Voltando pra casa

Quando voltei , a mim , estava eu sendo escorraçada do prédio onde eu trabalhei por 10 anos , onde eu perdi 10 anos da minha vida ali me dedicando , pra quê!? Para ser trocada na primeira oportunidade. Eles jogaram as minhas coisas em uma caixa de papelão e me jogaram pra fora do prédio , junto com as minhas coisas como se eu fosse um cão sarnento , dizendo que eu seria demitida por justa causa e para eu nunca mais pisar os pés ali .

Eu peguei minhas coisas , e sai com uma caixa na mão e lágrimas nos olhos .

Voltei pra casa andando porque eu precisava tomar um ar , entender o que aconteceu. Agora que eu tinha todo o tempo do mundo e estava sem rumo , eu comecei a observar as pessoas na rua , elas andavam com tanta pressa que elas nem via o que estava acontecendo ao seu redor .

Eu parei em uma praça, sentei em um banco e fiquei só observando tudo ao meu redor .

Vi as borboletas várias borboleta 🦋 coloridas voando pelos campos floridos cheios de flores coloridas, os pássaros cantando , o sol brilhando e o céu em toda sua glória e esplendor azul . Mas também havia pessoas, um monte de pessoas , mas elas não via nada daquilo que eu estava vendo elas estavam com seus próprios Antolhos ( aquilo que o cavalo 🐴 usa pra olhar só pra frente ) , ninguém conseguia enxergar além de só pra frente, Deus me livre olhar para os lados , pra o céu então .

Eu olhando pra aquilo tudo , me deu uma epifania . Eu era uma daquelas pessoas , chega eu disse , eu não vou mais trocar minha vida por papel .

Então naquele momento ali eu tomei a decisão que iria mudar toda a minha vida.

Eu não iria trabalhar por um tempo , iria me encontrar.

Pela primeira vez em anos , me dei ao luxo de pegar um carro de aplicativo e fui pra casa .

Chegando lá , coloquei meu apartamento pra alugar , coloquei todas as minhas coisas pra vender que não coubesse dentro da minha mochila , e olhei quanto eu tinha na minha conta .

Eu tinha conseguido guardar um bom dinheiro , trabalhando como escrava, fui até a imobiliária e deixei meu apartamento lá para eles alugarem , eles iriam administrar e só me enviaria a grana do aluguel , móveis , panela , roupas , tudo o que eu não usaria , coloquei em um site de usados pra vender .

Juntei o máximo de dinheiro possível .

Em 15 dias eu consegui alugar o apartamento, vender tudo o que eu não queria mais e apenas com um mochilão nas costas eu entrei dentro do meu carro velho e caí na estrada sem destino .

Eu iria pra onde o destino me enviasse .

Comecei a dirigir sem rumo, comprei um monte de tranqueiras e comia dentro do carro mesmo , enchi o tanque e dirigi o máximo que eu podia .

Eu só dirigia na direção do interior , eu queria ir pra qualquer cidade bem do interior , quanto menos gente , menos habitantes e mais natureza melhor .

Eu parava a noite em algum estacionamento de 24 horas e dormia no carro . só almoçava em lanchonete e comprava algumas tranqueiras pra comer no carro .

Depois de uma semana , dirigindo sem rumo e sem parar, comendo mal , dormindo mal , tomando banhos horríveis em paradas de caminhão , uma coisa aconteceu .

Eu atropelo alguma coisa . Estava meio escuro e eu não estava enxergando bem , juntando todo o resto .

Saio do carro desesperada, achando que eu matei alguém. Quando eu vejo tem um mendigo no chão .

Entro em Pânico , não sei o que fazer .

Pego o mendigo e coloco ele no meu carro e o levo para um hospital mais próximo .

Chegando no hospital eu entro e falo com o segurança ;

- Por favor, você poderia me ajudar com uma cadeira de rodas, estou com uma pessoa ferida no meu carro .

- Claro, senhorita .

O segurança quando olhou para o homem , vendo seu estado sujo e fedido disse com muito preconceito;

- Mas é um mendigo, senhorita .

Respondo puta;

- E daí , só porque ele é mendigo não merece ser atendido ?

Ele ficou bem sem graça com minha resposta e disse;

- Claro , que sim não foi minha intenção.

Eu apenas corto ele e falo :

- O senhor pode me ajudar ou não ?

- Claro que sim, senhorita .

Então ele me ajudou a colocar o mendigo na cadeira de rodas e a empurrar ele até dentro do hospital .

Chegando lá ele foi atendido imediatamente, ele estava desacordado.

A atendente falou comigo :

- Senhorita , você precisa ser responsável por ele, caso ao contrário não poderemos atender ele.

- Claro , mas você poderia me dizer qual cidade estou , porque estou dirigindo a dias sem direção?

A atendente então respondeu ;

A senhorita está na cidade de Borá , somos a cidade com menos habitantes do interior de são Paulo , atualmente temos 907 habitantes.

Eu escutei tudo aquilo e parecia que finalmente eu tinha chegado no meu destino, era exatamente isso que eu estava querendo pra mim .

Então eu falei pra recepcionista:

- Muito obrigada por sua informação, você saberia me informar onde tem alguma corretora , eu gostaria de me instalar por aqui .

- Senhorita toma aqui o cartão da única corretora da cidade .

- Muito obrigada.

- A senhorita, vai ficar responsável pelo indigente ?

Eu vi ele como sendo meu anjo da guarda, eu só parei na cidade por causa dele e claro que eu teria que ser responsável por ele foi eu que o atropelei .

- Sim, eu vou ser responsável por ele , mas a cidade sendo tão pequena vocês não conhecem ele ?

- Não senhorita, ele deve ter vindo de longe andando de outra cidade.

- Entendi .

- Pode me dar seus documentos por gentileza.

- Claro, toma .

Assim que eu fiz o cadastro no hospital para o meu amigo indigente, um médico me chamou .

- Senhorita Angélica Queiroz.

- Pois não Doutor ?

- A senhorita que é responsável pelo indigente?

- Sou eu mesma .

- Então , fizemos uma cirurgia de emergência nele, ele vai ficar com as pernas imobilizadas por um tempo . O paciente deve permanecer no hospital por uns dias .

- Eu posso ver ou falar com ele ?

- Agora ele está sob o efeito de anestesia, amanhã ele deve estar acordado.

- Ok, muito obrigado.

Como já era tarde , eu resolvi dormir ali no meu carro dentro do estacionamento do hospital mesmo , já que eu ainda não tinha nenhum lugar pra ir .

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