Capítulo 4 - Aparentemente Nada

Basta a cada dia o seu mal. Costumava imaginar o que isso significa. 

Espero que ainda imagine.

  Diário de Gabriela Muniz

                                           

 Na manhã seguinte, Fernando acordou, deu-me um beijo no rosto, levantou-se da cama e partiu.Uma hora depois, vesti meu roupão e fui ver como Luana estava.

Ainda dormia. Abri um pouco as persianas, e sente-me na cama, ao seu lado.

- Luana – chamei. 

Ela gemeu e virou para o lado. Colocou a mão na cabeça e começou a chorar.

- Ainda está doendo? – perguntei.

- Minha cabeça está doendo – respondeu.

Coloquei a mão em sua testa, mas   não estava quente.

- Como está a sua barriga?

- Também dói.

Esfreguei suas costas.

- Está melhor ou pior do que ontem?

- Está mais ruim – ela respondeu.

Inclinei-me e beijei sua cabeça.

- Volte a dormir, está bem?

Puxei acoberta até seu pescoço, fechei as persianas, e em seguida me arrumei.

Liguei para o nosso pediatra, o doutor Paulo, e marquei uma consulta para as onze e quarenta e cinco da manhã.

Em seguida, liguei para Melanie.

- Ai, Mel, não posso ir esta manhã. Luana ainda está muito doente. 

Melanie resmungou.

- Você sabe, essa gripe chata está se espalhando por ai. Ontem a Jan não foi a escola por conta disso.

- Não acho que seja uma gripe. Ela não está com febre. Eu a levarei ao médico esta manhã.

- Depois me conte o que ele disse. Perguntarei a Amanda se ela pode vir mais cedo.

- Obrigada. Fernando diz que estará em casa esta tarde, então, se quiser, posso ir por volta das duas e trabalhar no turno da noite.

- Assim é melhor. Tenho certeza de que a Amanda vai adorar trocar de turno. Ela é jovem, e ainda tem uma vida noturna.

 Ás dez e meia, levei Luana até cozinha e fiz um café da manhã para ela – mingau de aveia com açúcar mascavo.

Ela não queria comer, então a deitei no sofá, de onde podia assistir ao Vila Sésamo enquanto eu me aprontava.

Pouco antes do meio-dia, levei-a ao pediatra, o doutor Paulo Ricardo. Consultávamos o Dr. Paulo desde que Luana tinha apenas seis semanas e sofria de muitas cólicas, por isso,

tínhamos uma boa relação médico-paciente.

 A clínica estava cheia. Quando o tempo muda no vale, há sempre muita gente doente, e a sala de espera fica tão abarrotada quando uma loja de departamento em liquidação. Esperamos mais de uma hora para falar com o médico, e ele se desculpou.

- Sinto muito, Gabriela – disse, ele próprio um pouco abatido.

– Isso aqui está parecendo a Estação Central. Parece que metade do vale está doente, e a outra metade está com tosse. Então, o que acontece com a nossa princesa!

- Ontem, ela voltou mais cedo da escola, com dores de cabeça e de estômago. Vomitou três vezes.

Ele sorriu para Luana quando se aproximou para apalpar seu pescoço.

- Bem, vejamos se descobrimos o que está acontecendo.

- Meu pai diz que é porque eu como muita banana – falou Luana.

– Ele disse que sou uma macaquinha.

Ele sorriu.

- Você tem menos pelos que a maioria dos macaquinhos que eu já vi, mas vou levar isso em consideração. Depois dele executar todos os procedimentos habituais.

- Bem – disse, esfregando o queixo.

– Sem tosse, sem sudorese e sem febre. Não sei o que lhe dizer, Gabriela. Ela perdeu um quilo desde sua última visita, e seu rosto parece um pouco inchado, como se estivesse com retenção de liquido. Mas, fora isso e o mal-estar, tudo parece estar bem. Voltou-se para Luana.

– Sua cabeça ainda dói?

Ela confirmou com a cabeça.

O doutor Paulo voltou-se para mim.

- Ela está com alguma alergia?

- Não que eu tenha percebido. 

- Pode ser um pequeno vírus. Por enquanto, eu daria a ela um Tylenol infantil para a dor de cabeça, e a manteria em casa. Se Luana não melhorar em alguns dias, você talvez tenha de levá-la ao Centro Médico infantil, para realizar alguns exames.

Não estava gostando daquilo.

- Está bem. Obrigada.

- Gostaria de ter mais a dizer.

- Talvez não seja nada. Baixei os olhos para Luana. Ela parecia exausta.

- Vamos embora, querida?

- Vamos.

Segurei-a em meus braços.

- Obrigada mais uma vez, doutor.

- De nada. Mande notícias sobre Luana.

Enquanto voltava para casa, um pavor súbito me invadiu. Não sou hipocondríaca – comigo ou com minha família - , mas algo estava errado. Eu sabia.

Ás vezes uma mãe percebe essas coisas. Buzinei enquanto manobrava para dentro da garagem.

Fernando apareceu na porta e ajudou a carregar Luana para dentro de casa. Ela se agarrou a ele, enfiando a cabeça em seu pescoço.

- O que o médico falou? – perguntou.

- Ele não sabe o que há de errado. Disse que se ela ainda estiver doente daqui a alguns dias, devemos lavá-lo ao hospital para fazer uns exames.

- Ao hospital?

- Apenas para uns exames. Mas vamos esperar até sábado.

- Sábado é Dia dos Namorados!

Fernando falou. Olhei-o sem

entender.

Em sete anos de casamento, jamais fizemos alguma coisa no Dias dos

Namorados.

Francamente, Fernando era tão romântico quanto um par de tênis, e considerava o Dias dos Namorados ’uma conspiração de floricultores fabricantes de doces para engordar as próprias carteiras'.

- Eu fiz reservas para jantar no Paris 6.

- Como conseguiu reserva para o Dias dos Namorados?

- Eu agendei três messes atrás!

O Paris 6 era meu restaurante favorito. Foi lá também que Fernando e eu ficamos noivos.

- Devo cancelar a reserva?

Esfreguei as costas de Luana.

- Vamos esperar para ver como ela estará. Quando você vai viajar novamente?

- Preciso estar em Scottsdale na próxima terça-feira. Haverá uma conferência médica no Phoenician. Quer vir?

- Tenho uma doente de seis anos em um emprego. Em que mundo fictício isso seria possível?

Ele abriu um sorriso.

- Eu sei, mas não custa nada perguntar. Você está saindo agora para trabalho?

- Estou. Faltei dias demais. Espero que Felipe não resolva me despedir.

- Ele não consegue viver sem você.

- É, até parece. Ele não consegue nem soletrar o meu nome direito. É melhor eu ir. Até mais. Dei um beijo em Fernando e outro em Luana.

- Até mais, querida.

- Tchau, mamãe.

Quando eu já estava na varanda, Fernando disse:

- Ah, você se importa de levar a minha roupa suja e lavar a seco? Está tudo no banco de trás do meu carro. Ele está destrancado.

- Claro.

- E diga ao Pedro que ele engomou tanto minhas camisas da última vez que dava para fatiar um pão com as mangas.

- Pedro não passa as camisas – respondi.

– Direi ás meninas para não exagerarem. Até noite.

q

- Vou pedir uma pizza. Podemos ter uma noite tranquila em casa.

- Não acho que o estômago de Luana vai aguentar uma pizza.

- Eu quero pizza – ela disse. Balancei a cabeça.

- É claro que sim.

- Desculpe.

Disse Fernando.

– Até mais.

Fernando carregou Luana para dentro. Apanhei sua roupa suja, coloquei no banco traseiro do meu carro, e dirigi até o trabalho. 

         

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!