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Arthur
— Boyce, eu estou te falando, essa garota só vai trazer problema.
Comentei com meu amigo. Ele estava na cabine de uma máquina que mais parecia um disco voador de tão grande.
— Cara, faz meia hora que você está falando dessa menina. Quer dar um tempo para a minha cabeça? Estou trabalhando.
Ele pulou lá de cima. Realmente aquele trambolho era alto pra caramba.
Boyce é engenheiro agrônomo. O melhor da região.
Somos amigos desde a faculdade. Na verdade tudo começou com uma briga em um jogo de cartas.
Até hoje ele jura que eu roubei. O que é uma calúnia, nunca roubo no truco.
Então, depois que ganhei um olho roxo, e ele, um nariz quebrado, acabamos nos aproximando na enfermaria do campus. Desde então ele é o meu melhor amigo e meu companheiro de jornada.
Antes de ir ver o Boyce deixei a Maddie na fazenda, pois ela seria paga para ser a dama de companhia da filha do Braga.
A menina ficaria aqui por um tempo e o pai não queria que a donzela ficasse sozinha.
Quando zombei que ela seria dama de companhia, minha prima se irritou e ficou quase um dia inteiro sem falar comigo, o que foi um recorde, mas logo fizemos as pazes.
Meu amigo trabalhava em uma plantação de soja nas imediações e por isso estava em cima daquela colheitadeira do demônio.
Velhas rivalidades nunca terminam. Não sei como foi que escolhi um agrônomo para melhor amigo. Eu devia estar louco.
— Cara, só estou dizendo que a Maddie vai ter que ficar grudada nela o tempo inteiro. E isso quer dizer que nós dois estamos ferrados. A garota é difícil de engolir.
Tentei explicar meu ponto de vista, mas acho que Boyce teria que ver com os próprios olhos a menina que era como um cristal. É assim que eu a imagino: como um cristal. Lindo, brilhante, mas muito fácil de quebrar, praticamente intocável.
— A Boyce ai ter que dormir na sede com ela?
A voz do meu amigo tirou aqueles olhos verdes do meu pensamento. Talvez ele tivesse razão: eu estava pensando demais naquela garota. Precisava mudar o rumo da conversa, e sabia bem para onde seguir.
— Boyce, por que será que, de tudo o que eu falei, você só se interessou em saber da Maddie?
Perguntei com um tom de voz mais ameaçador. Ele conhecia a minha prima havia muito tempo, mas eu não estava gostando do jeito possessivo com que se referia a ela.
Boyce tinha a minha idade, ou seja, velho demais para minha pequena.
— Só estou curioso, uai.
— Ah! Eu me esqueci de mencionar que Boyce mineiro. Seu sotaque carregado sempre fez sucesso com a mulherada, embora fosse muito tímido.
Deu um trabalhão ajudá-lo a se enturmar durante a faculdade, mas, quando se enturmou, comprovou o que dizem sobre os mineiros: come quieto.
— Entendi!
Respondi dando a ele um olhar mais duro, mas Boyce simplesmente fingiu que não era com ele.
— Mudando de assunto, tem cover country no bar da Clarissa amanhã. Você vai?
Boyce deu de ombros e respondeu sem nenhum interesse:
— Não sei, ando meio cansado. Sabe como essa época de safra acaba comigo. Tô mortinho da Silva!
— Tudo bem, eu tenho que ir: prometi a Maddie que a levaria para dançar.
— Assim que eu disse o nome da minha prima, Boyce mudou a expressão e endireitou o corpo antes de falar.
— Acho que posso aparecer por lá também.
Disse, desviando o olhar. Ele sabia que estava pensando me*da, por isso não me encarava.
— Sério?!
Arqueei uma sobrancelha.
— Só tenho uma palavra para você, Boyce: DEZOITO.
Dei ênfase à idade da minha pequena para ele entender de uma vez por todas que Maddie não era para o bico dele.
— Deixa de ser idiota, Arthur. Essas caraminholas na sua cabeça ou são muito sol ou falta de se*o.
Ele disse, tentando mudar de assunto. Rio das suposições dele, pois falta de sexo com certeza não era.
Clarissa tinha me deixado muito satisfeito naquela manhã.
Sem querer prolongar o assunto, me despedi e peguei o caminho de volta para a cidade.
Enquanto dirigia, comecei a escutar Country Boy, uma das minhas músicas preferidas.
‘Cause I’m a country boy, I’ve got a 4-wheel drive Climb in my bed, I’ll take you for a ride
“Country Boy” — Alan Jackson
Comecei a cantar junto. O tempo que passei no Texas me fez amar o estilo country.
Mesmo depois que voltei para o Brasil, nunca deixei de escutar minhas músicas preferidas. No caminho, meu celular tocou.
Preferia quando não tinha sinal, assim as pessoas falavam mais pessoalmente, mas não podia negar a grande facilidade que o aparelho trazia quando o assunto era o meu trabalho.
📱
— Alô?
Encostei a caminhonete antes de atender.
— Arthur, o transporte adiantou, você vai ter que voltar para receber os animais.
Informou o meu tio.
— Estou indo!
📱
Respondi e logo desliguei o celular. Estava esperando as novas aquisições do Braga somente no dia seguinte. Pelo jeito, ele resolveu adiantar tudo aquele dia, inclusive a filha. Sorrio ao me lembrar da Cristal.
Não sabia ao certo o que aquela garota fazia ali, mas com certeza era algo contra a sua vontade, pois era nítido o seu desgosto.
E algo me dizia que ela era uma roubada. Fiz o retorno e peguei a estrada para a fazenda novamente.
Sou um dos poucos profissionais da região e, apesar de atender a várias propriedades, sou o único veterinário da Fazenda Cata Vento, o senhor Carlos Braga tem um grande rebanho de gado leiteiro e também cavalos de competição, e eu sou responsável por qualquer animal que chega ou sai da sua propriedade.
Amo meu trabalho, mas, desde que voltei para o Brasil e me reaproximei do tio Santiago, tinha uma vontade enorme de voltar a montar.
Fazia isso quando adolescente, mas abandonei os rodeios para entrar na faculdade.
Mas estava na hora de correr novamente atrás dos meus sonhos; um grande rodeio aconteceria em uma cidade vizinha, e os peões vencedores passariam a fazer parte da equipe do circuito nacional. Era a minha chance.
O sonho de viajar pelo Brasil levando a minha verdade, o meu interior e as minhas raízes aonde quer que eu fosse.
Estacionei a caminhonete e fui logo em direção ao caminhão. Minha função era verificar se todas as vacinas necessárias haviam sido corretamente aplicadas.
Também me certificava de que as normas de bem-estar dos animais estavam sendo respeitadas. O Sr. Carlos é bem rigoroso em relação a isso. Nenhum animal saía da fazenda ou entrava nela passando por algum tipo de sofrimento ou desconforto.
E essa foi uma das razões que me fizeram aceitar a sua proposta de emprego. E era o que me mantinha lá.
Repúdio quaisquer maus-tratos a animais e nunca aceitaria trabalhar em algum lugar que não tivesse os mesmos princípios que eu.
Conferi tudo, inclusive se havia algum animal ferido. Após confirmar que tudo estava certo, assinei a papelada para que o caminhão fosse liberado.
Já estava pronto para voltar para casa e saí do galpão um pouco apressado, sem perceber que alguém estava chegando. Eu me choquei com um corpo e acabei caindo no chão.
Assim que abri os olhos e vi a mulher embaixo de mim, meu corpo se animou, não consegui evitar.
Seria realmente bom se estivéssemos em outro lugar.
— Sai de cima de mim, seu idiota.
Brochei imediatamente! Por que ela tinha que abrir a boca?
— Foi mal, esquentadinha!
Disse sem pensar. Levantei e estendi a mão para que ela fizesse o mesmo. Ela aceitou minha ajuda e ficou de pé.
— O que você está fazendo aqui? — questionei, pois ela não parecia uma mulher que se misturava aos animais. E, pela roupa que usava, não estava ali para alimentar os porcos.
— Com certeza não foi para ver você, que pelo visto ainda não tomou banho.
Ela apontou para mim e fez cara de nojo. Estava ficando cansado daquela patricinha metida, então a deixei falando sozinha e andei em direção à minha caminhonete.
— Ei, seu caipira, eu ainda estou falando com você.
A sua voz era irritante.
Levantei a cabeça pedindo paciência aos céus.
— O que você quer?
Me virei em sua direção, já irritado.
— O seu lugar não é aqui.
Continuei andando.
A garota continuou me seguindo, bufando de raiva.
Sua pele vermelha indicava que ela também não ia com a minha cara, e eu estava pouco me lixando para o que aquela mimada pensava.
— Qualquer lugar em que você esteja não é o meu lugar.
Retrucou ela, usando o mesmo tom de voz que eu.
— Mas, infelizmente, preciso da sua ajuda para encontrar alguém. Muito difícil para você?
Arqueou uma sobrancelha e me deu um sorriso desafiador.
— Ouvi dizer que tem um médico veterinário aqui, e eu adoraria conversar com alguém alfabetizado.
Desdenhava de mim na cara dura! Eu não acreditava no que estava ouvindo. Ela estava falando de mim!
Claro que eu não perderia a oportunidade de irritá-la mais uma vez.
Abri um sorriso antes do meu próximo passo.
— Muito prazer!
Disse, tirando o chapéu e me curvando diante dela.
— Dr. Arthur, à sua disposição.
Completei. Sua boca se abriu, e vi a expressão “cair o queixo” de forma literal.
— Mas, infelizmente, o analfabeto aqui não tem tempo para perder com conversas fúteis vindas de uma garota mais fútil ainda.
Ela me olhava de cima a baixo, me analisando, ainda com a boca aberta.
— Eu...
Ela começou a dizer algo, mas eu a cortei.
— Passar bem, Cristal!
Me virei e não segurei o riso.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Anonyamor
Sabe aquela frase: Quem desdenha quer comprar!!!
2024-10-31
0
Sandra Maria de Oliveira Costa
🤣🤣🤣🤣
2024-09-20
0