Luciana entrou na sala de aula que usava para lecionar para crianças de cinco a seis anos, seus pequeninos, como ela gostava de pensar.
As paredes eram enfeitadas com desenhos de seus alunos, as cadeiras e mesas espalhadas pela sala, os livros e brinquedos na estante num canto faziam a jovem professora sorrir.
A moça tinha se formado há pouco tempo e conseguira o emprego naquela escola de classe alta depois de uma seleção rigorosa, mas apesar da pouca idade, ela era muito competente.
Colocou a bolsa sobre a mesa e então começou a arrumar a sala, limpou o quadro, arrumou os livros e ligou o aparelho de dvd onde filmes infantis passava até a hora que a aula realmente começava.
Ajeitou-se quando ouviu uma leve batida na porta. Olhou para o local e viu um homem alto, de cabelos negros, rosto barbado e expressão severa que trajava um terno preto, exalando poder e um garoto de cabelos encaracolados e castanhos, olhos grandes assustados, que parecia tímido, ele tentava se esconder atrás do (possível) pai.
Franziu o cenho ao ver os dois, afinal o ano letivo já havia iniciado e Luciana nunca vira aquela criança ou aquele homem, mesmo assim foi até eles e sorriu.
- Bom dia. - o homem a olhou sério - Este é meu filho, Yuri. Ele vai começar a escola hoje.
- Bim dia. – disse para o homem sisudo – Olá, Yuri. – ela sorriu para a criança, abaixando-se para ficar na mesma altura que ele – Como você está?
- Tudo bem. - o garotinho murmurou, parecendo envergonhado.
- Hoje é seu primeiro dia, querido? – perguntou, mesmo que o pai já tivesse falado.
O garotinho balançou a cabeça efusivamente. O pai continuou:
- Yuri estava sendo educado em casa, ele tinha aulas adequadas para a idade, mas devido a alguns problemas, decidi antecipar sua vinda à Escola.
Luciana assentiu para o homem e falou para o menino:
- Tudo bem, meu amor. Vamos entrar. - ela segurou a mão do garotinho e o ajudou a tirar a mochila e o casaco. Eles penduraram os itens em um dos ganchos na parede que não havia nome e depois Luciana levou o garoto até uma das mesas. Deixou a criança pintando um desenho e voltou para o pai – Meu nome é Luciana, serei a professora do seu filho. – ela ofereceu a mão, porém o homem não a apertou, fez apenas um leve gesto de cabeça, aquiescendo.
O pai a encarou sério, sempre sério, sem nem um rastro de simpatia.
- Há alguma coisa sobre Yuri que preciso saber? Alguma condição especial? Alergias ou algo do tipo?
Ela sempre perguntava isso sobre cada criança, tinha todo cuidado possível com seus pequenos, cuidava deles como se fossem seus filhos.
- Não, apenas que… - o homem suspirou, pela primeira vez perdendo seu porte de perigoso – Recentemente eu e a mãe dele nos separamos e desde então Yuri ficou introvertido, um pouco rebelde. Às vezes não quer se alimentar ou interagir com as pessoas. Ele é muito tímido e fechado em seu próprio mundo.
Luciana observou o homem com atenção, ele tinha a aparência séria, mas seus olhos pareciam tristes e cansados. A jovem professora assentiu.
- Não se preocupe, Yuri ficará bem aqui comigo e com as outras crianças. – ela sorriu, ele apenas aquiesceu.
O homem deu uma última olhada no filho e saiu, sem nem mesmo se despedir. Ela suspirou e foi até o menino.
- Yuri, você gosta de navios? - perguntou, enquanto observava o menino colorir um desenho de um enorme navio.
- Meu pai tem vários navios, mas nunca andei em um. - disse, sem tirar os olhos do desenho – Minha me prometeu que ia me levar, mas agora ela foi embora e me deixou. Eu nunca andarei de navio.
- Querido… - Luciana começou a falar, mas foi interrompida pela chegada das outras crianças, ela acomodou todos, falou com os pais e logo a aula foi iniciada, esquecendo completamente do que o garotinho novato falara.
Durante o dia percebeu que as outras crianças não se aproximavam de Yuri e o menino era bastante retraído, decidiu que trabalharia isso com todos, não queria que o aluno novo se sentisse deslocado ali.
Observou que o menino não comeu o lanche que levara, ao invés disso, ficara na sala de aula, pintando desenhos.
Ao final do dia, as crianças foram indo embora uma por uma, até que só Yuri ficou ali, com ela.
Luciana olhou para o relógio e percebeu que já passava das 16 horas e a aula terminava às 14 horas. O pai do garoto estava muito atrasado.
Será que ele havia esquecido o filho?
Isso era inadmissível!
Sentiu o fogo subindo pelo pescoço, a raiva ameaçava aparecer, mas a jovem professora se conteve.
- Meu amor, você sabe onde fica sua casa? – perguntou, enquanto observava a criança desenhando.
O garoto balançou a cabeça de um lado para outro, em sinal de negação.
- Tudo bem, venha, vamos até a secretaria descobrir seu endereço.
A jovem ajudou o garoto a pegar as coisas e juntos foram até a secretaria. Luciana explicou a situação à mulher que cuidava das informações dos alunos e logo anotou o endereço e o telefone do pai de Yuri. Ligou várias vezes, mas foi ignorada.
Ela se considerava uma pessoa bem calma, mas diante daquela situação estava revoltada com o descaso do pai. Como ele esquecia o garoto na escola? Que tipo de família era aquela?
E, pior, no primeiro dia de aula!
- Certo, querido. - ela disse para Yuri – Eu vou levá-lo até sua casa. Tudo bem?
O menino concordou e logo os dois, de mãos dadas, entraram no carro de Luciana.
A jovem tinha um fusca vermelho muito bem conservado, Luciana lavava o veículo todo fim de semana e fazia revisões periódicas, afinal era uma mulher sozinha e precisava se sentir segura. Era um modelo antigo, mas servia para suas necessidades, que era ir para o trabalho e para o supermercado. O carro era confiável, apesar de velho e lhe servia muito bem.
Os dois entraram no veículo, Luciana colocou o endereço no GPS do celular e partiram em direção à casa de Yuri.
Luciana percebeu que se afastavam até um bairro onde somente pessoas muito ricas moravam. Era bem distante do bairro dela.
Alguns minutos depois, seu carro parava em frente a uma casa imensa, uma Mansão imponente, que se erguia no quarteirão.
- É aqui, Yuri? – perguntou à criança que passou a viagem em silêncio, apenas observando a paisagem.
O garotinho aquiesceu e Luciana buzinou, imaginou se alguém abriria os portões para ela, naquele fusquinha velho. Um homem vestindo terno, de compleição física magra, usando óculos escuros e fone em um dos ouvidos, veio até a janela do motorista e ela baixou o vidro.
- Oi, meu nome é Luciana, eu sou professora do Yuri. - ela apontou para o garoto no banco de trás – Vim deixá-lo em casa.
O homem olhou para ela e para o menino e permitiu que o carro entrasse no pátio. Ela dirigiu até a casa, impressionada com o tamanho da propriedade, e parou o carro em frente a uma porta de madeira que daria acesso ao interior do imóvel.
- Pronto, querido. Você está em casa. - disse, sorrindo.
O garotinho aquiesceu e olhou para a moça, sério.
- Obrigado, tia e desculpe. – ele se virou para sair mas a jovem o deteve, segurando seu bracinho com delicadeza.
- Não, meu amor, não se desculpe. Não foi trabalho algum. - ela beijou a bochecha do garoto – Agora vá, vou esperar você entrar.
O menino obedeceu e correu até a porta, que logo foi aberta e um homem alto, de bigode que parecia uma espécie de mordomo apareceu. Ele sorriu para Yuri e o deixou passar. O homem olhou para o carro, analisando quem poderia estar dentro daquela lata velha estranha. Luciana buzinou e saiu, sem tempo para ir falar com ele.
Precisava falar com o pai de Yuri, não poderia admitir que o homem esquecesse o filho assim na escola. Tudo bem, era o primeiro dia e ele parecia uma pessoa bastante ocupada, mas só conseguia pensar que aquilo era desleixo com o próprio filho.
E se ela não fosse confiável?
E se, por acaso, ela tivesse más intenções?
Não admitiria que o próprio pai colocasse o filho em perigo. Falaria com ele e, se necessário, acionaria o Conselho Tutelar.
LUCIANA
Foi para casa, ainda pensando no que aconteceu. Luciana gostava muito de crianças, por isso escolhera aquela profissão, acreditava que sendo professora poderia fazer a diferença na vida daqueles pequenos.
Minutos depois estacionou o carro em frente a uma casa simples no subúrbio da cidade. Era um bairro calmo e familiar, ainda se via crianças na rua brincando e passeando calmamente.
Desceu do veículo e logo foi saudada por Neide, sua mãe de leite. Ela era a única mãe que teve, visto que não conheceu a mãe de sangue, a mulher morrera logo após o parto.
- Boa tarde, minha filha. Chegou tarde hoje.
- Boa tarde, mãe Neide. - ela beijou a mão da mulher em sinal de respeito – Tive que deixar um aluno em casa, o pai esqueceu de buscá-lo.
- Meu Deus, que tipo de pai é esse?
Luciana deu de ombros e juntas entraram na casa. A jovem morava sozinha ali desde que o pai morrera, há um ano. A senhora era sua vizinha e estava sempre por ali, lhe fazendo companhia.
A moça deixou as coisas numa mesa próxima à entrada e foi para a cozinha, preparar café. Ela contou tudo sobre Yuri para a mãe, como ele parecia triste e deslocado das outras crianças.
A mulher lamentou isso, a senhora era muito amorosa e gentil, amava tanto ela como se fosse filha do seu ventre, assim como Felipe, seu filho natural.
- Querida, preciso ir. Felipe chegará daqui a pouco. – ela olhou para o relógio na parede, já passava das sete horas da noite – Preciso fazer o jantar dele.
Elas se despediram e logo Luciana estava sozinha, pensando em como Yuri estaria. Acordou dos devaneios com o telefone tocando, sem nem mesmo olhar para a tela, atendeu.
- Olá. - disse prendendo o aparelho entre a bochecha e o ombro, enquanto misturava a sopa na panela.
- Como você ousou tirar meu filho da escola? - uma voz masculina raivosa vociferava do outro lado da linha.
- Ah, Sr. Marco Antônio. - ela suspirou, tentando acalmar-se – Bem, tentei falar com o senhor, liguei várias vezes, mas minhas chamadas iam para a caixa postal. - o homem tentou falar, mas a professora continuou – Na escola temos um horário, nossas aulas terminam às 14:00, como acredito que o senhor foi informado.
- Eu tive problemas na empresa. – falou como se fosse uma justificativa plausível.
- Bem, não posso adivinhar, uma vez que o senhor não atendeu minhas ligações, não é mesmo? E seu filho foi entregue com todo o cuidado, como pode perguntar aos seus empregados. – disse, calma – Yuri estava bem chateado, senhor. Acredito que você deveria falar com ele.
Esperou que o pai falasse algo, mas o homem permaneceu calado.
- Sr. Marco Antônio, acredito que já estamos entendidos. Boa noite e amanhã nos vemos. - ela desligou sem nem mesmo esperar a resposta do homem.
Como ele ousava querer satisfações dela?
Será que ele não percebia o quanto era arrogante?
Ele que tinha esquecido o filho no colégio!
Luciana desligou o fogão e notou que a fome tinha passado, a conversa com aquele homem prepotente acabara com seu apetite.
Pela primeira vez, em muito tempo, sentia-se realmente furiosa. Não gostava desse tipo de pessoas.
A jovem saiu da cozinha e foi para o quarto, talvez no dia seguinte estivesse menos revoltada com aquela situação e conseguisse agir civilizadamente com aquele homem.
MARCO ANTÔNIO
O homem jogou o celular em cima da mesa do escritório. Aquela mulher era bem ousada, se acreditava que poderia falar daquele jeito com ele.
- Filho. - uma mulher alta, magra que trajava um vestido de paetês entrou no escritório. Ela tinha os cabelos loiros e longos, até o meio das costas - O que houve?
- Nada, mãe, nada.
A mulher observou o filho e se aproximou. Ieda tivera três filhos, conhecia cada um deles como a palma de sua mão e sabia que seu caçula, Marco Antônio, não estava bem. A recente separação só estragara mais o humor do rapaz, que nunca foi dos melhores.
- Yuri chegou sozinho da escola. – a mulher disse como se ele não soubesse.
Como se o remorso por ter esquecido o menino não estivesse lhe corroendo.
E se algo tivesse acontecido?
E se não fosse aquela moça sua professora, mas sim alguém de índole ruim?
- Eu sei, mãe! Eu… eu esqueci meu filho na escola! – falou, chateado.
- Querido… - ela tentou se aproximar, mas o homem se afastou.
A verdade é que ele não queria ser consolado, o que fizera não tinha perdão.
- Não consigo pensar direito, mãe. Minha mente está em Eliza.
- Meu amor, não há nada a ser feito. Ela escolheu ir embora. – a mulher falou, fria.
- Não aceito ela ter preferido o amante ao próprio filho! - vociferou – Eu já sabia que ela não me amava, desde o momento em que nos casamos e ela mostrou sua verdadeira face, interesseira, mas Yuri… ele é pequeno, só tem cinco anos e sente falta dela.
- Filho, não pense nela mais. Yuri ficará bem, tenho certeza. - ela apertou o braço do filho e o acariciou – Vamos, vamos até o quarto de Yuri, ele estava esperando por você.
- Não, mamãe. Não quero olhar para o meu filho depois de esquecê-lo na escola.
A mulher deu um último olhar para Marco Antônio antes de sair, triste.
Ele sentou na cadeira e fechou os olhos, desolado. Não sabia como agir, não sabia como explicar ao filho que sua mãe o deixara para ir embora com o amante.
E o amante era o irmão do seu pai.
Seu tio José Pedro.
Não, não poderia falar isso, a criança já estava traumatizada o bastante.
Suspirou e tentou se acalmar. No dia seguinte, se desculparia com Yuri e com a professora atrevida, não deixaria que Eliza atrapalhasse mais a sua vida.
LUCIANA
Como em todos os dias, Luciana chegou bem cedo no trabalho. Estacionou seu carro na parte privativa dos professores e desceu, estava tão concentrada pensando nas atividades que faria naquele dia que nem percebeu a aproximação de duas pessoas. Parou quando dois pares de sapato: um pequeno e um grande apareceram em seu campo de visão.
Olhou para cima e viu Yuri e seu pai, olhando para ela. O garoto tinha nas mãos um pequeno buquê de margaridas nas mãos e sorria, tímido.
- Bom dia. - o homem disse, a voz gutural parecia mais intimidadora ao vivo e no silêncio da manhã.
- Bom dia. - respondeu, séria – Yuri, meu querido, como você está?
O menino não falou, mas estendeu as flores para ela.
- Para mim? Muito obrigada, meu amor. - ela beijou as bochechas dele – Eu amo margaridas.
- Gostaria de me desculpar por ontem. - o homem disse, sem esperar mais.
Luciana assentiu.
- Não tem problema, Sr. Marco Antônio Mas o senhor já se desculpou com Yuri?
Ela viu um lampejo de raiva passar pelos olhos do homem, mas ele se conteve.
- Sim. Já expliquei a Yuri a razão do meu atraso. - ele suspirou – Caso esteja ocupado e não puder vir, mandarei meu mordomo buscá-lo, o nome dele é Francisco.
Luciana teve vontade de rir ao confirmar que o homem tinha um mordomo.
Isso sim era ser grã-fino.
Quer dizer, que tipo de gente tão rica era ele para ter um MORDOMO? Ele não conseguia abrir as portas sozinho?
- Tudo bem, senhor. Como quiser. – sorriu.
Marco Antônio olhou para Yuri, depois para Luciana e com um aceno de cabeça saiu. O homem era um poço de antipatia e frieza, andava empertigado como se tivesse um cabo de aço nas costas. Será que ele não relaxava nunca?
Luciana segurou a mão do garotinho e juntos entraram na escola. Ela pediu para ele ajudá-la com a preparação da sala de aula e logo o menino se tornou um pouco mais falante. Durante o dia, conseguiu que ele interagisse com as outras crianças e começou a ver que Yuri só precisava se enturmar, em breve ele estaria inserido entre os outros e seria uma criança feliz.
Só era preciso um pouco de amor e paciência, assim como as flores precisavam do sol e da água, aquela criança ia florescer em breve.
DIAS DEPOIS...
LUCIANA
Os dias passaram e Luciana estava mais ligada ao pequeno Yuri. Ele melhorava a olhos vistos, um pouco mais sorridente, mas o garoto não interagia muito com as outras crianças, por vezes, o menino ficava com Luciana na hora do recreio na sala, pintando ou ajudando a professora com as tarefas da turma.
Ela também percebeu que o garoto tinha algumas dificuldades nas matérias, por isso, naquele dia, um mês após a chegada dele, decidiu propor ao pai dele aulas de reforço.
Todos os alunos foram embora e, como sempre, Yuri ficou por último. Marco Antônio sempre se atrasava para buscar o menino na escola, Luciana já nem ficava mais irritada.
- Boa tarde. - uma voz profunda falou da porta da sala. O homem alto e moreno com expressão fechada, sisuda, estava em pé no umbral, olhando para ela.
- Boa tarde, sr. Marco Antônio . - disse – Preciso falar com o senhor.
O homem entrou na pequena sala e andou até ela. Ele parecia grande demais para aquela sala onde tudo era adaptado para criancinhas, o pai era tão alto e forte, não combinava com a delicadeza do lugar.
Luciana sempre ficava admirada com o andar elegante, parecendo um felino, que aquele homem tão grande exibia.
- O quê Yuri fez?
Luciana ficou confusa com aquela pergunta.
- Como? – balbuciou.
- Se você quer falar comigo é por que ele fez algo de errado. Não se preocupe, ele será devidamente disciplinado.
Luciana sentiu o rosto ficando corado de raiva.
- Não, Sr. Marco Antônio. Pelo contrário, Yuri é um ótimo aluno, aplicado, prestativo e amável. - ao contrário do pai, pensou – Percebi que ele está com dificuldade de leitura. Por isso pedi essa reunião. Yuri precisa de aulas de reforço. Acredito que isso se deva à demora em iniciar na escola.
O homem a fitou sem esboçar nenhuma reação.
- Você seria a professora? – perguntou, analisando-a e, embora o olhar fosse como uma máquina de raio-x que parecia lhe deixar exposta, Luciana não se mostrou frágil, empinou o queixo e respondeu.
- Se o senhor não tiver alguém em vista, posso ser a professora dele. Eu e Yuri nos damos bem, já estamos entrosados e isso facilitaria o aprendizado.
Marco Antônio a observou mais um pouco e disse:
- Tudo bem.
Luciana então explicou como seriam as aulas. Ao final do dia, ela e o menino iriam para a casa dela e passariam duas horas no reforço. Marco Antônio ouvia tudo em silêncio, apenas observando a professora, sem nem mesmo piscar.
- Podemos começar amanhã? - ela perguntou ao final.
O homem, economizador de palavras, apenas aquiesceu.
- Yuri, querido, amanhã começaremos nossas aulas de reforço. Você irá comigo para minha casa por algumas horas. Tudo bem?
O garotinho sorriu e abraçou a professora, saindo logo em seguida de mãos dadas com o pai. Ela suspirou, vendo os dois se afastar.
Yuri já evoluíra bastante mas Luciana esperava que as aulas e a convivência com ela melhorassem o ânimo do garoto, que parecia sempre apático. Em alguns momentos o menino demonstrava falta de ânimo e isso era muito estranho para a idade dele, mas a professora decidiu que observaria mais de perto os hábitos do garotinho que já tinha conquistado seu coração.
MARCO ANTÔNIO
- Renato, eles não podem ter se escondido em outro planeta! – falou para o amigo e advogado que o ajudava com as buscas pela mãe de Yuri.
Eliza sumira. A mulher infiel fugira com seu amante e não dera mais notícias.
Ele queria encontrá-la, queria puni-la e obrigá-la a cuidar do filho que estava sofrendo.
- Marco Antônio, já procuramos os dois pelo país todo, José Pedro e Eliza simplesmente sumiram.
- Malditos! - ele vociferou, dando um soco na mesa – Eu quero que você encontre os dois. E traga-os aqui.
- Nós estamos procurando, Marco Antônio. - o homem disse cansado e saiu apressado, no mesmo instante em que sua mãe e Luísa, sua cunhada, entravam em seu escritório.
Suspirou. Não estava com paciência para conversas amenas com a mãe e a cunhada, precisava encontrar a ex-esposa e o irmão e assim dar uma lição nos dois.
- Meu filho, por que você está procurando os dois? - a mãe dele perguntou, preocupada.
- Mamãe, não é um assunto seu. – respondeu ríspido.
- Marco Antônio, pense bem, meu filho. José é seu irmão, você não faria mal ao seu irmão, certo?
Ele riu, mas era uma risada amarga, cheia de mágoa.
- Engraçado. José Pedro não lembrou que era meu irmão quando começou a se encontrar com a minha esposa. A mãe do meu filho!
- Marco Antônio , querido…
- Não adianta, eu sei que você ama muito José Pedro, mas eu não posso dizer o mesmo. Ele me traiu com Eliza, ele nem mesmo lembrou de Yuri!
Ele não amava Eliza, mas tinha seu orgulho, não era fácil carregar o estigma de ser traído. Ainda mais pelo próprio irmão.
Além disso, via Yuri triste, desanimado, ele não era mais a criança feliz que era antes. Só via lampejos do antigo Yuri quando ele estava com a tal professora.
A professora… uma criatura interessante. Ela era amável e sorridente com o menino, mas dura e direta com ele.
Marco Antônio deu um sorriso de lado, pensando que não tinha nem um pouco de jeito com as mulheres.
- Querido, Yuri ficará bem. Você tem que superar isso, Marco Antônio, por seu filho. Eliza e José foram embora há quase um ano, já está na hora de virar essa página. Você precisa superar, encontrar uma mulher boa para você...
Marco Antônio olhou para a mãe e lembrou dos momentos na infância em que ela sempre defendia o irmão do meio, mesmo quando este estava errado, talvez, por isso, ele tivesse virado um homem mimado e vil, sem nenhum sentimento bom.
- Tudo bem, mamãe. Se vocês não se importam, preciso analisar uns contratos da empresa agora. - disse.
As duas mulheres saíram do escritório e o homem se viu sozinho. Ele encostou a cabeça no espaldar da cadeira e fechou os olhos, cansado. Estava exausto, mas tinha que continuar, pois o filho precisava que ele fosse forte e continuasse.
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