Imensidão de escolhas e uma represa de emoções

Parada frente a borda da floresta, os lábios de Ciel faziam um perfeito "o" mostrando sua total descrença.

"Eu já devia ter imaginado", ela suspirou interiormente enquanto esfregava a testa.

"Não há nada de comum com essa merda de lugar", ela pensou sentindo sua ansiedade voltar a tona e seus sentimentos borbulharem enquanto ela ficava cada vez mais pálida.

Na sua frente, no máximo da linha do horizonte que ela poderia ver. Havia um oceano de um azul escuro e acinzentado, praticamente preto, que se estendia por toda a paisagem.

Seguindo a borda da floresta com o olhar, tão longe quanto o fim do oceano, uma montanha avassaladora se erguia alcançando as nuvens à sua esquerda.

Mas o que a fez quase perder as esperanças de estar perto de sua casa estava bem mais próximo.

Uma cidade deslumbrante e enorme, que marcava toda a praia à sua frente e seguia pela planície por toda a direita se perdendo de vista por prédios altos.

Ela estaria feliz se fosse apenas uma cidade normal.

***

Seguindo em direção à uma trilha que saia da floresta, descendo até a entrada na cidade, Ciel pensava sobre sua situação.

O que havia acontecido com ela?

O que poderia ter acontecido para enviá-la para aquela escuridão tão sem vida?

E agora, o que poderia ter acontecido para ela se encontrar em uma cidade gigante de estilo medieval.

Mesmo que fosse à quilômetros, a sua visão não poderia se enganar tanto sobre o estilo daqueles prédios, ou mesmo a muralha alta e imponente cobrindo toda a cidade.

Ambos feitos de tijolos e mais tijolos de um calcário de cor marcante.

A mente de Ciel estava confusa, mas seu estômago parecia cheio de borboletas.

Em seu desespero para voltar para casa, ela não queria admitir mas algo parecia a atrai-la a cada passo em direção àquele lugar.

Principalmente a ideia de receber comida, um banho e roupas quentes.

Mesmo sofrendo com o desespero de talvez nunca mais voltar para casa, seu corpo se movia incoscientemente em direção aquela trilha à quilômetros de distância.

Depois de dias como um cadáver ambulante, ela se sentia mais dona de si do que nunca na sua vida, desesperada e pronta para sua morte a qualquer instante... porém, ter suas esperanças frustradas tão profundamente a atingiu da pior forma.

Era de uma ironia enorme, ela sair de dois infernos separados de qualquer civilização para descobrir que a civilização que ela tanto amava aparentemente tinha desaparecido.

De um jeito notável, um leve e doce piar escolheu aquele momento para soar ao seu ouvido.

Desviando os olhos do chão, enquanto uma lenta lágrima descia, um par de belos cristais azuis a confortava.

Dando um olhar profundo e avaliativo na bela coruja, ela não pôde deixar de achar um pouco injusto aqueles olhos.

Eles a lembravam do lindos olhos cinzentos de sua amiga ruiva, que causavam inveja em qualquer um.

"Principalmente com aquilo tudo...", ela pensou com um meio sorriso, um beicinho e uma lembrança de Ella.

Todos os dias que ela passou caminhando, ela se lembrou de sua melhor amiga, ou quase irmã... depois de tudo que ambas passaram.

Quando decidiu ir ao SPA, mesmo por apenas três dias, ela já conseguia se imaginar sentindo falta da amiga. Porém em meio à tempestade de emoções dos últimos dias, isso cresceu várias vezes mais.

Ainda olhando para o rosto fofo e agradável da sua companhia, com as lágrimas ainda cintilando nos olhos e descendo gentilmente por suas bochechas como jóias em brasa, ela apenas sorriu.

"Eu realmente tive sorte em encontrar esse amiguinho", Ciel pensou enquanto distraidamente acariciava as penas do pássaro.

Sua visão e pensamentos se aguçando novamente para a trilha à alguns quilômetros mais a frente.

Respirando fundo, ela se irritou com o fato de ter evitado galhos e raízes, enquanto havia uma trilha plana e talvez, com companhia humana por perto.

Mas ela não foi a fundo nesse pensamento. Preferiu ver o lado bom e pensar que estar ali e ver sua realidade em primeira mão seria melhor. Desse jeito, ela também teria mais liberdade.

E aquela viagem pela floresta só poderia ser considerada calmante para seu humor.

Assim, ela continuou caminhando, planos sobre como entrar na cidade sem parecer uma alienígena naquelas roupas modernas iam e vinham na sua mente.

Longe o suficiente para não ser vista, ela reconheceu grandes carruagens rolando trilha abaixo.

Ela realmente estava certa sobre o lugar estar na idade média.

Seus pensamentos curiosos voltaram para como ela foi parar em outro mundo.

Realmente não parecia tão inacreditável para ela, já que existiam vários portais interplanetários em seu mundo, porém, não era um sonho crível para os de baixa família sonhar com os planetas do sistema solar.

As grandes famílias e linhagens possuíam controle sobre todos eles. Viver ou viajar para outras colônias era um sonho a ser planejado pacientemente.

Não algo que acontecesse com alguém enquanto dormia. Era absurdo ter algum motivo para atravessa-la por qualquer um daqueles portais.

Mas havia algo que não era.

O véu, um nome novo que surgiu na última semana e que ela mal ouviu lendas urbanas sobre. Já que as informações pareciam tão restringidas que houve mortes de jornalistas apenas pelos boatos.

A história era simples e insana.

Sobre um véu quase invisível que apareceu em algumas cidades do mundo, no mesmo instante em que dezenas de milhares de pessoas desapareciam.

Do mais velho idoso à mais jovem criança. Todos sumiram em raios de milhas cercando cidades e florestas. Só os animais ficaram para trás.

Parecia um conto de ficção.

Mesmo na era atual ainda era um mundo a parte saber sobre as tecnologias incríveis com planos de serem "barateadas" para o público, e ver algo tão louco como teletransporte em massa ser falado por aí como se logo fosse ser divulgado.

Ela devia ter se interessado mais pelos detalhes...

Pensando em Ella que a contou sobre o caso, ela se preocupou se a amiga estaria na mesma situação que a dela nesse momento. Se fosse. Ela orou internamente por força e sorte para as duas.

Voltando sua atenção para o céu daquele lugar, a ficha finalmente caiu para Ciel, de que aquele não era o céu, ou mesmo o sol que ela viu por toda a vida e a quê estava acostumada.

Parecia estranho para ela, se fosse dizer, o céu parecia um oceano ainda mais lindo que as melhores praias de seu mundo, pintado em um azul turquesa pelo melhor pincel. Enquanto o sol parecia um pouco mais suave e brando em sua cor, mais esbranquiçado, como uma estrela gigante.

Sua luz, morna e confortável se espalhando e iluminando tudo. Exceto o estranho e profundo oceano, que ironicamente, parecia se tornar ainda mais escuro e profundo sob a luz.

Ela não havia visto o céu noturno ainda, já que a floresta era coberta por um mar de galhos altos.

Em uma pequena parte de seu coração, Ciel ficou curiosa sobre o céu de estrelas desse lugar.

Se mesmo o mar, parecia estranho e cativante para ela, o que mais aquele mundo lhe mostraria?

Parecendo responder aos seus pensamentos, de repente ela sentiu a coruja olhar para o lado.

Enquanto ela seguia sua linha de visão para a floresta. Conseguiu aguçar a audição o suficiente para ouvir.

Passos apressados e tropeços em meio a galhos se quebrando.

Os sons pareciam se ligar às batidas de seu coração enquanto a jovem congelava no lugar.

Antes que a garota pudesse pensar em qualquer coisa sobre tal barulho, algo estalou suavemente.

O pássaro em seu ombro desapareceu no ar.

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