Dois olhos me vigiam no escuro.
Eles não se movem, não piscam, não olham para o lado, apenas me observam, famintos, como se fossem o predador e eu a presa.
E eu não consigo me mexer.
Não me atrevo a mexer.
Meus músculos estão rígidos de medo e sinto que poderiam quebrar caso eu tente me esticar. Estou encolhida debaixo do cobertor e só parte do meu rosto está de fora, observando aqueles olhos que me observam de volta.
Que me vigiam.
Que me perseguem.
Que me prendem.
São dois pontos vermelhos no quarto, e não consigo enxergar nada além disso. Dois pontos rubros como sangue.
Não sei que forma acompanha esses olhos, nem como se parece. O brilho que irradia deles não chega ao resto do corpo. Mas de uma coisa eu tenho certeza: não são olhos bons e, com toda a certeza, não são olhos humanos.
Às vezes parece que estão sorrindo, como se estivessem rindo de alguma piada que eu não consigo escutar. Eles riem, mas continuam fixos em mim. E eu continuo paralisada em minha cama.
Mesmo que tivesse forças, acho que não teria coragem para sair daqui. Tenho a impressão de que os olhos poderiam me pegar caso deixe meu pé escapar para fora do cobertor. Se meus dedos engatinharem até o celular, talvez sejam devorados.
Começo a piscar de sono, mas não me atrevo a dormir. Enquanto observo de volta, sinto que ainda tenho um pouco de controle sobre a situação. Tenho que ficar alerta para perceber tudo que está acontecendo. Um momento de fraqueza pode significar o fim.
Meu coração está acelerado, suor pinga do meu cabelo e minhas roupas grudam no meu corpo por causa do calor, mas aqui embaixo das cobertas estou protegida. Preciso aguentar só mais um pouco, só até o sol sair. Nenhum mau resiste a uma manhã radiante.
Tenho certeza disso.
Agarro o cobertor com mais força, sentindo câimbra nos braços e nas pernas. Minhas costas estão latejando por ficarem tanto tempo na mesma posição.
Mas não posso me mexer. Não posso chamar atenção. Não posso me arriscar.
Agora os olhos brilham como fogo, incandescentes. Parece que sabem o que estou pensando e se divertem com isso.
Filhos da puta.
Que horas são?
Fecho os olhos por um segundo a fim de recobrar um pouco da minha sanidade.
Preciso esperar só mais um pouco.
Só mais um pouco.
Só mais…
A luz atravessa minhas pálpebras.
Pisco
Acordo.
Pisco de novo e fecho os olhos, sentindo o calor tocar minha face.
O quarto está iluminado com o sol da manhã.
Acabei dormindo sem querer, mas tudo bem. Sobrevivi àqueles olhos infernais e um novo dia chegou.
Estico meus músculos tensionados, sentindo ainda mais dor que na noite anterior, mas não me importo com isso. É sinal de que estou viva, e muito bem viva.
Abro meus olhos, jogo a coberta para o lado e me levanto com uma felicidade um pouco preguiçosa e cansada, mas ainda sim felicidade.
E me deparo com os dois olhos vermelhos como sangue me vigiando do outro lado do quarto.
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Atualizado até capítulo 110
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