Compreensão e Confiança

Pietro permanece uma semana na Itália, desfaz do seu prostíbulo e aproveita para cuidar das três boates que ele tem na região de Nápoles.

—Foi melhor assim ,meu amor! Imagine se a Ane descobre? Tem coisas que não valem pena,nem por todo dinheiro do mundo! - diz Serena

—Eu sei tia, no começo fiquei com raiva do mio padrino, mas depois pensei bem, me acalmei e vi que não valia a pena,por meu casamento e por minha família.

—Isso, guardar segredos desgasta a nós mesmos, ainda que não tenhamos procurado por eles.

—Do que a senhora está falando?

—Nada,só estou fazendo uma reflexão.

Serena abraça o sobrinho,que se despede dos parentes.

—Mande um beijo para minha sorella Antonella e para tuo babbo. Nós iremos visitá-los assim que tua nora e tuo neto voltarem para casa.

—O Vicenzo é tão lindo,padrino! Ane e eu estamos estávamos pensando em um dia no Brasil, ficar mais próximos deles,agora que o Vittorio esta morando lá também.

—Isso é com Don Lorenzo. - Rafael ri

—Veremos, tenho planos de envolver os outros membros da família nos negócios.- diz Lorenzo

—É algo a se pensar, veja o Guilhermo, não dá pra confiar nele,fez merda.- fala Lucca

—Por isso o deixei aqui perto de mim, quero observá-lo melhor. O Guilhermo não é má pessoa,ele não teve um bom treinamento e nem um bom direcionamento.

—O pai dele era um idiota, ignorante toda vida! Deixou correr frouxo com os três filhos, o Apolo fez muita merda também, mil vezes pior do que o Guilhermo. O Escobar nunca gostou da máfia, na primeira oportunidade correu para a França e está lá até lá hoje. - conta Rafael.

—Ah,eu adoro ele,é divertidíssimo! E o marido dele também.- acrescenta Serena

—E ainda tem isso! Ele só pode assumir a sexualidade depois que o pai morreu de tão idiota e ignorante que o Diego era. Mas o pobre do Guilherme ficou aí, perdido, sendo treinado para ser soldado desde cedo, sem estudo sem nada, depois que ele foi abandonado praticamente no altar, então ! Parece que ele piorou de vez, tomou desgosto pela vida. Eu na verdade tenho pena dele. - diz Rafael

Lorenzo olha para mãe, e os dois se comunicam no olhar, Serena começa a compreender os motivos pelos quais o filho o levou para perto dele.

E Pietro, enfim, embarca de volta à Flórida, com todos os seus problemas pessoais resolvidos de vez.

Durante a tarde, com o marido e os filhos fora,a nora descansando com os bebês,Serena dedica-se a leitura na sala de estar.

Ela se levanta e olha para fora das enormes janelas e vê Guilhermo encostado no carro junto com outros soldados, que os vistoriavam,pensa nas palavras do marido e se sente até culpada por ter reclamado dele.

—Eu e o meu coração mole...

Comunica a governanta que irá sair para fazer compras,pega a bolsa e chama os soldados.

—Preciso que me acompanhem, vou fazer compras.

—Claro, vou enviar seis soldados com a senhora. Eu mesmo vou dirigindo. - diz Tony

—Não precisa,o Guilhermo vai. O Lorenzo pode precisar de você aqui na volta.

—Eu?! - surpreende-se Guilhermo

—Sim,algum problema?

—Na...não...podemos ir.

"O que essa diaba está querendo? Vai me foder de vez!"

No carro, Serena conversa com ele.

—Quero que me acompanhe no shopping e vá tomar um café comigo.

—Serena,pelo amor de Deus! Você não saiu do Brasil pra me causar problemas aqui,né!?

—Não, pelo contrário, quero enterrar essa história de vez. Pretendo também contar para o Rafael e para o Enzo o que aconteceu.

Ele freia bruscamente o carro

—Você quer vingança! Quer que eles me matem torturado!

—Não ,quero ficar livre e te libertar também. Vamos conversar com calma!

Ele a acompanha tenso enquanto ela anda calmamente pelas lojas.

—Nada que preste! Vou deixar para fazer isso em Roma. Vamos na cafeteira logo!

Serena pede dois cafés e Guilhermo agita as pernas.

—Calma ! Eu não vou te trazer problemas. Hoje eu ouvi uma conversa sobre você e seus irmãos, entre os homens da casa.

—Aposto que só ouviu coisas ruins.

—Mais ou menos. O Rafael culpa muito o seu pai por vocês ficarem perdidos.

—O mais ajuizado é o Escobar,sofreu muito por esconder que era gay. Eu guardava esse segredo com ele. A mammà era submissa,morreu cedo, acho que de tanto desgosto pelo casamento ruim.

—Eu lembro pouco dela, era uma mulher sofrida. Seu pai não gostava que ela falasse comigo, dizia que eu era uma depravada. - ela ri

—Mas sempre comentava conosco que daria de tudo para ter você uma vez na cama dele,que deveria ser muito boa de fo...desculpa!

—Tudo bem,esse tipo de homem é muito comum,fala mal, mas deseja!

—O Apolo deu sorte,se casou dentro da Camorra e agora é Don no lugar do sogro. Mas eu... - ele suspira - Nasci sem estrela, e se tenho uma, ela tem defeito e não brilha.

Serena o olha com compaixão.

—Por que você não me impediu de fazer aquilo ?

—Eu sempre fui atraído por você,na verdade, eu tinha inveja do Enzo. Ele fez tanta merda ,colocou a família em maus lençóis tantas vezes, mas era o neto favorito de Don Vicenzo, estava sendo treinado pra assumir o clã, o pai o apoiava em tudo e ainda permitiu que se casasse com a própria mulher só pra ele ser feliz também.Meu pai nunca faria metade do que o Rafael fez por ele! Eu tinha inveja da amizade entre ele e o Pietro, que estavam sempre unidos, conduziram o clã juntos. Ele o mandava vir do Brasil para dar treinamento aqui...e o Lorenzo? mais novo do que eu e sem experiência na Camorra e é o novo Don ! A vida deles é perfeita são inteligentes, unidos,tem família,são felizes...e eu? Um estorvo!

—Você fez isso por inveja?

—Sim,mas por desejo também! Eu te queria , mas sabia que nunca a teria, quando você veio me beijando e me chamando de Enzo...mesmo sabendo que era errado eu deixei acontecer. Mas foi a pior coisa que fiz, porque fiquei te querendo ainda mais e você passou a me odiar.

Serena fica em silêncio refletindo.

—Você sabe que não vai acontecer mais nada,né? Depois de treze anos era pra ter superado!

—Eu sei...mas é porque eu tenho uma queda por mulheres mais velhas.

—Os Paolli não gostam de novinhas.- ela ri

—Eu estou perdido Serena, se o Lorenzo tivesse me expulsado do clã não sei o que faria.

—Ele quer te ajudar, conheço o meu filho, ele não te trouxe aqui à toa. Não deixe essa oportunidade passar!

—O Tony me falou a mesma coisa.

—Então aproveite!

Ele a olha nos olhos e sorri.

—Obrigado! Nunca ninguém teve a disposição de me ouvir como você fez. E desculpa por tudo,desde treze anos atrás até agora.

—Se você gosta mesmo de mulheres mais velhas, tenho amigas solteiras e divorciadas que adoram um novinho...e você como é bonito,vai ser disputado a tapas por elas.

Eles dão uma gargalhada

—Estou para fazer uma eurotrip com elas, e Nápoles está no roteiro...

—Já estou ansioso! Estou precisando de uma namorada mesmo.

—Mas olha, são mulheres inteligentes,bem sucedidas e com boas condições financeiras.São mulheres do meu tipo,então se esforce, volte a estudar, e se dedique para Lorenzo colocar você em um bom cargo de confiança no clã.

—Farei isso ,diaba! Ops...

—Do que me chamou?!

—É como eu te chamo quando me sinto atraído.- fala sem graça

—Estou acostumada a ser chamada de feiticeira, mas de diaba é novo!

Os dois ,saem da confeitaria, reúnem os demais soldados e retornam à mansão.

No dia seguinte a família viaja até Roma, Lorenzo deixa Tony de frete e delega pequenas funções para Guilhermo.

—Não me decepcione! Eu não te darei outra chance! Eu te mato!

—Eu vou fazer por onde,Lorenzo! Pode confiar em mim!- diz confiante

Assim que eles embarcam, ele retorna feliz e esperançoso,até receber uma ligação.

—Oi...

—Como estão as coisas aí?

—Melhoraram, Lorenzo está disposto a confiar em mim.

—Ótimo! Podemos voltar aos nossos planos!

—Eu não quero mais fazer parte disso!

—Como assim, Guilhermo?! Você não quer ser o capo, o seu lugar de direito e ainda ter a mulher do Enzo pra si?

—Eu pensei bem, deixa a Serena em paz e quanto a ser o capo, esquece! Estou me convencendo que não tenho talento pra isso,mas posso ser útil e de confiança em outras funções!

—Idiota! Não vai deixar de ser um soldado nunca!

—O Lorenzo já falou que não serei soldado por muito tempo, ele acredita em mim, do jeito que ninguém nunca acreditou!

—Você não vai dar para trás! E eu fodo a sua vida junto com a dele, está me ouvindo?!

O homem berrava do outro lado da linha e desliga o telefone na cara dele.

—E agora? O que eu faço?!

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