A TRANSFORMAÇÃO DE CAIM
O LOBISOMEM BRANCO
Caim desde que tivera sua última conversa com o Onisciente e Ele o marcou, estava sentindo fortes dores em seu corpo como se algo estivesse mudando dentro de si. O primogênito de Adão sabia que estava ocorrendo alguma coisa em seu corpo, uma mudança, sentia-se diferente. E concluiu que era essa a marca que o Criador havia posto nele. Uma marca que todos iriam ver e o identificariam como o assassino de seu irmão. Sua pele que era morena começou a ficar mais clara, sentiu a mudança de seu organismo. Sentiu o calor escaldante do deserto em sua pele que ardia como se estivesse queimando, algo que não sentia, pois por ser um homem da terra, estava acostumado a ficar n o sol.
Depois de tomar léguas de distância de qualquer parente seu, o homicida parou num vale arborizado em volta de um grande oásis, onde foi obrigado a descer de sua montaria, pois estava com fortes dores em todo seu corpo e não conseguia cavalgar mais de tanta agonia que sentia. Caim caiu próximo a um manancial de águas e começou a sentir os músculos de seu corpo se contorcer, seus órgãos internos estavam fervendo e seus olhos ardiam como se estivessem pegando fogo. Os dedos das mãos e dos pés começaram a se alongar, suas unhas escureceram e em questão de minutos se tornaram garras. Suas pernas e braços se alongam. Seus ossos se tornam mais grossos do que galhos de árvores, a produção de cálcio se torna extremamente intensa para recriar um novo esqueleto. O crânio aumenta de tamanho e se deforma causando em Caim um tormento indescritível. Depois dos ossos, começa a metamorfose dos órgãos internos em seguida da pele. Ela estica e se rasga para o surgimento da mandíbula que é alongada. O nariz muda de tamanho, as gengivas se rompem com o nascimento de dentes afiados e pontiagudos, fazendo grande quantidade de sangue escorrer pela boca. A produção de cartilagem é impressionantemente aumentada para a remodelação das orelhas que ficam grandes e pontiagudas. Em toda a extensão de sua carne começam a surgir pelos brancos como a cor de ossos, eles são grossos e cobrem todo seu corpo, por fim a coluna vertebral desenvolve um novo membro, uma cauda composta por vinte e cinco vertebras encerrando assim a transformação de homem em besta em aproximadamente quatro longas horas intensa e de agonia plena.
Caim se torna uma incrível e fantástica criatura bestial em forma lupina com mais de três metros de altura, dotada de garras afiadas e presas afiadas, um ser único no mundo. Um lobo homem.
Pressentindo o perigo de um predador na sua presença, o cavalo de Caim relincha e bate com violência as patas dianteiras na areia até soltar a corda de couro que o prendia num pequeno toco enterrado no chão. O quadrúpede debanda com tamanha velocidade que Caim nem nota que o animal empreendeu fuga do lugar.
Alucinado e totalmente fora de controle Caim começa a correr a esmo. Coloca a força de seus novos músculos em seus braços e pernas, em pouquíssimos segundo atravessa o oásis que estava o manancial e se depara com um rebanho de sete Kungas[1]* que comiam vegetação do oásis. O monstro lupino não pensa em mais nada, somente em violência e instintos predatórios, em segundos a fera os ataca e os mata com extrema precisão. Em seguida destroça os corpos e começa a rasgar a carne sem parar. Bebe do sangue como se água fosse depois como um leão que começa a comer sua presa pelas entranhas, a fera se delicia com as vísceras e órgãos cheios de sangue e líquidos corporais. Não deixou um inteiro, só deixou carcaças para os abutres. Passou a noite comendo-os e sua fome não saciava nunca. Às vezes parava de mastigar, erguia o focinho para cima e sentia o cheiro de outras criaturas pelo imenso vale, porém, naquele momento estava plenamente satisfeito com o que estava fazendo e não iria sair dali para caçar mais nada.
No surgimento do primeiro raio de sol Caim foi acometido por um solavanco em seu corpo, sentiu cada célula de seu organismo se realocando novamente num processo inverso à transformação inicial. As unhas negras caíram na areia, em seguida os dentes da boca e por fim os pelos do corpo, uma quantidade exacerbada de excremento saiu por seu anus juntamente com um jorro de sangue por sua boca que voltava gradativamente ao tamanho humano. Novamente seu crânio sofria uma metamorfose inversa diminuindo de tamanho. A perda óssea era extremamente dolorosa a qual o fazia urrar de dor. Em pouco mais de uma hora o monstro de pelos brancos havia voltado à forma humana.
Sem saber algo em todo seu corpo havia mudado para sempre.
Continua...
[1] Kungas. Animais característicos da Mesopotâmia ou se assemelhavam muito com cavalos, mas não eram cavalos e sim uma espécie diferente de quadrúpede semelhante ao jumento, tais criaturas especiais eram fortes e ferozes.
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