Capítulo16

"Jia....se eu pedisse um favor você faria pra mim?" Pergunto

"Claro alteza. O que deseja?" Ela diz colocando a bandeja na minha mesa 

Tinha acordado aquele dia com algo em mente. Mas precisaria de ajuda.

Só estudar não é o suficiente. Além disso eu preciso conhecer o povo. E eu só vou ser apresentada a eles quando me casar com aquele imbecil.

Apesar de estar perto a cerimônia eu não quero mais esperar

Se eu quiser ser uma boa governante preciso conhecer de fato o povoado que meus antepassados tem cuidado....

Eu olho pro corredor 

"Fecha a porta e vem até aqui por favor" Digo e ela o faz 

Ela fecha a porta e volta ficando na minha frente 

Eu faço sinal pra ela sentar do meu lado. Ela o faz

Faço sinal pra ela de aproximar 

" Eu preciso de roupas normais, simples. Que dê pra mim usar na rua sem parecer alguém da realeza. Uma roupa comum. Entendeu?" Cochicho e o olho dela se abre em espanto

" Alteza eu não poss-" 

" Você não pode nada? Faz favor.... Olha eu tô pedindo. Ninguém nunca me viu, então ninguém vai saber que eu sou a princesa. Assim eu posso andar na rua e conhecer mais o povo, Jia. É por um bem maior. Eu posso conhecer a cidade e me aproximar das pessoas sem chamar atenção. Só uma veizinha....por favorzinho " Digo fazendo biquinho e juntando as mãos em suplica

" Se descobrirem eu vou ser presa, ou pior. Eu posso ser morta. Além disso e se algo acontecer com a senhora?" Ela pergunta

" Não vai acontecer nada. Eu vou estar no centro, olhando o comércio apenas. Não vou pra longe, eu prometo. Você fica aqui e garante que ninguém venha no meu quarto. Diga que estou com dor de cabeça ou algo do tipo " Digo 

" Perdão alteza mas isso me parece uma péssima ideia..." Ela diz 

" Não vai ser. Eu já tenho tudo planejado. Já olhei os mapas e sei por onde ir...Por favor. Eu só confio em você pra isso..." Digo 

" Desculpa alteza mas não posso" Ela diz 

" Não me faz usar a minha carta secreta, por favor" Suplico  fazendo bico " Vai por favorzinho....eu te libero duas vezes na semana. Alem disso o que você precisar eu te dou....Vaiiiii" Digo segurando no seu braço e balançando se leve

Ela solta um suspiro

" Eu irei com você" Ela diz 

" Não, você precisa ficar e garantir que ninguém vai me procurar" Explico

Ela solta outro suspiro

" Irei buscar minhas roupas...." Ela diz me fazendo sorrir e eu a puxo pra um abraço

" Obrigadaaaaaa" Digo animada 

Quando me afasto ela está com o rosto tomado por surpresa 

" Desculpa, eu não quis ser invasiva" Digo 

" De forma alguma alteza. É só que eu não esperava que a senhora fizesse isso" Ela diz 

" Isso é estranho?" Pergunto

" Não... é apenas que a senhora é diferente. A princesa não é arrogante e não age com desdém....Conheço outras damas da corte que contam o quanto suas senhoras são arrogantes e as humilham. Já a senhora sempre me tratou e trata os outros servos muito bem e pede sempre por favor e agradece pelas coisas que fazemos. A senhora tem um coração muito bom, princesa " Ela diz com um leve sorriso

" Não tem por que eu ser arrogante, Jia. A gente não é diferente. Um título não me faz superior aos outros...Alem disso, ser arrogante só afasta os outros. O príncipe pateta é uma prova disso " Digo rindo de leve e ela ri também.

'' A senhora se parece muito com o rei. Ele agia de forma parecida. Mesmo sendo mais reservado ele tinha um bom coração'' Ela diz

''Você via muito meu pai?" Pergunto

''Não muito, já que quem o servia eram os servos da corte e as damas da corte mais velhas. Mas o rei sempre foi muito elogiado pela forma que agia com os empregados. '' Ela diz

''Eu queria muito ter passado tempo com ele....'' Digo sentindo um aperto no peito. Tento não pensar nisso. Preciso ser forte todo o tempo...não posso vacilar. As pessoas esperam que eu seja forte.

"Voltando pro plano'' Digo mudando de assunto ''Você me ajuda a arrumar meu cabelo também? Eu não sei qual o penteado que as pessoas usam" 

" Claro..irei pegar as roupas e volto em alguns instantes " Ela diz se levantando 

Como animada. Hoje iria sair do palácio e conheceria o reino.

Depois de alguns minutos Jia chega.

Eu me levanto empolgada deixando meu café da manhã pra trás.

Ela carregava uma sacola de pano , parecida com uma mochila

Ela tira alguns tecidos e coloca em cima da cama

''Quando a senhora irá sair?" Ela pergunta

''Agora mesmo'' Digo

''Mas a princesa não terminou a refeição'' Ela diz

''Tá tudo bem. Eu nem estou com muito apetite assim'' Digo pegando as roupas '' Como veste?'' Pergunto

''Vou ajudá-la'' Ela diz e me ajuda a tirar o meu vestido

Depois ela me ajuda a colocar o outro vestido

Ele era bem mais simples que as minhas roupas habituais mas não deixava de ser bonito.

Era um vestido tomara que caia folgado. Embaixo do vestido, estava usando uma blusa de manga longa com um tecido leve.

O vestido ficava preso por uma corda fina, acima do seio, passada por cima dele . A blusa era rosa clara, quase branca. E o vestido era um laranja escuro, puxado pro marrom

Eu me sento na almofada e ela me ajuda a arrumar o cabelo.

Era um coque totalmente preso. Ela coloca um palito pra enfeitar.

''Acho melhor tirar o palito. Ele por si só já chama muito a atenção...'' Digo e ela o faz

Me olho no espelho

''Pareço outra pessoa'' Digo sorrindo '' Pegue a capa pra mim. Eu vou usar ela até a saída do palácio'' Digo

''A senhora irá sair pelo portão da frente?" Ela pergunta

''Não. Eu irei sair pela entrada e saída de cargas. É menos arriscado...'' Digo

Coloco a capa e pego meu leque.

Vamos andando pra fora da casa. Abro o leque e coloco em frente do rosto quando vejo alguém se aproximar.

Chego perto da saída e  vou pra trás de alguns caixotes empilhados. Entrego a capa e o leque pra Jia.

''Eu não vou demorar, eu prometo. Se alguém perguntar eu estou com dor de cabeça e não quero ser incomodada'' Cochicho  e ela concorda com a cabeça

''Toma cuidado alteza. Por favor'' Ela cochicha de volta

''Pode deixar. Agora vai'' Digo e ela o faz

Olho em volta e vejo que não tem ninguém prestando atenção e vou andando pra fora.

Eu consegui! Eu sai do palácio!

A sensação de liberdade começa a me preencher

Ando mais um pouco e vejo que algumas pessoas se aproximavam da entrada.

Vou pra trás de uma árvore mais grossa me escondendo  e espio com atenção.

Espero por um tempo observando eles passarem.

"Você poderia chamar um pouco mais de atenção" escuto aquela voz familiar que me faz dar um pulo virando em sua  direção

O que esse idiota tá fazendo aqui?

Reviro o olho

"E você poderia ir cuidar da sua própria vida " Digo

Olho em volta 

Vejo que a barra está limpa e começo a andar 

" Aonde você pensa que você vai?" Ele fala me fazendo parar virar pra ele 

" O certo é aonde vossa alteza pensa que vai. E aonde eu vou não é da sua conta" Digo debochando voltando a andar 

Escuto seus passos vindo em minha direção.

Ele segura meu braço me fazendo virar pra ele 

" Você perdeu o juízo? Você vai sair por aí sem rumo?" Ele pergunta

" E o que cargas d'água isso tem haver com você , o da franjinha? Eu posso fazer o que eu bem entender. Eu sou a futura rainha esqueceu? Agora dá licença" Digo puxando meu braço e voltando a andar 

" Eu não vou permitir isso." Ele diz 

Eu me viro pra ele abrindo a boca fingindo estar em choque 

" Oh pelos céus! E é claro que eu vou te obedecer e voltar pro palacio agora mesmo!" Digo debochando " Há vai ver se eu estou na esquina e deixa de ser chato " Digo 

" Por que eu iria ver se você está na esquina se você está bem aqui na minha frente?" Ele pergunta confuso e eu reviro o olho 

" Aff... Só vai procurar algo melhor pra fazer " Digo voltando a andar 

" Eu ordeno que pare!" Ele fala firme o que me faz dar risada 

Eu me viro pra ele 

" E eu ordeno que você vá pentear macaco" Digo "Com que autoridade você acha que pode ordenar algo sobre mim? " Pergunto 

" Eu sou o seu noivo" Ele diz sério 

" Mas não é meu dono" Digo, mostro a língua pra ele e volto a andar 

Não escuto mais passos atrás de mim 

Cara chato....

" Eu ordini qui piri mimimimi, seboso" Digo pra mim mesma 

Vou andando pelas ruas....era fácil já que ninguém nunca tinha me visto antes...e as roupas que Jia havia me dado me faziam encaixar perfeitamente, então eu era apenas mais uma moça na multidão.

Pelas coisas que eu lia no livro era fácil perceber que o reino era bem desenvolvido, e olhando do lado de fora dá pra ver que não é apenas o palácio que era assim.

O reino Long era conhecido por ter uma infraestrutura moderna em relação aos outros reinados. E pelo que eu lia, os reis foram muito generoso com o povo, os reis sempre foram preocupados com o bem estar do povo, e com o fato de eles terem acessos as coisas boas. Até saneamento básico existia aqui.

As ruas eram limpas, sem sujeiras ou lixo espalhado e muito menos esgoto escorrendo solto pela rua.

As crianças brincavam na rua, e olhando pra elas vejo que elas estão bem vestidas apesar das roupas simples. Não estavam sujas ou com as roupas rasgadas, e muito menos com cara de que estão passando fome.

A economia e o incentivo aos trabalhos manuais e a agropecuária que era dominante nesse reino,  fizeram esse lugar ser bem desenvolvido, e ajuda as pessoas a terem um emprego decente, garantindo que elas tenham suas necessidades supridas...

Aqui era um lugar bonito. Sinto meu coração aquecer olhando em volta, vendo tudo que meus antepassados fizeram com a ajuda do povo.

Avisto uma lojinha que me chama atenção. Resolvo entrar e olhar as coisas que vendiam ali

Parecia que eu tinha entrado em uma loja de antiguidades, claro, não pra eles....pra eles isso tudo era normal, as coisas não eram antiguidades...

Eu vejo alguns acessórios femininos...um mais lindo que o outro.... 

Eu vejo um palito de cabelo que eu fico apaixonada.  

Era lindo...o metal dele era todo dourado no corpo e na ponta o metal era retorcido imitando um galho. Ele tinha algumas pérolas presas no galho. No começo do galho tinha uma flor que lembrava as flores de cerejeiras na cor azul clara. E no final do galho havia outra flor de cerejeira só que menor, como se estivesse desabrochando. Na ponta do galho embaixo da ultima flor, havia algumas correntes penduradas, e na ponta das correntes, folhas feitas do mesmo material das flores.

''As flores são feitas de jade azul legítimo'' A vendedora fala

''É lindo! Eu nunca vi algo tão bonito assim...'' Digo

Eu tinha vários palitos de coque no palácio. E todos eram muito bonitos cheios de pedras, mas esse....era tão delicado e tão bonito

''Quanto custa?" Pergunto

''Custa 10 moedas de prata '' Ela diz

Quanto será que isso custava no dinheiro de onde vim? Eu lembro que não pedi dinheiro pra Jia e não tinha um tustão furado comigo...

''Sinto muito mas eu sai de casa sem dinheiro...'' Digo colocando de volta no lugar '' Mas é muito bonito...'' Digo um pouco triste '' De qualquer forma obrigada'' Digo curvando a cabeça de leve com um pequeno sorriso ao qual ela retribui

Saio da loja e volto a andar pelas ruas...

Vejo uma loja que vendia coisas pra desenho e meu olho se arregala em felicidade.

Vou até ela olhando as coisas.

Os papeis eram diferentes...mais grossos...

Basicamente os instrumentos de pintura eram carvão, tinta preta e pincel.

Não tinha tinta colorida ou lápis com a ponta fina...

Automaticamente sinto falta de desenhar e uma nostalgia toma conta de mim.

Sinto falta do meu apartamento, das minhas coisas de pintura, de pintar com minha mãe nos fins de semana...

Vou pra frente da loja saindo, mas paro olhando as crianças brincando na rua, me fazendo sorrir.

Meu sorriso se desfaz quando  escuto uma gritaria  e uma comoção grande.

Olho na direção da gritaria e vejo que descendo a rua vinha uma carroça sem freio.

Ela ia na direção das crianças!

Algumas delas correm, mas uma  fica parada com medo. Meu olho se arregala em pânico e sinto meu corpo queimar....

Não ia dar tempo....

Eu apenas fecho o olho pra não ver a cena e fico surda por alguns instantes....

Então  sinto meu braço pesado....

Abro o olho devagar...

Estava agachada no chão. Um braço meu estava envolvendo a criança,  que estava parada, em um abraço.

Quando olho pro outro braço eu sinto pânico e minha respiração começa a ficar ofegante.

Meu outro braço estava esticado segurando a carroça.

Onde minha mão estava a madeira havia afundado quebrando um pouco em volta.

Solto a criança e ela corre dali.

Me levanto devagar e olho minha mão. Não estava machucada e meu braço não doía.

Olho em volta e vejo as pessoas me olharem horrorizadas....

Sinto um desespero.

Algumas falam algo mas eu não escuto.

Então percebo que elas começa a se aproximar devagar....

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