Capítulo 4 - Segunda Impressão

Arthur

— Boyce, eu estou te falando, essa garota só vai trazer problema.

Comentei com meu amigo. Ele estava na cabine de uma máquina que mais parecia um disco voador de tão grande.

— Cara, faz meia hora que você está falando dessa menina. Quer dar um tempo para a minha cabeça? Estou trabalhando.

Ele pulou lá de cima. Realmente aquele trambolho era alto pra caramba.

Boyce é engenheiro agrônomo. O melhor da região.

Somos amigos desde a faculdade. Na verdade tudo começou com uma briga em um jogo de cartas.

Até hoje ele jura que eu roubei. O que é uma calúnia, nunca roubo no truco.

Então, depois que ganhei um olho roxo, e ele, um nariz quebrado, acabamos nos aproximando na enfermaria do campus. Desde então ele é o meu melhor amigo e meu companheiro de jornada.

Antes de ir ver o Boyce deixei a Maddie na fazenda, pois ela seria paga para ser a dama de companhia da filha do Braga.

A menina ficaria aqui por um tempo e o pai não queria que a donzela ficasse sozinha.

Quando zombei que ela seria dama de companhia, minha prima se irritou e ficou quase um dia inteiro sem falar comigo, o que foi um recorde, mas logo fizemos as pazes.

Meu amigo trabalhava em uma plantação de soja nas imediações e por isso estava em cima daquela colheitadeira do demônio.

Velhas rivalidades nunca terminam. Não sei como foi que escolhi um agrônomo para melhor amigo. Eu devia estar louco.

— Cara, só estou dizendo que a Maddie vai ter que ficar grudada nela o tempo inteiro. E isso quer dizer que nós dois estamos ferrados. A garota é difícil de engolir.

 Tentei explicar meu ponto de vista, mas acho que Boyce teria que ver com os próprios olhos a menina que era como um cristal. É assim que eu a imagino: como um cristal. Lindo, brilhante, mas muito fácil de quebrar, praticamente intocável.

— A Boyce ai ter que dormir na sede com ela?

A voz do meu amigo tirou aqueles olhos verdes do meu pensamento. Talvez ele tivesse razão: eu estava pensando demais naquela garota. Precisava mudar o rumo da conversa, e sabia bem para onde seguir.

— Boyce, por que será que, de tudo o que eu falei, você só se interessou em saber da Maddie?

Perguntei com um tom de voz mais ameaçador. Ele conhecia a minha prima havia muito tempo, mas eu não estava gostando do jeito possessivo com que se referia a ela.

Boyce tinha a minha idade, ou seja, velho demais para minha pequena.

— Só estou curioso, uai.

— Ah! Eu me esqueci de mencionar que Boyce mineiro. Seu sotaque carregado sempre fez sucesso com a mulherada, embora fosse muito tímido.

Deu um trabalhão ajudá-lo a se enturmar durante a faculdade, mas, quando se enturmou, comprovou o que dizem sobre os mineiros: come quieto.

— Entendi!

Respondi dando a ele um olhar mais duro, mas Boyce simplesmente fingiu que não era com ele.

— Mudando de assunto, tem cover country no bar da Clarissa amanhã. Você vai?

Boyce deu de ombros e respondeu sem nenhum interesse:

— Não sei, ando meio cansado. Sabe como essa época de safra acaba comigo. Tô mortinho da Silva!

— Tudo bem, eu tenho que ir: prometi a Maddie que a levaria para dançar.

— Assim que eu disse o nome da minha prima, Boyce mudou a expressão e endireitou o corpo antes de falar.

— Acho que posso aparecer por lá também.

Disse, desviando o olhar. Ele sabia que estava pensando me*da, por isso não me encarava.

— Sério?!

Arqueei uma sobrancelha.

— Só tenho uma palavra para você, Boyce: DEZOITO.

Dei ênfase à idade da minha pequena para ele entender de uma vez por todas que Maddie não era para o bico dele.

— Deixa de ser idiota, Arthur. Essas caraminholas na sua cabeça ou são muito sol ou falta de se*o.

Ele disse, tentando mudar de assunto. Rio das suposições dele, pois falta de sexo com certeza não era.

Clarissa tinha me deixado muito satisfeito naquela manhã.

Sem querer prolongar o assunto, me despedi e peguei o caminho de volta para a cidade.

Enquanto dirigia, comecei a escutar Country Boy, uma das minhas músicas preferidas.

‘Cause I’m a country boy, I’ve got a 4-wheel drive Climb in my bed, I’ll take you for a ride

“Country Boy” — Alan Jackson

Comecei a cantar junto. O tempo que passei no Texas me fez amar o estilo country.

Mesmo depois que voltei para o Brasil, nunca deixei de escutar minhas músicas preferidas. No caminho, meu celular tocou.

Preferia quando não tinha sinal, assim as pessoas falavam mais pessoalmente, mas não podia negar a grande facilidade que o aparelho trazia quando o assunto era o meu trabalho.

📱

— Alô?

Encostei a caminhonete antes de atender.

— Arthur, o transporte adiantou, você vai ter que voltar para receber os animais.

Informou o meu tio.

— Estou indo!

📱

Respondi e logo desliguei o celular. Estava esperando as novas aquisições do Braga somente no dia seguinte. Pelo jeito, ele resolveu adiantar tudo aquele dia, inclusive a filha. Sorrio ao me lembrar da Cristal.

Não sabia ao certo o que aquela garota fazia ali, mas com certeza era algo contra a sua vontade, pois era nítido o seu desgosto.

E algo me dizia que ela era uma roubada. Fiz o retorno e peguei a estrada para a fazenda novamente.

Sou um dos poucos profissionais da região e, apesar de atender a várias propriedades, sou o único veterinário da Fazenda Cata Vento, o senhor Carlos Braga tem um grande rebanho de gado leiteiro e também cavalos de competição, e eu sou responsável por qualquer animal que chega ou sai da sua propriedade.

Amo meu trabalho, mas, desde que voltei para o Brasil e me reaproximei do tio Santiago, tinha uma vontade enorme de voltar a montar.

Fazia isso quando adolescente, mas abandonei os rodeios para entrar na faculdade.

Mas estava na hora de correr novamente atrás dos meus sonhos; um grande rodeio aconteceria em uma cidade vizinha, e os peões vencedores passariam a fazer parte da equipe do circuito nacional. Era a minha chance.

O sonho de viajar pelo Brasil levando a minha verdade, o meu interior e as minhas raízes aonde quer que eu fosse.

Estacionei a caminhonete e fui logo em direção ao caminhão. Minha função era verificar se todas as vacinas necessárias haviam sido corretamente aplicadas.

Também me certificava de que as normas de bem-estar dos animais estavam sendo respeitadas. O Sr. Carlos é bem rigoroso em relação a isso. Nenhum animal saía da fazenda ou entrava nela passando por algum tipo de sofrimento ou desconforto.

E essa foi uma das razões que me fizeram aceitar a sua proposta de emprego. E era o que me mantinha lá.

Repúdio quaisquer maus-tratos a animais e nunca aceitaria trabalhar em algum lugar que não tivesse os mesmos princípios que eu.

Conferi tudo, inclusive se havia algum animal ferido. Após confirmar que tudo estava certo, assinei a papelada para que o caminhão fosse liberado.

Já estava pronto para voltar para casa e saí do galpão um pouco apressado, sem perceber que alguém estava chegando. Eu me choquei com um corpo e acabei caindo no chão.

Assim que abri os olhos e vi a mulher embaixo de mim, meu corpo se animou, não consegui evitar.

Seria realmente bom se estivéssemos em outro lugar.

— Sai de cima de mim, seu idiota.

Brochei imediatamente! Por que ela tinha que abrir a boca?

— Foi mal, esquentadinha!

Disse sem pensar. Levantei e estendi a mão para que ela fizesse o mesmo. Ela aceitou minha ajuda e ficou de pé.

— O que você está fazendo aqui? — questionei, pois ela não parecia uma mulher que se misturava aos animais. E, pela roupa que usava, não estava ali para alimentar os porcos.

— Com certeza não foi para ver você, que pelo visto ainda não tomou banho.

Ela apontou para mim e fez cara de nojo. Estava ficando cansado daquela patricinha metida, então a deixei falando sozinha e andei em direção à minha caminhonete.

— Ei, seu caipira, eu ainda estou falando com você.

A sua voz era irritante.

Levantei a cabeça pedindo paciência aos céus.

— O que você quer?

Me virei em sua direção, já irritado.

— O seu lugar não é aqui.

 Continuei andando.

A garota continuou me seguindo, bufando de raiva.

Sua pele vermelha indicava que ela também não ia com a minha cara, e eu estava pouco me lixando para o que aquela mimada pensava.

— Qualquer lugar em que você esteja não é o meu lugar.

Retrucou ela, usando o mesmo tom de voz que eu.

— Mas, infelizmente, preciso da sua ajuda para encontrar alguém. Muito difícil para você?

Arqueou uma sobrancelha e me deu um sorriso desafiador.

— Ouvi dizer que tem um médico veterinário aqui, e eu adoraria conversar com alguém alfabetizado.

Desdenhava de mim na cara dura! Eu não acreditava no que estava ouvindo. Ela estava falando de mim!

Claro que eu não perderia a oportunidade de irritá-la mais uma vez.

Abri um sorriso antes do meu próximo passo.

— Muito prazer!

Disse, tirando o chapéu e me curvando diante dela.

— Dr. Arthur, à sua disposição.

Completei. Sua boca se abriu, e vi a expressão “cair o queixo” de forma literal.

— Mas, infelizmente, o analfabeto aqui não tem tempo para perder com conversas fúteis vindas de uma garota mais fútil ainda.

Ela me olhava de cima a baixo, me analisando, ainda com a boca aberta.

— Eu...

Ela começou a dizer algo, mas eu a cortei.

— Passar bem, Cristal!

Me virei e não segurei o riso.

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Comments

Anonyamor

Anonyamor

Sabe aquela frase: Quem desdenha quer comprar!!!

2024-10-31

0

Sandra Maria de Oliveira Costa

Sandra Maria de Oliveira Costa

🤣🤣🤣🤣

2024-09-20

0

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 - Prólogo
2 Capítulo 2 - Castigo
3 Capítulo 3 - Primeira Impressão
4 Capítulo 4 - Segunda Impressão
5 Capítulo 5 - Quem É Ele?
6 Capítulo 6 - Clima
7 Capítulo 7 - Provocação
8 Capítulo 8 - Rejeição
9 Capítulo 9 - Vingança -> Parte 1
10 Capítulo 10 - Vingança-> Parte 2
11 Capítulo 11 - Cedendo Ao Desejo
12 Capítulo 12 - Nova Perspectiva
13 Capítulo 13 - O Poder Da Sedução
14 Capítulo 14 - O Acidente
15 Capítulo 15 - Hospitalizado -> Parte 1
16 Capítulo 16 - Hospitalizado-> Parte 2
17 Capítulo 17 - Hospitalizado-> Parte 3
18 Capítulo 18 - Segredos
19 Capítulo 19 - Quero Estar Com Você
20 Capítulo 20 - Surpresa Desagradável
21 Capítulo 21 - Eu & Você -> Parte 1
22 Capítulo 22 - Eu te Amo, Ranger!
23 Capítulo 23 - A Caixa
24 Capítulo 24 - Eu & Você -> Parte 2
25 Capítulo 25 - A Verdade -> Parte 1
26 Capítulo 26 - Dor -> Parte 1
27 Capítulo 27 - Dor -> Parte 2
28 Capítulo 28 - A Dor -> Parte 3
29 Capítulo 29 - A Verdade -> Parte 2
30 Capítulo 30 - A Verdade -> Parte 3
31 Capítulo 31 - Coração Endurecido
32 Capítulo 32 - Despedida
33 Capítulo 33 - Pesar No Coração
34 Capítulo 34 - Sacrifício
35 Capítulo 35 - A Dor -> Parte 4
36 Capítulo 36 - Aniversário Da Maddie
37 Capítulo 37 - Pedido De Casamento
38 Capítulo 38 - Decisão
39 Capítulo 39 - Golpistas Desmascarados
40 Capítulo 40 - Mudança De Atitude
41 Capítulo 41 - Meu Cowboy -> Parte 1
42 Capítulo 42 - Meu Cowboy -> Parte 2
43 Capítulo 43 - Eu & Você -> Parte 3
44 Capítulo 44 - Meu Cowboy -> Parte 3
45 Capítulo 45 - Minha Cowgirl -> Parte 1
46 Capítulo 46 - Minha Cowgirl -> Parte 2
47 Capítulo 47 - Mal Entendido
48 Capítulo 48 - O Casamento-> Parte 1
49 Capítulo 49 - O Casamento-> Parte 2
50 Capítulo 50 - Epílogo
Capítulos

Atualizado até capítulo 50

1
Capítulo 1 - Prólogo
2
Capítulo 2 - Castigo
3
Capítulo 3 - Primeira Impressão
4
Capítulo 4 - Segunda Impressão
5
Capítulo 5 - Quem É Ele?
6
Capítulo 6 - Clima
7
Capítulo 7 - Provocação
8
Capítulo 8 - Rejeição
9
Capítulo 9 - Vingança -> Parte 1
10
Capítulo 10 - Vingança-> Parte 2
11
Capítulo 11 - Cedendo Ao Desejo
12
Capítulo 12 - Nova Perspectiva
13
Capítulo 13 - O Poder Da Sedução
14
Capítulo 14 - O Acidente
15
Capítulo 15 - Hospitalizado -> Parte 1
16
Capítulo 16 - Hospitalizado-> Parte 2
17
Capítulo 17 - Hospitalizado-> Parte 3
18
Capítulo 18 - Segredos
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Capítulo 19 - Quero Estar Com Você
20
Capítulo 20 - Surpresa Desagradável
21
Capítulo 21 - Eu & Você -> Parte 1
22
Capítulo 22 - Eu te Amo, Ranger!
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Capítulo 23 - A Caixa
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Capítulo 24 - Eu & Você -> Parte 2
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Capítulo 25 - A Verdade -> Parte 1
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Capítulo 26 - Dor -> Parte 1
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Capítulo 30 - A Verdade -> Parte 3
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Capítulo 31 - Coração Endurecido
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Capítulo 32 - Despedida
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Capítulo 33 - Pesar No Coração
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Capítulo 34 - Sacrifício
35
Capítulo 35 - A Dor -> Parte 4
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Capítulo 36 - Aniversário Da Maddie
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Capítulo 37 - Pedido De Casamento
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Capítulo 38 - Decisão
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Capítulo 39 - Golpistas Desmascarados
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Capítulo 40 - Mudança De Atitude
41
Capítulo 41 - Meu Cowboy -> Parte 1
42
Capítulo 42 - Meu Cowboy -> Parte 2
43
Capítulo 43 - Eu & Você -> Parte 3
44
Capítulo 44 - Meu Cowboy -> Parte 3
45
Capítulo 45 - Minha Cowgirl -> Parte 1
46
Capítulo 46 - Minha Cowgirl -> Parte 2
47
Capítulo 47 - Mal Entendido
48
Capítulo 48 - O Casamento-> Parte 1
49
Capítulo 49 - O Casamento-> Parte 2
50
Capítulo 50 - Epílogo

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