Capítulo 12

Jimin

Quando cheguei para a aula, me deparei com os lugares dos meus novos amigos vazios. Sem a presença deles, a sala de aula estava muito mais espaçosa e silenciosa do que ontem.

Por favor, que ele estejam bem.

Quando chegou o final do dia eu estava exausto física e mentalmente. Principalmente por dois motivos.

Motivo 1... Lalisa, a garota que estava em cima de Jungkook ontem era uma bruxa total.

Motivo 2... Eu estava perdido em todas as minhas aulas hoje.

Em cada aula parecia que os professores estavam falando uma língua diferente e sempre que podia, Lalisa continuava fazendo comentários sarcasticos para mim. Primeiro, tudo começou com comentários no corredor, mas com o passar do dia, ela e seu grupo de amigos sempre murmuravam coisas baixinhos ou sussurravam um para outro assim que eu passava.

Agora, se eu estivesse em Seul e as pessoas estivessem falando de mim pelas minhas costas, eu não teria me importado de perguntar qual era o problema, mas aqui por algum motivo, meu subconsciente estava me dizendo para não arranjar problemas com ninguém ainda.

Não por eu ser covarde, longe disso.

Acho que foi porque se eu brigasse com aquela chata e seus amiguinhos, meu avô teria um infarto e provavelmente nos expulsaria de casa.

Eu sabia que poderia cuidar de mim mesmo, anos me metendo em problemas na minha antiga escola provavam isso, mas eu era inteligente o suficiente para saber que se meu avô nos chutasse pra fora de casa, Jihyun teria uma vida instável.

E isso NÃO PODERIA acontecer.

Tentei ligar para minha mãe na hora do almoço para atualizá-la sobre nossa situação e como estamos nos adaptando, mas minha ligação continuou caindo no correio de voz.

_Droga mãe! -eu bufei- Atende esse telefone!

.........

Quando chegamos em casa notei que a caminhonete do meu avô, mas ele não estava em nenhum lugar da casa.

_Jiminie posso assistir desenho animado?

_Claro, se você terminou todo o seu dever de casa, pode sim.

_Não tenho deveres hoje.

_Ok amigão, vá em frente e assista um pouco de TV. Se precisar de mim, estarei no meu quarto.

Eu rapidamente limpei o que havíamos sujado na cozinha, peguei minha bolsa e então fui para o meu quarto para começar a montanha de dever de casa que eu tinha para fazer.

No meio do meu dever de casa ouvi um rangido vindo do sótão. Fiz uma pausa e esperei para ver se ouviria outro rangido e desta vez um baque soou acima de mim.

Sendo um idiota, decidi investigar.

Eu silenciosamente fui até a porta do quarto do Jihyun para ver se ele estava sendo intrometido e enfiando o nariz onde não deveria. Quando descobri que ele estava dormindo, com migalhas de biscoito no rosto e roncando, o descartei como suspeito.

Também verifiquei se o carro do meu avô estava estacionado, pra minha surpresa não estava mais.

Engoli em seco.

Normalmente, eu não acreditava em toda aquela baboseira sobrenatural, mas depois de viver nesta casa cheia de coisas mortas e empalhadas, cada pequeno som me faz pular.

Você não enlouqueceria se sentisse os olhos mortos de um animal seguindo cada movimento seu toda vez que você entrasse em casa?

Eu geralmente ria daquelas pessoas estúpidas nos filmes que correm em direção ao som assustador, mas agora me tornei uma dessas pessoas.

Irônico, não?

Caminhei lentamente em direção à porta, desejando que as batidas parassem. Mas, não. Na verdade, acho que as batidas aumentaram.

_Tudo bem, fantasma ou demônio... -eu disse assim que agarrei a maçaneta da porta- ...eu vou fazer um acordo com você! Não vou incomodá-lo se você não incomodar meu irmão e eu. Você pode assombrar o velho, sua oficina, ou qualquer outra coisa dele, mas por favor não nos assombre. -respirei fundo.

Ótimo, estou perdendo o controle. Contei rapidamente 1...2...3 na minha cabeça antes de puxar a maçaneta e abrir a porta.

Gritei quando um borrão negro me derrubou.

Meu corpo inteiro desligou e tudo que pude fazer foi tremer de medo quando um hálito quente percorreu meu rosto e um rosnado soou em meus ouvidos.

_Achei que tínhamos um acordo!! -eu gritei de medo e comecei a xingar.

O rosnado parou e de repente o hálito quente desapareceu. Quando me atrevi a dar uma espiada, abri um olho e vi um cachorro preto gigante sentado a um metro e meio de mim, abanando o rabo.

Sentei-me, mas o tremor continuou.

O cachorro abaixou a cabeça em sinal de paz e eu recuei hesitantemente. Ele choramingou quando comecei a me mover. Fiz uma pausa e ele se aproximou.

_F-fica! -gaguejei e me amaldiçoei pelo tremor que me acompanhou depois que eu falei.

O cachorro inclinou a cabeça confuso antes de se aproximar.

Eu prendi a respiração.

Quando ele estava a menos de trinta centímetros de mim, fiquei chocado ao olhar para a cor dos seus olhos.

A mesma cor dos meus olhos. Azul com raias púrpura.

_Ai cacete... -eu olhei para o cachorro.

Ele olhou de volta para mim e ficamos presos em uma troca de olhares, até que uma voz alta interrompeu.

_Garoto, o que você está fazendo com esse vira-lata? -a voz do meu avô disse irritada.

Virei minha cabeça e vi quando ele veio em nossa direção com uma carranca no rosto. Levantei-me lentamente, tomando cuidado para não assustar o cachorro.

_Sabe, você poderia ter me avisado sobre o seu cachorro.

Sua carranca se aprofundou e agarrou o cachorro pela coleira. A coleira tinha uma aparencia estranha, elos de corrente de metal e um símbolo estranho esculpido na etiqueta de metal frontal.

_Não avisei porque ele costuma ficar longe de estranhos. -puxou o cachorro pela coleira.

O cachorro gruniu e resistiu, arranhando as tábuas do piso de madeira enquanto era arrastado.

_Espere!! -eu disse- Por que você está colocando o pobre cachorro lá sozinho? Isso é abuso de animais!! Ele deveria estar andando livremente!

Ele me ignorou e continuou arrastando o cachorro.

Fui até ele e agarrei seu pulso, minha raiva aumentando. Desta vez ele parou, e estava prestes a dizer alguma coisa quando seus olhos se arregalaram.

Eu sabia que ele devia ter visto meus olhos mudarem de cor, ficando totalmente púrpura, e pela primeira vez na vida, fiquei feliz por isso ter acontecido. Gostei de surpreender esse velho. Gostei de saber que ele nunca deveria me subestimar.

_Solte o cachorro. -eu disse com os dentes cerrados.

O cachorro rosnou e eu olhei para baixo para encontrá-lo rosnando não para mim, mas para meu avô.

O velho bufou antes de soltar o cachorro.

Olhei para ele antes de acariciar hesitantemente a cabeça grande do cachorro.

_Qual é o nome dele?

_Dragon. -ele disse.

Continuei acariciando a cabeça do cachorro.

_E ele é perigoso? Ele vai nos machucar?

_Duvido muito que ele machucasse algum de vocês. -o velho disse calmamente- Você não é a presa habitual dele.

_E qual seria sua presa habitual?

Ele fez uma careta antes de se virar e descer as escadas.

_Algo, você nunca será.