como se conheceram....

Alice:

Sempre fui uma menina muito tímida. Vocês podem até perguntar: “Mas com a mãe que você tem, toda alto-astral, como consegue ser tímida?” Sim, eu sempre fui de poucos amigos. Tinha apenas algumas colegas, filhas das amigas da minha mãe, mas não eram tão próximas de mim. Quem se tornou minha melhor amiga foi minha cunhada Juliana, assim que ela começou a frequentar a minha casa, antes mesmo de namorar meu irmão Diego. Por termos a mesma idade, nos demos bem logo de cara. Tanto que, mesmo no final do último ano do ensino médio, eu me mudei para a escola dela.

Mas isso vocês devem se lembrar de outras histórias... Quando ela sofreu um acidente e ficou em coma, tive que seguir sozinha, mesmo com a Emily tentando ficar no meu pé. Mas eu não gostava nada dela, pois ela só esperou o momento em que Juliana e Diego brigaram para dar em cima do meu irmão. Ficou o tempo todo ao lado dele se fazendo de amiga da Juliana, sem realmente ser.

Mas, graças a Deus, Juliana se recuperou, e finalmente eles ficaram juntos e se casaram.

Eu passei um ano esperando para decidir o que fazer da vida, até que resolvi cursar Administração e iniciei a faculdade. Mas, para o meu azar, naquele lugar só havia patricinhas. E como eu não era como elas, virei a “esquisita”. Elas viviam pegando no meu pé, dizendo que eu era “filhinha de papai”, que tinha um emprego garantido e não precisava estar na faculdade, bastava trabalhar com meu pai. Mas eu não era assim. Queria vencer pelo meu próprio esforço.

Por isso me dediquei e resolvi participar do processo seletivo das Empresas Freemontt Empreendimentos LTDA, onde a mulher que me inspirou a lutar por mim mesma trabalhava.

No último ano, Ana Paula Freemontt Franzzato estava muito em evidência na mídia. Eu admiro demais a história dela: lutou, e mesmo ainda na faculdade, conquistou a vaga na presidência da segunda maior empresa do país — e a transformou na maior!

Por isso resolvi seguir os passos dela e me candidatei à mesma empresa onde ela começou, para trilhar um caminho parecido.

Ao chegar em casa, tive que dar a notícia ao meu pai. Ele me apoiou, mas ficou triste, pois queria que eu trabalhasse com meu irmão Gustavo.

Mas decidi construir minha própria carreira, assim como Diego. Passei nas duas primeiras etapas do processo seletivo para estágio e já estava na fase final. Hoje, quando saísse da faculdade, eu iria para a última etapa da seleção, onde, dos 20 finalistas, cinco seriam escolhidos como novos estagiários da empresa.

Estava no intervalo quando as mesmas patricinhas me cercaram e começaram com as mesmas gracinhas de sempre. Foi aí que eu o vi pela primeira vez.

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Fernando:

Este último ano foi muito difícil para minha família. Toda a história do AVC do meu pai... infelizmente, ele teve que deixar a empresa.

Minha irmã Ana Paula assumiu o comando, mas, como está grávida, meu irmão Felipe tem apoiado bastante.

O Fred continua com sua empresa de aviação. Sério, eu amo meus irmãos. Somos os melhores amigos. E agora temos nossa princesinha também. Mesmo eu sendo mais novo, somos muito unidos e amamos nossos pais.

Meu pai veio conversar comigo e disse que está muito orgulhoso de mim, que estou indo muito bem na faculdade, e que, se não fosse pela idade, apoiaria que eu assumisse um cargo na diretoria da empresa.

Mas eu decidi começar de baixo. Não queria ganhar nada de bandeja.

Mesmo o Felipe tendo assumido a vice-presidência sem passar por um processo seletivo, ele já tinha uma profissão antes de entrar na empresa. Eu ainda estou cursando a faculdade, então preciso seguir o mesmo caminho que a Ana seguiu.

Assim que abriram as vagas de estágio, me inscrevi. Queria ser alguém na empresa começando de onde ela começou.

O pessoal do RH não queria deixar que eu participasse do processo. Disseram que eu teria vaga garantida por ser filho do dono. Mas eu insisti: queria passar pelo processo seletivo como qualquer outro candidato.

Havia muitos concorrentes, e eu passei por todas as fases. Agora estou na final. Foi aí que, no meio dos 20 finalistas, meus olhos bateram em uma ruiva de olhos verdes lindos.

Ela era a menina mais linda que eu já tinha visto.

Fiquei com essa imagem na cabeça até ir para a faculdade. Era intervalo, e ao passar por um grupo de garotas, vi que no meio daquele círculo estava ela — a mesma ruivinha da empresa, sendo hostilizada por aquele bando de patricinhas folgadas.

Fiquei furioso. Fui direto até onde ela estava:

— Posso saber o motivo de vocês estarem incomodando essa garota?

— Ah!! Fernandinho, ela é filhinha de papai. Não tem por que estar cursando Administração se pode muito bem trabalhar na empresa do pai dela. Tá roubando o lugar de quem merece mais.

— Certo, Ludmila... pelo menos ela está estudando e fazendo o processo seletivo para entrar em uma empresa. Não é como você, que vive na banca do seu pai e só está aqui porque foi obrigada.

Aliás, sabia que o que vocês estão fazendo com ela se chama bullying? E que isso pode dar cadeia? Se eu não me engano, o irmão dela é um dos melhores advogados do estado. Se ela contar pra ele, em dois tempos você vai parar lá. Então eu acho melhor deixarem ela em paz.

— Nossa, Nandinho virou defensor dos fracos e oprimidos?

— Eu não tolero esse tipo de agressão, e você sabe muito bem que eu odeio quando me chamam de Nandinho. E de Fernandinho também. Você é insuportável, Ludmila.

Empurrei as garotas para abrir caminho e segurei a mão da ruivinha, tirando-a dali.

Fomos para um jardim nos fundos da faculdade, e ali, finalmente, pude me aproximar dela.

— Tudo bem com você?

— Eu estou bem, muito obrigada por me ajudar. Mas não precisava, eu já estou acostumada com elas.

— Elas não têm o direito de te tratar assim. Isso pode até ser caso de expulsão. Se quiser, a gente pode falar com o reitor. Ele é um grande amigo do meu pai.

— Não, tudo bem. Eu já tenho fama de filhinha de papai. Se expulsarem elas, vai piorar ainda mais pro meu lado.

— Você não precisa suportar isso. Pelo que percebi, estava se esforçando bastante lá na empresa. Espero sinceramente que seja uma das escolhidas.

— Você também está participando do processo seletivo para as Empresas Freemontt Empreendimentos LTDA?

— Sim, quero seguir o exemplo da Ana Paula.

— Você também admira ela? Pra mim, ela é uma espécie de ídolo. Quero seguir os passos dela.

— É verdade... minha irmã é uma mulher incrível.

— Você é irmão da Ana Paula?

— Fernando Freemontt, em carne e osso.

— Muito prazer, Fernando. Eu me chamo Alice Alcântara de Medeiros.

— Amigos, então?

— Claro.

E a partir desse dia, eu não saí mais de perto daquela ruiva linda...