Eduardo chegou em casa apressado, os dias frios e nublados de Londres pareciam deixar todos os problemas mais difíceis de serem resolvidos. Em alguns momentos de angústia ele se perguntava porque ainda estava lá, mas quando se lembrava do motivo a pergunta deixava de ter sentido. Esse era um desses momentos.
Eduardo Champagnat era o filho mais velho de Heleonora e César Champagnat. Após a morte de sua mãe quando ele ainda tinha 5 anos, Não demorou muito, César se casou novamente e escolheu por esposa, a bela Marisa D'Almory. A morte de Heleonora foi um choque para Eduardo, ele era muito ligado à mãe. A presença de uma nova mulher na vida de seu pai não foi bem-vinda pelo menino que não aceitava alguém ocupando o espaço em que antes sua mãe reinava.
(Eduardo)
Mas Marisa foi paciente, apesar dos protestos, manhas e birras de Eduardo, aos poucos foi conquistando o garoto. Seu jeito calmo e carinhoso fez o primogênito de César se render e deixar o amor de uma mãe substituta chegar o seu coração. Assim como Renata, Eduardo chamava Marisa carinhosamente de "mã" e vibrou com a chegada da irmã mais nova, Aline.
Pouco depois de completar 24 anos, Eduardo foi se especializar na Europa, passou por diversos países até se fixar na Inglaterra. Em Londres, concluiu a pós-graduação e começou a trabalhar. Vinha poucas vezes ao Brasil, mas sempre manteve contato com a família, principalmente Renata, com quem tinha uma ligação muito forte.
O que ninguém da família sabe, exceto Renata, é o real motivo de Eduardo ter ido embora do país.
Alguns meses depois de completar 18 anos, Eduardo foi convidado para a festa de aniversário de um amigo do colégio, Bartolomeu Carrarezi, o Bartô. Bartô e sua família, imperadores dos automóveis luxuosos, eram conhecidos pelo dinheiro e as festas que davam na cidade, além de suas inúmeras lojas de carros. Aquele aniversário estava sendo esperado por todos os amigos do grupo há bastante tempo. Nesta festa estariam todos os jovens da mais alta classe Paulistana e, além de ser um momento de comemoração, seria também uma oportunidade excelente para Demétrio Carrarezi, o pai de Bartô, fechar negócios e fazer parcerias importantes. Era sempre assim, Demétrio não perdia uma chance de usar os eventos familiares para ganhar mais dinheiro.
Eduardo compareceu à festa assim como todos os colegas de turma e lá conheceu vários outros jovens da alta sociedade. Entre as meninas, estava Laura Medeiros, a queridinha das colunas sociais. Ela era a menina "colunável" em que os jornalistas de revistas, jornais e sites de fofoca depositavam todas as esperanças de ter um furo de reportagem sobre a roupa que usaria em algum evento ou o seu mais novo esporte radical favorito. Aliás, toda a família era perseguida pelos fotógrafos e jornalistas e sabiam fazer bom uso disso. Não eram os mais ricos da festa, mas tinham sobrenome e um ateliê de alta costura que atendia à alta sociedade. Uma das formas que faziam para conseguir dinheiro além do ateliê era aproveitando parcerias com marcas que faziam questão de que Laura, seus pais ou seu irmão fossem os "garoto-propaganda".
Laura era uma loira deslubrante, parecia ter sido desenhada por um artista muito talentoso. Além de linda, era perspicaz, inteligente e muito articulada. Por onde passava virava o centro das atenções, era muito comum vê-la rodeada de pessoas onde quer que estivesse. Por sua aparência e sobrenome, estava sempre no topo das listas de convidados de festas e eventos, chegando até a receber cachê para participar de alguns, embora esse não fosse o caso da festa de Bartô.
Quando Eduardo chegou à festa, foi logo se aproximando dos amigos e também se enturmando com os jovens que não conhecia. Para ele seria a primeira vez em que poderia beber bebida alcoólica, pois acabara de completar 18 anos e seu pai não havia permitido álcool em sua festa. Ele estava empolgado. Com um drink na mão, saiu para "explorar" o ambiente. A boate estava lotada, música alta, iluminação impecável, um bar fantástico e barmans dando um show na hora de preparar as bebidas. Estava tudo quase perfeito na visão de Eduardo, só faltava ele descolar uma companhia feminina. O jovem já havia ficado algumas vezes com umas colegas de colégio e até uma vizinha, mas seu foco sempre foram os estudos, não seguia em frente com nenhum relacionamento. Agora que já havia concluído a escola e iniciado a faculdade, sentia que estava na hora de conhecer alguém para algo mais sério.
Ao tentar desviar de um garçom com uma bandeja cheia de taças, Eduardo deu dois passos para trás e esbarrou em uma pessoa no meio do salão. Virou-se imediatamente para pedir desculpas e ficou paralisado quando viu a pessoa em quem havia esbarrado. Era Laura.
(Laura)
Eduardo: Me... Me desculpe, senhorita! Eu fui desviar do garç...
Antes que pudesse concluir a fala, Laura calou sua boca com o dedo indicador e o puxou pelo braço para a pista de dança dizendo:
Laura: Vem! Vamos dançar!
Eduardo foi arrastado pro ela no meio da multidão que se espremia no salão dançando uma música eletrônica agitada. Tinha absoluta certeza que deveria ter pisado no pé de umas 3 pessoas e empurrado mais umas 4 até os dois pararem na pista. De início ele ficou parado meio sem ação ao ver Laura com uma desenvoltura fantástica dançando no ritmo da música, mas logo em seguida começou a se movimentar e a acompanhou, deixou seu drink na bandeja de um garçom que passava perto e não demorou muito abriu-se uma roda no entorno dos dois: o público queria ver Laura dançando.
Outras meninas cochichavam entre si: Quem é esse rapaz que está com a Laura?
Fotógrafos aproveitavam a oportunidade para registrar o momento e escrever mais alguma nota sobre a queridinha de São Paulo.
Os dois dançaram até cansar. Dessa fez, foi Eduardo que puxou Laura para longe dali. Ele procurou um local mais reservado na festa, havia uns sofás em uns locais específicos que ele notou enquanto explorava o lugar e decidiu levar Laura para lá.
Eduardo: Nossa, não lembro há quanto tempo eu não dançava assim!
Laura: Você dança bem, se eu pudesse, passava o resto da noite naquela pista com você.
Ele riu e lembrou-se que não haviam se apresentado ainda.
Eduardo: É a primeira vez que eu danço com alguém sem nem saber o nome. A propósito, me chamo Eduardo Champagnat.
Laura: Sou Laura Medeiros. Prazer em conhecer você, Eduardo. Disse com um sorriso infantil e ao mesmo tempo jovial.
Eduardo: O prazer é meu, Laura! Respondeu sem tirar os olhos daquele sorriso encantador que o deixou confuso.
Os dois ficaram lá conversando, beberam juntos e voltaram a dançar. Não se desgrudaram mais e na hora que os pais de Laura a chamaram para ir embora, trocaram telefone.
Eduardo voltou para casa extasiado, pensando:
Que garota! Linda, divertida, inteligente! O que eu mais poderia querer?
Dormiu pensando nela e no dia seguinte mandou uma mensagem marcando um encontro. Logo foi respondido e na tarde do domingo se encontraram.
Esse foi o primeiro de vários encontros, passeios, cinemas e viagens que Laura e Eduardo fariam juntos nos próximos anos. Não demorou muito, após o dia da festa, para Eduardo pedir Laura em namoro. O relacionamento teve a aprovação das duas famílias e logo virou o assunto do momento. Embora Eduardo não gostasse de exposição, ele sabia que Laura era essa pessoa e por ela ele aceitaria estar nos holofotes e faria o que fosse necessário para vê-la feliz.
O relacionamento ia bem, Eduardo era um pouco mais reservado e Laura queria estar em todas as festas e eventos, às vezes isso gerava algum conflito, pois ele precisava estudar e estagiar e ela queria ficar nas baladas, nem sempre seus compromissos combinavam. Mas ele sempre dava um jeito de acompanhá-la, pois não aguentava ver a manha que Laura fazia quando ele negava algum pedido.
Eduardo se formou e começou a trabalhar, aí as coisas foram ficando um pouco mais difíceis. Ele se graduou em jornalismo e seu primeiro emprego era como jornalista investigativo, então precisava ficar muito tempo nas ruas procurando as informações para as notícias, além de não ter fim de semana nem feriado. Com isso, diminuiu muito a quantidade de eventos em que podia acompanhar Laura. Ela também já não fazia muita questão da presença dele, pois além de sempre cansado, Eduardo mudou até seu jeito de ser vestir e isso não estava agradando Laura. Frequentemente ela implicava com as roupas que ele estava usando e os dois acabavam brigando.
Nas vésperas de seu aniversário de 24 anos, Eduardo estava planejando uma grande festa. Queria fazer em uma boate como no aniversário de Barthô 6 anos atrás. Laura ficou animada com a ideia, finalmente ela iria ser a protagonista de um evento social a sua altura, pensava. O que ela, nem ninguém sabia, a não ser Renata, é que Eduardo planejou esse aniversário pensando em reviver o momento em que ele e Laura se conheceram, pois seu objetivo era fazer-lhe uma surpresa no momento em que tivessem na pista de dança: pedir a sua mão em casamento na frente dos convidados. Assim que a rodinha se formasse ao redor deles, ele ajoelharia, tiraria do bolso uma caixinha com um anel de brilhantes e faria o pedido. Assim, tudo bem instagramável, do jeito que ela gostava.
E o dia da festa chegou. Estava tudo perfeito, como ele e ela planejaram. Eduardo estava tenso. Enquanto se arrumava para ir buscá-la, conversava com Renata:
Eduardo: Você acha que ela vai aceitar?
Renata: E você tem alguma dúvida?
Eduardo: Eu não sei... Nós temos brigado com mais frequência, por coisas que eu acho que são pequenas. Eu amo a Laura, mas tem horas que a acho muito mimada.
Renata: Ela é, todos nós sabemos disso e você não ajudou muito para que ela melhorasse nesses anos todos, né? Tudo que ela queria você fazia!
Eduardo: Eu sou completamente apaixonado por essa mulher!
Renata: Eu sei! Todos sabem! O que vai acontecer agora é vocês dois começarem a acertar os ponteiros para que parem de brigar. Casamento é algo sério, precisa ter harmonia, ainda que não seja harmonioso 100% do tempo, precisa ser em 99,9%. Falou rindo do absurdo que acabara de falar.
Eduardo riu junto enquanto ajeitava a gola da camisa. Olhou-se mais uma vez no espelho e perguntou à irmã como estava. Ela se levantou, olhou de cima abaixo, colocou a mão no queixo e arqueou uma sobrancelha:
Renata: Está lindo!
Foi quando ele percebeu o quanto a irmã estava bonita.
(Renata)
Quando foi que sua irmã tinha deixado de ser aquela menina dourada que andava com ele para cima e para baixo e tinha se tornado uma adulta? Em todos esses anos era era mais que uma irmã, era sua melhor amiga e sua confidente. Ele estaria se casando e iria deixá-la para trás? Pensando isso, seu coração ficou apertado. Aproximou-se dela pegando seu rosto com as duas mãos e olhou no fundo de seus olhos com o olhar mais fraternal do mundo.
Eduardo: Eu nunca vou te abandonar. Disse abraçando-a em seguida.
Renata: Eu sei, mano. Ela respondeu retribuindo o abraço.
A festa estava perfeita: decoração, música, bar, iluminação. As pessoas estavam sorridentes e se divertindo. Quem passava por Eduardo e Laura os cumprimentava. Eles estavam lindos, perfeitos.
(Eduardo e Laura)
Laura se afastou com umas amigas. Eduardo aproveitou para combinar os últimos detalhes com Renata. Estava nervoso. Chegara a hora! O Dj já tinha começado a tocar a música que tocou quando se esbarraram no dia do aniversário de Barthô anos atrás. O anel estava na caixinha dentro do bolso. Só faltava a futura noiva. Olhou ao redor, não a viu. Assim como naquele dia, saiu "explorando" a boate, mas dessa vez sabia o que queria encontrar. Perguntou a um e a outro, sem resposta. Achou um grupo de amigas dela que indicaram a direção por onde ela havia ido. Que estranho! A saída dos fundos da boate. Por que Laura teria ido para lá? Estaria passando mal? Precisou atender uma ligação? Pensava enquanto se dirigia até a saída.
Ao passar pela porta, se deparou com um beco escuro e sem movimentação. Ouviu vozes, risos e gemidos baixos. Eram familiares.
Homem: Gostosa! Queria arrancar esse seu vestido agora! Disse enquanto beijava o pescoço da mulher.
Mulher: Você é louco, sabia? Já deveríamos ter voltado, alguém vai desconfiar.
Homem: Louco por você! Deixa só um pouquinho, vai! Falou enquanto massageava as partes íntimas da mulher por cima da calcinha.
Mulher: Só um pouquinho. Nem sei o que estou fazendo aqui. Era para estarmos bem longe, aproveitando essa noite juntos.
O homem ergueu o vestido deixando a calcinha molhada à mostra quando ambos foram surpreendidos por uma luz de lanterna de celular em seus rostos deixando-os cegos e assustados. Eles colocaram uma mão no rosto e com a outra tentavam ajeitar as roupas. A pessoa com o celular na mão soltou duas palavras abafadas que mais pareciam um choro, mas era possível de reconhecer a voz de Eduardo.
Eduardo: Laura... Barthô?
Antes que pudessem responder, Renata chegou correndo até o irmão sem perceber o que estava acontecendo.
Renata: Mano, já está tudo pronto! Você precisa se apressar senão...
Ela foi interrompida pela visão que acabara de ter: Laura estava contra o muro da boate, com o batom totalmente borrado, tentando a todo custo ajeitar o vestido justo e Bartholomeu, atrapalhado, com a camisa para fora da calça, e o zíper aberto que ele não conseguia fechar. Estava visivelmente excitado, era possível de ver pela cueca.
Renata estava com os olhos arregalados, não acreditava no que via. Eduardo ainda segurando o celular na direção dos dois estava paralisado, com a boca aberta.
Laura tentou falar algo, mas antes que pudesse começar, Renata puxou Eduardo pelo braço.
Renata: Vamos! Vamos embora daqui agora!
Barthô impediu Laura de ir atrás e começou a falar com ela algo que Renata e Eduardo não conseguiram ouvir pois já haviam se afastado.
Ela o arrastou até a esquina e pediu um Uber que chegou em questão de segundos. Ele seguia em silêncio, com o olhar atônito. Renata tentava manter a calma, também estava em silêncio. Não havia nada a falar naquele momento. Percebeu que os olhos de seu irmão se encheram de lágrimas. Ela o abraçou e o deitou em seu colo enquanto ele chorava silenciosamente. Renata também não aguentou, seu irmão fora traído, estava sofrendo.
Mil pensamentos vinham na cabeça da jovem: Ele iria pedir Laura em casamento naquela noite. Se o pedido tivesse dado certo, como seria? Ela iria continuar traindo o noivo? Ele iria casar com uma mulher que não o amava?! Os dois cresceram em um lar de muito amor. César era completamente apaixonado por Heleonora e, após ficar viúvo, Marisa trouxe amor e alegria para a vida do médico. As crianças viam isso diariamente: o relacionamento saudável entre o pai e a madrasta. Era esse o ideal de amor que Renata esperava da vida. Pensando nisso, apertou os olhos com força e deixou as lágrimas escorrerem. Ela sentia a dor do irmão.
As pessoas na festa não entenderam o sumiço do casal, mas deduziram que foram "curtir" em outro lugar mais apropriado. Portanto, os comentários foram logo morrendo.
Em casa, Eduardo e Renata fizeram um pacto de silêncio. Nada deveria ser falado a ninguém. Eduardo também não procurou Laura. Ela mandou mensagens que ele não respondeu. Telefonou e ele não atendeu. Barthô sumiu. De repente ele e a família tiveram que fazer um cruzeiro pelo mediterrâneo. O tempo foi passando e César e Marisa acharam estranho a ausência de Laura na casa, até que em um jantar decidiram perguntar:
César: Filho, onde está Laura? Nunca mais ela veio aqui em casa.
Eduardo: Ah, nós terminamos. Falou antes de colocar um garfo de comida na boca como se estivesse falando algo absolutamente normal.
Silêncio mortal na mesa. Era possível ouvir o som das folhas das árvores da rua balançando com o vento.
Marisa: Como você está, meu filho? Perguntou passando a mão no ombro do rapaz.
Eduardo: Estou bem, mã. A gente já não estava mais como antes, eu tenho trabalhado muito estou com planos novos, ela sempre ocupada com os compromissos sociais. Decidimos assim. Foi melhor.
Aline: Graças a Deus! Aquela mulher era uma bruxa!
- ALINE! Bradaram César, Marisa e Eduardo ao mesmo tempo repreendendo a menina que voltou os olhos para ao prato e tornou a comer.
Eduardo: Vou aproveitar que estamos todos aqui para informar que no fim do mês eu vou me mudar para Amsterdã. Disse olhando de canto de olho para Renata que fazia cara de surpresa, embora já soubesse há tempos do plano do irmão.
César: Você vai embora, meu filho? Por que?
Marisa colocou a mão na boca como se quisesse impedir a si mesmo de falar algo e seus olhos brilharam, ela queria chorar.
Eduardo: Eu consegui uma oportunidade de trabalho em um jornal digital europeu, estou muito satisfeito com a proposta. Eles pagam bem, eu terei estrutura e trabalho e vou ficar viajando por vários países para escrever.
A conversa no resto da noite seguiu sobre os planos de Eduardo de ir morar na Europa e no fim foi apoiado por toda a família. Havia dado certo, Ninguém desconfiou que Eduardo estava fugindo da dor de um amor que terminou em traição.
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Atualizado até capítulo 125
Comments
Denise Gonçalves das Dores
Gostando muito da história. Que bom que Eduardo descobriu antes a traição. Autora, depois pode contar uma história só dele? 😁😘
2024-07-01
3
Gil Marri
ainda bem que descobriu antes de casar
2024-04-26
3
Cleidilene Silva
Que vaca essa tal Laura.
2024-04-11
1