difícil conter os desejos

Até sua governanta se surpreendeu quando o viu.

- Sr...devo esperá-lo? Para o jantar?

- Não Maria...vou sair para jantar fora hoje...com uma amiga.

- Ah...

A mulher não esconde sua surpresa. O jovem, não costuma fazer isso com frequência.  É muito isolado. Prefere fazer tudo no Scala. Mesmo, seus encontros furtivos de vez enquando.

- A srta Adrian, suponho?

- Não.Outra...amiga.

O olhar dele deixa bem claro que o assunto está encerrado.

Ele gosta da mulher, mas as vezes ela é inconveniente.

- Vou tomar um banho e saio logo em seguida.

- Devo deixar alguma coisa? Caso,bom...estique a noite?

Ela conhece o patrão.

- Não. É apenas um jantar. Nada demais.

- Mesmo assim.Vou preparar uma tábua de queijos e deixar o vinho no gelo, caso mude de ideia.

- Está bem...obrigada.

Vai até sua suíte. Procura a roupa da ocasião.

Quer algo discreto. Separa uma camisa azul marinho.

Uma calça preta jeans.

Tira a roupa e vai para o Boxe.

A água caindo no seu corpo é refrescante.

Passa a esponja com o sabonete muito perfumado. Gosta das melhores coisas.

Desliga o chuveiro e  enrrola a toalha macia em volta da cintura.

Se perfuma. Gosta do  cheiro amadeirado específico que deixa no seu corpo.

Se veste e depois de pegar sua carteira e as chaves do carro, sai em seguida.

(***)

Está agora na frente do prédio dela, e de verdade bem ansioso.

Quando a porta do elevador abre e ela sai, se surpreende com o coração disparado e as mãos suando, literalmente.

"Porque estou me sentindo assim?"

Anne vai indo até ele, um pouco receosa. E nem sabe o porque disso.

Culpa da amiga! Que ficou a tarde toda enchendo sua cabeça com babaquices.

Agora está sem saber como se portar diante daquele homem...que está simplesmente,  maravilhoso ali a esperando.

Se aproxima devagar.

- Cristian...oi. Demorei muito?

Suspiro longo.

- Não.  Está no horário. E está muito bonita Anne...de verdade.

Ela dá de ombros e sorrindo agradece.

- Obrigada,  eu...não tinha muita ideia de como deveria me vestir...a Simone me ajudou com isso.

- E acertou. Está linda mesmo.

Agora Anne se sente sem saber como agir.

Ele a elogiou duas vezes...ah! Foco!

- Ah...onde iremos?

Cristian sorrindo diz:

- Vi que gosta de comida italiana.  Então,  vou te levar até um restaurante ótimo que conheço. A massa de lá é de se comer rezando! Vai gostar.

Ela sorri.

- Vou adorar isso.

- Então...vem, o carro está aqui pertinho.

Vão andando lado a lado. Claro que sente o perfume delicioso dele.

É envolvente e sensual...como ele.

Ele!

Aí Anne!

Pense...ele é seu chefe!

Seu chefe, nada mais.

- Tudo bem?

- O quê?

- Parece tão longe...espero não ter nada a ver com isso. Estou te incomodando? Essa foi a impressão que eu tive.

- Não...ah,me desculpe.  É que de verdade estou sem saber como agir, Cristian,  você é meu chefe,ainda acho que...

- Fora da Holdgins,  sou apenas o Cristian...então não se cobre por isso. Quero saber sobre você...te conhecer melhor.

- Porque?

Porque?

Ele não tem ideia.

- Vai trabalhar comigo...preciso saber como lidar com você. É isso.

- Ah...

- E...porquê, quero ser seu amigo.

- Meu amigo?

- Sim. Porque a surpresa?

- Eu imaginava...

- O quê, imaginava?

Falei demais! Ah não!

Tenta concertar!

- Eu...me desculpa...eu...

- Já percebeu que em menos de dez minutos, já me pediu várias vezes desculpas?

- Me...

Ela para de falar no mesmo momento.

Começa a rir.

Ele cruza os braços e faz o mesmo.

- Está vendo? Ia fazer novamente...não é?

- Sim...é que me deixa nervosa.

- Posso te confessar uma coisa?

- O quê?

- Fico nervoso na sua presença também.

Sorriso delicioso.

Ele?

Nervoso?

Ah não!

- Devemos mesmo seguir com isso?

- O jantar? Porque não sei você...mas estou com fome.

Ela sorri.

- Tá bem. Vamos.

O carro dele é espetacular.

O que há de mais moderno em tecnologia.

Anne olha admirada.

- Gostou?

- O quê!?

- Do carro...

- Ah, sim. É maravilhoso.

- Gostaria de dirigir?

Olha pra ele muito surpresa.

- Tá sugerindo...eu guiar seu carro? Isso é sério?

- Porque não? Acho que é capaz disso.

- Sou mas, eu...

Ele a olha com a sombracelha arquiada.

- Vamos...não é sempre que dou o comando pra alguém...me mostre suas habilidades.

- Me desafiou?

- É. É isso.

Ele sai do banco do motorista e entrega as chaves pra ela.

Ela se posiciona. Como está de salto, tira o sapato e fica com os pés livres.

O olhar dele é divertido.

- Bom, quer que te dê uma dica? Ou, sabe o que fazer?

- Pode deixar...eu me viro.

Dá a partida e olha pra ele.

Sai suavemente, muito atenta a estrada.

Deus me livre bater essa máquina! Pensa ela com um sorrisinho.

Teria que trabalhar o resto de sua vida pra pagar o prejuízo pra ele.

Ela é boa.

E Cristian gosta disso.

Ponto pra ela.

E, além do mais...percebeu que ela não gosta de ser

desafiada.

Muito bom...

Pensa ele com um olhar muito atento a ela através do retrovisor.

Ele passa as coordenadas para seguirem para o restaurante, onde previamente já fez as reservas.

É chique demais.

Ele realmente tem muito bom gosto.

- Devo admitir. É uma boa motorista, parabéns.

- Esse carro é ótimo. Uma delicia de se conduzir...

Ela está falando e gesticulando feliz.

Na verdade, ele nem ouve direito o que ela fala.

É impressionante o poder que ela tem de tirá-lo de foco.

Aqueles olhos azuis lindos e entusiasmados...é fácil de se distrair com isso.

- Cristian?

- Ah...me perdoe, o que disse?

- Vamos entrar?

- Vamos.A nossa reserva já está confirmada.

Ela ainda sentada no banco do motorista, se prepara pra colocar a sandália, quando ele pega seus pés delicadamente,  colocando-os de forma suave nela.

O contato com as mãos dele, é uma coisa tão inesperada, que seu corpo se arrepia inteiro apenas com isso.

Ele olha pra ela de um jeito difícil de explicar.

Mas, se contêm.

- Tudo bem?

- Sim.

- Então,vamos.

Ela o segue sem dizer nada.

Não saberia o que falar.

Nem sabe direito o que está sentindo.

Já na mesa, ele pede um vinho caríssimo.

- Eu acho que não devo beber...nem sou acostumada com isso.

- Uma taça. Por favor...e além disso, estou aqui. Esqueceu? Te protejo de qualquer perigo que aparecer.

" Qualquer perigo?

Ah Cristian Salvatore!

Você é o perigo...sem dúvida nenhuma.

Como posso confiar em você...se nem confio em mim neste momento?"

- De verdade Anne, se continuar me olhando desse jeito,  vou me sentir tentado...

- Como estou olhando pra você?

Ele muito sério, serve as taças.

- Estou curioso. Me fale de você...o que gosta de fazer nas suas horas vagas?

Ele muda de assunto muito rápido.

Ela respira fundo.

- Gosto de livros. Sou uma romântica inveterada...

- Que tipo de romance te atrai?

Como?!?

- O quê?

- Autores...Anne, foi isso que perguntei.

Aí que sorriso lindo esse dele...

- De impacto.

- Ah,sei...Romances, avassaladores, correto?

- Acho que sim.

- É uma mulher interessante...tem, alguém?

- Namorado?

- É.

- Acha mesmo se eu tivesse um, estaria aqui com você?

Sorriso delicioso.

- Não...Claro que não.  Seria estúpido da minha parte...não é mesmo?

- E...você Cristian? Não  tem ninguém?

Ele bebe o vinho.

- Na verdade, nada sério. Eu não costumo ficar preso a ninguém. Se dissesse que não tinha ninguém, com certeza jamais acreditaria em mim.

- Mas, o que estamos fazendo aqui então? Não parece certo isso. 

- Está decepcionada comigo? Sua voz pareceu tensa.

- Porque estaria?

- Anne, gosto das coisas as claras. Estamos aqui.Certo. Sou seu chefe...e pretendo ter um relacionamento bom com você.Podemos ser amigos.Quero muito isso.

Ela está tão confusa!

Ele diz que quer ser seu amigo,mas porque está agindo como se quisesse outra coisa com ela?

Essa expectativa a está deixando louca!

- Posso pedir? O nosso jantar?

- Ah, pode sim...por favor, posso tomar outra taça?

- Não disse que não está acostumada a beber?

- Sim. Mas, diante da situação...preciso.

- Situação?

- Estou um pouquinho nervosa, mas já sabe desse meu lado...

- Não quero te deixar nervosa, longe disso.

- Ainda acho...que não deveria estar aqui. Não sei onde estava com a cabeça quando aceitei isso.

- Minha vez, desculpe-me. Acho que agi por impulso. Não pretendia te deixar constrangida.

Agora Anne se sente muito mal mesmo.

- Cristian...estou sendo uma péssima companhia se preferir, podemos ir...

- Não vou a lugar nenhum.

A voz dele parece um tanto autoritária nesse momento.

Serve um pouco mais de vinho para ela e a taça dele também.

- Se depois do jantar, você quiser ir embora, irei entender. Mas, agora vamos comer, tudo bem?

Ela concorda.

Um silêncio entre eles se torna sufocante.

Ela olha para Cristian,  que agora parece um tanto chateado.

Ela se serve de vinho novamente.

Ele acompanha apenas com o olhar.

Não a impede.

- Acho que deveria ir mais devagar...

- Tudo bem. Como você mesmo disse, vai me proteger de qualquer perigo.Você perguntou coisas a meu respeito. E você? O quê gosta de fazer em seus momentos livres, quando não está salvando garotas de perigo na noite de Seattle?

Ela fala com a voz um tanto alterada. Talvez por causa da bebida.

Com a sombracelha arqueada e um sorrisinho debochado,  Cristian responde.

- Bom, quando não estou salvando lindas mocinhas em perigo, coisa que de verdade, foi a primeira vez que aconteceu com você...gosto de fazer esportes radicais, malhar, pilotar meu helicóptero...

- Você pilota?!

- Sim.Tenho licença pra isso.

- Me surpreende a cada instante. O quê mais gosta de fazer?

- Hum, tenho gostos singulares...talvez algum dia, te mostre.

O olhar dele se intensifica de um jeito quente.

- Me diga. Gosta de dançar?

Pergunta de repente.

- Gosto sim. Embora, não costume fazer isso regularmente, mas...porque me perguntou isso?

- Podíamos sair daqui e ir dançar um pouco.

- Até minutos atrás estava se defendendo de mim como uma gladiadora...agora quer dançar comigo?

Ela nem sabe o que está falando.

Deve estar alterada mesmo!

- Tudo bem, vamos dançar.  Tem um lugar ótimo, aqui pertinho. Saiba, sou muito bom em uma pista de dança.

- Ah, sei.

Revira os olhos de forma divertida.

Ele a olha muito sério agora.

Parece incomodado com isso.

- Não faz mais isso...por favor.

- O que fiz?

Ele estica o braço, e toca seu rosto delicadamente, parecendo acariciar sua tempora de forma suave.

- Quer ir agora?

- Dançar?

Sorriso.

- É.

- Vamos sim.

Ele pede a conta e vão caminhando.Cristian percebe que ela agora está mais leve, talvez por causa da bebida.

Nem percebe, quando ele a enlaça pela cintura de maneira protetora.

Fala bem pertinho de seu ouvido.

- Quer mesmo isso? Posso te levar pra casa.

Ela se vira devagarinho pra ele e se depara com o olhar ardente dele.

Ou será impressão?

Se detém a boca tão tentadora que ele tem.

Tão tentadora...

E próxima...

E tão...deliciosamente sexy...

Fecha os olhos.

Sente as mãos dele em seu rosto e a respiração dele próxima.

Muito próxima.

Cristian se detém.

Não pode fazer isso!

Não!

Se afasta devagarinho.

- Acho que vou te levar pra casa, deixe pra outro dia nossa dança.

- É melhor...tenho faculdade amanhã.

- Ótimo. Precisa descansar.

- Cristian...obrigada.

- Porque?

- Por ser tão cavalheiro e gentil comigo.

É.

Ele foi.

E agora está fervendo por dentro.

Como um vulcão em plena atividade.

Respira fundo.

Quando a deixa na portaria, ainda insiste em acompanhá-la até o seu apartamento,mas ela diz que não tem necessidade.

- Obrigado,  mais uma vez pelo jantar.

- Não tem de que.Te espero na Holdgins,  na segunda.

- Ah, sim. Estarei lá.

- Boa noite, Anne.

- Boa noite...Cristian.

Ela entra no elevador e some de vista.

Cristian fica ainda um bom tempo parado na porta.

" O que está fazendo Cristian! Enlouqueceu? Ela não é pra você! Não mesmo! Afaste-se dela...enquanto ainda é tempo...não se envolva...ou irá ser sua perdição "

Ele olha mais uma vez e depois entra no carro e vai embora.

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