Capítulo 5: O primeiro beijo

Narrado por Alexander Pierce

A senhora Maria sai de fininho e fecha a porta. Eu até penso em me levantar e sair para resolver logo a minha pendência com aquele médico careca assediador, mas sei que Hunter não vai deixá-lo escapar. Então tenho todo o tempo do mundo para aproveitar aqui nesse quarto tão cheiroso.

Já que a Leticia está envergonhada e com o rosto virado, observo atentamente o local pessoal dela. Um quarto simples, bem arejado, com corações e fotos num mural próximo à sua cabeceira. Alguns livros de Medicina na cômoda. Então para puxar conversa pergunto:

— Sonha em cursar faculdade de Medicina?

A minha pergunta acendeu a vontade dela em me olhar e ela se vira. Se senta e me encarando responde:

— Na verdade, não. Eu não tenho dinheiro para cursar uma faculdade, e mesmo se tivesse não faria Medicina. Eu tenho muito medo de sangue, digo, de ver pessoas sangrando, sofrendo... E esses livros são para me ajudar aqui com o trabalho. Os idosos do asilo sempre precisam ser medicados, às vezes caem... Eu preciso saber um pouco sobre o assunto.

— Entendo. Isso significa que você é bastante aplicada... Mas qual faculdade você gostaria de fazer? — Lanço a pergunta bastante interessado e ela me responde com um brilho nos olhos:

— Eu queria fazer Pedagogia... Adoro crianças! Na verdade, eu sonhei em construir uma família com o Hans... Pois sou órfã. E quando pensei que tinha uma família ela me largou aqui em frente do asilo... Eu conheci o Hans em um dia chuvoso, ele foi gentil e eu imaginei em ter um lugar nosso... Acho que sonhei demais.

Leticia me detalha, mas no fim, ela que estava com alegria estampada no rosto agora dá lugar a tristeza e não gosto disso. Não consigo disfarçar o meu repúdio por esse cara. Esse nome ou sobrenome que ele carrega, só me faz lembrar da família da senhora Fanny, que vivem me exigindo que eu cuide deles, querem viver as minhas custas, como se eu tivesse algum dever de fazer isso. Meu pai abdicou a parte das empresas Hans para ficar só comigo e eles faliram... Melhor deixar esse pensamento de lado.

— Você está bem? Quer água? — Leticia me pergunta e se levanta repentinamente da cama.

Ao dar dois passos ela se sente tonta e eu a agarro para ela não cair. Puxo ela para o meu colo e digo preocupado:

— Acredito que é você que não está bem. E esse cara não merece que fique assim por ele!

Nossos corpos estão agitados. A mesma corrente elétrica que transcorreu o meu corpo ao ser abraçado por ela, minutos atrás, retorna, só que com maior intensidade. Ela é tão pequena e cabe tão bem em meu colo! Meu maior desejo é permanecer assim por mais tempo, e esses lábios... Minha nossa! Estão tão convidativos! Não quero soltá-la.

As nossas trocas de olhares se intensificam... É como se o mundo tivesse parado. Sinto a respiração dela ficar mais profunda, acelerada. Leticia umedece os lábios e morde o lábio inferior, não sei se isso é provocação dela ou se é involuntário, mas me acendeu bastante. Encosto a minha testa na dela e ela se desculpa, insegura:

— Desculpa te falar sobre o meu ex...

— Ele não te merece. — Reitero e ela me pergunta:

— Qual é o seu nome mesmo?

— Alex. Pode me chamar de Alex. — Respondo sussurrando no ouvido dela e ela se arrepia toda.

Volto a minha atenção para os lábios dela e dou um selinho, na expectativa que ela me autorize a me deliciar nesses lábios rosados, tão convidativos. Leticia fecha os olhos e sorrio feliz com a autorização recebida. Então não perco tempo. Roço os meus lábios nos dela. O nosso primeiro beijo... Nossa!

Começo movimentar suavemente, mas Leticia envolve os seus braços ao redor do meu pescoço e me aperta. Ela dá passagem para que eu explore sua língua deliciosa e desfruto bastante. Intensifico o beijo tomando a língua dela com mais voracidade, paixão. A posição em que ela estava sentada parece incomodá-la, então me levanto rapidamente, entorno as pernas dela em minha cintura e sento novamente para ela poder sentir o quanto está me fazendo ficar louco.

Depois de quase estarmos sem fôlego, separo os nossos lábios e finalizo o nosso primeiro beijo com um selinho suave.

— Que delícia! Princesa, você tem uns lábios viciantes! Ganhei o meu dia com esse beijo! — Exclamo e ela sorri feliz. Então a questiono:

— Acredita em amor à primeira vista?

— Sim! — Ela concorda e me sonda interessada: — Alex, você pretende mesmo ficar aqui? Digo, trabalhando?

Esboço um sorriso satisfeito e declaro convicto:

— Por você, sim! Acredito que o que estou sentindo agora, é o mesmo que você está sentindo... Então não quero fugir disso.

O estômago dela ronca e questiono:

— Já tomou o café da manhã?

— Eu... Eu não consegui comer nada desde ontem. — Leticia me responde e encosta a cabeça dela em meu ombro. A primeira coisa que penso é: tonturas matinais... bebês... Fico desconfiado e incomodado com essa possibilidade, então a questiono:

— Desculpa te perguntar, mas você não estaria grávida, estaria?

Leticia se afasta rapidamente seu rosto do meu pescoço e me olha espantada com a pergunta. Então reitero a minha colocação:

— É que você ficou tonta de repente... Desculpe se disse algo que te incomodou...

— Há meses que eu não tenho esses... Digo, eu não... — Leticia balbucia envergonhada e beijo ela feliz de saber que o imbecil não estava aproveitando dela enquanto ficava com outras.

Leticia se move um pouco por sobre o meu amiguinho frenético e toma a iniciativa sugando os meus lábios com desejo. Quando penso em estender mais uma vez o beijo a porta do quarto de Leticia se abre bruscamente e a mesma velha antipática a chama:

— Leticia!

— Esqueceu os modos com a idade, senhora? — Indago em tom rude e ela fica envergonhada. Fecha a porta na mesma rapidez que abriu e vai embora.

Aperto as coxas de Leticia e provoco:

— Onde estávamos?

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