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Arthur
Meu celular tocou e eu tentei me desvencilhar dos braços da Clarissa sem acordá-la.
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— Alô?
Falei em um tom de voz baixo. Era o meu tio Santiago, provavelmente querendo que eu fosse até a fazenda do Braga.
— Tita está parindo e, pelo que vejo, não conseguirá sem você!
Ele disse e, antes de ele terminar a frase, eu já estava à procura das minhas roupas.
— Estou indo!
📱
Respondi enquanto vestia meu jeans. Joguei a camisa no ombro e peguei meu chapéu na mesa de cabeceira ao lado da cama, onde Clarissa dormia profundamente.
Também, depois da noite passada...
Eu e Clarissa tínhamos uma relação nada convencional. Ela é dona do melhor bar da pequena cidade onde moro.
Uma mulher decidida e que sabe o que quer, e ela quer o mesmo que eu: se*o sem amarras.
Clarissa foi casada e não estava disposta a se jogar em um novo relacionamento. E eu? Era um cara da estrada e não me apaixonava.
Não porque não gostasse de relacionamentos.
Acontece que não podia me prender a ninguém se quisesse participar do circuito nacional de rodeio.
Eu ficaria muito tempo fora de casa e não acreditava que uma relação, fosse ela como fosse, pudesse sobreviver a distância.
E o rodeio é minha paixão desde que me entendo por gente. Não deixaria essa oportunidade passar.
Tranquei a porta e passei a chave por baixo dela. Clarissa saberia o que fazer quando acordasse. Ela sempre sabia.
Entrei na minha caminhonete e parti em direção à fazenda da qual meu tio é caseiro há muitos anos.
Não ficava longe da cidade, eram poucos quilômetros, e minha jabiraca estava pronta para enfrentar a estrada.
Ela era azul, antiga. Nada de tração nas rodas, painel digital e todas essas me*das que destroem os clássicos. Eu era adepto das coisas mais simples e em sua forma real, por isso não abria mão da minha caminhonete.
Cheguei e vi que meu tio tinha razão: Tita necessitava de uma cesariana de emergência, ou ela e o filhote não sobreviveriam.
Preparei-me para realizar o meu trabalho: verifiquei se todo o instrumental que usaria estava devidamente esterilizado e, após confirmar, coloquei as luvas e o retirei das embalagens.
Contei com a ajuda de dois funcionários, além do meu tio, que chegou com o isopor em que estava a anestesia.
— Valeu, tio.
— Acho que o filhote é grande demais para Tita.
Concordei com ele enquanto observava a anestesia descer pelo vidro e encher a seringa. Encaixei a agulha e procurei o local adequado para aplicá-la.
— Calma, garota.
Acariciei o animal quando ele tentou se mexer.
Tita ficou imóvel e terminei de anestesiá-la com segurança. Todos os materiais necessários estavam à mão.
Fiz uma pequena incisão em sua pele para encontrar o útero e retirar o feto.
Então, troquei o bisturi pela tesoura e fiz a abertura, tomando todo o cuidado possível para não haver a entrada de líquidos fetais na cavidade abdominal.
— Aí está você!
Murmurei, vendo claramente um bezerro enorme.
Meu tio tinha razão. Abri a incisão um pouco mais, para poder fazer a retirada. Além de estar com as patas amarradas e esticadas, Tita tinha todos os funcionários monitorando-a.
Encontrei o local exato para me apoiar, então fui puxando o filhote com cada vez mais força. E o milagre mais uma vez aconteceu!
Uma hora e meia depois, meu trabalho estava concluído. O bezerro nasceu, e ambos, filhote e mãe, passavam bem.
Deus me livre perder aquela vaca, ela valia mais do que eu ganhava em seis meses.
Passei as instruções que os funcionários da fazenda deveriam seguir e resolvi selar o Ventania para dar uma volta. Além de montá-lo desde moleque, cuidei de sua pata ferida semanas antes e queria ter certeza de que ele estava curado. Puxei o Ventania até o galpão mais próximo e o selei.
— Bom garoto.
Disse, acariciando sua testa. Um dos cavalos mais lindos em que tive a chance de montar. Ele era negro como a noite e tinha somente uma mancha branca entre os olhos.
Voltei ao galpão para buscar meu chapéu e, quando caminhava em direção ao Ventania, pensei ter ouvido uma voz.
O sol atrapalhava a minha visão, então não conseguia enxergar nada.
Deve ter sido impressão. Já estava com um pé no estribo, preparado para montar, quando escutei novamente.
— AAAAAA!
Um Berro. Corri em direção a entrada da fazenda e avistei uma moça.
Que usava apenas um salto alto. O outro pé descalço denunciava que algo acontecera.
Para que passei correndo mesmo? Ela veio pisando forte, nos trombamos feio e nossos olhares se cruzaram.
Até o cheiro subir. Cocô de cavalo. Não me segurei e debochei.
A mesma me empurrou e irritada atirou o salto alto longe.
Disse a ela que não deveria poluir o meio ambiente mas a mimadinha não deu bola.
Sabia quem era. A filha do dono! E nossa como era bonita!
Maldição, ela é linda!
Realmente, ela era linda... mas com a boca fechada.
Enquanto ela caminhava em direção à casa, eu não aguentei e comecei a rir baixinho. Seu salto alto afundava na terra, o cheiro do cocô estava bem fraco.
Sua bunda requebrava de um lado para outro, e por várias vezes ela quase caiu estatelada no chão.
Voltei minha atenção ao cavalo que parecia muito melhor, forcei um pouco mais, galopando até chegar à casa onde o meu tio morava.
Madelaine saiu do quarto assim que escutou o barulho das minhas botas tocando o chão. Minha prima era linda, seus cabelos negros desciam até sua cintura, e seus olhos eram castanhos, iguais aos do pai.
Os dois eram a única família que eu tinha. Perdi meus pais em um assalto, e minha tia abandonou Madelaine quando ela nasceu e nunca mais deu notícias.
Maddie sempre foi minha pequena, mas há algum tempo eu vinha percebendo que ela era alvo dos olhares de quase todos os homens da redondeza, principalmente do Boyce.
Eu tinha que ter uma longa conversa com meu amigo. Ai dele se tocasse em um fio de cabelo da minha princesa. Sou muito ciumento, mas nunca olhei para Maddie com outros olhos e também tinha certeza de que ela me via somente como irmão.
— Maddie, cadê o tio?
Ela deu de ombros.
— Não sei, mano, achei que estava com você.
Ela se aproximou, mas logo parou e fez uma careta.
— Arthur, você está fedendo.
Ela fez cara de nojo. Sorri. Pela segunda vez no dia, uma mulher reclamava do meu cheiro.
Isso era comum. Por causa do meu trabalho eu vivia na companhia de porcos, vacas, ovelhas e até coelhos. Normal de vez em quando cheirar como eles.
— Até você, pequena?
Comecei a correr atrás dela. Maddie odiava que eu fizesse cócegas em sua barriga, e eu adorava torturá-la. Joguei minha prima no sofá e comecei o ataque.
Quanto mais ela pedia para parar, mais eu continuava, rindo das caretas que ela fazia.
— Sorte sua que estou de bom humor hoje. Te deixar em paz vai ser minha segunda boa ação do dia.
Eu disse, me afastando.
— Ah, é? E qual foi a primeira? Ajudou uma vaca a atravessar a estrada?
Mesmo com a respiração falha pelo ataque de cócegas, Maddie conseguia fazer piada.
— Não, ajudei com as malas da sua pupila.
Ela arregalou os olhos e pulou do sofá rapidamente.
— Me*da! A garota não chegaria só amanhã?
Perguntou enquanto entrava em seu quarto. Caminhei até a cozinha e peguei uma banana da fruteira.
— Acho que o pai resolveu despachá-la antes!
Gritei para que Maddie pudesse me ouvir do seu quarto, enquanto descascava a fruta. Voltei para a sala e aguardei.
— E como ela é?
Enquanto perguntava, sua cabeça apareceu na porta.
Comecei a me lembrar da garota mimada.
Fechei os olhos e era como se a visse em minha frente novamente. Seus cabelos estavam molhados de suor, e alguns fios grudavam no rosto.
Ela estava com as bochechas vermelhas pelo esforço e tinha uma boca que me fazia pensar em coisas.
Senti algo endurecendo dentro da calça. Não acredito que estou ficando excitado por aquela nojentinha.
— E então?
Me assustei com a voz da Maddie.
Ela estava sentada embaixo do batente da porta, calçando as botas.
— E então o quê? — perguntei, pois os pensamentos que estavam em minha cabeça tinham me feito esquecer a Madelaine
— Como ela é, Arthur?
— Ah!
Eu disse, tentando ganhar tempo para uma resposta.
— Ela é como um cristal.
— Como assim?
— Maddie perguntou, sem entender.
— Nada. Agora anda logo, tenho que ir até o Boyce antes de voltar para a cidade.
Maddie deve ter achado que eu estava ficando doido, pois me olhou de um jeito estranho, mas logo percebeu que se ficasse para discutir comigo se atrasaria ainda mais para receber a princesinha, então não perguntou mais nada.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Sandra Maria de Oliveira Costa
🤭Clarissa dançou kkkk
2024-09-20
0
Elizabeth Fernandes
Tadinha Clarissa dançou
2023-05-22
6