Capítulo 3

As feridas de Xia curavam-se lentamente, mas enquanto permanecia em seu quarto, ela tentava praticar alguns movimentos de artes marciais. Além disso, segundo se lembrava, naquele mundo as pessoas podiam canalizar sua energia e criar alguns ataques usando magia, porém claro, precisavam de um potencializador, algo como as varinhas dos magos, mas naquele universo eram usadas espadas, lanças ou qualquer arma, pois a maioria que possui essa energia unem-se às tropas do imperador ou de algum nobre como o pai de Xia.

A família de Xia era conhecida não apenas por sua lealdade ao imperador, mas também por ter os melhores guerreiros. Assim, Xia também tinha essa energia, como seus irmãos, e era talentosa, só que por sua cegueira não conseguiu aproveitar isso.

— Xia, você poderia ter tido um futuro melhor. — ela dizia a si mesma.

A verdadeira Xia merecia uma vida melhor e, ainda que agora já não estivesse mais, a outra Xia conseguiria essa vida. Yao bate à porta, então Xia se senta em sua cama, permitindo que ele entre.

— Alteza, o príncipe veio visitá-la, se me permite... creio que está irritado. — comenta Yao.

— Certamente o imperador já está a par de tudo, diga que sairei em breve. —

Yao solicita a uma empregada que avise ao príncipe, enquanto ajuda Xia a se vestir apropriadamente. Poucos minutos depois, chega à sala, onde o príncipe se levanta e caminha em sua direção, visivelmente aborrecido.

— O imperador já está ciente do rumor, ele me convocou e estava irado, você só sabe me causar problemas. — reclama.

— Se não me provocasse, nada disso teria acontecido, mas saiba que, independente do que diga, minha decisão de buscar o divórcio se mantém. — Xia fala com voz clara e determinada.

Isso surpreende Bao, pois em momentos de pressão, Xia costumava gaguejar e nunca o enfrentava dessa forma.

— É um absurdo o que você diz, ninguém vai querer casar-se com você, não apenas por ser cega, mas também por ser uma mulher divorciada. — responde ele.

Segundo seu pai, ele deve impedir que Xia continue pensando no divórcio, pois se realmente enviou uma carta ao grande general, este não ficará de braços cruzados ao saber como sua filha está sendo tratada.

— Você acha que isso me importa? Nem todas sonhamos em ser esposas subservientes e viver à sombra de um marido. Tenho planos melhores para o meu futuro e isso não inclui continuar casada com um príncipe sem honra. —

Bao aperta os punhos tentando se conter para não atacá-la, mas Xia sabe exatamente como feri-lo com palavras, ciente de que Bao nunca foi o melhor guerreiro e por isso se recusou a ir à guerra, usando como desculpa sua falta de talento.

— Incomoda você ouvir a verdade, alteza? Vai me bater? Porque parece que é só para isso que tem talento, para bater numa mulher cega. —

Bao de fato estava tentando evitar agredi-la, mas ao ouvir aquelas palavras, sua honra é completamente ferida; um homem sem talento que só consegue bater na própria esposa cega não é a reputação que gostaria de ter. Mas Xia fala com um tom zombeteiro que o enfurece, e ele também se pergunta o que aconteceu com ela, que agora parece uma pessoa totalmente diferente.

— Acho que falei a verdade... — ela sorri com escárnio.

— Não importa o que você diga, mas se realmente deseja o divórcio, prossiga, vamos ver como sobrevive sozinha, pois é provável que sua família morra em batalha. —

Dito isso, Bao prefere deixar o local, enquanto Xia fica em silêncio, sabendo que é verdade, em alguns meses sua família morrerá no campo de batalha, algo que ela não pode permitir.

Bao chega à sua residência, furioso, pois quebra e atira tudo ao seu alcance, sentindo-se humilhado pelas palavras de Xia. Se tudo aquilo fosse dito diante dos nobres, provavelmente seria motivo de chacota. Mas ele precisa se acalmar, não pode deixar que Xia exija o divórcio, não é conveniente para eles, a guerra apenas começou e não convém perder seu maior apoio. O que deve fazer é se aquietar e tentar se entender com Xia, ao menos enquanto a guerra durar.

— Alteza, está bem? Sua majestade o repreendeu? — Suyin percebe a bagunça. — Tudo é culpa daquela cega, deveria dar um bom castigo nela para que perdesse a rebeldia.

— Cale a boca e saia daqui. —

— Não, alteza, não posso deixá-lo, sei que estou aqui para apoiá-lo, apenas me dê permissão e castigarei aquela infame. — Suyin não perdoaria Xia por ter queimado suas coisas.

— Vá embora! Ninguém será punido, já causou problemas suficientes com suas vontades. — grita ele.

— Alteza... o que eu fiz? Eu só quero ajudá-lo. — Seus olhos enchem de lágrimas, fingindo-se ferida por suas palavras.

— Ajudar-me? Então se quer tanto me ajudar, deixe Xia em paz. Suma da minha vista. —

Bao chama seus guardas para expulsar Suyin dali. Mas claro, Suyin apenas se irrita ainda mais, culpando Xia por tudo, mas não deixará que Xia saia vencedora, ela deve ser punida.

— Yao, me ajude, iremos ao palácio principal, preciso de uma audiência com o imperador. —

— Mas alteza, isso é difícil, não acho que ele irá recebê-la. — Yao mostra-se preocupada.

— Irá sim, ele sabe que não convém ignorar-me. —

Yao a ajuda a vestir-se elegantemente, pois deve estar apresentável diante do imperador. Pronta, Yao a conduz pelo braço para fora da residência, acompanhada por várias empregadas e quatro guardas, mas Yao se detém, causando estranhamento em Xia que quer saber o motivo da parada.

— Olhem só. A cega vestiu-se com seus melhores trajes. Será que você está indo seduzir sua alteza Bao? — pergunta Suyin.

— Por que faria isso? Acha que sou tão acomodada quanto você, para brigar por um covarde? — Xia sorri com desdém.

— Você é corajosa, cega, mas o príncipe é meu, só um plebeu merece você. — grita.

— Um plebeu seria mais honrado. — responde Xia.

Diante das resposta, Suyin se irrita ainda mais, olha ao redor e pega um balde de água que uma empregada carregava, jogando a água suja sobre Xia e Yao. Xia sente a água infiltrando-se em suas roupas e em sua pele.

— Mas que... como você se atreve a fazer isso? — reclama Yao.

— Cale-se, serviçal. — ela tenta bater em Yao.

Mas Xia detém a mão de Suyin e ao ser empurrada, cai no chão, o que foi proposital da sua parte. As empregadas aproximam-se para auxiliá-la, enquanto Suyin ri.

— Princesa, vamos, precisamos trocar sua roupa. — insiste Yao.

— Não, Yao, iremos assim, isso servirá de prova suficiente. — Xia sorri maliciosamente.

Suyin não entende o que Xia quer dizer, apenas assiste enquanto Xia pede que um dos guardas a carregue nas costas e se apressem rumo ao destino. Ela ainda pede a Yao que finja estar triste pelo ocorrido. Após uma longa caminhada, chegam ao palácio principal e Yao começa a atuar diante dos guardas da entrada principal.

— Socorro, minha senhora... minha senhora foi atacada... —

Os guardas olham para Yao, mas ao verem que é Xia que vem nas costas do guarda, permitem que passem e chamam os serventes do palácio.

— O imperador... por favor... quero falar com o imperador... — suplica uma Xia soluçante.

Os guardas não sabem o que fazer, mas dentro do palácio, em uma sala, Xia recusa ser atendida, não até que o imperador venha ao seu encontro. Com o alvoroço, o imperador é informado do ocorrido e rapidamente dirige-se à sala. Ao entrar, fica chocado ao ver Xia com as roupas sujas e molhadas e um rubor evidente em sua face.

— O que aconteceu aqui? — pergunta o imperador.

— Majestade? É o senhor? — Xia arrasta-se até ele agarrando a barra de sua veste. — Majestade, por favor... não aguento mais... todos os dias é a mesma coisa, a concubina de meu marido me maltrata, persegue-me e ele a apoia... não consigo suportar mais isso, quero morrer. — chora desolada.

O imperador olha para os servos de Xia e eles baixam o olhar.

— Majestade, minha senhora padece, nós, servos humildes, nada podemos fazer, a concubina Suyin nos ameaça e nos pune com autorização do segundo príncipe... minha senhora não merece tanto sofrimento, veja como ela está agora... —

Yao aproxima-se para abraçar Xia, que continua a chorar desconsolada, até que seu choro se acalma e ela desmaia. Yao começa a chorar e a chamar por um médico. O imperador não pode acreditar no que vê, Xia está sendo maltratada, então, se pede o divórcio, é por isso? Não pode acreditar que tudo isso acontece por negligência de seu filho. O imperador ordena que chamem o médico imperial e que levem Xia para um quarto, troquem suas roupas por outras secas e limpas.

— E tragam essa concubina e o príncipe Bao diante de mim. — ordena.

Mais populares

Comments

Cleide Almeida

Cleide Almeida

ñ vejo a hora deles serem punidos 😍
Xia tu é foda menina 🥰👏👏

2024-02-29

4

Ilana Vitória

Ilana Vitória

hoje a coisa fica séria...

2024-02-16

0

Ilana Vitória

Ilana Vitória

mal vejo a hora do pai dela saber o que está acontecendo

2024-02-16

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!