Uma Lição De Amor

Uma Lição De Amor

01

Luciana entrou na sala de aula que usava para lecionar para crianças de cinco a seis anos, seus pequeninos, como ela gostava de pensar.

As paredes eram enfeitadas com desenhos de seus alunos, as cadeiras e mesas espalhadas pela sala, os livros e brinquedos na estante num canto faziam a jovem professora sorrir.

A moça tinha se formado há pouco tempo e conseguira o emprego naquela escola de classe alta depois de uma seleção rigorosa, mas apesar da pouca idade, ela era muito competente.

Colocou a bolsa sobre a mesa e então começou a arrumar a sala, limpou o quadro, arrumou os livros e ligou o aparelho de dvd onde filmes infantis passava até a hora que a aula realmente começava.

Ajeitou-se quando ouviu uma leve batida na porta. Olhou para o local e viu um homem alto, de cabelos negros, rosto barbado e expressão severa que trajava um terno preto, exalando poder e um garoto de cabelos encaracolados e castanhos, olhos grandes assustados, que parecia tímido, ele tentava se esconder atrás do (possível) pai.

Franziu o cenho ao ver os dois, afinal o ano letivo já havia iniciado e Luciana nunca vira aquela criança ou aquele homem, mesmo assim foi até eles e sorriu.

- Bom dia. - o homem a olhou sério - Este é meu filho, Yuri. Ele vai começar a escola hoje.

- Bim dia. – disse para o homem sisudo – Olá, Yuri. – ela sorriu para a criança, abaixando-se para ficar na mesma altura que ele – Como você está?

- Tudo bem. - o garotinho murmurou, parecendo envergonhado.

- Hoje é seu primeiro dia, querido? – perguntou, mesmo que o pai já tivesse falado.

O garotinho balançou a cabeça efusivamente. O pai continuou:

- Yuri estava sendo educado em casa, ele tinha aulas adequadas para a idade, mas devido a alguns problemas, decidi antecipar sua vinda à Escola.

Luciana assentiu para o homem e falou para o menino:

- Tudo bem, meu amor. Vamos entrar. - ela segurou a mão do garotinho e o ajudou a tirar a mochila e o casaco. Eles penduraram os itens em um dos ganchos na parede que não havia nome e depois Luciana levou o garoto até uma das mesas. Deixou a criança pintando um desenho e voltou para o pai – Meu nome é Luciana, serei a professora do seu filho. – ela ofereceu a mão, porém o homem não a apertou, fez apenas um leve gesto de cabeça, aquiescendo.

O pai a encarou sério, sempre sério, sem nem um rastro de simpatia.

- Há alguma coisa sobre Yuri que preciso saber? Alguma condição especial? Alergias ou algo do tipo?

Ela sempre perguntava isso sobre cada criança, tinha todo cuidado possível com seus pequenos, cuidava deles como se fossem seus filhos.

- Não, apenas que… - o homem suspirou, pela primeira vez perdendo seu porte de perigoso – Recentemente eu e a mãe dele nos separamos e desde então Yuri ficou introvertido, um pouco rebelde. Às vezes não quer se alimentar ou interagir com as pessoas. Ele é muito tímido e fechado em seu próprio mundo.

Luciana observou o homem com atenção, ele tinha a aparência séria, mas seus olhos pareciam tristes e cansados. A jovem professora assentiu.

- Não se preocupe, Yuri ficará bem aqui comigo e com as outras crianças. – ela sorriu, ele apenas aquiesceu.

O homem deu uma última olhada no filho e saiu, sem nem mesmo se despedir. Ela suspirou e foi até o menino.

- Yuri, você gosta de navios? - perguntou, enquanto observava o menino colorir um desenho de um enorme navio.

- Meu pai tem vários navios, mas nunca andei em um. - disse, sem tirar os olhos do desenho – Minha me prometeu que ia me levar, mas agora ela foi embora e me deixou. Eu nunca andarei de navio.

- Querido… - Luciana começou a falar, mas foi interrompida pela chegada das outras crianças, ela acomodou todos, falou com os pais e logo a aula foi iniciada, esquecendo completamente do que o garotinho novato falara.

Durante o dia percebeu que as outras crianças não se aproximavam de Yuri e o menino era bastante retraído, decidiu que trabalharia isso com todos, não queria que o aluno novo se sentisse deslocado ali.

Observou que o menino não comeu o lanche que levara, ao invés disso, ficara na sala de aula, pintando desenhos.

Ao final do dia, as crianças foram indo embora uma por uma, até que só Yuri ficou ali, com ela.

Luciana olhou para o relógio e percebeu que já passava das 16 horas e a aula terminava às 14 horas. O pai do garoto estava muito atrasado.

Será que ele havia esquecido o filho?

Isso era inadmissível!

Sentiu o fogo subindo pelo pescoço, a raiva ameaçava aparecer, mas a jovem professora se conteve.

- Meu amor, você sabe onde fica sua casa? – perguntou, enquanto observava a criança desenhando.

O garoto balançou a cabeça de um lado para outro, em sinal de negação.

- Tudo bem, venha, vamos até a secretaria descobrir seu endereço.

A jovem ajudou o garoto a pegar as coisas e juntos foram até a secretaria. Luciana explicou a situação à mulher que cuidava das informações dos alunos e logo anotou o endereço e o telefone do pai de Yuri. Ligou várias vezes, mas foi ignorada.

Ela se considerava uma pessoa bem calma, mas diante daquela situação estava revoltada com o descaso do pai. Como ele esquecia o garoto na escola? Que tipo de família era aquela?

E, pior, no primeiro dia de aula!

- Certo, querido. - ela disse para Yuri – Eu vou levá-lo até sua casa. Tudo bem?

O menino concordou e logo os dois, de mãos dadas, entraram no carro de Luciana.

A jovem tinha um fusca vermelho muito bem conservado, Luciana lavava o veículo todo fim de semana e fazia revisões periódicas, afinal era uma mulher sozinha e precisava se sentir segura. Era um modelo antigo, mas servia para suas necessidades, que era ir para o trabalho e para o supermercado. O carro era confiável, apesar de velho e lhe servia muito bem.

Os dois entraram no veículo, Luciana colocou o endereço no GPS do celular e partiram em direção à casa de Yuri.

Luciana percebeu que se afastavam até um bairro onde somente pessoas muito ricas moravam. Era bem distante do bairro dela.

Alguns minutos depois, seu carro parava em frente a uma casa imensa, uma Mansão imponente, que se erguia no quarteirão.

- É aqui, Yuri? – perguntou à criança que passou a viagem em silêncio, apenas observando a paisagem.

O garotinho aquiesceu e Luciana buzinou, imaginou se alguém abriria os portões para ela, naquele fusquinha velho. Um homem vestindo terno, de compleição física magra, usando óculos escuros e fone em um dos ouvidos, veio até a janela do motorista e ela baixou o vidro.

- Oi, meu nome é Luciana, eu sou professora do Yuri. - ela apontou para o garoto no banco de trás – Vim deixá-lo em casa.

O homem olhou para ela e para o menino e permitiu que o carro entrasse no pátio. Ela dirigiu até a casa, impressionada com o tamanho da propriedade, e parou o carro em frente a uma porta de madeira que daria acesso ao interior do imóvel.

- Pronto, querido. Você está em casa. - disse, sorrindo.

O garotinho aquiesceu e olhou para a moça, sério.

- Obrigado, tia e desculpe. – ele se virou para sair mas a jovem o deteve, segurando seu bracinho com delicadeza.

- Não, meu amor, não se desculpe. Não foi trabalho algum. - ela beijou a bochecha do garoto – Agora vá, vou esperar você entrar.

O menino obedeceu e correu até a porta, que logo foi aberta e um homem alto, de bigode que parecia uma espécie de mordomo apareceu. Ele sorriu para Yuri e o deixou passar. O homem olhou para o carro, analisando quem poderia estar dentro daquela lata velha estranha. Luciana buzinou e saiu, sem tempo para ir falar com ele.

Precisava falar com o pai de Yuri, não poderia admitir que o homem esquecesse o filho assim na escola. Tudo bem, era o primeiro dia e ele parecia uma pessoa bastante ocupada, mas só conseguia pensar que aquilo era desleixo com o próprio filho.

E se ela não fosse confiável?

E se, por acaso, ela tivesse más intenções?

Não admitiria que o próprio pai colocasse o filho em perigo. Falaria com ele e, se necessário, acionaria o Conselho Tutelar.

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Comments

Fatima Gonçalves

Fatima Gonçalves

é brabo

2024-02-27

0

Carolina Gusmão

Carolina Gusmão

Isso já aconteceu comigo cheguei a levar a criança para minha casa kkkk
Depois a mãe foi buscar

2024-01-22

1

Elaine Santos Do Nascimento

Elaine Santos Do Nascimento

Luciana parece um amor de pessoa. Ela a amou o menino.

2024-01-22

0

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