Nosso passado

Repito! É uma história de trisal!

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Rafael chega em casa em silêncio, não falou com mais ninguém durante o resto do dia. Delegou à Teco as decisões dos negócios, se trancou no quarto e dormiu,estava se sentindo mal de uma forma que nunca ocorreu,era tristeza! Mas antes mandou uma mensagem para Serena.

"Oi? Já estou desbloqueado, né?"

"Sim"

"Que horas você chega?"

" Por volta das 19h"

"Vou providenciar o jantar para nós dois. Te amo"

"Ok"

Aquele "ok" o deixou pior ainda.

Ao acordar ele pede comida japonesa para Serena, embora ele deteste, encomenda também uma boa comida italiana em um restaurante para ele. Preparou ele mesmo a mesa, separou o vinho e escolheu um filme que Serena gostaria de ver. Arrumou a cama e borrifou essência de bambu,a favorita dela.

Tomou um banho demorado,fez a barba, depilou os pelos do corpo pois sabe que ela gosta. Colocou uma roupa confortável e o perfume favorito dela. Sentou no sofá e enquanto a aguardava, pensou em como ele já conhecia os seus hábitos e gostos , e como poderia amar tanto essa mulher a ponto de dormir de tristeza um dia inteiro.

Serena chega com a mala e carregando o buquê de flores que Rafael lhe deu mais cedo. Imediatamente ele se levanta e vai ajudá-la.

—Você quem arrumou a mesa?

—Sim, não levo muito jeito...mas acho que ficou bom.

—Ficou sim! - ela põe as flores no único jarro que sobrou após o ataque de fúria de Rafael - vou tomar um banho e já desço.

Ele coloca o vinho nas taças enquanto a aguarda.

Serena desce vestindo um conjunto de renda e seda rosê,era curto e sedutor,Rafael a olhou com desejo,mas se controlou até para elogiá-la. Não queria dar nenhum vacilo.

—Você odeia japonês Rafa! Vai comer o quê?

—Encomendei uma boa massa pra mim.

Enquanto comem, o silêncio paira entre eles. Rafael decide quebrar o gelo.

—Não sei como você pode gostar disso. Peixe cru,comida sem gosto e sem graça!

—Deixa eu experimentar a sua comida. – ela dá uma garfada no tagliatelle com frutos do mar dele. –Nossa,está perfeito! Eu amo um japa, mas comida italiana é a melhor do mundo sem dúvidas!

—Se eu soubesse teria pedido para você também, minha deusa!

— Mas está ótimo, eu como um pouco do seu. - ela sorri e o coração dele se aquece.

—Você não costuma cozinhar, não lembro de ter comido nada feito totalmente por você.

—Eu sou péssima na cozinha! Minha mãe sempre cozinhou em casa e depois que casei ,quando não pedíamos comida, era o Marcos quem cozinhava ,ele manda muito bem,faz cada massa perfeita!

Rafael se ressente e Serena percebe.

—Desculpa...- ela diz.

—Como vocês se conheceram?

—Rafa...porque isso agora?

—Está tudo bem, eu só quero saber mais...

—Nós temos amigos em comum.

—Pode falar tudo desde o início, de onde ele é...eu quero saber o que essa cara tem, que o faz ser mais digno de você do que eu.

Serena respira fundo.

—Marcos é do interior de Minas, família evangélica, foi bem educado, criado na humildade. Veio para o Rio em busca de oportunidades, fez faculdade,trabalhou muito duro, fez concurso e passou para a policia civil.Nos conhecemos em uma barzinho, fomos convidados por amigos em comum, mas como éramos os únicos caretas ficamos deslocados. Acabamos conversando, vimos que tínhamos muito em comum, trocamos contato e não paramos mais de nos ver, cinco anos depois nos casamos. Foi com ele que perdi a minha virgindade.

Rafael levanta as sombracelhas e toma um gole de vinho, respirando fundo com a última informação.

—Vocês pareciam se amar...o quê fez você dormir com um estranho aquela noite?

— De dois anos pra cá, ele começou a se destacar dentro da corporação, entrou em casos de grande repercussão nacional que exigiam sigilo e horas a fio de investigação,e em paralelo,ele se preparava para a prova interna de delegado,ficamos distantes, quase não nos víamos, transavámos duas vezes no mês...eu estava cansada de não ter vida e ele não entendia isso. Fora que eu queria muito ser mãe e ele não queria ter filhos.

—Você quis ter um filho dele e não quer um meu!

—Estávamos casados...é diferente. Mas, e você? Me conta sua história.

—Mio babbo e mia mamma são de Nápoles, ele fazia parte de um clã da Camorra,mas houve um racha com um tio meu e resolveram vir para o Brasil. Minha sorella Antonella deveria ter uns 4 anos e eu estava na barriga da minha mamma. Eles se instalaram em São Paulo onde nasci, mas cinco anos depois nos mudamos para o Rio onde os negócios do meu pai fluiam melhor.

—E como foi a sua juventude?

—Estudei nas melhores escolas, fiz faculdade de administração de empresas e nesse tempo já estava gerenciando os negócios junto com o babbo.

—Você ainda vai fazer 40 anos, foi pai cedo...como conheceu a Érica? Porque se casou tão novo!?

— Ela era uma foda que eu tinha na mesma comunidade que o Teco morava, mas foi malandra e deu o golpe da barriga. Meus pais esperaram o Enzo nascer, fizeram DNA e me obrigaram a casar. Tinha que ver a minha cara nas fotos do casamento, tudo bem que foi só uma cerimônia civil,bem diferente das suas fotos alegres e felizes. Passei dezessete anos morando com uma mulher que odiava! Comia uma vez ou outra quando estava sozinho e sem nada pra fazer. Mas nunca a amei,nunca... e esse ódio respingou no Enzo. Não fui um bom pai pra ele, eu sei disso. Já faltei festa de aniversário dele porque estava em noitada no puteiro.

Serena levanta as sombracelhas e come outra peça de sushi.

—Agora que já sabemos de parte do nosso passado,podemos falar do nosso presente?

—Vamos brigar?

—Não, vamos conversar!

—Então...

—Me fala a verdade, você ainda ama o seu ex marido?

—Sim!

Rafael sentiu o chão se abrir em baixo dos pés, todos os planos que fez com Serena ...

—E o quê você sente por mim?

—Eu também te amo!

—Isso não pode ser possível Serena! Ou você ama a ele ou a mim!

—Eu sei! Mas eu tenho emoções diferentes com os dois. O Marcos é segurança, carinho, fidelidade,confiança.

—E o que eu sou pra você?

—Adrenalina, paixão,loucura, medo e incerteza.

Rafael olha pra baixo em seguida se levanta. Enche a taça de vinho e senta da varanda. Serena recolhe os pratos e desfaz a mesa,em seguida sobe para escovar os dentes e se deita. Ela percebeu que tinha um filme no ponto de começar, provavelmente Rafael havia deixado. Ela pensa nele sozinho lá em baixo e desce para chamá-lo,mas não o encontra. Liga para seu telefone e ele desliga. " Onde será que ele está?" Ela resolve ver o filme sozinha pra tentar distrair e acaba dormindo.

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Rafael dispensa os soldados e sai de casa sozinho,pega o carro na garagem do prédio e faz uma ligação.

—Delegado Marcos Brandão Viana?

—É ele. Quem está falando?

—Aqui é Rafael Paolli, quero me encontrar com você!

—O que você quer? Cadê a Serena?

—Ela está muito bem e segura, na nossa cama...

Marcos sente o sangue ferver.

—Me diz logo o que você quer!

—Quero me encontrar com você, sozinho!

—E quem me garante que não é uma emboscada?

—Se acontecer alguma coisa com você, mesmo que não tenha sido eu, a Serena nunca mais olha na minha cara.

Marcos ri do outro lado.

— Onde você quer me encontrar?

—No bar 009 da Vieira Souto.

—No seu empreendimento?

—Conhece bem os meus negócios...lá poderemos conversar reservadamente em público.

— Estarei lá em 30 minutos.

Eles desligam e partem para o local. Rafael coloca sua arma na cintura e Marcos recarrega a sua.

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