Era um puta casarão, na parte mais nobre da cidade.
Não foi fácil de achar, nem de chegar, não tinha um ponto de ônibus nos arredores.
- Senhorita Florence - Uma mulher sorriu abrindo o portão.
- Sim, bom dia.
- Bom dia, eu me chamo Vera, sou a governanta, a senhorita é mais jovem do que imaginei.
- Ha é, meu nome impõe um ar de respeito não é?
Ela soltou um sorriso amarelo e eu pigarreei.
- Vamos, vou te apresentar a casa.
- Certo, obrigada.
A mulher me levou por todos os cômodos estupidamente grandes e absurdamente limpos e organizados.
- O senhor Duarte tem algumas exigências quanto a limpeza que vou deixar listado para a senhorita.
- E ele está aqui?
- Não, e raramente está, mas quando estiver, sugiro que evite encontrá-lo.
- Entendido.
Escutei um miado e uma criatura gorda e peluda veio desfilando seus longos pelos escuros.
- Esta é a Lua, diga oi para Florence.
- Oi Lua, como você é linda - Sorri me abaixando para passar a mão na gatinha.
- Espere - Disse a governanta e eu travei na mesma posição - O senhor Duarte não gosta que passem a mão nela, mas se o fizer, precisa lavar as mãos antes com água e sabão e depois de afaga-la pentear seus pêlos de baixo para cima por dois minutos.
Começou a psicopatia.
- Claro, o carinho fica pra depois Lua - Me retesei.
- Vou te mostrar como limpar o cantinho dela.
A gata tinha um quarto só pra ela, e eu nem casa tinha, estava num hotel chinfrim até conseguir um lugar não tão absurdamente caro.
A governanta explicou como limpar o quarto da gata e me deixou lá com um aspirador e uma pá para cocô.
Aspirei o carpete, dobrei os lençóis, penteei a gata, joguei o cocô fora e brinquei um pouco com a criatura gorducha.
Estava descendo as escadas quando vi a governanta conversar com um homem no sofá, me escondi no corredor e esperei eles saírem, ela saiu, mas ele não, se deitou no sofá e fechou os olhos.
Ho droga, tinha que passar pela sala para guardar o aspirador.
Esperei um pouco e desci de fininho, ele parecia estar dormindo, era mais novo do que pensei, devia ter uns vinte quatro anos, magro, alto, cabelos escuros perfeitamente arrumados, pele bronzeada e o queixo quadrado, parecia um pitel.
Estava passando pelo canto da sala quando Lua passou correndo e com o susto bati o pé num abajur e o aspirador escorregou quando tentei segurar o abajur, ele ligou com a queda e o tubo que estava baixo do meu braço sugou meu cabelo, gritei e tropecei no abajur que caiu de qualquer jeito e o aspirador chupou meu cabelo até minha orelha.
Vera veio correndo assustada e quando ergui os olhos o homem estava de pé me encarando com os olhos arregalados.
- Olá, prazer em conhecê-lo - Sorri.
*
Estava esperando atrás da porta da cozinha enquanto o homem e a governanta brigavam, não conseguia ouvir direito mas ele parecia realmente bravo enquanto ela genuinamente não dar a mínima.
A porta se abriu e eu me apressei juntando as mãos em súplica.
- Senhor Duarte, eu sinto muito pelo ocorrido. Foi um episódio isolado, eu juro que nunca mais vai acontecer.
- Não vai mesmo - Ele estalou a língua passando por mim - Sabe onde é a saída.
- Por favor, eu te imploro, preciso desse emprego.
- Não implore, não pega bem - Ele pegou a Lua e seguiu para as escadas.
Não acredito, por causa de algo tão estúpido, eu literalmente caí, eu vou ser mandada embora por CAIR?
Desgraçado...
Ele estacou e se voltou para mim, foi quando percebi que pensei alto de mais.
- Perdão? - Ele desceu as escadas lentamente com as sobrancelhas franzidas.
- Fresco, esnobe e mesquinho - Cuspi, o que eu poderia perder agora? Será que dá processo? - Não pega bem implorar? É bem o tipo de frase de alguém que nunca precisou implorar por nada na vida.
- O que você sabe sobre mim? - Ele desceu as escadas furioso e soltou Lua no sofá.
- O que você sabe sobre mim? - Repeti em tom de deboche.
- Saia da minha casa agora.
- Nem precisa mandar Vossa Alteza - Fiz uma reverência exagerada e sai batendo os pés.
*
Estava chorando na calçada da casa do meu trabalho mais rápido da vida, como colocar na carteira de trabalho o registro de um dia trabalhado?
Agora que larguei o trabalho de meio período no café por quê não daria para conciliar os horários, por mais que eu não me importasse de ter dois empregos.
- Senhorita Florence - Vera chamou e eu me levantei limpando os olhos.
- Dona Vera, eu sinto muito por isso, só estou esperando o Uber - Por que no condomínio dos riquinhos que só andam de carro não tem um ponto de ônibus em quarenta minutos de distância.
- Foi um primeiro dia difícil, até amanhã.
- Até ama... - Travei - Até amanhã?
- Claro, já estou farta dele mandando trabalhadores honestos embora por causa de suas futilidades, se estiver disposta, quero mantê-la aqui.
- É sério? Mas ele não vai tentar me matar? Depois de tudo o que eu disse?
- Basta ignora-lo, funciona comigo - Ela sorriu e fechou o portão.
Sorri dando uma explosão contida de felicidade.
Minha mãe sempre me ensinou a me defender, não baixar a cabeça, às vezes isso saia um pouco do controle, mas o fato dele ter julgado minha capacidade por um erro justifica eu tê-lo xingado por uma frase não é?
Era assim que eu me enganava.
De qualquer forma, não estou no olho da rua, vou consertar minha vida.
O salário é mais do que eu poderia esperar, ainda mais trabalhando numa área que nem tenho experiência, só tinha que aturar um esnobe mesquinho.
Peguei o uber até uma imobiliária, tinha que encontrar um lugar barato por hora, tinha algumas economias, não era muito mas se eu vivesse de farinha e ovo por um tempo daria tudo certo, do que mais um ser humano precisa não é?
Naquela tarde não encontrei nada que não custasse o meu rim, voltei para o quarto de hotel e dormi, me preparando psicologicamente para mais um dia.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 95
Comments
Anna Paulla
tô gostando
2023-05-14
4