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Por achar que não estava normal, Daniel balançou a cabeça instintivamente, tentando se livrar daqueles pensamentos estranhos, que dão mil voltas em um minuto, mas sempre parava em Lucy.

—Ei Daniel, você agora inicia um novo ciclo de sua vida, aproveite tudo ao lado do seu amor-ele sussurrou para si mesmo enquanto colocava o cinto de segurança e logo deu partida no carro, nesse momento, Daniel ouviu um barulho de notificação, sem perder o foco na estrada, ele viu que era um áudio de Lucy, ele imaginou mil coisas, mas quando percebeu que se tratava de uma conversa entre as duas mulheres, Daniel sentiu o seu sangue ferver.

—Sanguessuga, na loja de Dayse é tudo caro, mas mesmo assim eu quis dar lucro a ela, por ser a minha irmã, mas jamais imaginei que ela tratasse a minha esposa desse jeito, Lucy é realmente muito inocente e Dayse uma loba em pele de cordeiro.

Por estar de cabeça cheia, Daniel resolveu não confrontar Dayse, não agora, não por telefone, ele dirigiu feito um louco e em pouco tempo estava em casa, naquela residência vazia de calor humano.

Ele sentou-se no sofá e sem querer se lembrou da decoração da festa surpresa que Lucy fez para ele, lembrou das fotos e frases bonitas e também lembrou que Nancy disse que ela mandou jogar tudo fora.

—Será se uma inversão de papéis seria possível agora?-ele se perguntou enquanto tentava entender os seus pensamentos e ações, Daniel está triste por conta da morte de Izabel isso é fato, mas por mais que ele queira se enganar, ele não consegue disfarçar: a Lucy está fazendo falta.

Como hoje é domingo e Daniel não tem planos de sair, ele subiu as escadas e foi para o antigo quarto do casal, por algum motivo desconhecido até mesmo por ele, Daniel sentiu um aperto no peito e uma vontade imensa de chorar, como se as suas pernas tivessem vida própria, Daniel caminhou até closet e pegou do cesto de lixo aquele papel amassado, contendo palavras bonitas escritas por Lucy.

—Ela disse que me amava, mas no entanto, partiu sem se incomodar com a minha opinião-ele disse a baixinho enquanto relia as aquelas palavras, que parece ter significado agora, ele só não sabe qual.

Desde o dia em que se casou com Lucy, ele sempre buscou um meio de evitar contato, mas por dividirem a mesma casa e também a cama, eles ainda tiveram vários momentos juntos, nesse momento, as lembranças das noites de amor que teve com Lucy vieram como uma onda, deixando Daniel meio confuso.

—Bem que a vovó dizia: você só vai valorizar a sua mulher quando você perdê-la-ele disse enquanto caia sentado numa poltrona no canto do quarto e pôs-se a analisar o ambiente.

Enquanto olhava para todos os lados, Daniel percebeu que Lucy deixou tudo para trás, até mesmo o vestido que ela usou no casamento, ela tinha tanto orgulho do seu casamento, que ela até colocou o vestido num manequim e mandou colocar numa caixa vidro, na época, Daniel achou aquilo ridículo e disse que aquela mulher só servia para acabar com o seu dinheiro.

“Eu só quero me lembrar do dia em que selamos a nossa união”, Daniel relembrou as palavras dela, pelo visto Lucy o amou demais, mas simplesmente se cansou e constatar isso fez Daniel sentir dificuldade para respirar.

—O que está acontecendo comigo?

Enquanto tentava entender o seu próprio comportamento, Daniel se levantou e logo foi para o seu escritório, pegou uma garrafa de uísque e bebeu sem vontade de parar, ele precisava fazer aquela sensação estranha sumir de seu coração, afinal, ele ama Juliana, não podia pedir o divórcio, mas por algum motivo, Lucy pediu repentinamente, então ele tem tudo pra ser feliz com o seu amor, só precisa ele parar de pensar em sua ex mulher.

Segurando uma garrafa de uísque pela metade e a mente dando mil voltas, Daniel sentou-se num sofá de couro preto que havia ali e continuou a beber, nem mesmo o líquido quente queimando a garganta dele foi capaz de camuflar aquela sensação de perda que fazia o seu coração acelerar de repente.

Por estar perdido em pensamentos, Daniel tomou um susto devido ao barulho estridente de um telefone tocando, por já estar um pouco tonto, Daniel tirou o telefone do bolso com dificuldade e logo atendeu, era Beto quem estava ligando.

—Alô

—Oi Daniel, estou ligando pra saber como você está? E também pedir desculpas por ter sumido do velório ontem, eu realmente sinto muito, aconteceu uma coisa e por isso precisei me ausentar-disse Beto deixando Daniel agoniado.

—Você fala demais, mas no fundo é um cara legal-Daniel respondeu com uma voz um pouco embargada.

—Nem vai perguntar o que aconteceu?-Beto perguntou sorrindo.

—Já estou cheio de problemas, guarde os seus para você-Daniel disse se esforçando para não rir, ele sabe que Beto é um cara meio sensível e podia até chorar por conta daquelas palavras.

—Diz logo, não gosto de suspense-Daniel complementou.

Ouvindo aquilo, Beto enfim respirou aliviado e logo falou euforicamente:

—A vida é realmente uma roleta russa, ontem você se divorciou e eu fui pedido em casamento, é estranho eu sei, mas foi a coisa mais linda que já me aconteceu, é tão bom estar ao lado de quem amamos, quero você e a Lucy como padrinhos do meu casamento, disso eu não abro mão.

A cada palavra dita por Beto, Daniel sente que caia cada vez mais fundo, se afogando em lembranças com a mulher que ele desprezou.

—É lindo mesmo, te desejo felicidades, eu preciso desligar agora-Daniel encerrou a chamada, na verdade ele teve medo de começar a chorar.

Após a conversa com o Beto ser encerrada, Daniel resolveu dar um basta nessa sofrencia por motivos desconhecidos e daí ligou para Juliana, “o amor cura tudo”, ele pensou e logo sacudiu a poeira inexistentes de suas roupas.

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