eu também te amo pai.....

Alice:

Eu estava ficando revoltada com o Gustavo. Ele pressionou tanto o Fernando a ponto de ele me pedir em namoro na frente da minha família.

— Era isso que você queria, Gustavo? Constranger o Fernando a ponto de ele fazer esse pedido? Olha, Gustavo, você é meu irmão e eu te amo, mas não te dou o direito de fazer uma coisa dessas comigo.

Me levanto, pego minha bolsa e chamo o Fernando. Ele se levanta e saímos de casa sem ao menos me despedir da minha família. Sei que os outros não mereciam a forma como os tratei, mas o Gustavo conseguiu me tirar do sério. Fomos o caminho todo sem trocar uma palavra, até que ele para no estacionamento da faculdade. Quando tiro o cinto para descer, ele chama minha atenção:

— Vai ficar aí fingindo que nada aconteceu?

— Eu estou envergonhada com você, Fernando. Por que você foi me buscar hoje?

— Porque eu queria passar mais tempo com você.

— Minha família é muito unida, nos amamos muito, mas têm um defeito sério: a superproteção. Tirando meu irmão Diego, que é como um amigo, os outros são muito protetores. Você não viu o constrangimento que passou? Você poderia ter me ligado, eu esperaria no portão.

— Alice, eu não me senti constrangido na sua casa. Eu só vi um irmão preocupado com o futuro da irmã.

— Mas ele te obrigou a me pedir em namoro, e isso eu não pude admitir.

— Ele não apontou uma arma na minha cabeça e disse: “namora minha irmã ou morre”.

— Com tanta pressão, você se viu obrigado a fazer isso.

— Claro que não, Alice. Se eu fui cedo até lá e decidi entrar na sua casa, é porque eu queria assumir que estávamos juntos. Eu não quero mais só ficar com você, Alice. Quero ter um compromisso. E, quando te pedi em namoro, eu estava falando sério. Eu não faria isso só porque a sua família queria. Se eu não estivesse afim de ser seu namorado, não pediria.

— É sério isso, Fernando? Você está mesmo pedindo para que eu seja sua namorada de verdade?

— E você acha que é mentira?

Ele segura meu rosto e me beija. Ficamos ali trocando beijos próximos a uma parede da faculdade.

— Isso responde à sua pergunta? Então, minha ruiva... você quer ser minha namorada?

— Eu aceito. Eu quero ser sua namorada, Fernando.

Ficamos ali até que o sinal bate. Ele foi para a turma dele e eu para a minha. Claro que aquelas meninas que viviam implicando comigo vieram na minha direção e começaram de novo, mas eu estava tão feliz que nem me importava. Eu não tinha amigos ali, então vivia sozinha dentro da sala de aula, mas tentava prestar atenção nas matérias.

Bateu o sinal do intervalo e eu fui até a cantina, faminta, já que não terminei o café da manhã por causa do meu irmão. Estava distraída na fila quando senti braços me envolverem, meu cabelo ser jogado para o lado e um rosto encostar no meu pescoço. Levei um susto.

— Você está muito assustada, gatinha. Ainda não se acostumou comigo?

— Me desculpa, eu nem sabia onde te procurar. Resolvi comer alguma coisa.

— Para minha sorte, você é a ruiva mais linda daqui. Muito fácil te encontrar no meio da multidão.

Ele ficou ao meu lado na fila e esperou eu fazer meu pedido. Pedi um sanduíche natural com suco de laranja, e ele pediu um sanduíche de frango com refrigerante. Ele pagou pelos dois e nos sentamos.

Não demorou muito até eu sentir algo sendo jogado em mim, escorrendo pelo meu cabelo. Era suco de laranja. Quando olhei para trás, vi Ludmila, a mesma que me chamava de “filhinha de papai”. Me levantei furiosa, mas Fernando se colocou na minha frente:

— Por que você fez isso, Ludmila?

— Essa sonsa aí está te seduzindo, não é, Fernando? Nós temos tudo a ver e você perdendo tempo com essa água de salsicha...

— Cala a boca, Ludmila! Eu e você não temos nada a ver. Você é só filha de uma amiga da minha mãe que vive me perturbando. Eu não gosto de nada em você. É uma patricinha sem estilo que se oferece o tempo todo. Já a Alice tem tudo que eu desejo em uma mulher. É linda, meiga, simpática e tem seu próprio jeito de ser. Num mundo materialista como o nosso, ela é simples, não fica gastando o dinheiro dos pais em maquiagem e roupas caras. Não sou desses que gostam de pagar para embelezar ninguém. Gosto de mulher que lute comigo pelo que deseja. E você não é assim. Você estuda obrigada. Imagina arrumar um emprego! Então, nunca mais chegue perto da minha namorada.

Num movimento rápido, ele pegou meu copo e jogou o suco no cabelo dela. Eu estava de roupa escura, mas ela usava um vestido branco que ficou todo amarelo. Fernando pegou minha mão e me levou até o banheiro. Ele esperou do lado de fora enquanto eu tentava me limpar. Como estava grudenta e sem jaqueta, resolvi pedir dispensa das últimas aulas. Ele disse que iria comigo. Como era amigo do reitor, foi fácil.

Ele me deixou na porta de casa.

— Quer que eu te espere para irmos juntos para a empresa?

— Por favor, não. Minha mãe vai te encher de perguntas e, se meu irmão estiver lá, não sei o que farei.

— Tudo bem. Me liga quando estiver saindo que eu venho te buscar.

— Eu tenho carro, sabia?

— Eu imagino, mas gosto de estar perto de você. Você não vai achar um motorista particular mais gato que eu.

— Também não tão convencido quanto...

Ele me deu um beijo longo e eu entrei em casa. Assim que minha mãe me viu:

— Mas o que aconteceu, Alice? Por que está em casa a essa hora? Nesse estado? Eu não sei que milagre esse garoto viu em você, ainda mais sendo da família Freemontt. Você não vai ter outra chance com alguém tão bom assim. Então, minha filha, dá para se arrumar melhor? E não demora muito para me dar netos. Lembra da nossa conversa sobre um apartamento? Pois bem, já que você tem um namorado, conversei com seu pai e resolvemos que está na hora de ter seu próprio apartamento.

— Não começa, mãe. Comecei a namorar hoje! Não vem me impor uma creche.

— Pode começar com um, filha. Os outros virão depois.

— Haha, muito engraçado. Só que não. Tá bom, mãe. Não quero te chatear. Vou tomar um banho. Teve um pequeno acidente na faculdade, me sujei com suco. Vou me arrumar pra ir trabalhar.

Subi para tomar banho, me preparar para o almoço e o trabalho. Logo ouço batidas na porta. Achei que fosse o Diego, mas era o Gustavo.

— Podemos conversar, Alice?

— Não vejo o que temos pra conversar. Se for pra me pressionar com a história do Fernando, melhor nem continuar.

— Nós dois nunca brigamos. Você sempre foi a nossa princesinha. Não quero ficar brigado com você.

— Você exagerou, Gustavo. Quando você implicou com a Juliana, achamos até graça. Mas ela e Diego já estavam juntos. Agora, pressionar o Fernando assim? A gente estava se conhecendo melhor, e você apressou tudo. Queria me proteger? Fez errado. Só me jogou mais rápido nos braços dele. Ele me pediu em namoro na faculdade e eu aceitei. Mas não sei se ele faria isso agora, se não fosse você.

— Eu só queria que você fosse feliz. Não quero que você se machuque. E é sério: sinto no fundo do coração que esse menino ainda vai te fazer chorar muito.

Bato na madeira e digo:

— Isso é coisa que se diga? Você devia desejar felicidade!

— Não gostei dele. Isso me fez ter esse pressentimento. Mas, se você o quer, não posso fazer nada. Só saiba que estarei aqui para te proteger. Sei que você é mais apegada ao Diego, mas eu também te amo. E, como seu irmão, estarei aqui sempre.

Claro que o abracei. O perdoei e chorei. Nunca havia brigado com meus irmãos. Sempre fui a compreensiva, a calada. Eu os amava. Só fiquei chateada com o jeito dele, mas fiquei feliz por fazer as pazes. Descemos para o almoço. No pé da escada, encontrei meu pai. Ele me deu um abraço e disse:

— Minha menininha está crescendo... arrumando um namorado. Fico feliz que tenha encontrado alguém. Mas quero que saiba: seu pai está aqui para te proteger. E sua mãe já pediu pra procurarmos um apartamento. Tem preferência de bairro?

— Já vai cair na conversa da dona Letícia, papai?

— Claro, filha. Vou arrumar seu apartamento. Mas, diferente dos seus irmãos, não quero você grávida tão cedo. Sei que não posso te impedir de se entregar a um homem, mas só peço que se proteja e tenha certeza de que ele é o certo. Não quero ver você chorando por ter sido desprezada.

— Obrigada, pai, por me compreender.

— Eu te amo, minha princesa. Só quero o seu bem.

— Eu também te amo, pai.

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