Correndo Com Os Lobos
A morte levou o meu brilho… lembro-me claramente do dia em que tudo aconteceu, os pesadelos não me deixam esquecer das cenas…
Muita coisa aconteceu naquela noite. A noite em que eu morri, mas meu coração continuou batendo. A noite em que perdi a única pessoa que algum dia entendeu minha raiva, e que me ensinou a controlá-la
...“ — Parabéns meu amor, quatorze anos, você está enorme, e me dá tanto orgulho minha princesa - o pai da garota dissia enquanto beijava lhe a testa. A garota nunca se cansava daquilo, nunca se cansava do amor deles....
... — Parabéns filha. Nós te amamos muito, sempre - a mãe disse também ao vir lhe abraçar e olhando nos seus olhos a disse. – Você é especial, nunca se esqueça disso minha menina...
... — Obrigada mãe, pai, eu também amo vocês, muito....
... — Tá bom, eu também amo vocês, mas agora me deixem abraçar minha sobrinha preferida. Sai. - a tia, ansiosa, já empurra o pai da menina para o lado e lhe abraça, aquele abraço caloroso, que tanto a fazia se sentir segura....
... Éram apenas os quatro, a garota amava aquilo. No fim da noite sua tia iria até seu quarto e a contaria histórias de lobos, não importa quantos anos a menina tivesse. Mas naquela noite isso não aconteceu. O pai da garota levantou do sofá e falou que iria buscar refri e as coisas para fazer brigadeiro, apenas porque a menina estava com vontade. Isis, nossa pequena garota, foi junto, quando saíram do mercado e íamos em direção ao carro um homem apareceu a frente deles, ele estava de capuz e máscara, não dava para enxergar o seu rosto direito, ele levantou uma arma e apontou na cabeça do pai da menina....
...medo! A menina sentiu tanto medo....
...O pai deixou a menina atrás dele, para lhe proteger e disse ao homem calmamente....
... — O que você quer? Dinheiro? O carro? Eu te dou tudo, pode pegar. - estendia as chaves do carro e a carteira para o homem. – Só não machuque minha filha....
... — Não lembra de mim? - ao olhar no rosto do pai a menina via pavor, medo, ela nunca vira o pai com medo antes, ele nunca sentia medo, ou pelo menos nunca deixava transparecer....
... — Ah, sim, você se lembra, perfeitamente. E eu também me lembro de você, mas essa garota não, a filhote ainda não era nascida. - uma risada de escárnio é ouvida, Isis estava paralisada....
...Quem era aquele homem? e o que ele queria com meu pai? ...
...Seu pai em um reflexo rápido tentou desarmar o homem, raiva, era isso que tinha em sua feição, a mais pura raiva, ele conseguiu desarmar o homem, mandou-a correr, rápido e para longe, e ela foi, correu tão rápido e para tão longe que sentia as suas pernas doerem e falharem, e o que me fez as pernas congelarem e seus joelhos cederem, a levando ao chão foi o disparo que ouviu quando chegou a esquina, seu coração parou por um segundo e o medo lhe atingiu, de que fosse ele, de que a morte o tivesse levado, e depois de meia hora naquele chão sujo, os seus joelhos doíam, e ao longe, ela começava a ouvir os barulhos das sirenes, ambulância e polícia....
...Ela correu de volta ao estacionamento do mercado, mas desta vez, os seus joelhos não cederam, não até que chegasse onde queria, onde o corpo, sem vida de seu pai, com a camiseta azul clara completamente manchada de sangue, estava, foi ao seu encontro, mãos tentaram a segurar, mas a garota foi mais rápida, a garganta doía, o cheiro metálico, o líquido escarlate manchando as suas mãos....
... — pai… por favor, acorda, eu preciso tanto de você - sussurrava enquanto tinha a cabeça do pai sobre as pernas, seu sangue agora também manchava o vestido branco de sua filha....
...Perceber que o havia perdido, para sempre, sem salvação, sem uma última história antes de dormir, sem ouvir a sua risada, e sem sentir os seus braços quentes lhe aconchegando e fazendo-a sentir tão segura. Um grito, dor, medo, raiva, um grito, tão doloroso, se sobressai entre as sirenes, que viraram agora a esquina, a mesma esquina a qual esteve paralisada, e sentia o peito doer, o grito não cessou, sua garganta agora ardia, colocou parte da dor para fora naquele pequeno rugido, na tentativa de aplacar a dor, mas a dor, a tão nova que se alojava em meu peito, a dor da perda, ela ficaria por muito tempo....
...Mal sabiam os policiais que chegavam, que uma garota de 14 anos, se encontrava debruçada sobre o corpo sem vida do próprio pai. Ela foi tirada de cima dele em prantos por um policial, ela não o impediu, estava fraca, e com tanta dor, era como se uma faca, tivesse sido enterrada em seu peito, o ar faltava e os pulmões doíam, sentia que iria morrer junto a ele, e de fato, uma parte dela morreu....
... O homem havia fugido e levado a vida de seu pai junto. Ela se culpa, a todo momento. "Não era para eu estar lá, se eu não estivesse lá ele não teria reagido, e não teria morrido."...
...O pior foi saber que o homem não levou nada material, nem carteira, nem chaves do carro. Apenas a vida de seu pai. “...
— Filha, já estamos chegando. - a minha mãe avisa me fazendo sair de meus devaneios.
Estãmos nos mudando para uma cidade nova, como um recomeço, depois de tudo. Não foi só a morte do papai que mudou tudo, muita coisa mudou, muita coisa aconteceu… E infelizmente, nós duas mudamos.
— Aqui tudo será diferente, é a nossa chance de recomeçar. - Ela quer fingir que nunca aconteceu, que não dói, mas eu sei que lá dentro, ela faria de tudo pra que ele ainda estivesse aqui, sei que ela ainda chora toda noite, mesmo depois de anos, e sei que ela tenta, ela tá sempre tentando ser forte. Mas na verdade nada vai ser diferente, a dor vai continuar, como sempre, e sempre vai ter algo para estragar tudo, e esse “algo” nos últimos 2 anos, tem sido, eu.
Ao chegarem em frente a casa há um carro do xerife, óbvio, é uma cidade pequena, tem que haver um xerife.
Saíram do carro e foram até lá, uma mulher saiu com um grande sorriso.
— Bem-vindas, eu sou a xerife Lia.- ela comprimenta eu e minh mãe com um aperto de mão e um grande sorriso no rosto.
— Espero que gostem da vizinhança, é bem calma. Apenas evitem adentrar muito a floresta. - Lia fala e algo em mim se agita. Evitar a floresta, vou passar a maior parte do meu tempo la, provavelmente.
— Vou ajudar a descarregar o caminhão.
Saio dali antes que tenha a chance de ouvir mais alguma coisa, minha cabeça já está começando a latejar de dor.
...☆...
Já noite estou deitada em minha cama, pensando, dois dias e eu já tenho aula no colégio novo, e é óbvio que nada vai ser diferente.
Vou até a janela que dá pra parte de trás da casa e fico sentada observando a lua, isso me acalma, e me faz lembrar das histórias de lobos que minha tia e meu pai contava pra mim, eram histórias muito parecidas, mas parece que contadas de pontos de vistas diferentes.
De repente ouço um uivo, meu coração acelera e tenho vontade de ir em direção ao som em meio a floresta, eu não fazia a mínima ideia de que havia lobos aqui, e isso só me deixa mais curiosa para conhecer a floresta.
Mais tarde tomo um banho e antes de deitar na cama tomo dois comprimidos, para que eu consiga dormir. Me deito e quando estou quase dormindo ouço novamente o uivo, meu coração novamente acelera e eu apago..
..." — E como era o lobo, papai? - a garotinha perguntou animada com mais uma das histórias de lobos do pai....
... — Ele era grande, de pelos cinzas, e olhos bem azuis. - disse o pai da menina, feliz pela animação da filha com mais uma das histórias....
... — E ele era mal, papai? ...
... — Não, ele queria apenas proteger sua amada e seu filhote. Agora vamos dormir… "...
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Atualizado até capítulo 20
Comments
Stephanie Teixeira
que top tô amando
2023-01-06
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