Interrogatório

No Brasil, Serena revela a Giulia o que aconteceu entre o primo de Rafael e ela.

—Senta e me escuta. Eu não fiz o que fiz por querer e nem estava cem por cento consciente!

—Disso eu entendo bem...

—Eu lembro das coisas, mas não com exatidão. Estava muito bêbada e havia fumado uns dois ou três baseados.

—E quando foi isso? Antes do Guilhermo vir morar aqui, nós pouco o víamos,só em festas de família e nas viagens anuais que os Paolli fazem juntos todos os anos.

—Foi justamente em uma dessas viagens de verão na reunião do clã. Não sei se você vai lembrar, o Brunno deveria ter uns três ou quatro anos e vocês oito ou nove. Nessa viagem, o Marcos não foi porque ainda estava na vida política, o Lorenzo não quis ir e ficou com ele, assim como o Brunno, que era pequeno. Então, Rafael, Enzo e eu levamos apenas você, o Lucca e a Gi.

—Ah eu lembro! Foi uma viagem para Fernando de Noronha, não é?

—Exatamente!

—Faz tempo! E ele ainda insiste?

—Foi só uma noite! E não aconteceu porque eu quis! Eu nunca olhei para o Guilhermo como homem!

—Então volta no tempo e me explica!

...13 anos atrás, em Fernando de Noronha...

Pelos corredores do hotel, Serena,Rafael e Enzo, sobem aos beijos, completamente bêbados e brisados.

—Vai ficar comigo essa noite sim! A noite passada foi do Enzo!

—E por que não nós três,babbo?

—Eu já falei que não vou dar para você e o seu pai ao mesmo tempo!

—Tá bom! Então eu vou para o meu quarto descansar. Boa noite!

Enzo beija a esposa e sai, enquanto Rafael e Serena entram no quarto aos beijos, arrancando as roupas e indo para o chuveiro onde tomam banho juntos e começam a troca de carícias.

—Eu vou te foder a noite ,minha feiticeira! Te espero na cama, coloca aquela camisola vermelha que você trouxe,mas vem sem calcinha!

Rafael se seca, e vai esperar a esposa na cama, Serena tira as lentes de contato, passa hidratante,usa o perfume que o marido gosta , põe a camisola na cor favorita dele e vai ao seu encontro.

—Ah não Rafa! Acorda!

Ela o mexe de um lado para o outro.

—Depois que você apaga só acorda pela manhã, ainda mais bêbado!

Acesa de desejo, ela resolve ir até o quarto de Enzo e tropeça nos sapatos no chão.

—Porra! Que merda ser míope!Cadê os meus óculos? Não vou colocar as lentes de novo! - ela procura o objeto e não encontra.

—Ah foda-se! Vou logo antes que o Enzo apague também depois de tomar os remédios.

Ela olha o corredor que estava vazio e silencioso. Bate na porta do quarto dele, e não é correspondida.

—Mas é aqui mesmo? Não sei mais de nada! Enzo! Abre aqui!

Do lado do quarto do terceiro marido, a porta se entreabre e Guilhermo trajando apenas um samba canção,põe a cabeça para fora e observa a esposa dos primos com uma camisola minúscula ao lado.

"Essa mulher quer acabar com meu juízo! Ontem não consegui dormir ouvindo os gemidos dela com o Enzo,me imaginando no lugar daquele otário! " pensa

Serena o vê, bêbada e com a visão turva devido aos cinco graus de miopia, ela acaba confundindo Guilhermo com Enzo, que na época, eram muito parecidos, ainda mais por terem idades próximas.

—Estava batendo na porta errada! - ela sai entrando no quarto dele que estava escuro e o agarra aos beijos

—Serena, eu não...

—Cala boca e meu beija, estou cheia de desejo!

Ele a corresponde e passam a noite toda transando.

Já de manhã, Serena acorda com dor de cabeça, nota uma bagunça no quarto e acha estranho já que Enzo,assim como Rafael , é extremamente organizado. Olha para o lado e o vê virado de costas, todo coberto.

—Enzo, tem comprimido para dor de cabeça? Enzo? Acorda!

Ela o vira e grita ao ver o primo dos maridos ao seu lado.

—Guilhermo! O que você está fazendo aqui?

—Esse é o meu quarto, quer dar mais uma agora de manhã?- fala com malícia

—Me larga!

Ela se solta e começa a se vestir.

—O que aconteceu?!

—Você estava fazendo um escândalo no corredor, eu fui olhar o que estava acontecendo e te vi ,deliciosa com essa camisola! Você veio me agarrando para dentro do quarto e nós transamos!

—E você não tentou me impedir?

—Eu até tentei falar, mas você me mandou calar e boca e me pediu pra te comer. Eu sou homem,né?

—Não é homem não! É aproveitador! Eu nunca te dei condições de nada! Você viu que eu não estava legal !

—Eu te desejo e não é de hoje! E você caiu no meu colo, assim, de presente! Eu não poderia desperdiçar!

—Seu filho da puta! Desgraçado!

Ela sai do quarto revoltada e o deixa suspirando cheirando os lençóis na cama.

Serena acha Rafael ainda dormindo,toma banho e se deita ao lado dele.

—Vou dormir pra ver se acordo desse pesadelo!

      De volta ao presente...

—Então você o confundiu com o meu pai?

—Sim!

—E porque nunca contou nada?

—O Guilhermo não tinha nem trinta anos na época, com certeza seu pai e o seu avô o iriam matá-lo! E eu me sentia culpada também,não achei justo. Embora ele tenha dito que sempre sentiu atração por mim, a verdade seja dita, nunca tentou nada comigo! Ele errou por se aproveitar da situação. Mas o Marcos sabe.

—E o que ele fez?

—Ficou bolado comigo,mas esfriou a cabeça e conseguiu entender a situação.

—Ele contou para mio nonno e não babbo?

—Achou melhor não. Até porque nós não víamos o Guilhermo com frequência.

—E ele te perseguiu depois disso?

—Que nada! Ele é cínico, no mesmo dia agiu como se nada tivesse acontecido. Ao longo dos anos agiu normalmente, as vezes notava uma olhar de malícia pra mim, mas nunca passou disso. Ele namorou, ficou noivo e foi abandonado as vésperas do casamento. E eu esqueci do que aconteceu.

—Até ele vir pra cá...

—É! E agora fica tentando desenterrar essa história maldita para me atomentar!

A filha lhe dá um abraço em sinal de apoio.

—Ele é bom de cama pelo menos?

—Giulia!

A moça dá uma risada.

—Qual é? A senhora não é puritana!

—Mas esse assunto não é agradável pra mim! Me incomoda!

A filha levanta as sobrancelhas aguardando uma resposta da mãe.

—Ele é um Paolli! Vocês tem talento nato para o sexo! Por isso não vi diferença entre ele e o Enzo, foi exatamente a mesma foda! Agora esquece disso!

—Me promete ,que se ele a importunar de novo, a senhora fala a verdade para eles e toma uma atitude?

—Prometo! Eu mesma já o ameacei e se tiver que contar a verdade, mesmo que o seu pai e seu avô não acreditem em mim e não me perdoem, eu vou fazer!

......................

Na Itália, chega o dia do depoimento de Lorenzo na delegacia. Ele se arrumou com o seu melhor blazer de grife,cuidou da aparência com esmero para mostrar o seu poder de influência.

Convocou os dois advogados da família e partiu.

—Lorenzo Paolli! Até que enfim o pude conhecer! Confesso que estava ansioso por esse encontro. - diz Dante

—Eu não, sinceramente, tenho mais o que fazer do que perder tempo aqui!

Dante levanta as sobrancelhas, e o sinaliza para sentar. Ele o observa,bem vestido, elegante,discreto com uso de joias ,.diferente da maioria dons mafiosos.

Lorenzo é jovem, e tem uma esperteza já visualizada através do olhar.

—Bem,estou aqui ! O que deseja?

—É apenas uma conversa. Eu recebi umas denúncias contra você. Comerciantes locais reclamam que os seus homens estão os extorquindo e quando não pagam ou não paga o valor total, você vai pessoalmente cobrar de uma forma violenta.

—Eu ignoro os fatos. Porque eu cobraria alguém? Eu não sou o estado!

—Pois é, mas tem uma galera aí que faz um tipo de taxa,uma cobrança de proteção ou como se fosse uma licença para os Comerciantes terem o seu comércio local.

— É fiquei sabendo desse tipo de pessoas, mas eu não tenho envolvimento nenhum,não o senhor!

—Você! Me chame de Dante, temos a mesma idade.

—Então, Dante, você deve saber que a minha família é muito rica, nós possuímos diversas empresas e fábricas de produtos eletrônicos, bebidas destiladas, importamos e exportamos muitos produtos, todos legalizados e com a documentação em dia.

—Claro! Os Paolli são uma família muito tradicional em Nápoles.

—Isso desperta inveja, sabe como é! Essas cobranças devem ser relativas ao fornecimento de produtos que eles não pagaram. Mas as cobranças são feitas de forma legal e pacífica.

—Certo...e quanto a denúncia de roubo feita por Mattia Ferrati ?

—Ele falou alguma coisa?

Lorenzo usa de cinismo e Dante pega a referência.

—É, veio pessoalmente denunciar. Mas os filhos já vieram dizer que ele se enganou.

—Se ele se enganou,porque continuar com a denúncia em aberto?

—Porque ele a fez, então deve retirar. Você conhece a lei, embora, as leis da Itália sejam diferentes das brasileiras.

—Ah ! Eu conheço as leis italianas, as leis da comuna da Nápoles...as estudei antes de vir morar aqui.

—Interessante um estrangeiro ser tão interessado nas leis italianas.

—Eu não sou exatamente um estrangeiro. Tenho dupla cidadania desde os cinco anos de idade.

— Claro! É mais italiano do que muitos italianos!

—Eco! - eles se olham fixamente ambos com olhares intimidadores. - Era só isso, delegado Dante?

—Era, está liberado! As denúncias parecem ser ,infundadas!

—Que bom ! Isso é muito bom para mim....e para você também! Tenha uma boa tarde!

Lorenzo se retira e os policiais entram na sala curiosos.

—E aí chefe! Como foi? O cara parece até ator de cinema, todo bonitão e metido. A secretária e a escrivã estão suspirando lá fora!

—O cara é escorregadio, cínico...se safou do jeito que eu falei ! Mas é só o começo, eu vou pegar Lorenzo Paolli, no tempo certo!

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