu passei a atingir 1,62 metros de altura, o que é muito para as fêmeas raposas, já em sua maioria não passa dos 1,50 de altura, já que nossa espécie é naturalmente baixa.

A terra sussurrava canções em meus ouvidos, acordes perfeitos para meu sistema nervoso, me passando as coordenadas de cada ser vivo presente naquela floresta. Melodias de dor, desespero e esperança. Era como se eu fosse a terra e ela fosse uma imensa extensão minha, por metros e metros. Cada árvore uma nota diferente, cada arbusto um acorde. Cada passo do inimigo um tempo de um metrônomo invisível, enquanto as batidas do meu coração citavam o ritmo, mas a canção estava incompleta.

O tempo ficou mais intenso, uma nota desapareceu mesmo tão próxima de mim, e eu soube.

Agora.

Do alto de minha nota muda desceu diretamente em minha frente, pronto para o ataque, um homem alto por volta dos 1,90 metros de altura, estava no auge seu porte físico e mesmo que jovem seu imenso cabelo, que era preso pela metade era completamente branco, assim como suas vestes idênticas às de Ethan no estilo cultivador de mana, enquanto seus olhos eram de um azul intenso marca registrada dos lobos brancos.

Seu rosto estava a centímetros do meu, e assim conseguia ver claramente as duas setas em sua testa, sua Marca de Identificação. A Marca de alguém que eu jamais esqueceria depois de minha vida passada.

一 Damon… 一 minha voz saiu entredentes, mesmo que sem expressão.

O lindo rosto angelical, seria considerado o de um deus grego no mundo fora do jogo, lindo o suficiente para tirar o ar, e confundir a mente de jovens donzelas. E aquele sorriso de lado onde mostrava todas as presas bem afiadas de um predador em sua forma de guerra com toda certeza era o toque final, para conquistar qualquer fêmea, mas eu queria destruir aquele sorriso. Dente por dente.

一 Já ouviu falar de mim vermelhinha? 一 falou ele arrogante 一 Sério primo? Admito que ela é bonita, mas duas? E nenhuma é para o seu bico.

一 Vermelhinha? 一  falei indignada.

一 Em geral raposas da realeza são laranjas, as famosas raposas-vermelhas. 一 falou ele olhando em meus olhos 一 Mas como você é híbrida não é 100% vermelha, entretanto está na sua essência.

一 Sabe tudo isso porque também é um bastardo, 一 falei no mesmo tom divertido enquanto colocava as mãos em minha cintura 一 quando é que parará de esconder, branquinho…

Seus movimentos eram suaves enquanto olhava de mim para Ethan, ignorando Angel assim como Ethan fazia inicialmente. Ethan mantinha Angel às suas costas fazendo sua proteção, ou seja, seria apenas eu dessa vez.

一 Pelo que eu lembro da conversa que você esteve com o Imperador, quem era a híbrida que tinha sua proteção era uma raposa. 一 suas palavras eram banhadas em falso ódio, já que todos sabiam que sua mãe era uma híbrida 一 Acredito que ela seja a meia raposa em que falou… 一 começou ele olhando para mim, mas logo mudou sua direção para Ethan.

一 O que você está fazendo aqui?  一 perguntou Ethan em uma voz fria como gelo.

一 Seu pai mandou exterminar todas as manchas da floresta. 一 seu sorriso era lindamente perigoso 一 Mas acho que ele não esperava por isso…

一  Vai se matar em nome do seu tio, branquinho? 一  falei acompanhando seu olhar 一 Já que você também se classifica como uma mancha para ele.

一 Eu vim exterminar você bonitinha… 一 falou ele se aproximando novamente de mim 一 Mas parece que meu querido primo está descumprindo as regras do seu pai, e se envolvendo com outras espécies romanticamente.

Seus passos em direção a Ethan deixava a canção em meu sangue cada vez mais perigosa, e eu avancei um passo, e antes que a meu pé alcançasse o chão a lâmina de uma espada bem conhecida se aproximou de meu pescoço e eu girei, e fui em direção à grama mantendo uma perna esticada enquanto a outra estava encolhida sob mim.

一 Acha que não sei avaliar um campo de batalha? 一 perguntou ele completamente diferente 一 Eu sei reconhecer o meu verdadeiro oponente.

一 Parece que não sabe avaliar muita coisa. 一 falei ainda com a doçura forçada que aprendi com o mesmo.

Ele me olhava de cima a baixo enquanto eu me levantava.

Visto através dos meus olhos, o mundo é um mosaico de sombras e luz, e minha roupa é a expressão perfeita desse dualismo. Ela é feita de um tecido que parece engolir a luz, tão escuro quanto a noite sem estrelas, mas com detalhes que brilham como constelações distantes. O capuz que uso é um refúgio, um santuário que esconde meu rosto e meus pensamentos dos curiosos, em momentos certos.

Os padrões góticos que adornam meu traje são mais do que simples decorações; são símbolos de um legado antigo, de um tempo em que uma pobre garota chorava a luz do luar. E os elementos futuristas, que deixam minha pele completamente exposta em lugares específicos? Ah, eles são a promessa de um amanhã, a prova de que mesmo que eu tenha passado milhares de anos aqui, um dia voltarei.

Meus ombros, um pequeno triângulo em meu busto, estão todos amostra e minhas pernas que estão cobertas até metade da cintura com as botas. Essa é a forma correta de se vestir para confundir um inimigo em épocas conservadoras e em lugares como Wolfpack onde se cobria até o último pedaço de pele.

Cada passo que dou é calculado, cada movimento é uma dança entre o que é conhecido e o desconhecido. Minha roupa não é apenas uma proteção contra os elementos; é uma declaração de quem sou e do poder que possuo. Com ela, eu caminho confiante, pronta para enfrentar qualquer desafio, sabendo que as sombras e a luz são ambas aliadas e estão entrelaçadas, tanto em minha vida quanto em minha alma.

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