CAPÍTULO 4

Depois daquela tarde brincando com Sofia e o senhor Fernando, minha mente não parava. Algo nele mexia comigo de um jeito que me deixava inquieta. A noite chegou, e o sono simplesmente não vinha. Resolvi ir à cozinha tomar um copo de água gelada. A água da minha garrafinha tinha esquentado, e eu precisava me refrescar.

Estava distraída, perdida nos pensamentos, quando ele apareceu. O senhor Fernando entrou na cozinha, e tomei um grande susto. Meu coração disparou, e fiquei imediatamente envergonhada ao perceber minha roupa: um vestido simples de alcinha que eu usava para dormir. Quando tentei sair, ele não deixou. Com aquele tom calmo, mas firme, pediu que eu preparasse algo para ele comer.

Ele tinha bebido. Era evidente. E, de alguma forma, parecia ainda mais bonito assim. Preparei um lanche natural e um copo de suco de maracujá que encontrei na geladeira. Enquanto ele comia, mantive-me ocupada lavando os utensílios que havia usado. Mesmo assim, sentia seu olhar sobre mim. Meu rosto ardia de vergonha. Por que ele estava me observando daquele jeito? Devia ser a bebida, pensei.

Quando terminei de lavar tudo, peguei o prato e o copo que ele usou e lavei também. Resolvi sair dali, mas, antes que pudesse dar o primeiro passo, ele segurou minha mão e me puxou para perto. Em um instante, nossos lábios se encontraram. Fiquei paralisada, mas não consegui resistir. O perfume dele, misturado ao cheiro da bebida e ao gosto do suco de maracujá, criou uma combinação que me tirou do chão.

Voltei à realidade de forma abrupta quando percebi o quanto ele estava excitado. Meu rosto pegou fogo de vergonha, e, sem pensar duas vezes, saí correndo. Entrei no meu quarto, fechei a porta e encostei nela, tentando recuperar o fôlego. Ele tinha me seguido até ali, mas parou ao perceber que eu havia trancado a porta.

Deitada na cama, a confusão na minha mente só aumentava. Ele só poderia ter feito aquilo por causa da bebida. Afinal, eu era apenas uma empregada. Isso não podia acontecer de novo. Eu tinha meus valores e precisava me lembrar disso. No entanto, o gosto daquele beijo não saía da minha cabeça.

O dia amanheceu, e eu sabia que precisava seguir em frente. Tomei um banho, vesti meu uniforme e fui para a cozinha tomar café com os outros funcionários. Contei para minha tia o que havia acontecido, mas omiti o beijo. Ela ficou surpresa, dizendo que o senhor Fernando nunca ia à cozinha à noite.

Preparei o café da Sofia e, quando dona Luiza a chamou, dei banho nela e a arrumei para a aula de natação. Sofia sempre queria que eu ficasse por perto, então coloquei minha roupa de piscina e a acompanhei. Após a aula, ela quis continuar brincando na água. Estávamos rindo e nos divertindo, quando, de repente, vi Fernando se aproximando. Meu coração disparou novamente.

Por que ele estava em todos os lugares? Eu me perguntava quando ele voltaria a trabalhar e me deixaria em paz, mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim ansiava por sua presença.

Sofia correu para os braços dele assim que o viu. Enquanto eu me secava, ele veio até mim.

— Catarina, eu queria pedir desculpas pelo que aconteceu ontem. Eu não deveria...

Ele parecia genuíno, e isso me desarmou. Apenas balancei a cabeça, sem conseguir dizer uma palavra. Antes que o momento se prolongasse, dona Luiza apareceu, e eles começaram a conversar. Peguei Sofia, dei banho nela e a deixei arrumada como uma princesa.

Mais tarde, dona Luiza me chamou para conversar.

— Catarina, eu adoro você. Amo ver a forma como você e Sofia se dão tão bem. Mas percebi que apenas uma babá está sendo muito puxado para você. Por isso, decidi contratar outra pessoa para dividir os serviços.

Achei a ideia excelente e, na hora, lembrei da minha mãe.

— Dona Luiza, minha mãe tem 45 anos, é forte e saudável. Já cuidou de muitas crianças e ama esse tipo de trabalho. Se a senhora não se importar, acho que ela adoraria vir para cá e ficar perto de mim e da minha tia.

Dona Luiza adorou a sugestão e me pediu para providenciar tudo. Mal podia acreditar. Liguei para minha mãe na mesma hora. Ao ouvir a novidade, ela aceitou com entusiasmo. Eu estava radiante. Ter minha mãe e minha tia por perto seria como um sonho.

Depois de um dia cheio, com Sofia já dormindo, tomei um banho, vesti um baby doll e me joguei na cama. Pela primeira vez em horas, Fernando saiu dos meus pensamentos.

Estava quase dormindo quando ouvi uma batida na porta. Pensei que fosse minha tia, mas, ao abrir, fiquei sem palavras. Era ele.

Fernando entrou sem pedir permissão e fechou a porta atrás de si.

— Catarina, me desculpe. Eu não paro de pensar no nosso beijo.

Antes que eu pudesse reagir, ele se aproximou, e, quando percebi, já estávamos nos beijando novamente. Dessa vez, eu não queria parar.

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