Senti meu corpo ser chacoalhando levemente, mãos grossas seguram o meu rosto e o balançam também, além da voz, que, a medida que fui retomando a consciência, foi ficando mais clara e então eu percebi.
Kevin.
Abri os olhos rapidamente e senti meu coração afundar quando o vi tão perto de mim. Kevin suspirou aliviado e se afastou um pouco, ajoelhando-se no banco do carro, ainda bem perto.
Rapidamente me sentei e balancei a cabeça, sentindo uma dorzinha na mesma, mas nada insuportável. — Disse que te levaria para casa, mas não posso fazer isso. Seu marido está te procurando. — ele disse calmo e devagar, como se tentasse não acabar se embolando nas palavras.
— Ah, meu Deus... O Juliano... — olhei em volta e quando vi o edifício em que estava um pouco ao longe, me senti aliviada ao perceber que a festa ainda está rolando — Preciso ir. Obrigada por me ajudar, Kevin. — só o ouvi resmungar baixo, algo que não me dei o trabalho de escutar porque estou muito apressada.
Caminhei com pressa de volta para o edifício, ainda sentindo minha cabeça pesada, o gosto de álcool pesando em minha língua, mas não é como se eu pudesse resolver isso agora.
Andei um pouco por entre as pessoas, até ver o meu marido, ao longe. Ele estava sentado em um grupo de homens e tinha uma mulher ao seu lado. De início, não achei que estivesse lá com ele, mas me enganei. Ela se debruçou sobre seu corpo para sussurrar algo em seu ouvido, que lhe arrancou risadas, e quando a olhou... Percebi a malícia e a sua excitação nesse ato.
A moça é loira, tem um corpo esbelto... Quem sou eu perto daquela mulher?
Imediatamente, um nó começou a surgir em minha garganta. E eu simplesmente virei as costas para sair daqui o mais urgentemente possível.
Encontrei o carro parado no mesmo lugar e o maldito Kevin encostado na lateral, com os braços cruzados. — Você sabia, não é? — perguntei entredentes, mas logo tratei de me controlar, afinal, ele não tem nada haver com essa história.
— Não entendi, senhora. — ele falou como se tentasse reprimir um sorriso cínico.
— Você sabia que aquele cretino estaria lá dentro com uma mulher! — afirmei o olhando profundamente e Kevin suspirou.
— Sim, eu sabia. — admitiu — Mas ele é o seu marido, achei que você quisesse voltar pra casa com ele.
— Isso não tem nada a ver. — refutei — Me fale agora, você sabe de algo que eu não sei, Kevin? — ao fazer essa pergunta, o percebi descruzar os braços, passando os dedos sutilmente pela sua barba — Kevin.
— Eu não acho que seja ético que eu-
— Por favor. Fale. — ele ficou me olhando por uns segundos, como se pensasse se vai falar ou não.
— Senhora...
— Kevin, fale agora!
— Tudo bem, eu... Olha, essa mulher é a amante do seu marido, tá bom?! Ele sai de noite, na maioria das vezes para encontrá-la. — engoli a seco e pisquei algumas vezes, sentindo como se essa informação me dilacerasse de dentro para fora.
— Ok. — respondi — Me leve para casa, por favor. — e entrei no carro, me sentando e organizando o cinto de segurança.
As lágrimas começam a rolar por minha bochecha descontroladamente. Tento disfarçar um pouco, mas quando solucei, ele descobriu o que eu estava fazendo.
Como isso é possível?! Deixei a minha família para me casar com esse homem, e ele ainda me obrigou a largar a tudo o que eu fazia. Minha vida era equilibrada antes de ele aparecer, mas agora eu já não tenho mais nada. Juliano tirou tudo de mim, tirou a minha juventude, o meu dinheiro, a minha saúde mental, tirou a minha beleza ao me submeter a droga de um acidente por causa de sua ganância e ambição.
Eu me odeio por ter acreditado nas mentiras fajutas desse velho asqueroso.
Preciso começar a fazer algo por mim, pois, se não fizer, ninguém mais fará.
Então, me inscrevi em um curso de francês e confeitaria. Marquei horário no salão, e toda semana decidi que passaria lá para dar um tapa em meu visual. No começo, Juliano não achou a ideia muito boa, mas eu não me importei e ele ainda pagou tudo.
Comprei roupas, cortei um pouco do cabelo e me surpreendi ao receber um elogio de Eva, a cabeleireira. Ela me disse algo que ficará para sempre marcado em meu coração: — Ah, minha querida... Você é linda do jeito que é, entendeu? Essa cicatriz faz parte da sua beleza, isso não muda nada. Melissa, sua alma é bela e ninguém pode mudar isso. Olhe só para você, és a mulher mais bela que já tive o prazer de atender. Não quero que você repita que odeia essa cicatriz nunca mais, entendeu? Ela simboliza a sua sobrevivência, ela te torna uma mulher forte!
Tudo é mais fácil quando estou longe de Juliano. Quando estou, eu me sinto mais confiante, olho para o meu rosto onde a cicatriz marca um pouco acima da minha sobrancelha até a o fim da minha bochecha, na diagonal. Ela não é tão profunda, eu poderia conviver com ela tranquilamente, mas quando Juliano me olha com nojo... Eu sinto como se diversos punhais rasgassem a minha alma.
Ele me disse que pagaria quanto fosse numa cirurgia plástica para mim. Comentou também que seu sonho era que eu voltasse a ser o que era. No começo, realmente cogitei a ideia de me submeter a cirurgias para remover a marca do meu rosto, mas já não quero. Não posso correr o risco de piorar a minha situação, eu sei muito bem que essas cirurgias não são 100% seguras. E a falsidade de Juliano só aumentaria caso eu voltasse de uma cirurgia sem a metade do meu rosto.
E eu já decidi. Não vou fazer nenhuma cirurgia plástica.
Durante o resto da semana, tentei ao máximo não lidar com Juliano. Não nos falamos muitas vezes e ele nem sequer insistiu para que mantéssemos qualquer conversa. Ele estava mantendo contato com a sua a amante, por isso nem ligou para mim. E eu tenho uma relação de amor e ódio quanto a isso. Tenho medo de ele me jogar na rua e eu ficar desamparada, porque a minha mãe não pode me ajudar.
Então fiquei no jardim, podando plantas, tomando sol na área externa, lendo um livro e até mesmo estudando.
Eu não sou do tipo que desiste fácil. Eu já sei que meu casamento está uma merda e não vou tentar restaurá-lo. Eu ao menos sei se ainda amo Juliano. Quando penso nisso, fico confusa por não saber exatamente como me sentir a respeito dele. O sentimento não é o mesmo que antes, não acho que seja amor.
Juliano me salvou no meu pior momento, enquanto eu ainda estava lidando com o luto pelo meu pai. Esteve comigo em todos os momentos e foi por esse motivo que eu achei que ele era o homem certo pra mim. Achei que ele iria continuar sendo o mesmo homem meigo pelo qual eu me apaixonei.
Mas estava redondamente enganada.
— Mel? — ouvi a voz dele e me surpreendi pelo uso do apelido, que há tanto tempo não o ouço usar para se referir a mim. — Ah, aí está você! — e então, trilhou o caminho de pedras no jardim até chegar perto de mim, pondo as duas mãos em meus ombros — Estava te procurando.
— O que aconteceu? — perguntei sem encostar nele, com os olhos fixos no livro à minha frente.
— Estou sentindo saudade, amor — senti seu rosto ser enfurnado em meu pescoço, dando alguns cheiros e beijos naquela região.
Eu ao menos me arrepiei ao sentir sua barba em minha pele.
— Estou ocupada agora, Juliano.
— Nah, isso pode ficar pra depois... — ele fechou o livro e quando o olhei, ele pressionou os lábios nos meus. — Vamos pro quarto?
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Atualizado até capítulo 84
Comments
Maria Sena
Canalhas como esse existe aos .montes, e às vezes a mulher se subemete a humilhação por medo de tudo. E o caso da Melissa.
2024-08-19
0
Neria Silva
que homem nojento cadê a amante por favor autora da um jeito de livrar a melissa de se homem
2024-01-21
1
Lucia Juhasc
que nojo desse homem
2023-09-17
1