Fiz o mesmo trajeto que a Jessica faz todo dia, é um longo trajeto e ela me disse que é sempre assim, trânsito pesado e ainda o ônibus é lotado.
Nem me imagino tendo que fazer esse trajeto todo dia, mas ela faz e ainda carrega a familia nas costas, nossa é muita coisa pra ela.
Tem vontade de crescer e é bem arisca, não é qualquer um que se aproxima.
Entramos na lanchonete, tá cheio, percebo uns olhares que certamente me reconheceram.
- Aqui tá bom Angelo, é mais afastada da bagunça.
Logo uma atendente veio nos atender e tomou um susto quando me viu, mas a Jessica estava com a atenção no cardápio, nem percebeu e eu fiz sinal de silêncio pra ela que não falou nada além do pertinente ao atendimento.
- Angelo escolhe o seu, eu já escolhi o meu.
- Eu não conhceço nenhum nome que tá aqui.
- Abaixo do nome do lanche tem o que vem em cada lanche, eu vou pedir esse, x-bacon de picanha.
- Então vou querer o mesmo, não vou me arriscar.
- Querida 2 x-bacon de picanha e o molho é só a maionese temperada.
- Algo pra beber?
- 2 cocas lata.
Assim que a atendente saiu, falei com a Jessica.
- O que é maionese temperada?
- Não acredito que você é um riquinho Angelo.
- Eu não conheço UÉ, talvez posso até conhecer, mas com outro nome.
Ela me olha como se eu fosse de outro mundo. Fico perdido nesse olhar.
- Então, tem planos pra pós graduação já?
- Pra pós não, mas estou de olho no plano de carreira da empresa, já vi que com 6 mese de graduação posso tentar uma vaga de analista, se conseguir, vai ser uma mudança de vida par minha família, meu salário vai ser quase o triplo do que ganho hoje.
- Você cuida muito da sua familia.
- Cuido sim, meus pais são muito importantes pra mim, quero reformar a minha casa, hoje temos a casa mais feia da rua e meus pais ficam tristes, porque por mais que se esforçassem, o que ganhavam era o suficiente apenas pra nossa alimentação. Poucas pessoas vão na nossa casa por isso, mas quando isso mudar, eu mesma vou me encarregar de que continuem longe.
Fico imaginando como sua vida é dificil e ela só tem 20 anos e eu aqui com 29 jogando minha vida no lixo por pirraça.
O lanche chegou e tem um cara boa.
- Isso eu conheço Jessica, mas conheço como molho verde.
Comemos rindo, como o lanche é grande acabamos com a boca toda suja de molho.
Fui no banheiro me limpar, porque caiu na minha blusa e quando estou voltando, vejo uma mulher debochando da Jessica, conheço esse linguagem corporal e tenho certeza que tem homem no meio.
- Tem algum problema por aqui?
A safada me olha de cima a baixo me devorando com o olhar e nem disfarça, vejo a Jessica secando o rosto.
Não consegui me conter, abracei ela.
A mulher me olhou supresa, levantei o queixo da Jessica e sequei uma lágrima.
- Vamos pra casa amor?
- Perai, amor?
A filha da mãe tem a cara de pau de perguntar, mas eu coloquei o olhar frio de quando tenho que afastar piranhas.
- Sim e o que você tem a ver com isso?
- Desculpe, não está mais aqui quem perguntou.
- Não quero mais você incomodando a Jessica.
Ela lança um sorriso de desdém e sai.
- Vamos Jessica, te levo em casa.
O sorriso dela morreu, brilho no olhar sumiu, a alegria dela calou, ela foi calada até em casas, algumas vezes vi ela alisando a barriga e chorando.
Alguma coisa bem séria aconteceu, mas eu não vou perguntar hoje, se ela quisesse falar já tinha falado.
- Chegamos!
Parei o carro na porta da casa dela e de fato é um casa bem humilde, com uma infraestrutura bem precária.
Olhando pra casa dela e a vendo abatida desse jeito, me deu uma vontade de cuidar dela e resolver todos os problemas dela.
- Obrigada Angelo e me desculpe pela lanchonete.
- Quer falar sobre a causa das suas lágrimas?
Falo secando o seu rosto. Ela nega com a cabeça e eu seguro a mão dela me despedindo, o olhar que trocamos mexeu comigo, senti meu coração batendo diferente pela primeira vez e gostei disto.
Ela saiu do carro e andou devagar, vi quando chegou na porta, limpou o rosto mais uma vez, respirou fundo e colocou um sorriso no rosto e entrou.
Quando cheguei em casa, olhei pra tudo a minha volta e fiquei me perguntando o que eu poderia fazer para melhorar a vida de alguém que tem tão pouco e batalha bastante pra ter algo na vida!?
E assim como a Jessica, muitos tem a mesma rotina dura.
Mas logo meus pensamentos foram ocupados pelo olhar da Jesica, a sensação da sua pele macia na minha mão.
Meu pai continua me pressionando sobre casamento, não sei porque que ele acha que casando vou mudar de uma hora pra outra.
Bom já tem uma pessoa que tá começando a me ensinar a ver a vida de outra forma.
Continuo pensando nela e pela sua força, não duvido nada que vá conseguir tudo que planeja.
Eu vou acompanha-lá de longe e o que eu puder fazer pra ajudar, vou fazer.
Comecei a acessar os sistemas de colaboradores da empresa e vi que muitos moram longe da empresa e comecei a elaborar um projeto de locomoção pra eles.
Assim que cheguei na empresa, fui direto na sala do meu pai e apresentei a ele esse projeto e ele ficou maravilhado e claro muito feliz por estar mostrando responsabilidade com a nossa empresa.
- Pai, fiz os cálculos e a longo prazo vai ter até economia, claro que termeos que comprar os ônibus, a principio somente 2. Um no sentido baixada e o outro no sentido Santa Cruz.
- Meu filho tem a minha autorização.
- Obrigada pai, com isso nossos colaboradores vão ter mais tempo livre porque o ônibus não vai fazer muitas paradas.
Como somos uma empresa de T.I não foi dificil traçar uma rota baseada no endereço dos funcionários.
A novidade foi bem recebida e comemorada por quem pega ônibus pra ir pra casa.
Hoje não vi a Jessica e confesso que estou com saudade.
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Atualizado até capítulo 34
Comments
Celina Costa
amandooo a leitura, é diferente de todas as que já li, retrata a nossa realidade,do dia a dia da maioria dos trabalhadores e pessoas humildes.
2025-02-13
1
Isabel Esteves Lima
Que legal mesmo que ele tenha pensado em ajudar a Jéssica, seus projetos estão ajudando vários funcionários.👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
2024-12-29
0
Angela Nunes
Você já está mudando Ângelo...
2024-04-30
6