Capítulo 4

Victor acordou assustado com o barulho do despertador, estava em um sono profundo e teve sonhos felizes. Ele não queria acordar! Levantou a contragosto, mas lembrou-se que dia era aquele: havia conseguido a concorrida vaga de estágio no Santorini & Fazzolin. Era seu primeiro dia. Após fazer sua higiene e se vestir, foi até a cozinha reparar seu café.

Victor morava só em um apartamento que ganhara de seu avô. Seus pais faleceram em um acidente de avião durante uma viagem de negócios. Na época, Victor tinha apenas 1 ano e meio, ele e o irmão foram criados pelo seu avô Benjamin Gutierrez, um magnata da construção civil. Quando Victor completou 18 anos, Benjamin decidiu transferir a sede da empresa para fora do país, mas o rapaz  decidiu que ficaria no Brasil para construir a própria carreira. Ele nunca quis seguir a carreira do avô e ficou muito satisfeito quando seu irmão mais velho se prontificou a trabalhar na empresa. Victor se sentiu desobrigado a cuidar dos negócios da família e pode cuidar de si.

Primeiro ele quis arrumar emprego, trabalhou como frentista, atendente de telemarketing e vendedor de loja. Neste último emprego se destacou bastante, sendo promovido a gerente. Durante os anos em que trabalhou nesta loja, conheceu muitas pessoas, entre elas o conhecido advogado Conrado Santorini. Ele era cliente fiel da loja de ternos em que Victor trabalhava e todas as vezes que ia lá, comentava que era perda de tempo um rapaz tão promissor estar trabalhando em loja de shopping.

As palavras de Conrado fizeram efeito: Victor decidiu prestar vestibular de direito e passou em primeiro lugar. Ele se destacou desde o primeiro semestre e logo entrou para o núcleo jurídico da universidade ainda no 2º período. Não era comum ter alunos tão calouros no núcleo, mas o desempenho de Victor foi o suficiente para ele receber o convite.

Quando Santorini & Fazzolin abriu o processo seletivo, Victor não pensou 2x em se candidatar. Ele jamais havia procurado Conrado após entrar na faculdade para lhe pedir nada. Queria vencer pelos próprios méritos, acreditava que a ajuda que o cliente poderia lhe dar, já havia dado: o incentivo. Quando recebeu o e-mail informando que fora selecionado, Victor vibrou e sabia que fazendo o seu melhor trabalho, seria sua forma de agradecer o incentivo que recebeu quando ainda era um gerente de loja de ternos.

Ele tomava seu café pensando em todo o caminho que percorrera até ali. Victor era feliz, mas sentia falta de uma companhia. Já estava com 26 anos, prestes a se formar. Era sempre o solteirão da turma, não se envolvia com ninguém. Até o momento ninguém despertara sua atenção. Já teve um ou outro namorico, mas nada sério. Ele acreditava também que a pessoa certa iria aparecer, não era necessário procurar, O amor brotaria primeiro em forma de amizade e depois, eles se envolveriam amorosamente.

Victor riu, estava pensando alto e se deparou ouvindo a própria voz narrando seus pensamentos. Deixou a xícara na pia, escovou os dentes, pegou o terno, a pasta e saiu.

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O trânsito na Avenida Paulista estava uma loucura naquela hora. Carros e mais carros, pessoas atravessando as faixas de pedestres apressadas, motoqueiros desviando das filas intermináveis de carros. Ônibus lotados, passageiros subindo e descendo as escadas do metrô. As ciclovias cheias de transeuntes, poucos com bicicletas, mas uma infinidade de pessoas com seus patinetes elétricos.

Renata olhava aquele movimento todo pela janela do táxi. O motorista a observava pelo retrovisor, estava nítido para ele que ela não prestava atenção em nada que acontecia fora do carro. Ele acertara. Renata estava divagando absorta em seus pensamentos enquanto a cidade fervia lá fora. Ela ainda não acreditava que havia sido selecionada para trabalhar na Santorini & Fazzolin. Era a realização de um sonho! Foi trazida bruscamente de volta à realidade quando o taxista indicou que haviam chegado ao destino:

Motorista: Chegamos, senhora.

Renata: Oh, verdade! Aqui está. Fique com o troco! Falou ao sair do carro deixando uma nota de 100 reais com o taxista que comemorou tamanha generosidade. A corrida tinha dado menos de 40 reais.

Ela entrou no imponente prédio comercial onde ficavam o escritório de advocacia. Ele ocupava 6 andares inteiros, um dele era somente a biblioteca. Renata já havia visto fotos deste andar, os professores da faculdade mostravam. Ela estava ansiosa para entrar e desfrutar de tantos livros!

Mais uma vez foi trazida de volta á realidade, enquanto caminhava pensando na biblioteca, esbarrou em um rapaz que caminhava no sentido contrário, fazendo com que ele derrubasse a pasta e os seus papéis saíssem voando pelo hall do edifício. Um recepcionista e um homem que passava pelo local ajudaram os dois a juntar os papéis. Renata muito envergonhada, pedia desculpas ao rapaz:

Renata: Nossa, me desculpe! Eu estou distraída hoje!

Rapaz: Tudo bem! Não se preocupe.

Eles falavam enquanto juntavam os papéis até que seus olhos se cruzaram por um segundo que pareceu horas e foram imediatamente interrompidos pelo homem que havia juntado parte dos papéis.

Homem: Aqui estão.

Rapaz: Obrigado!

Renata: Victor! Ela disse em um grito abrindo um sorriso largo quando reconheceu seu colega e concorrente à vaga de estágio.

Victor: Renata! Que bom vê-la novamente! Victor retribuiu ao sorriso.

Rapaz: Bom, eu tenho que ir. Tenham um ótimo dia. E saiu mais rápido do que poderia.

Renata: Mais uma vez, me desculpe... Mas ele já tinha saído pela porta.

Victor: Não me diga que...

Renata: Eu consegui!!! Você também conseguiu? Grita empolgada.

Victor: Sim! Seremos colegas de trabalho agora! Ele vibrou com a coincidência de ambos terem sido selecionados.

Depois da constatação, seguiram pelo elevador até o andar em que fica o Departamento Pessoal do escritório para dar entrada na papelada da contratação. Ainda naquela manhã teriam uma reunião com Marcelo e mais 3 advogados sobre o caso em que iriam trabalhar. Estavam empolgados e aproveitaram a espera para se conhecerem um pouco mais.

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Thiago precisava assinar os documentos do aluguel de seu escritório naquela manhã e parte da papelada que precisava apresentar estava entre os papéis que tinham voado pelo hall do edifício há pouco. Ele estava em seu carro tentando organizar tudo, mas não tirava os olhos daquela linda mulher da cabeça. Quem ela era? Ele se perguntava enquanto mexia nos papéis.

Tentou se concentrar, deu a partida no carro e seguiu até a imobiliária. Resolveu tudo rápido e ficou satisfeito: mais um passo havia sido dado! Seu escritório agora teria um endereço e, em breve, ele começaria a mobiliar. Entrou no carro novamente e voltou ao escritório da Santorini & Fazzolin. Tinha reunião com seus novos estagiários em 30 minutos, não queria se atrasar.

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Na sala de reuniões estavam Marcelo, Fernando, Celso e Thiago. Marcelo pediu à Sabrina que mandasse chamar Renata e Victor para que fossem apresentados e tomassem conhecimento do caso Lurdin ao qual se dedicariam integralmente a partir daquele momento.

Após bater à porta, Sabrina abre e dá passagem à Renata e Victor, fechando a porta em seguida.

Marcelo dá um passo à frente e não vê o sorriso de Thiago quando identifica que Renata era a mulher distraída que esbarrara nele mais cedo. Somente Victor que é bem observador, nota os olhares de Thiago e Marcelo para Renata. Ele se preocupa. Como assim a moça mal é contratada e já tem 2 urubus em cima dela?

Marcelo começa as devidas apresentações e fala sobre a importância do trabalho dos assistentes nos casos. Aproveita também para contar breves histórias de antigos estagiários que se destacaram e hoje fazem parte da equipe efetiva do escritório. Ao encerrar sua fala, deixa que Thiago, Celso e Fernando conduzam a reunião detalhando as questões do caso Lurdin e designando os próximos passos dos assistentes. Ao final, Thiago é nomeado o supervisor de Victor e Renata e os leva até a sala de estudos em que irão trabalhar.

Victor ficou realmente incomodado com os olhares de Thiago e Marcelo para Renata. Desde que a conheceu no dia da entrevista, sentiu por ela um carinho, uma vontade de protegê-la. Não se sentiu confortável de ver que ela havia chamado a atenção de 2 homens no ambiente de trabalho daquela forma. Decidiu ficar bem atento, não permitiria que sua amiga fosse assediada no ambiente de trabalho.

Os dois mergulharam de cabeça estudando o caso, não viram a hora passar e quando se deram conta, já era mais de 14h. Entre vários copos de café, que ora um buscava, ora outro, foram se concentrando no estudo e ficaram sem almoçar. Nesta hora, Marcelo passa na sala:

Marcelo: Olá! Vocês já almlçaram? Caso não tenham ido, podemos ir juntos, eu estou indo almoçar agora. Aqui perto tem um ótimo restaurante que fica aberto até às 16h. Fala sorridente.

Os dois se entreolham, sorriem discretamente e aceitam o convite. Nem se deram conta de que estavam famintos.

No restaurante a conversa corre tranquila e eles voltam para o escritório. Como já encerrou o horário de trabalho dos dois eles se despedem. Victor vai para a garagem, pois seu carro ficou lá enquanto Renata tenta falar com o pai para ir buscá-la. Ele tinha se comprometido em levar a filha de volta para casa no primeiro dia de trabalho. Mas foi em vão. César teve uma emergência médica e estava fazendo uma cirurgia. Renata não conseguiu falar com ele. Quando está fechando a sala de estudos, Marcelo passa:

Marcelo: Você ainda está aqui? Seu pai não viria buscá-la?

Renata: Sim, mas o celular dele está desligado, deve estar em alguma emergência. Eu vou ter que ir de táxi.

Marcelo: De jeito nenhum! Eu te levo! Hoje vou fazer uma visita a um cliente no seu bairro, posso te deixar em casa.

Renata sorri e aceita a carona. Sabe que neste horário conseguir táxi seria uma tortura.

Os dois vão o caminho todo conversando alegremente, Marcelo aproveita para conhecer melhor aquela mulher maravilhosa que não sai dos seus pensamentos desde o dia da entrevista.

Renata se sente à vontade na presença de Marcelo, parece que são amigos de longa data, mas de vez em quando vem a sua mente o olhar Thiago cruzando o seu naquele hall. Ela afasta os pensamentos de Thiago da cabeça e se concentra na conversa com Marcelo.

Ele a deixa em casa e segue em direção ao seu compromisso. Marcelo estava radiante. Tivera um tempo a sós com Renata sem ser no ambiente de trabalho. Que mulher maravilhosa! Como é eloquente, madura. Ao mesmo tempo doce e parece um tanto sonhadora. A mistura perfeita de menina e mulher! Ele estava encantado.

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No escritório, Thiago passa na sala de estudos e não vê seus assistentes. Pergunta à Sabrina onde estão e ela informa que eles encerraram o expediente no horário e foram embora. Thiago morde o lábio de raiva. Fica pensando que poderia ter oferecido carona para Renata. Então decide se antecipar e fazer isso no dia seguinte.

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Em casa, Renata entra sorridente. Aline corre ao seu encontro gritando:

Aline: Conta tudo, Rê! Como foi?!

Marisa: Aline! Deixa a sua irmã primeiro chegar em casa!

Renata ri da ansiedade da irmã mais nova e começa a discorrer sobre como foi seu dia.

Aline: ENTÃO VOCÊ VEIO DE CARONA?! Ihhhhhhhh. Tá vendo, mãe? A Rê já está abalando os corações no emprego dela!

Marisa: Minha filha de onde você tira tanta criatividade?

Renata: Para com isso, menina! Nós somos só colegas de trabalho! Eu nem o conheço!

Aline: Mas já está conhecendo! Vocês levaram 1h no trânsito de lá até aqui. Não é possível que não descobriram nada um sobre o outro!

Marisa: Já chega, Aline! Vá arrumar suas coisas para a aula de amanhã que vou fazer um lanche para a Renata. Logo ela tem que sair para a aula.

Renata vê Aline correndo as escadas e começa a gargalhar das ideias da sua irmã. Marisa a acompanha até a cozinha e serve um lanche enquanto terminam de conversar sobre o dia delas.

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Em seu apartamento, Victor recebe um e-mail da faculdade falando que foi aprovado para cursar uma disciplina especial. Ele comemora, mas ao concluir a leitura da mensagem, fica sabendo que a disciplina que ele tanto quer cursar, neste semestre só tem no turno da manhã, sendo orientado que peça transferência de turno para poder cursá-la com as demais disciplinas do período em que está.

Para isso, será necessário reajustar o seu horário no escritório. Ele terá que entrar 14h e levar até 20h. Mas decide que é a melhor forma de conciliar o trabalho com os estudos. No dia seguinte irá procurar Thiago para solicitar ajuste no horário de trabalho. Apenas lamenta que perderá a companhia de Renata, também não poderá cuidar dela como gostaria.

As aulas na faculdade de Victor ainda não começaram, então ele fecha seu computador, deita na cama e adormece. Novamente tendo sonhos felizes dos quais não deseja acordar.

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