A brisa da tarde agitava levemente as folhas secas que cobriam os galhos retorcidos das árvores do velho bosque. Em uma delas, quase no topo, sentada de maneira relaxada, estava Sakura. Seus longos cabelos roxos presos em um rabo de cavalo balançavam suavemente com o vento, uma mania que pegara de Zashi - evitar o incômodo das mechas soltas durante os treinos havia se tornado quase um mantra.
Vestia uma blusa branca sem mangas, simples, mas marcada por um símbolo especial: um círculo com cinco inscrições distintas em seu ombro direito. A marca de seu clã, o despertar do sangue Haruno. Um despertar que ainda era incompleto - o selo estava ali, visível, pulsante, mas imóvel. Uma promessa não cumprida. Se falhasse em manifestá-lo por completo, essa marca permaneceria em sua pele para sempre... um lembrete silencioso de algo que tentou, mas não alcançou.
Com os olhos atentos, lia um antigo livro entregue por Zashi. A história falava de um tempo sombrio, de um demônio ancestral - uma raposa de nove caudas, cujo simples balançar de uma de suas caudas podia destruir montanhas e erguer tsunamis. O texto descrevia com reverência um herói: o Quarto Hokage, Minato Namikaze, o homem que selou o monstro ao custo da própria vida.
De repente, um estalo seco entre os galhos próximos a fez levantar os olhos.
- Pequena Sakura... infelizmente, eu não posso mais ficar nesse mundo... - disse uma voz conhecida, rouca, mas doce.
A jovem olhou na direção do som e arregalou os olhos.
- Iziki-sama! - exclamou, pulando da árvore com agilidade. O livro caiu no chão, esquecido.
A figura de Iziki, embora translúcida e pálida, aproximava-se lentamente. Sua presença parecia flutuar entre o físico e o espiritual. O tempo cobrava sua dívida.
- Minha consciência está enfraquecendo - continuou Iziki, com um sorriso triste no rosto. - Ficarei adormecida por 15, talvez 20 anos... Mas você não estará sozinha. Zashi cuidará de ti, e quando eu despertar... quero treinar seus filhos.
Sakura baixou o olhar, mordendo os lábios. Um nó se formou em sua garganta. Uma lágrima teimosa escapou, mas ela a enxugou com um rápido movimento do dedo indicador. Não podia parecer fraca.
- Obrigada por tudo, Iziki-sama. Sua presença me deu força. Esse é apenas o começo da minha jornada, mas você... você me ajudou a dar o primeiro passo.
Iziki se aproximou ainda mais, sua expressão entre o carinho e a severidade.
- Não se descuide. Você tem potencial. Treine duro. Lembre-se: quero outro Haruno para moldar com minhas próprias mãos.
Sakura sorriu, forçando firmeza.
- O clã Haruno não será restaurado...
Iziki franziu o cenho, surpresa.
- Como não?
- Vou me casar com outro clã - respondeu, firme. - O nome Haruno será apagado, mas nosso sangue seguirá... longe das armadilhas do nome. Quero garantir que ele sobreviva, mesmo que como uma semente anônima.
Iziki hesitou, tentando responder, mas sua imagem começou a se dissipar. Suas últimas palavras se apagaram no ar como um eco interrompido. No lugar onde estivera, pétalas de cerejeira flutuaram por um instante antes de serem levadas pelo vento.
Sakura permaneceu imóvel por alguns segundos, respirando fundo. Em seguida, pegou o livro do chão, limpou a capa com a palma da mão e sentou-se no solo, agora mais silencioso. Voltou à leitura, com o coração mais pesado. Quando terminou, meia hora depois, levantou-se e caminhou para sua casa - uma pequena construção de madeira, acolhedora, onde o cheiro de comida fresca já invadia o ar.
Zashi, uma mulher de presença marcante e olhar firme, estava servindo a refeição.
- Sakura, se passar no teste, volto a fazer missões de longo prazo para a ANBU - disse ela, colocando um prato na mesa.
- Certo, Za-chan - respondeu Sakura, jogando-se preguiçosamente sobre a cadeira, parecendo uma criança por um segundo.
- Vai fazer o teste do Hokage agora? - indagou Zashi, olhando de lado, preocupada.
- Amanhã serei uma Genin - declarou com um sorriso cheio de arroz nos dentes. - Estou mais perto do meu objetivo... e a comida está maravilhosa!
- Já te falei para não falar de boca cheia. Cadê a educação?
- Desculpa, Za-chan... - murmurou, ainda mastigando.
- E Iziki-sama? Ela já voltou ao descanso?
- Sim. Ela me ensinou muitas coisas importantes... até alguns jutsus.
Zashi cruzou os braços, séria.
- Ela quer que você restaure o clã, não é?
Sakura se levantou, levando o prato até a pia e o deixando ali. Respirou fundo, sem olhar para trás.
- Eu... não quero isso.
Zashi arqueou uma sobrancelha, gesto que bastou para a garota suspirar e voltar para lavar o prato direito.
- Eu vou me casar com outro clã. O nome Haruno desaparecerá, mas o sangue continuará. Melhor do que arriscar que tudo seja destruído novamente.
Terminando de limpar o prato, Sakura seguiu até a porta.
- Boa sorte, Sakura.
Zashi observou a garota desaparecer entre as sombras da noite. Cruzou os braços, apoiando-se no batente da porta. Seus pensamentos giravam em silêncio.
"Esses dois anos vivendo comigo e com Iziki fizeram dela mais do que uma criança... Sakura desenvolveu uma mente estratégica, quase fria. Às vezes age como uma garota inocente, mas por trás disso há um plano. Casar-se com outro clã pode ser uma boa jogada... mas carrega riscos. Terei que orientá-la sobre isso antes que seja tarde demais."
~ Vila Oculta da Folha - Sala do Hokage ~
O sol do meio da manhã atravessava as largas janelas da torre do Hokage, lançando feixes dourados sobre os móveis antigos e bem-cuidados. A sala exalava respeito e poder: paredes cobertas por estandartes do símbolo da Folha, pergaminhos empilhados em estantes, e no centro, a grande mesa de madeira esculpida, onde se sentava a figura mais respeitada da vila.
Foi por uma dessas janelas que Sakura entrou, com um salto gracioso. A brisa entrou junto com ela, bagunçando os papéis e fazendo o Hokage erguer uma sobrancelha com leve divertimento.
- Velho-sama,- disse ela, pousando com leveza no parapeito e balançando as pernas com certa irreverência. - Cheguei.
O Hokage, homem de meia-idade com cabelos grisalhos e olhar experiente, ergueu os olhos da papelada. Por um momento, apenas a observou - não com severidade, mas com um carinho contido.
- Você cresceu - murmurou, cruzando os braços. - Me sinto como um pai que passou anos fora e ao voltar encontra a filha quase adulta.
Sakura sorriu com um brilho malicioso nos olhos.
- Vamos fazer logo o teste. Quero mostrar minha bandana pra Za-chan antes que ela pense que fui reprovada só pra poder comer mais do ramen dela.
O Hokage soltou uma risada baixa, sacudindo a cabeça.
- Está pronta para ser testada?
- Sempre estive.
Ele se recostou na cadeira, estreitando os olhos.
- Já que foi treinada por Zashi... - disse com um certo pesar, puxando a manga do manto - ...vou dificultar um pouco as coisas. Faça três jutsus de clonagem. Transforme-os em pessoas diferentes e mantenha as formas por, digamos, o tempo que eu achar necessário.
Apesar da seriedade, o Hokage já havia decidido. Os relatórios enviados por Zashi eram precisos demais para dúvidas. Treinada por uma ANBU por cinco anos, Sakura já estava acima da média - mas ele precisava ver com os próprios olhos.
Sakura não hesitou. Com um estalar de dedos e um olhar afiado, começou a formar os selos com mãos rápidas como relâmpagos.
- Bunshin no Jutsu!
Três clones surgiram ao seu lado em uma nuvem de fumaça. Ela respirou fundo, fechou a mão direita e ergueu dois dedos. A transformação começou a brilhar, moldando chakra com precisão. Em poucos segundos, os três clones assumiram formas humanas distintas: o próprio Hokage, Zashi- com sua expressão tranquila porém vigilante - e, curiosamente, uma cópia dela mesma.
O verdadeiro Hokage observou em silêncio, apoiando o queixo em uma das mãos. Era um bom sinal que ela conseguisse manter as formas tão estáveis. Os clones não oscilavam, e nem apresentavam falhas comuns de molde.
Dez minutos se passaram, e Sakura apenas respirava lentamente, com concentração leve, quase natural.
- Já se passaram dez minutos. É o suficiente. - disse o Hokage, satisfeito.
Sakura estalou os dedos e, com um leve sopro, desfez os clones em névoa.
- Pronto.
- Você sabe... - disse ele, se inclinando para abrir uma gaveta - ...que precisa evitar mencionar o nome do seu clã. Para sua própria segurança.
Ela assentiu, já se virando para a janela de onde havia entrado.
- Zashi me orientou desde o início. Sei o que está em jogo.
- Fico aliviado. Eu também manterei seu nome longe de qualquer associação com o Clã Haruno. Mas fique atenta... existem pessoas que reconhecem os jutsus de sangue. E aquela marca no seu ombro - ele lançou um olhar direto - não deve ser vista por ninguém. Quando ela desaparece?
Sakura fez uma careta e passou a mão sobre o ombro direito, desconfortável com o peso da pergunta.
- Enquanto meu sangue não despertar completamente, ela vai continuar aí. Meus cabelos também ficam nessa cor... roxo escuro... horrível. E meus olhos... quase pretos. Não sou eu ainda.
Ela olhou para o chão por um instante. "Quero meus cabelos rosa como os de Iziki-sama", pensou, com um aperto no coração.
- Daqui a dois dias, - disse o Hokage, estendendo um estojo e uma bandana recém-lustrada - você deverá se apresentar na academia ninja. Lá, será associada a um professor. Zashi sabe onde é. Aqui está sua bandana... e seu equipamento básico. Se precisar de mais, fale com ela.
Sakura pegou os objetos com cuidado. A bandana... era real. Pesava pouco nas mãos, mas muito no coração. Ela a guardou cuidadosamente dentro da bolsa, sem amarrá-la.
- Não vou colocar agora,- murmurou para si mesma, já caminhando de volta à janela. - Quero mostrar primeiro para a Za-chan.
Com um último aceno ao Hokage, pulou com leveza e desapareceu pela janela, deixando apenas uma brisa agitando os pergaminhos sobre a mesa.
Do lado de fora, o sol estava mais alto, iluminando o caminho estreito entre os prédios da vila. Sakura caminhava com passos leves, mas firmes. Um sorriso discreto surgia em seus lábios enquanto seus dedos tocavam o pano da bandana dentro da bolsa.
"Vou passar na academia amanhã. Quero ver quem mais conseguiu se graduar. Não deve ser tão difícil encontrar o lugar... nem os rostos que cruzarão meu destino."
E assim, o próximo passo da jornada começava - não apenas como uma ninja, mas como a herdeira silenciosa de um clã esquecido, moldada por sombras, treinada por lendas.
~ Alguns minutos depois - Sala do Hokage, Vila da Folha ~
O silêncio da sala foi quebrado de forma abrupta quando a porta foi escancarada com força suficiente para sacudir os pergaminhos sobre a mesa. Dois chūnin entraram ofegantes, suados, como se tivessem corrido da muralha até ali sem parar.
- Hokage-sama! - exclamou o primeiro, com os olhos arregalados de urgência.
- É o Naruto! - completou o segundo, já puxando a bandana para enxugar o suor da testa.
O Hokage soltou um longo suspiro, reclinando-se na cadeira com um cansaço que não vinha apenas da idade.
- O que foi agora? - perguntou, franzindo a testa como quem já esperava o pior.
- Ele... Ele está profanando o Monumento dos Hokages com tinta!
Por um momento, o Hokage fechou os olhos, tentando reunir a paciência.
- De novo, Naruto...? - murmurou, levantando-se lentamente. - Vamos lá ver o que o menino está aprontando desta vez...
~ Do lado de fora - Base do Monumento dos Hokages ~
As cabeças dos antigos líderes da vila estavam entalhadas com reverência nas rochas da montanha - rostos eternos que encaravam a vila como guardiões silenciosos. Mas hoje, aquele símbolo sagrado estava sendo... pintado.
Tinta vermelha, azul e até roxa escorria pelo rosto do Primeiro Hokage, e alguém - ou melhor, um certo alguém - estava pendurado com cordas, balde em uma mão e pincel na outra, completamente despreocupado.
- Hey! PARE DE FAZER ISSO!!! - gritou um dos ninjas abaixo.
- VOCÊ ESTÁ ENVERGONHANDO A VILA, NARUTO! - berrou outro.
- VOCÊ SEMPRE ARRUMA PROBLEMAS! - completou um terceiro, apontando para o caos pintado.
No centro da confusão estava Naruto Uzumaki, garoto de cabelos loiros espetados e olhos azuis que brilhavam com travessura. A corda que o prendia à cintura balançava com seus movimentos. Ele se segurava com uma perna apoiada no rosto do Segundo Hokage, enquanto pintava bigodes coloridos no Terceiro.
- CALEM A BOCA, IDIOTAS!!! - gritou Naruto, devolvendo os insultos sem medo. - Eu sou um artista incompreendido!
Enquanto os ninjas tentavam subir pela estrutura para detê-lo, a multidão aumentava. Crianças riam, adultos murmuravam em choque, e o caos crescia.
Do alto das escadarias, o Hokage chegou ao local, os olhos cerrados na cena diante dele.
- Droga... o que esse moleque tá fazendo agora...?
Ao lado dele, surgiu Iruka Umino, alto, com feições sérias, e a característica cicatriz horizontal no rosto. Seu suspiro foi pesado como uma tempestade contida.
- Hokage-sama, me desculpe por isso...
O velho sorriu, apesar de tudo. Os olhos se suavizaram ao reconhecer o homem.
- Oh! Iruka! - disse com um alívio discreto. - Ainda é você que consegue dobrar aquele menino teimoso.
Iruka assentiu e avançou, a voz grave ecoando firme:
- NARUTO!!! LIMPE ISSO AGORA, SEU IDIOTA!!!
Lá no alto, Naruto travou. O balde quase caiu de sua mão. Seu corpo ficou rígido, os olhos arregalados.
- D-droga! É o Iruka-sensei... - resmungou para si mesmo, já vendo sua liberdade escapar como tinta escorrendo da parede.
~ Algum tempo depois - No topo do monumento \~
Sentado em cima da cabeça do Quarto Hokage, Iruka observava Naruto esfregando um trapo já encharcado de tinta. O menino resmungava a cada esfregada, o rosto franzido em tédio e frustração.
- Eu não vou te deixar sair daí até limpar tudo! - disse Iruka, os braços cruzados, olhos atentos.
Naruto parou por um instante, suando, e olhou para baixo, para a vila que se estendia até onde a vista alcançava. Seus ombros caíram.
- Como se eu ligasse...- murmurou. - Não tem ninguém me esperando mesmo.
As palavras ficaram no ar, pesadas. Iruka sentiu um nó no estômago. A expressão rebelde de Naruto escondia algo mais profundo: solidão.
- Naruto... - disse baixinho, os olhos suavizando-se com tristeza.
- O que é agora...? Pq - Naruto respondeu sem ânimo, mantendo o olhar baixo. Pela primeira vez, sua voz não carregava sarcasmo nem bravata - apenas uma dor mal escondida.
Iruka respirou fundo.
- Bem... - pigarreou, tentando manter o tom casual. - Se você terminar isso direito... eu te levo para comer um ramen no Ichiraku esta noite.
Naruto virou-se com os olhos arregalados, como se alguém tivesse acendido uma chama dentro dele.
- Sério? Ramen mesmo?
- Sim. Um grande. Do tipo que você gosta.
- Então tá! Eu vou trabalhar duro, Sensei! Vai ver só!
Com novo vigor, Naruto passou a esfregar com força, mesmo que a tinta estivesse grudada como se fosse selada com chakra.
Iruka sorriu. Por um instante, aquele menino não era um problema. Era só uma criança querendo ser notada.
~ À noite, no Ichiraku Ramen ~
A aldeia estava banhada por uma luz âmbar suave, projetada pelas lanternas penduradas nos telhados das lojas e casas. As ruas da Vila Oculta da Folha estavam mais silenciosas do que o habitual - apenas alguns passos apressados e risadas discretas quebravam o clima tranquilo daquela noite. No fundo de um beco lateral, entre uma loja de ferramentas ninjas e um antiquário, estava o acolhedor e já conhecido quiosque de lamén Ichiraku.
O aroma do caldo quente misturado ao vapor que escapava das panelas grandes criava um ambiente aconchegante, como um abraço quente após um dia longo demais. A fumaça subia lentamente, misturando-se com o céu estrelado que cobria Konoha como um manto protetor.
Sentado em um dos bancos altos de madeira, Naruto Uzumaki inclinava o corpo sobre o balcão, com os olhos fixos na tigela fumegante à sua frente. Ele já havia comido metade do ramen, mas a mente divagava, pesada com pensamentos que iam além do simples vandalismo do dia.
Ao seu lado, Iruka, com a postura levemente inclinada e os hashis (pauzinhos) equilibrados entre os dedos, fitava o garoto com um misto de cansaço, preocupação... e carinho.
- Por que você fez aquilo com o monumento, Naruto? - Iruka quebrou o silêncio, levando uma porção de macarrão à boca. - Você sabe quem são os Hokages, certo?
Naruto não respondeu de imediato. Seus olhos azuis, normalmente cheios de travessura, estavam fixos no vapor que saía da sopa. Ele parecia pequeno, mais do que de costume, como se o peso do mundo inteiro estivesse em seus ombros.
- Claro que sei,- murmurou, sem encarar Iruka. - Os Hokages são os ninjas mais fortes da vila, não são? Aqueles que protegem todos... aqueles que todo mundo respeita.
- Então por que fazer aquilo? - insistiu Iruka, agora encarando Naruto com intensidade. Seus olhos pediam sinceridade.
Naruto franziu os lábios. Levantou o olhar lentamente, encarando o homem ao seu lado. Sua voz veio firme, embora baixa:
- Se eu me tornar Hokage, Sensei... - seus olhos brilharam, não de lágrimas, mas de fogo. - Eu quero que todos saibam quem eu sou. Eu quero que um dia... ninguém mais me olhe como um peso, um problema... um monstro.
Iruka ficou em silêncio. O hashis pararam no ar. O peso daquelas palavras era como um punhal silencioso no peito. Ele respirou fundo, desviando o olhar por um momento.
Naruto pigarreou e, tentando mudar o clima, forçou um sorriso meio torto:
- Sensei... eu posso usar sua bandana por um tempo? - apontou com o dedão para a testa de Iruka, onde o símbolo de Konoha brilhava à luz do quiosque.
Iruka soltou uma risada baixa, quase surpresa pela pergunta súbita. Tocou a bandana com os dedos e depois balançou a cabeça com firmeza.
- Isso aqui? - apontou para a placa metálica presa ao tecido azul-escuro. - Não, não, Naruto. Isso aqui não é só um enfeite.
Ele se inclinou um pouco mais próximo, o tom mais suave.
- Essa bandana representa algo que você vai precisar conquistar com seu próprio esforço. É o símbolo da sua dedicação, da sua promessa para a vila.
- Quando você se formar, ela será sua - e só sua. - sorriu. - Quem sabe... talvez você consiga a sua... amanhã.*l
Naruto arregalou os olhos. Por um segundo, a esperança brilhou com força neles.
- Sério?! - ele quase pulou do banco. - Você acha que eu consigo mesmo?!
- Se fizer direito, sim. - Iruka deu de ombros. - Mas precisa parar de tentar chamar atenção do jeito errado. Lute para ser reconhecido por quem você é... não pelo que os outros dizem.
Naruto baixou o olhar e sorriu, dessa vez de verdade.
- Entendi, sensei. Obrigado pelo ramen... e pelas palavrasc- falou enquanto ainda mastigava os últimos fios de macarrão.
Do outro lado do balcão, Teuchi, o dono do Ichiraku, apenas sorriu, fingindo não ter ouvido nada. Mas, no fundo, ele torcia por aquele garoto - como tantos outros que já viam, mesmo que ainda bem distante, o brilho de um verdadeiro Hokage crescendo ali.
~ Casa de Sakura - Noite ~
A brisa noturna soprava suave pelas folhas da grande árvore no quintal. As estrelas cintilavam em um céu limpo, onde a lua crescente parecia vigiar em silêncio as inquietações da jovem que ali se encontrava.
Sakura estava sentada em um dos galhos mais grossos da árvore, com os pés balançando lentamente no ar. Pela primeira vez em muito tempo, seu longo cabelo roxo caía solto sobre os ombros, dançando com o vento. Era raro vê-la assim - normalmente, o prendia com firmeza, como Zashi lhe ensinara, para manter os olhos livres durante os treinos.
Mas agora, sob o céu tranquilo, ela permitia-se um momento de vulnerabilidade.
"Quando esse cabelo vai assumir suas características Haruno?" - pensava, lançando um olhar distante para o luar. - "Quero meus cabelos rosa e longos... como os da Iziki-Sama. Quero parecer com ela. Quero... ser reconhecida como uma verdadeira Haruno."
Os pensamentos foram interrompidos por passos suaves no chão de terra. Ela reconheceria aquele andar em qualquer lugar.
- Você passou? - perguntou Zashi, com a voz baixa, quase maternal, ao erguer os olhos e encontrar a garota sentada entre os galhos.
Sakura sorriu antes mesmo de responder. Com um salto ágil e silencioso, aterrissou suavemente no chão. A jovem puxou a pequena bolsa presa à cintura e, com um brilho orgulhoso nos olhos, ergueu a bandana da Vila Oculta da Folha.
- Za-chan, você ainda duvidava? - provocou com um sorriso vitorioso, os olhos verdes reluzindo à luz prateada da lua.
Zashi não respondeu de imediato. Apenas se aproximou e bagunçou os cabelos da menina com uma risada leve.
- Isso! Essa é minha garota!- exclamou, com uma energia alegre que escondia a emoção silenciosa por trás dos olhos. Ver Sakura dar mais esse passo a enchia de orgulho... e de medo também.
Sakura sorriu, mas seus olhos não conseguiram esconder um certo peso que se instalava devagar.
- Za-chan... amanhã você vai sair para aquelas missões longas, não vai? - perguntou enquanto caminhava na frente, entrando na casa de madeira aconchegante onde moravam.
Zashi fechou a porta atrás de si, observando Sakura tirar as sandálias e caminhar até o centro da sala. Ela percebeu, no modo como os ombros da garota estavam tensos, no modo como ela evitava contato visual... algo a estava incomodando.
- Sakura, - chamou suavemente, a voz firme, mas acolhedora - o que está te afligindo?
Sakura parou. Ficou em silêncio por alguns instantes, e então soltou um suspiro longo, como se estivesse tentando colocar o coração para fora.
- Eu estou receosa... - confessou. - De acabar sendo associada ao Clã. Ao nome Haruno.
Zashi a observou por um momento. Então se aproximou com calma e colocou as mãos nos ombros da menina, apertando-os com leveza, mas com firmeza suficiente para que ela sentisse o apoio.
- Você não está sozinha, pequena. - disse, com um meio sorriso que tentava transmitir segurança. - Eu estou aqui. Esqueceu?
Sakura finalmente levantou os olhos. Aquelas palavras tinham o poder de acalmar a tempestade que havia dentro dela.
- Tem razão... - murmurou. - Não devia me preocupar tanto. Za-chan é a melhor.
Zashi riu suavemente, esfregando o cabelo da garota como gesto brincalhão.
- Só não esquece disso quando estiver andando por aí se achando demais com essa bandana na testa.- provocou.
- Nem vou colocar ainda. Quero que a primeira pessoa que me veja com ela seja você. - Sakura respondeu, e dessa vez seu sorriso era mais leve.
~ No outro dia - Academia Ninja da Vila da Folha ~
A manhã estava viva e barulhenta na vila, especialmente nos arredores da Academia Ninja. O som de jovens vozes e passos apressados preenchia os corredores e pátios. O sol brilhava forte, refletindo no telhado de cerâmica vermelha da escola, enquanto os aprendizes se reuniam em fila, uniformizados, ansiosos, nervosos - e alguns, confiantes demais.
A sala de testes estava iluminada por janelas largas, e no centro, o professor Iruka observava seus alunos com atenção. Ao lado dele, outro chunin - Mizuki - mantinha os braços cruzados, encarando todos com um semblante indiferente.
Iruka respirou fundo e falou com sua voz firme, mas encorajadora:
- Agora, para o exame de graduação, cada um de vocês fará o Jutsu de Clonagem. Quando eu chamar seus nomes, venham comigo para a próxima sala e executem a técnica. - deu um leve sorriso, tentando amenizar a tensão no ambiente. - Lembrem-se: concentrem o chakra e mantenham a mente focada.
Ele começou a chamar os nomes.
Sons de cadeiras arrastando e passos apressados se misturavam ao murmúrio ansioso dos que ainda aguardavam.
No fundo da sala, sentado em silêncio com os punhos cerrados sobre os joelhos, estava Naruto. Seus olhos azuis se moviam inquietos entre os colegas. O suor já se acumulava em sua testa, e ele engolia em seco a cada nome que era anunciado antes do seu.
"Droga... justo essa técnica... tinha que ser logo essa..." - pensou, mordendo o lábio inferior.
Então veio:
- Naruto Uzumaki.
O mundo pareceu congelar por um instante. Vários alunos o encararam, alguns rindo baixo, outros apenas curiosos. Naruto se levantou devagar, o peito estufado numa falsa confiança.
- Eu vou conseguir! - disse para si mesmo, caminhando até a sala de avaliação com passos firmes, embora seus olhos denunciavam o medo que borbulhava por dentro.
Na sala, Iruka o observava com atenção, Mizuki com impaciência.
- Quando estiver pronto, Naruto - disse Iruka.
Naruto respirou fundo, fechou os olhos por um segundo e começou a formar os selos com as mãos. Concentrou seu chakra com força, quase demais.
- Bunshin no Jutsu! - gritou com determinação.
Uma nuvem de fumaça envolveu o garoto, mas o resultado foi desastroso.
Ao lado dele, um clone surgiu - ou ao menos algo que tentava ser um clone. Estava pálido, meio desmaiado, os olhos tortos e o corpo torto como se estivesse prestes a desabar. Em segundos, a figura vacilou e desapareceu com um sopro de vento.
Naruto encarou a fumaça sumindo, os olhos arregalados, o peito vazio.
- Reprovado - disse Iruka com frieza, sem nem hesitar.
- Iruka-sensei- Mizuki protestou, a voz pesada de antecipação. - Essa é a terceira tentativa de Naruto.
- Eu sei que ele tem vontade, mas os outros alunos conseguiram fazer pelo menos três clones... e o dele mal se sustentou.
Naruto abriu um sorriso esperançoso por um breve segundo, olhando para Iruka - talvez, só talvez, ele fosse deixá-lo passar. Mas o olhar de Iruka era firme. Mesmo com dor no coração, ele balançou a cabeça em negação.
O sorriso desapareceu.
Naruto virou o rosto antes que as lágrimas fossem visíveis. Saiu da sala em silêncio, como um fantasma apagado por dentro.
~ Mais tarde, nos jardins da Academia ~
Os recém-formados genins estavam todos reunidos em volta de Iruka, recebendo suas bandanas com orgulho. Risos, abraços, comemorações. Alguns já imaginavam que time seriam designados, outros apenas estavam felizes por finalmente conseguirem.
E afastado, sob a sombra de uma árvore, Naruto balançava-se lentamente num velho balanço de corda, pendurado em um galho da arvore. O vento balançava seu cabelo loiro bagunçado. O olhar dele estava vazio, afundado em tristeza. Seus pés raspavam o chão poeirento sem entusiasmo.
De repente, algumas vozes surgiram próximas.
- Ei, olha ali... é ele.
- Sim, aquele é "o" garoto.
- O único que falhou no exame.
Naruto não precisava ouvir mais. As palavras doíam, mesmo que ele já esperasse. Mas o que mais doía era o tom - desprezo, desdém, como se ele não fosse nada.
- Bom, ainda bem, né? Assim ele não pode virar um ninja.
Naruto apertou o punho. Saltou do balanço e saiu correndo, ignorando tudo e todos.
Mas nem todos haviam ignorado a conversa.
Sakura, que havia acabado de sair da sala com a bandana recém-amarrada ao braço, caminhava com passos firmes. Seus olhos brilhavam de indignação.
- Por que não? - perguntou ela, encarando um dos adultos que cochichava ao fundo.
O homem a olhou como se ela fosse uma criança intrometida. E era. Mas Sakura não recuou.
- Você não entenderia, criança. - disse friamente, antes de se virar e ir embora.
Sakura ficou ali por um tempo, observando o vazio deixado por Naruto.
- Só porque não conseguem vê valor nele... não significa que ele não vale nada - murmurou para si, com um aperto no coração.
~ Fim de Tarde - Academia Ninja ~
A luz dourada do entardecer se derramava sobre os telhados da Aldeia da Folha, tingindo as sombras de laranja suave. O burburinho da multidão de pais e alunos, que minutos antes enchiam o pátio da academia com gritos e risos, agora se dissipava lentamente. Os recém-formados genins deixavam o local com suas bandanas brilhando nos braços, testas ou pescoços, alguns orgulhosos demais, outros ainda em choque pela conquista.
E então, entre os instrutores que ainda observavam os arredores, uma figura se aproximou - seus passos calmos, a expressão grave. Era o Terceiro Hokage, Hiruzen, com seu manto esvoaçante e o olhar sempre atento.
- Iruka, - chamou com serenidade.
O professor ergueu os olhos, como quem já esperava uma repreensão.
- Sim, Hokage-sama. - se aproximou imediatamente.
O Hokage fez um gesto sutil com a mão, indicando para que caminhassem juntos. Eles se afastaram um pouco, para a sombra de uma árvore próxima, longe dos ouvidos curiosos.
- Iruka, - repetiu o velho ninja, em tom mais pessoal.
Iruka endireitou-se, os ombros tensos. Esperava uma crítica velada, talvez por ter sido duro com Naruto.
- Estou ouvindo, senhor.
O Hokage fitou o horizonte, onde os últimos raios de sol tocavam os rostos esculpidos dos Hokages nas montanhas.
- Você sabe... o Naruto é muito parecido com você, sabia?
Iruka piscou, confuso.
- Comigo...?
- Sim, - continuou Hiruzen, com um sorriso cansado no rosto. - Sozinho. Impulsivo. Fazendo confusão para ser visto... Mas com uma força dentro dele que ainda nem ele mesmo entende. Pense nisso.
O professor ficou em silêncio. O Hokage tocou seu ombro com gentileza e então se afastou, sumindo pelas sombras da aldeia, deixando Iruka sozinho com seus pensamentos.
~ Em Outro Lugar da Vila - Bairro Residencial ~
As luzes começavam a acender nas casas, e os telhados da Vila da Folha assumiam uma tonalidade dourada sob o céu de fim de tarde. Nas ruas mais calmas, com poucos transeuntes, Naruto andava devagar, chutando uma pedrinha à frente, cabeça baixa, mãos nos bolsos do moletom. Seus passos ecoavam um desânimo que doía até no chão.
- Naruto. - chamou uma voz familiar.
Ele parou e ergueu os olhos devagar. Era Mizuki, seu professor auxiliar.
- Mizuki-sensei? - a surpresa fez seus olhos se abrirem um pouco mais.
- Posso conversar com você um instante?
- Claro...- respondeu com a voz apagada.
Mizuki sorriu com gentileza e gesticulou para que o seguisse. Os dois caminharam até o pequeno prédio onde Naruto morava. Subiram os degraus em silêncio, e logo estavam sentados na varanda do apartamento bagunçado do garoto. O vento soprava levemente, bagunçando os cabelos loiros de Naruto.
Lá embaixo, as ruas iam ficando mais vazias.
- Naruto, - começou Mizuki, apoiando os braços nos joelhos, olhando ao longe. - Você sabia que Iruka-sensei perdeu os pais muito cedo?
Naruto ergueu os olhos, curioso.
- Sério...?
- Sim. Eles morreram na guerra. - continuou o professor, agora fitando os rostos dos Hokages nas montanhas. - Desde então, ele teve que cuidar de si mesmo, crescer sozinho. Sem ninguém pra buscar ele na escola. Sem parabéns quando tirava boas notas. Sem casa com cheiro de comida pronta. Ele entende como é viver assim.
Naruto ficou em silêncio, apertando as mãos sobre as coxas. O olhar, antes morto, agora parecia querer entender.
- Mas se ele entende, - disse com a voz engasgada, - por que ele sempre pega no meu pé? Por que ele nunca me deixa passar...?
Mizuki virou-se para ele, com um meio sorriso.
- Porque ele acredita em você, Naruto. Ele te vê como um reflexo dele mesmo. E talvez esteja esperando que você seja mais forte do que ele foi. É só que... ele ainda não sabe como dizer isso direito.
Naruto desviou o olhar. O mundo parecia cruel demais para ele, às vezes.
- Mas eu queria ter me graduado... - confessou, a voz fina, baixa, quase infantil.
- Bem... nesse caso, - Mizuki inclinou-se para a frente com um brilho no olhar, - acho que posso te contar um segredo especial.
Naruto arregalou os olhos, imediatamente interessado. Sua tristeza recuava, como se a promessa de algo valioso despertasse uma faísca de esperança.
- Um segredo? - sussurrou, curioso.
- Sim... Existe um pergaminho secreto na vila, guardado com extremo cuidado. Dizem que dentro dele existem técnicas proibidas, técnicas poderosas demais para serem ensinadas normalmente. Mas... se alguém aprender uma delas... talvez possa se tornar um ninja de verdade.
Naruto sentou-se ereto, a mente já correndo a mil por hora.
- Você está falando sério? Onde está esse pergaminho?!
Mizuki sorriu, quase paternal.
- Eu vou te mostrar... Mas tem que ser em segredo. Só você pode saber.
Naruto assentiu, seus olhos brilhando como nunca antes naquele dia.
Era a primeira vez que alguém acreditava que ele podia ser mais do que apenas o garoto problemático da aldeia.
~ Ao decorrer da noite - Torre do Hokage ~
A noite envolvia a Aldeia da Folha em um manto silencioso, mas nem mesmo o véu das estrelas era capaz de esconder a movimentação sorrateira que ocorria perto da residência do Hokage. As janelas da torre estavam semiabertas, e o ar carregava o frescor de um vento tranquilo, típico das madrugadas na vila.
No interior da torre, Hiruzen, se preparava para uma noite de descanso. Retirava lentamente sua armadura, os olhos cansados refletindo a chama bruxuleante da lamparina, quando algo chamou sua atenção - um leve rangido no assoalho.
- O que está fazendo na minha casa a essa hora...? - perguntou com um suspiro, virando-se devagar, sem surpresa, apenas cansaço.
Mas o que veio a seguir foi totalmente inesperado.
- Sexy no Jutsu!!! - gritou uma voz jovem.
E diante do Hokage surgiu uma nuvem de fumaça branca, acompanhada de um estalo mágico. De dentro dela, emergiu a silhueta voluptuosa de uma mulher completamente nua, com cabelos loiros longos e um sorriso provocante. O rosto enrubesceu, os olhos do velho Hokage arregalaram, e antes que pudesse dizer qualquer palavra, um jorro de sangue escapou de suas narinas. Ele tombou no chão como uma árvore abatida.
- Hehe... funcionou. - Naruto sorriu travesso, voltando à sua forma original.
Pouco depois, saiu pela porta dos fundos com um enorme pergaminho selado amarrado às costas. O objeto era quase maior que ele, e seus passos curtos eram atrapalhados pelo peso, mas nada apagava o brilho determinado em seu olhar.
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~ Floresta nos arredores da Vila ~
A lua banhava o bosque em tons de prata, dançando por entre as copas das árvores. Em uma clareira isolada, Sakura respirava ofegante. Seus cabelos, soltos e agitados pelo vento, grudavam na testa úmida de suor. Tentava repetir, incansavelmente, um dos jutsus avançados que vira Iziki-sama realizar. A grama ao redor já estava pisoteada, e marcas de chakra queimavam levemente o solo.
- De novo... - murmurou, levando as mãos aos selos.
Enquanto isso, não muito longe dali, Naruto desabava no chão, exausto. O pergaminho estava aberto diante dele, suas páginas antigas e amareladas tremulando com o vento.
- Jutsu Clone das Sombras...? - murmurou entediado. - Tinha que ser logo essa porcaria... Por que sempre esse jutsu?
Seus olhos percorriam as instruções, mas sua mente já estava ansiosa. Precisava dominar aquilo. Precisava provar seu valor. Mesmo que fosse sozinho.
~ Em outro ponto da vila - Residência de Iruka ~
iruka estava deitado sobre o futon, olhos presos ao teto. As memórias do passado vinham em ondas: o som das explosões, o grito da mãe, o olhar final de seu pai... O vazio da infância sem eles.
Tok, tok, tok.
A batida na porta o trouxe de volta.
- O que foi? - disse, erguendo-se com pressa e abrindo com expressão irritada.
Na porta, Mizuki ofegava, os olhos cheios de urgência.
- Temos que ir até o Hokage! Naruto roubou o pergaminho dos selos proibidos!
O sangue sumiu do rosto de Iruka.
- O quê?!
Os dois correram pelas ruas agora vazias da vila. Quando chegaram à sala do Hokage, o ambiente estava tenso. Diversos ninjas se aglomeravam diante do velho líder, que, de pé, fumava calmamente seu cachimbo.
- Não podemos deixá-lo escapar com esse pergaminho! - rosnou um dos jounins.
- Já se passaram horas desde que ele o pegou, - disse outro. - Precisamos agir agora!
Hiruzen permaneceu pensativo, soprando uma nuvem de fumaça no ar pesado da sala.
- O conteúdo desse pergaminho não é simplesmente perigoso por conter técnicas letais... É perigoso porque mexe com limites morais, sacrifica o corpo, e exige um preço do usuário. E Naruto... ele não saberia disso sozinho.
O Hokage estreitou os olhos.
"Alguém o guiou até lá..."
Sem dizer mais nada, Iruka se afastou silenciosamente dos demais, como se um pressentimento o chamasse. Já Mizuki desviava-se discretamente da reunião, com um sorriso perverso escondido sob a máscara gentil.
"Eu só preciso espalhar a história certa... e depois acabar com ele. Vai parecer que fugiu com o pergaminho..." pensou.
~ Floresta - Pouco tempo depois ~
Naruto estava sentado, encurvado de cansaço, o corpo coberto de terra, galhos e arranhões. Suas roupas estavam rasgadas, as mãos vermelhas de tanto praticar. Mesmo assim, sorria. Era uma expressão cansada, mas feliz.
- Eu te encontrei! - a voz firme de Iruka ecoou pela clareira.
Naruto ergueu os olhos, surpreso.
- Oh! Iruka-sensei! Eu te achei primeiro! - respondeu com empolgação, levantando-se rápido demais, quase tropeçando no pergaminho.
Iruka bufou, cruzando os braços.
- Idiota. Eu que te achei. - Seu olhar, antes severo, suavizou ao ver o estado do garoto. - Você está todo machucado... o que estava fazendo aqui, Naruto?
Naruto sorriu largamente, suando, os olhos faiscando de expectativa.
- Hehe! Eu estava treinando! E adivinha?! Eu aprendi uma técnica incrível! Se eu mostrar pra você... você pode me graduar?
Iruka ficou em silêncio por um instante. O chão ao redor de Naruto estava cheio de pegadas marcadas, folhas rasgadas, suor seco. Ele estava ali fazia horas, sozinho, se esforçando.
- Você treinou até chegar nesse estado...?
- Claro! Eu queria passar, Sensei! Mesmo sozinho... eu tentei.
Iruka sentiu algo apertar dentro do peito. Então percebeu o grande pergaminho pendurado às costas do garoto.
- Onde conseguiu isso?
Naruto olhou para trás, como se só então se lembrasse do objeto.
- Ah! Isso aqui? Mizuki-sensei me contou sobre esse pergaminho! Disse que se eu aprendesse uma técnica dele e mostrasse pra você, eu poderia me formar!
As palavras de Naruto ecoaram como uma bomba na mente de Iruka.
- Mizuki...! - seu rosto escureceu.
As peças começaram a se encaixar. Naruto não era o culpado. Era a isca.
O vento da noite sussurrava entre as copas das árvores, como se pressentisse o caos iminente. A floresta, que horas antes fora apenas um santuário de treino e silêncio, agora era palco de uma verdade amarga prestes a emergir das sombras.
Naruto ainda estava ajoelhado no chão, com o pergaminho selado às costas. Suas roupas estavam rasgadas, cobertas de sujeira e suor, e seus olhos arregalados buscavam sentido na súbita mudança de atmosfera.
De repente, o zunido cortante de ar denunciou o perigo.
- Naruto, cuidado!! - gritou Iruka, lançando-se contra o garoto com todas as forças.
Uma chuva de kunais atravessou o ar. Iruka envolveu Naruto num abraço protetor e girou, levando em seu próprio corpo sete lâminas prateadas. Ele gemeu de dor, mas nenhuma atingira pontos vitais. O sangue escorreu pela camisa ninja, e ele caiu de joelhos ao lado do garoto.
- Fez um bom trabalho encontrando ele, - disse uma voz acima, fria como metal.
Mizuki surgia entre os galhos, as sombras do anoitecer envolvendo seu corpo. Carregava duas enormes shurikens de lâmina dupla nas costas, e um sorriso traiçoeiro manchava seu rosto.
Iruka cravou os olhos nele, a mandíbula tensa de fúria.
- Então era isso... - murmurou, arrancando as kunais cravadas em seu corpo com um gesto seco, lançando-as de volta com precisão. Mizuki desviou com facilidade, sumindo e reaparecendo com um giro ágil entre os galhos.
Nenhum dos dois percebia a presença de uma garota oculta acima deles. Sentada silenciosamente em um galho mais alto, Sakura observava em silêncio. Os olhos semicerrados e a expressão preocupada revelavam que não se tratava apenas de curiosidade - ela vira tudo, desde o ataque inicial de Mizuki.
"Eu estava voltando do treino... e acabei nisso." pensou, puxando lentamente uma kunai da bolsa.
No chão, Naruto tentava se levantar, ainda desorientado.
- O que... o que está acontecendo? - perguntou, cambaleando.
- Naruto, me dê o pergaminho. - Mizuki falava agora com uma falsa suavidade, descendo lentamente até o chão.
Naruto segurou o pergaminho mais firme contra o corpo, como se um instinto dissesse para não confiar. Os olhos dele estavam confusos, começando a entender que fora enganado.
- O quê?! Mas... você disse que eu precisava aprender uma técnica pra me graduar...
Lá de cima, Sakura franziu o cenho com irritação.
- Idiota...- murmurou para si, enquanto seus dedos buscavam um papel em branco para escrever algo rapidamente.
- NARUTO!! NÃO ENTREGUE O PERGAMINHO!! - gritou Iruka, com desespero real em sua voz. - MESMO QUE VOCÊ MORRA, NÃO DÊ A ELE!! AQUELE PERGAMINHO CONTÉM TÉCNICAS PROIBIDAS! MIZUKI ESTÁ TE USANDO!!
As palavras cortaram o ar como as lâminas que haviam atravessado seu corpo. Naruto recuou um passo, tremendo.
Mizuki então se endireitou e seus olhos brilharam com algo mais sombrio.
- Naruto... você não deveria ter esse pergaminho... mas já que chegou até aqui, que tal saber por que ninguém nessa vila gosta de você?
As palavras dele fizeram Sakura se congelar. Ela se lembrava da senhora na feira mais cedo, recusando-se a olhar Naruto nos olhos. Na hora, não entendeu... agora, algo pulsava em seu peito.
- NÃO FAÇA ISSO! - gritou Iruka, mas Mizuki já avançava com sua língua afiada.
- Há doze anos, a Raposa Demônio atacou a vila, você sabe disso. Mas o que não sabe é que... ela foi selada dentro de um recém-nascido. E essa criança... foi você. - seus olhos fixos em Naruto, como um caçador cravando a lança na presa.
O mundo de Naruto começou a girar. Ele caiu de joelhos novamente, o rosto em choque, a boca entreaberta.
- O que...? - murmurou, o corpo paralisado.
- Ninguém pode falar sobre isso, é uma regra da vila. Mas essa regra não serve pra você. Por isso te olham com ódio. Por isso te evitam. Até Iruka te odeia. - Mizuki retirou uma das grandes shurikens das costas, erguendo-a acima do ombro. - Você é o demônio que destruiu tudo!
- O quê!! - Sakura estava surpresa, porque ela também não conhecia essa regra, O Hokage e Zashi não haviam falado nada e ela mal saiu da montanha dos Harunos nesses últimos cinco anos
- "Besteira..." - pensou Sakura - "Ele é só um garoto..."
Ela terminou de escrever rapidamente, prendeu o bilhete numa kunai e esperou o momento certo de jogar.
- Ninguém nunca vai aceitar você!! - Mizuki bradou em êxtase, lançando a enorme shuriken contra o garoto.
- NARUTOOO!! - gritou Iruka.
Sem hesitar, mesmo ferido e ofegante, Iruka pulou na frente da lâmina, tomando o golpe nas costas. O impacto o jogou no chão, fazendo sangue espirrar na grama.
Naruto se ergueu aos tropeços, os olhos arregalados.
- Por quê...? - perguntou com a voz trêmula. - Por que me protege...?
Iruka, tossindo sangue, sorriu com tristeza.
- Porque eu sei como é ser sozinho... se eu tivesse feito meu trabalho direito... talvez você não tivesse sofrido tanto... - As palavras saíam entrecortadas de dor, mas carregadas de sinceridade.
Naruto, em choque, recuou, depois virou-se e correu. Correu para longe da clareira, das palavras, da dor. As árvores engoliram sua figura num piscar de olhos.
- NARUTOO!! - gritou Iruka, mas sua voz se perdeu entre os galhos.
Mizuki riu.
- Heh... heh... Ele não vai voltar, Iruka. Naruto é como eu. Ele vai usar esse pergaminho pra se vingar da vila. Você viu os olhos dele... eram olhos de um demônio.
Então Mizuki partiu correndo atrás do garoto, deixando Iruka ferido e a floresta cheia de ecos que doíam mais do que qualquer ferida.
Sakura continuou a seguindo a trilha do garoto.
A floresta estava tomada por um silêncio tenso, interrompido apenas pelo farfalhar leve das folhas sob o sopro do vento noturno. A brisa carregava o cheiro metálico do sangue e o som abafado de respirações apressadas. Iruka corria entre os galhos altos das árvores, os olhos atentos, o coração disparado.
- Mizuki contou para ele... e agora Naruto está sentindo um medo que nunca sentiu antes... - murmurava consigo mesmo, a voz baixa quase engolida pela noite. - As chances do selo se romper são de uma em um milhão... mas se isso acontecer...
Ele apertou os dentes, acelerando o ritmo.
De repente, entre os troncos emaranhados, Iruka o avistou.
- Encontrei! - gritou, saltando de galho em galho. - Naruto! Depressa, me passe o pergaminho! Mizuki está atrás dele!
Naruto se virou. Seus olhos, antes infantis e vibrantes, agora estavam turvos de confusão. Em um movimento brusco, avançou contra Iruka com um soco certeiro, lançando-o ao chão. Em seguida, sentou-se sob uma árvore, ofegante.
- Por quê? Por que, Naruto? - Iruka ergueu o olhar atônito... e, em um redemoinho de fumaça, sua forma se dissolveu.
Do meio da fumaça, surgiu Mizuki, com um sorriso cínico desenhado nos lábios.
- Como você sabia que não era o Iruka? - zombou.
Uma risada seca ecoou entre as árvores. Outra nuvem de fumaça se ergueu e, do meio dela, surgiu o verdadeiro Iruka, com expressão firme.
- Porque eu sou o Iruka! - respondeu, encarando o traidor.
Mizuki gargalhou, os olhos estreitos de escárnio.
- Você se transformou em quem matou seus pais... só para protegê-lo. Que piada.
Do alto de um galho, entre as sombras, Sakura observava tudo, muda, os olhos fixos. Ao pé de outra árvore, Naruto ouvia, o pergaminho apertado nos braços.
- Eu não entregaria o pergaminho a um idiota como você! - Iruka declarou, cambaleando, sentando-se com esforço. O sangue manchava sua roupa. Ele já sentia os efeitos da hemorragia e do cansaço.
Mizuki se aproximou, olhos brilhando de raiva.
- Você é idiota. Naruto e eu somos iguais!
Naruto estreitou os olhos, confuso.
- Iguais?
- Se ele usar as técnicas daquele pergaminho, poderá fazer qualquer coisa. Mesmo que isso vá contra as regras da vila. Mesmo que destrua tudo. Você acha que ele não vai usar o poder da raposa? Ele é um monstro, igual àquela coisa que selaram nele!
Iruka fechou os olhos por um segundo, inspirou fundo e murmurou:
- Sim...
Naruto congelou. Sua respiração travou, e uma pontada o atravessou por dentro como se Mizuki tivesse perfurado algo mais profundo que a carne.
Droga... até o Iruka-sensei também acha que sou um monstro... - pensou, os punhos cerrados.
Nesse instante, algo cortou o ar e cravou-se no chão, bem ao lado das pernas de Naruto. Uma kunai. Amarrado a ela, um papel.
Naruto desdobrou e leu, os olhos arregalando.
"Eu vou te ajudar."
Olhou ao redor. Nada. Nenhuma presença visível. Mas sentiu. Alguém estava ali. Alguém acreditava nele.
Iruka, mesmo ferido, ergueu a voz, cheia de força:
- A raposa é um monstro. Mas Naruto é diferente. Eu tenho orgulho dele! Ele é um dos meus melhores alunos. Ele é Uzumaki Naruto, um ninja da Folha!
Mizuki rangeu os dentes e arrancou uma das gigantescas shurikens das costas.
- Eu ia te deixar viver por mais tempo, Iruka, mas mudei de ideia. Vou matar você agora mesmo!
A lâmina rodopiou no ar, cortando o vento em direção ao peito de Iruka.
Mas antes que o impacto ocorresse, Naruto surgiu entre os dois, desferindo um poderoso chute que lançou Mizuki para trás. Mesmo assim, a shuriken já havia sido arremessada.
Iruka arregalou os olhos.
- Naruto!!
Ele se preparava para aceitar o destino... Mas, de repente, uma figura feminina surgiu como um raio. Sakura. Ela chutou Iruka para o lado segundos antes da shuriken cravar-se na árvore atrás dele, tão próxima que quase cortou seu manto.
- Desculpe, Iruka-san - disse, a voz firme, fria como gelo.
A jovem se abaixou ao lado do professor, rasgando um pedaço da própria blusa para estancar o sangue.
Naruto largou o pergaminho no chão, os olhos ardendo.
- NÃO TOQUE NO MEU SENSEI!! EU VOU ACABAR COM VOCÊ!
- Sejam racionais, idiotas! Fujam daqui! - rosnou Mizuki, tentando se reerguer. Sakura permanecia calma, sentada ao lado de Iruka.
- Acredite nele, Iruka-san. É tudo que ele precisa agora - disse a garota, mantendo o olhar no menino.
Naruto começou a fazer selos de mão.
- EU VOU DEVOLVER MIL VEZES PIOR!!
- ENTÃO FAÇA, SEU DEMÔNIO!! - vociferou Mizuki, perdendo toda a máscara de civilidade.
- JUTSU: CLONE DAS SOMBRAS!!
O impacto foi avassalador. Dezenas, centenas de clones cercaram Mizuki, um verdadeiro exército.
- O-o que é isso?! - gritou Mizuki, recuando em pânico. - Isso é impossível!
- Venha me pegar, se puder!
Sakura, ainda cuidando de Iruka, observava tudo. Em seu rosto, uma leve surpresa.
- Esse garoto...
Iruka, com dificuldade, ergueu os olhos para Sakura e então viu. No ombro direito da garota, um símbolo. Um círculo com cinco glifos distintos.
- Você... - murmurou, confuso.
Ela percebeu o olhar e o ignorou deliberadamente. Mostrar aquela marca havia sido sua intenção. Se ele reconhecesse, saberia com o que estava lidando. Se não, ela ganhava tempo.
Naruto avançou com todos os clones.
- BOM, ENTÃO... EU VOU COMEÇAR!!
O som das pancadas, gritos e explosões de chakra ecoou pela floresta. Mizuki foi completamente dominado. Quando tudo terminou, jazia no chão, machucado, inconsciente.
Naruto ria, sem graça, coçando a nuca.
- Hehehe... acho que exagerei um pouco.
Iruka, mesmo fraco, conseguiu sorrir.
- Naruto... venha aqui. Tenho algo para te dar.
Naruto se aproximou.
- Feche os olhos.
- Hã? Tá bom...
- Pode abrir.
Naruto abriu os olhos e encontrou em sua testa a bandana com o símbolo da Folha.
- Parabéns, você se graduou. Agora, que tal uma tigela de ramen para comemorar?
Naruto o abraçou com força, lágrimas caindo de seus olhos.
- Sensei... obrigado. Obrigado...
De cima de uma árvore, Sakura observava com um leve sorriso.
- Agora você tem alguém para zelar por você, Naruto. Assim como eu tenho... somos parecidos. Você é odiado por causa da raposa... e eu, por existir. Foi bom te conhecer...
E partiu, pulando entre os galhos, desaparecendo no manto da noite.
~ Frente da Sala do Hokage ~
- Ainda não o acharam?
- Não...
- Droga! Ele já deve estar longe!
- Isso é um desastre!
Um homem apareceu ofegante.
- Não precisam mais procurar... podem parar as buscas.
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Atualizado até capítulo 9
Comments
Kiara Ketty
Gostei da escrita, capítulos longos e envolventes, Continua /Grin//Grin/
2025-08-02
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