Dor agonizante

Emergência ! Paciente grávida de seis meses, caiu da escada, pressão arterial 6/2 . Rápido direto pra sala de cirurgia !

Batimentos do feto diminuindo.

Preparem-se. Rápido ou vamos perder os dois !

Quando Anne acorda imediatamente coloca a mão na barriga.

Cadê meu bebê ? Aonde está meu filho ?

Acalme-se senhora ! O médico virá vê -la

Por favor me diz cadê meu bebê ?

O Médico entra no quarto e lhe olha com uma cara desconsolada.

Sinto muito senhora, mas não conseguimos salvar seu bebê !

Nãoooooo por favor não ! meu filhinho

Meu Deus me ajuda !

Seus gritos e choro podiam ser ouvido em todo o hospital.

Senhora a queda foi feia, fizemos tudo o que pudemos, mas o feto não resistiu !

Mesmo que ele tivesse sobrevivido, não aguentaria muito tempo, ou teria várias sequelas. Sinto muito !

Temos aqui no hospital uma psicóloga para conversar com a senhora, mas nesse momento o apoio da família é fundamental.

Eu não tenho ninguém !

E o pai do bebê ?

Ele não está aí fora ?

Não, a senhora deu entrada com a ambulância e estava só.

Não entendo ! Ele estava comigo um pouco antes de eu cair!

Podemos ligar para ele, pode passar o número para a enfermeira que ela vai ligar.

Duas semanas depois

Meu Deus que dor , que agonia, não tenho vontade de nada. As vezes só quero correr, correr pra tentar esquecer, deixar para trás essa dor, mas como um simples ato de correr vai me livrar desse dor na alma ?

Sinto meu coração em pedaços !

Há dias que não quero ver ninguém, quem eu pensei que me daria apoio, não veio nem me ver!

Parece que o Paulo nem liga de termos perdido nosso filho !

Tudo bem que ele nunca me pareceu entusiasmado com o bebê, mas ignorar tudo o que aconteceu ? ignorar a minha dor? Que tipo de pessoa é essa?

Meu coração se entristece cada vez mais com isso !

Não consigo ter paz!

Nem consigo acreditar no que aconteceu !

Num instante estávamos bem, ou pelo menos eu achei que estivesse, no outro aquele acidente inexplicável , que tirou tudo de mim.

Quando contei da gravidez, ele ficou em choque, mas com o tempo foi aceitando

Achei estranho o fato de não fazer planos pra depois do bebê nascer, mas continuei com a minha vida. Estava feliz! Mesmo se ele não quisesse o bebê eu o teria!

Nunca tive família, fui criada em um orfanato. Jamais deixaria meu bebê crescer assim ! Sei o quanto foi sofrido crescer sem amor !

Não desistiria do meu bebê por nada!

Ele ficava na casa dele e eu na minha.

As vezes a gente se encontrava e saia , mas conforme minha barriga foi crescendo, essas saídas diminuíram bastante.

A gente quase não se via! Quando ele me queria ligava e eu ia pra casa dele, mal conversávamos, ele estava sempre com pressa ou de mau humor.

No dia do acidente, tínhamos acabado de transar e ele já foi me dispensando com grosseria. Disse que tinha um compromisso, um jantar de negócios e não poderia me levar.

Já estava de saco cheio daquilo !

Prometi a mim mesma que teria uma conversa definitiva com ele, quando estivesse mais calmo e com tempo.

Estou com vinte e cinco anos tenho um emprego estável, que se não ganho muito, mas daria pra criar meu filho sozinha !

Ele desceu primeiro e depois de uns minutos gritou me apressando.

Anne rápido ! Não tenho o dia inteiro pra você !

Quando comecei a descer as escadas, escorreguei, e fui caindo escada abaixo senti minha barriga bater em cada degrau, uma dor agonizante que eu apaguei. Acordei no hospital sem meu bebê e sem o pai dele ao meu lado!

Fiquei chocada quando descobri que ele chamou a ambulância e foi para o seu compromisso, sem nem ir ao hospital comigo !

Quando a enfermeira ligou pra ele, disse que quando tivesse tempo viria me ver.

Apareceu na manhã seguinte com uma pressa danada, falou comigo superficialmente e logo saiu.

Três dias depois me ligou pra perguntar quando eu sairia do hospital, mas eu já estava em casa . Desde então mal apareceu ! Nunca fala sobre a dor de perder o bebê ou de como eu estou me sentindo.

Ele parece não ter sido afetado pela perda do nosso filho.

A única pergunta que me fez foi de quando poderia voltar a transar.

Me subiu um ódio tão grande, que minha vontade era descontar toda a raiva e dor que estava sentindo nele.

Mas só fiquei parada olhando pra sua cara !

Por um lado foi bom sentir outra coisa que não fosse a dor!

Nem com a psicóloga tenho passado.

Do que adianta falar sobre o que aconteceu ? Vai mudar o que ? Nada trará meu filho de volta !

Nada tira esse dor do meu peito !

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