Agora estávamos indo para o instante a qual ligaria para a mãe do pivete, dona Claudete, não tinha nada sido difícil conseguir o contando da senhora em questão, muitas pessoas lhe conheciam o que facilitava todo o serviço, a própria Paloma foi a responsável por acabar dando o número da outra mulher, assim como lamentou pela situação que a mesma iria enfrentar, só que coisas como estas não eram da conta de Leonardo, ele apenas queria ver logo o seu momento favorito chegar e quem sabe, isto até animaria um pouco seu humor. Nada lhe parecia mais satisfatório que poder ver um jovem burro pagar por seus crimes e seu Deus quisesse — e ele queria, e como queria! — o fedelho iria ser estapeado até a mão doer totalmente e judiado por ao menos um longo período. A violência nem sempre era a resposta, às vezes ela era pergunta inteira.
Diante dos olhos cinzas que tão dificilmente expressavam algo além de um desdém óbvio e direito, a situação que podia imaginar um belo vislumbre o fazia sentir ao menos uma ponta de ânimo para prosseguir sua segunda feira de merda, com alguns puxões fortes na orelha o moleque poderia tomar algum jeito na vida, passar a fazer algo útil de verdade e pensar no próprio futuro, então quem melhor que sua mãe para repreendê-lo? Ninguém, normalmente não havia alguém além delas, raros se tornavam os casos onde a figura paterna era presente, ou se importava, os dois, juntos então? Um artefato difícil de ser achado pros dias de hoje.
A medida em que, segundos e minutos iam se passando de pressa, Erick passou a sentir um pavor animalesco tomar conta das suas entranhas, elas se formavam como bolos de monstros que maltratavam o seu estômago até dizer chega, a ansiedade nunca tinha lhe parecido tão traiçoeira e seria quanto agora de fato era. Um sentimento morto nasceu no seu peito uma outra vez, um a qual ele tinha feito questão de assassinar e jogar o corpo na vala mais podre que encontrou, mas lá estava ele novamente, renascendo tal como uma fênix teimosa em seu interior… aquele sentimento de sentir-se novamente igual a uma criança — mesmo que não fizesse tanto tempo que de fato foi uma — travessa que foi pega, ou descoberta fazendo alguma das famosas "artes" juvenis. A aflição continuou e ela era precisamente cruel, chegando até a deixá-lo tonto e desnorteado, a sua situação atual era infinitas vezes pior do que só ser pego pintando as paredes brancas de sua casa, dessa vez ele realmente tinha passado dos limites e sabia perfeitamente bem disso, droga como sabia! Tinha enfiado os pés pelas mãos e cágado com tudo, como queria que seu maior problema agora fosse apenas ter quebrado uma xícara de chá do jogo favorito de sua mãe e não estar detido até a segunda ordem na porcaria de um posto policial. Claudete se sentiria tão desapontada… e com todos os motivos do universo pra isso.
— Inferno! — o garoto praguejou batendo as mãos nos braços da cadeira de madeira, um ato burro, admitia, porém não importava. Só queria extravasar sua raiva fazendo algo, por aquele bolor que sufocava sua garganta pra fora de alguma forma nem que isso também o machucasse, porque definitivamente não importava, não mesmo.
Batendo simultâneamente o pé contra o piso várias e várias vezes, os seus olhos verdes estavam ardendo de leve e Erick para era capaz de dizer se era porque não piscava, ou pelo fato de estar reprimindo sabe se lá o quê, no final, era possível ser um pouco dos dois. Ainda sim, Jorgito permanecia olhando fixamente cada bendito segundo se passar e era tal como uma tortura inconsciente e justa para si próprio, se sua mente estiver melhor ele certamente se ligaria de algo como isso, porém não ligava, tudo o que consegui pensar era quantos minutos ainda o restaria de vida. Dali até a casa de Claudete eram por volta de 30 minutos a pé, considerando que levaria tempo até os policiais conseguirem o número da mulher, isto devia dá-lo alguns minutos extras, talvez algo em torno de 20 minutos? Bom, ele também poderia estar contando com uma mísera cota de sorte de sua mãe não estar em casa agora, se possível ela poderia estar fazendo uma feira, isso sim! Uma feira, dona Claudete podia muito bem estar fazendo um feira, ou até ter saído para o mercado, afinal de contas, era seu aniversário e sua mãe nunca deixou passar em branco... droga! Esse era todo o problema, ela não iria só deixar passar em branco.
A conhecendo como conhecia, ela deveria ter comprado tudo bem no início do mês, era sempre com antecedência para seu menino, sem a menor dúvidas estaria dentro de casa a essas horas terminando de ajeitar tudo o que podia fazendo um delicioso almoço e a sua sobremesa favorita e… droga, droga e droga! Afinal de contas, por que as coisas tinham que tomar justo esse rumo?! Por quê tinha que ser tão estúpido?! Droga Erick! Só o restava torcer entre milhares de orações e preces silenciosas, ele faria uma para cada ser divino a qual lembra-se o nome, bom, ao menos um deveria de ter piedade, não é? Torcia que sim, é torcia ainda mais que os polícias não encontrassem o bendito número em questão, seria mil vezes melhor só tomar uns tapas aqui e ali, e ser jogado em algum rosto vários becos da comunidade do que confessar para mãe que foi preso por tentativa de furto. A confissão o parecia algo tão incabível pois sabia e como sabia que o resultado não seria dos melhores, o famoso Jorgito pé de vento diria tchau, tchau para o plano terrestre em segundos.
E, certo, digamos que brasileiro é um bicho sem o menor pingo ou vestígio de sorte. Os dias do nosso não amado Jorgito pé de vento estavam traçados, era dali para abaixo da terra… nem nos piores dias Erick achou que iria ver o tio lu tão cedo. Leonardo Ackerman nunca tinha falhado, não pra ver um jovem pagar pelos pecados, e sim, ele conseguiu o número com o maior dos maiores prazeres do mundo, com o contato da dona Claudete e tudo que Jorgito poderia fazer era orar aos céus para que tudo saísse bem e ele no máximo acabasse sem um braço, um olho e com joelhos ralados. Era aceitável até.
Quando Dona Claudete chegou no posto policial foi impossível não saber, a mulher estava só o puro bicarbonato de ódio e raiva, se você tivesse coragem o bastante pra se aproximar e vê o rosto desta, saberia que a mesma tinha longas linhas de expressões e veias que saltavam da testa. Assim que entrou foi como um estrondo, uma manada parecia vir junto da mesma, ou pior, uma tempestade que não passaria tão de pressa. Ah não, não mesmo! Aquela tempestade furiosa tinha a pretensão de ficar o máximo possível.
— CADÊ ELE?! — A pergunta pulou de sua boca em um grito agudo, e normalmente, Leonardo que desprezava pessoas escandalosas em sua delegacia não se incomodou nem um pouco. Tudo o que o polícia fez foi ter o trabalho de apontar para a porta azul atrás de si, que óbvio, tinha deixado destrancada de propósito, vendo a mulher passar ao seu lado como um furacão descontrolado foi meio que impossível não sorrir com a visão.
Com passos capazes de fulminar os pisos brancos do posto, a mulher foi até a porta azul sem ao menos agradecer, bom, ela iria fazê-lo mais tarde depois de enfiar um pouco de juízo na mente de seu filho, por hora, ela era apenas uma mãe morta de raiva e puro desgosto. Nunca pensou que no auge dos seus quase cinquenta anos teria que buscar um filho na polícia, por tentar roubar. Onde tinha falhado com ele? A pergunta rondava várias vezes seus pobres pensamentos desde que tinha recebido o telefonema do PM Leonardo, será que não teria orado o bastante para aquele moleque criar juízo? Ou quem sabe, a falta de uma figura paterna tinha no fim chegado para cobrar aqueles anos todos de ausência e negligência, bom, a verdade é que ela nunca soube o porquê de realmente ter acontecido, só tinha e pronto, não tinha mais o que fazer.
Parando na frente da porta, Claudete exitou por um curto instante, dando um suspiro longo, ela recobrou suas forças e girou a maçaneta entrando com um estrondo pela porta adentro e mesmo que da onde estivesse o rosto do seu filho não fosse visível ela sabia que Erick tinha feito uma cara de pavor e medo, não era para menos se ele saísse com vida dali seria por pura obra divina do todo poderoso.
— Erick… — A voz da mulher saiu como lâminas afiadas de gelo, era tão passiva que deixava cada parte de Erick nervosa, pois ele sabia, sabia bem que aquele tom falsamente calmo não condizia em nada com o que a mãe sentia agora. Recusando-se a se virar, o garoto via-se novamente muito pequeno, era como retornar a infância, só que a situação era muito mais série, série de mais pra ser honesto. — Erick, olha pra mim. — Pediu Claudete ainda sustentando o tom que começou, o filho ouviu seus passos e como instinto ele encolheu ainda mais na cadeira, mantendo o olhar o mais baixo possível.
Sem coragem alguma, o garoto realmente não queria olhar para a mãe. A situação era como estar numa beira de um penhasco e na sua infinita queda livre estava uma tortuosa e agonizante maré de humilhação, encarar a mãe, agora era como olhar no negrume dos seus piores pecados, que sinceramente? Estavam muito, mas muito longe de serem poucos.
— Mãe... — ele começou baixíssimo, quase como sussurros mudos.
— Erick, eu disse pra olhar para mim. — repito ela, mas agora usava um timbre mais ríspido, o fazendo gelar, sua mãe estava parada diante de si, soltando uma lamuria melancólico baixinha, nojo de certo modo era um dos sentimentos que atravessava o coração de Jorgito, ela que dançava uma espécie repulsiva de valsa com esfacelos de culpa e até mesmo, constrangimento bailava junto a elas.
— Desculpa, desculpa, mesmo... — Pediu ele levantando o rosto e, droga! O olhar triste na face de sua mãe era sem dúvidas, a coisa mais agonizante que ele já tinha visto, aquelas bolas de jade que normalmente irradiavam alegria, estavam opacas sem um resquício mísero de brilho neles, quase iguais aos de um cadáver, e bom, Claudete certamente estava morta de desgosto agora, onde tinha perdido seu menininho? Como foi que aconteceu? E principalmente, onde estava que não o viu se perder? Eram esses os principais pensamentos que batiam cada vez mais nos pensamentos bagunçados da mulher.
— Erick, por que? Eu não te eduquei direito? Eu errei em algum lugar? Se eu errei só me diz por favor, eu oro aos céus toda merda de noite só pra saber onde eu errei com você garoto... — a mulher dizia com um tom de decepção na voz e o nosso pobre Jorgito já estava se debulhando em lágrimas.
— M-Mãe desculpa... eu só queria algo legal pra hoje-
Ele foi cortado pelo estalo em seu rosto. Um tapa forte desferido pela sua mãe. Sentindo a região queimar, Erick voltou a cara outra vez para mãe que agora estava chorando, com olhos arregalados… tinha sido a primeira vez que a doce mulher tinha erguido a mão contra si, por mais estressada que ela fosse nunca tinha o batido, não para valer e agora que tinha o feito, não doía, mas… lhe dava uma sensação pesada e vazia que se misturava com sujeira, uma sujeira que era sua.
— Eu nunca te bati na vida e eu nunca mais vou te bater, essa é a primeira e última vez. Eu estou decepcionada, Erick. — Há essa altura do campeonato, tanto mãe quanto filho estavam chorando em união.
— Eu... eu, eu juro que nunca mais vai... nunca mais vai- — a frase morreu no meio da garganta de Erick, lágrimas grossas estavam descendo do rosto pálido de sua mãe, algo que ele nunca tinha visto no seu curto tempo de vida. A mais jamais chorara, nem uma única vez sequer, nem quando as coisas tinham ficado complicadas, ou o seu marido ido embora com uma família "melhor". Claudete nunca tinha derrubado uma única gota de lágrima em meio a tempestade que era sua vida, isto tudo, apenas para transmitir o conforto que seu garotinho merecia, e tudo para que mesmo? Ela já não sabia mais.
— Não vai, não vai mesmo! — Elevando a voz, ela limpou as lágrimas se recompondo — Eu me mato de trabalhar pra de dar uma vida confortável e pra que em? Eu sempre me esforço, talvez eu tenha sido ausente, eu sinto muito Erick, mas eu precisei, Deus sabe que sim, eu precisava, mas eu nunca mais vou tirar meus olhos de você, nunca, não mesmo! Onde eu errei...? — A última parte foi uma repetição atordoada e ela parecia fora de órbita, como se todos aqueles anos lhe tivessem cobrado algo — Sinto muito, sinto mesmo pelo seu pai. Eu, eu... eu não consegui fazer ele ficar com a gente, meu menino. — o sorriso arrasado e muxo que surgiu nos lábios trêmulos da mulher causou náuseas fortes no estômago de Jorgito, como ele queria gritar que ela não tinha culpa alguma, que seu pai era o único merda daquela história, bom, aquele bastardo e ele mesmo, era como diziam tal pai, tal filho.
— Desculpa mãe, desculpa mesmo, de verdade... Eu não posso dizer que não queria fazer aquilo por que eu fiz por que queria. Mas foi com as melhores intenções...
— Melhores intenções?! Erick, por favor não minta pra mim... dói demais ver você se afastando desse jeito, onde tá o meu garoto? Onde tá o garoto que ria até do vento? — Cada fala doía na mulher como agulhas tão afiadas que poderiam atravessar seus ossos cansados.
— Eu não sei... eu realmente não sei — cada palavra saia de si trêmula, ele tinha se perdido era verdade, se perdido em algum lugar que sinceramente? Não fazia ideia de onde ficava, ou se existia realmente, apenas sabia que estava num mar escuro, onde não escutava nada ou ninguém, onde tudo parecia irrelevante demais, um lugar onde todo seu senso passou a abandoná-lo. E só havia a si próprio para culpar, ele, suas escolhas e sua tolice.
Se achava tão esperto, se sentia tão grande, vivia crendo que jamais seria pegou ou afetado, só que mal sabia que era tão pequeno, tão burro, tão vazio…
— Nunca pensei que um dia veria um filho meu assim, sentando, preso — suspirando, ela pausou por segundos torturantes — Eu não sei o que fazer, mas vou fazer algo Erick, você pode ter certeza disso, só que mais que fazer algo, você precisa saber, saber que se isso acontecer de novo, eu não vou vir mais.
— E o que você quer dizer com isso, mãe?
— Quero dizer, que se fizer isso de novo, se me fizer passar por essa humilhação outra vez, eu não só não vou vir te buscar, como você também não precisa voltar pra casa. — Lhe lançando o pior dos piores olhares, ela prosseguiu — Se fizer de novo Erick, seja lá o que for, você não é mais meu filho. — A mulher cuspiu duramente e muito embora a dupla nunca viesse saber, tinha um policial atrás da porta ouvindo toda a conversa.
— Sinto muito. — pedirá novamente.
— Vou conversar com a polícia e ver o que será de você, então trate de pensar no que irá dizer para o Alert é a Paloma, não só isso se prepare para vender as suas coisas, você irá entregar o que receber com isso para a padaria. Eu fui clara, Erick? — A pergunta saiu seca por sua garganta e tinha um olhar dura como ferro estampando em sua face.
— Sim, senhora.
— Nesse caso eu já voltarei, use esse tempo para pensar um pouco nas suas atitudes.
— Ok.
Terminando de enxugar a trilha de lágrimas do seu rosto, Claudete virou-se e deixou o filho sozinho. Teria um dia muito longo pelo visto, deixando um novo suspiro cansado fugir, não era bem esse o seu planejamento para o aniversário do seu menino… não, não era, mesmo, ela tinha planejado tudo, ajeitando a casa inteira, tinha feito o melhor bolo que lhe era cabível, um almoço farto, sendo o prato predileto de seu filho e restava o direito para uma sobremesa, o pudim pelo qual o jovem sempre morreu de amores. Tudo tinha sido cuidadosamente preparado, apenas para ter o desgosto de ver se esfarelado diante dos seus olhos, tal como água que escorria pelos seus dedos finos, Claudete não podia impedir que cada gota de água fugisse entre a sua mão, era além do seu controle, além da sua vontade… era alcançável e mais ainda sim, tão inalcançável. Com o passar dos anos, foi justo o que Erick tornou-se, um rio sem fluxo, uma maré sem ritmo, um lago inabitável… e água sem destino.
E isso doía tanto. Dói tanto! No fundo, Claudete sabia que ela tinha feito o melhor que podia, ela sabia! Mas por que o sentimento de auto cobrança nunca ia embora? Qualquer um já sabia só de olhá-la, ela cobrava-se por muita coisa, talvez um pouco exageradamente, ela não tinha como carregar tudo nas costas, ah não mesmo, ninguém podia. Só que mesmo assim, ela cobrou-se, se cobrou quando seu marido alcançou a maçaneta da porta, Cristo como seu coração havia partindo-se naquele dia, porém nada fora dito, ela não falou uma única sequer palavra para ele e sempre que pensava sobre se questionava, deveria ter o implorando para ficar? Isso mudaria alguma coisa? Bobagem! Repetia Claudete sempre que voltava no assunto, nunca teria implorando, não importava o quanto um dia o amou, ela não iria implorar como uma mulher miserável pois sem dúvidas, aquilo era a última coisa que ela era. Uma mulher miserável.
Desse jeito ele saiu, sem palavras, ou sem o adeus digno que todos mereciam, também não houvera a decência de falar com o filho caçula de apenas 7 anos de idade na época, o pobre garoto que mal compreendia algo, tinha acabado de descobrir o mundo escolar, ainda estava aprendendo sobre o mundo, foi difícil contar-lo e por tempos, para o pequeno Erick seu pai só tinha saído numa viagem longa, então todas as noites, durante pelo menos 3 meses o garotinho rezou contra seu travesseiro para que seu papai volta-se, pois queria o contar as coisas incríveis que tinha aprendido na escola e apresentar os seus novos amiguinhos. Todavia, como podemos ver, nada disso aconteceu, pois o homem a qual um dia Jorgito chamou de pai, nunca voltou, nunca o procurou, tão pouco ligou.
Ficando para Claudete toda a responsabilidade de criá-lo e contar que o pai jamais voltaria, ela ainda conseguia lembrar-se da tristeza que cravou-se profundamente na expressão do filho e do seu grito chamando-a de bruxa mentirosa, pois no fundo do coração ingênuo ele acreditava mesmo que seu pai o amava. Na noite em que soube, o garoto foi dormir a choros e soluços embolados. Doía tanto em Claudete vê-lo tão fragilizado, ela preferia nunca ter o contado, mas não podia esconder algo como aquilo do filho.
Ela também culpou-se quando Erick iniciou a vida que levava agora, uma praticamente sem volta, mas ela orava aos seus pelo seu filho, para que ele encontrasse seu caminho e culpava-se ainda mais por te aceito aquilo tudo de certo modo, tinha que ter sido mais dura com ele. Sentia-se sufocada, julgando que não merecia palavras de amor vindas dele. Porque o amor que ele tinha por sua mãe o alcançava, mas será que era o suficiente? Será que ela o retribuía da mesma forma?
Será que ela errou de uma forma tão grande que todos os arrependimentos quisessem finalmente descer nas lágrimas grossas?
Claudete sequer percebeu quando estava de frente ao policial, que estava com um copo de água na mão estendendo para ela. Com um olhar vago, ela respirou fundo fechando os olhos.
— O que vai acontecer com Erick? — Sem rodeios ela lançou a bendita pergunta que precisava fazer.
— Bom, ele ainda é menor de idade é também dei uma olhada na ficha dele, como não tem nada, não vai ser um problema. — Leonardo falou o mais "doce" que lhe era permitido, sentia empatia pela mulher a sua frente que bebia a água um pouco trêmula e distante na própria cabeça, ele mal podia ter ideia de qual perturbada ela deveria estar de fato. — Já pedi para um dos homens o soltar e você só vai precisar assinar alguns papéis na saída.
— Entendo, sinto muito por ele, eu... eu não sei mais o que fazer — Confessou ela em murmúrios baixos, uma confissão que tinha sido muito mais para si do que para Leonardo, ele apenas estava lá por obra do destino para ouvir seu desabafo sincero. Para ser justa consigo, estava exausta de tudo, da responsabilidade de criar um filho sozinho, de sustentar uma casa inteira e ainda manter-se o mais forte possível.
— Sabe, eu posso passar para ele trabalhos voluntários, normalmente aplicamos isso para outros tipo de detentos, mas nesse caso faço uma exceção porque vai ser bom tanto pro seu filho, quanto pra você, as horas que estiver trabalhando, ele irá prestar algum serviço comunitário e eu, ou outro policial podemos ficar de olho nele. — A sugestão dada por Leonardo definitivamente não parecia nada mal, ao menos evitava que seu filho fizesse uma nova besteira, terminando de beber a água ela abaixou o copo agora mais calma, ou ao menos, o que era possível para o momento.
— E quanto a escola? Eu preciso ver isso, eu nem sei mas se ele anda frequentando... — Ela não orgulhava-se em admitir, mas era melhor o fazê-lo logo para lidar de frente com toda situação.
— Ele pode começar a fazer o turno da noite, você já tá em casa essa hora não tá? — Claudete apenas acenou com a cabeça como respostas — Ótimo, se ele for pra noite você pode verificar ida e vinda, quanto de manhã a gente aqui fica de olho nele.
A senhora somente concordou, a fala tinha lhe faltado e as palavras tinha morrido num no silêncio em sua garganta, sua mente ficou vaga, uma nuvem carregada e tão áspera de remorsos e dúvidas constantes tomou seus pensamentos embolados, fazendo somente concordar num movimento vaga com a sua cabeça. Um instante depois o policial limpou a garganta, aproveitando e anotando o nome do detento: Erick Jorgito Silveira, e dando o vários trabalhos voluntários na sua ficha, dos quais deveria começar a fazer e cumprir por toda semana.
— Senhora, mais uma coisa. — Comentou enquanto continuava a anotar no papel — Eu fui criado por uma mulher também, acho que compreendo que pode ser pesado. — Soltou Leonardo como um comentário casual, tendo do jeito que podia expor sua solidariedade para a mulher.
— Perdão? — Claudete falou piscando algumas vezes, tinha voltado o seu foco pro policial e considerando sua atual condição, aquela era uma tarefa bastante difícil. Sua cabeça ainda dava muitas voltas em torno do nada, vindo e indo, rodopiando e caindo para pastos vagas com montantes de nada.
— Bom… — O policial limpou a garganta mais uma vez. Odiava dizer isso em voz alta, assim como também detestava a ideia de ter que expor qualquer mínimo detalhe da sua vida, mas julgando o cenário, Leonardo concordou consigo mesmo que era necessário. — Nem sempre fui um policial, e minha mãe me criou sozinho. Digo isso porque, talvez na delegacia não se resolva tudo, se a senhora conversar... Talvez... Bom, quem sabe. — Se calou, colocando a ficha na impressora no canto de sua mesa, fazendo uma cópia e rasgando logo em seguida a parte que continha os trabalhos voluntários e os horários.
Claudete ficou pensativa com as palavras do homem, isso de fato a surpreendeu. Mas lhe foi útil. A sua mente poderia estar mais clara em casa, entretanto, esperava que Erick tivesse feito o que tinha mandado fazer.
— Bem, aqui está. — Gentilmente entregou a cópia com as informações para a mulher, que a pegou com um sorriso pequeno e cansado.
— Muito obrigada, policial. Eu farei o meu melhor. — Disse num tom choroso e Leonardo não precisou ser nenhum gênio para saber que ela estava se culpando, culpado-se por algo que não a cabia mais. Pondo a mão sobre o ombro da mesma, ele apertou com cuidado e solidariedade.
— Quem tem que fazer isso é seu filho, dona. — Ditou ele acompanhado a mulher até a porta. — Não a senhora.
— Gentileza sua, de novo, muito obrigado por isso, por tudo, vou tentar vê um bom colégio noturno para ele no bairro e torcer pra funcionar. — Olhando a folha nas mãos, uma risadinha nasal a fugiu — Cuidador de creche? O Erick vai odiar, que sirva de lição. — Brincou ela com uma risada baixa.
— Isso mesmo e, relaxa, vai te um momento de adulto de olhe em pé nele e se quer uma recomendação, existe uma escola na rua 27 descendo a lareira do bar do Júnior, lá tem um colégio que dá aulas noturnas, se quiser acompanho vocês até lá quando forem fazer a matrícula. — Leonardo comentou banalmente a deixando sua recomendação e disposição para uma ajuda.
— Não precisa, isso já seria um abuso eu n- — Mas antes que Claudete pudesse prosseguir, Leonardo a cortou sem se importar realmente.
— Faço questão, o moleque pode te jeito e não faz mal dá uma mão, além do mais, me formei lá, vai ser bom pra ele — parando momentaneamente o policial coçou a nuca um pouco receoso das próximas palavras — e também é bom dormir sabendo que vou tá dando uma força pra uma dona que tá pondo esforço pra valer pra criar seu pivete e não só largando o garoto pelos cantos como se não fosse nada.
— Se é assim, acho que não tenho escolhas muito obrigado... — Calando, ela finalmente notou que não tinha perguntando ainda por seu nome.
— Leonardo, meu nome é Leonardo.
— Certo, muito obrigado Leonardo, isso significa muito pra gente.
— Não por isso, dona Claudete, sabe e só meu trabalho. Aqui, me deixa anotar meu número nessa folha — Pegando o papel da mão da mulher, Leonardo voltou até a sua mesa pra pegar uma caneta e anotar seu número. — Pronto, agora é só você passar na recepção para terminar de ajeitar toda a papelada do seu filho e tá liberada.
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Atualizado até capítulo 20
Comments
nimorango
só eu está shipando srª Claudete e Sr Leonardo kkkkkk
2023-02-28
0
marc
pai amado, leva o corpo que nessas horas a alma do menino ia foi
2023-01-18
1