Capítulo 17

...Naquela mesma noite, no quarto escuro de Devyl, após o sexo, ele se deitou sozinho em sua cama, olhando pela janela para as estrelas e imaginando o que nunca teria: Kairós. Talvez fosse melhor assim. Ele era um homem doente, fadado a uma vida curta por causa daquilo que o atormentava....

...Ele pegou o anel que guardava na gaveta e observou as inscrições: "Não esqueça de mim, meu demônio." Devyl se perguntou para quem aquele anel foi feito....

...— Talvez tenha sido feito para alguém especial, alguém que eu não sou. — lamentou consigo mesmo....

...Sem muitos questionamentos, Devyl colocou o anel no dedo mindinho, decidindo honrar o pedido da idosa que lhe entregara....

...Antes de ceder ao sono, ele já imaginava que aquela noite seria difícil. Previu que veria inúmeros monstros e visões de sua própria morte. Odiava ficar triste, pois quando se sentia assim, sua mente se tornava um lugar sombrio e desesperador....

...Devyl sabia que gritaria. A primeira magia que aprendera naquele lugar foi um feitiço para restringir o som em seu quarto, de modo que ninguém ouvisse seus tormentos noturnos....

...Meia hora se passou e, quando Devyl estava prestes a cair no sono profundo, os pesadelos começaram. Sua mente acordava, mas seu corpo permanecia imóvel, e aquilo se repetia inúmeras vezes. Quando não estava paralisado, gritava enquanto dormia, sentindo a dor nos sonhos....

...Após várias tentativas frustradas de dormir, ele desistiu. Ficou acordado, encolhido sob o lençol. Perguntava-se como ainda tinha forças para suportar aquilo. Por que não sucumbia de uma vez?...

...Ele havia se saído tão bem nos últimos tempos. Os pesadelos haviam dado uma trégua, mas bastará ficar triste para que voltassem. Decerto teria que esquecer Kairós e focar sua mente em outras coisas para que a solidão não ocorresse de novo. Viver como um mendigo nas ruas o ensinará a encontrar alegria nas pequenas coisas do dia a dia. À noite, dormia sorrindo. Mas agora tudo era diferente, e seu coração doía de uma forma desconhecida. Era amor ou algo mais?...

...Não importava. Ele estava determinado a esquecê-lo....

...Os dias se arrastaram e Devyl enfrentou aquele tormento por uma longa semana. Ao completar uma semana, sua aparência já denunciava os sinais do sono acumulado. Seus amigos perceberam e se preocuparam. Sabiam o que se passava, mas infelizmente nada podiam fazer. Alex, em especial, se sentia impotente por não saber como ajudá-lo....

...Contudo, dentre todos no santuário, quem mais compreendia o sofrimento de Devyl era Kairós. Mesmo separados, evitando o contato visual, ele ouvia, no silêncio da noite, os lamentos de Devyl. Por meio do pacto com Lúcifer, tinha uma audição apurada e qualquer som, não importava quão sutil, chegava até ele. Assim, Kairós vinha testemunhando o sofrimento do homem que ainda amava desde o primeiro dia....

...Naquele momento, estavam em uma arena abaixo do santuário, treinando conforme o ensinamento de Trevis. Kairós estava escondido no andar de cima, observando o semblante triste de Devyl e se sentindo impotente diante daquela maldita doença....

...— Bem-vindos, candidatos e futuros adeptos. Para aqueles que ainda não me conhecem, sou Trevis Muller, Adepto de Lúcifer, assim como o mestre Kairós....

...— Meu domínio sobre a magia é avançado e estou a um passo de atingir o nível de mestre, assim como o mestre Kairós. Hoje, ensinarei a vocês como usar a magia para conjurar armas ou reforçá-las, bem como criar escudos e fortalecer seus corpos para, em batalha, resistirem a golpes que, de outra forma, os fariam se partir ao meio ou terem suas entranhas espalhadas....

...A aula prometia ser estimulante. Todos estavam ansiosos por ela há mais de um mês, pois compreendiam sua relevância. Aquilo era uma das habilidades mais aguardadas e seria ministrada por alguém com experiência em combate, alguém que serviu Lúcifer e lutou na última batalha do apocalipse....

...— Lembrem-se, um humano sem pacto é um bruxo com domínio de magia básica, uma forma de magia com limites, sem uma fonte definida. Quem não possui um pacto utiliza partículas de magia que permeiam o ar, esgotando-se com o tempo e levando horas para se regenerar. Já um Adepto tem um caído, um demônio arcano, como fonte inesgotável de magia. No entanto, até Adeptos possuem seus limites, mesmo que estes perdurem por muito tempo numa batalha....

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