Cap. 5 Me Iludi

Completei um mês trabalhando na Lannuz, e com o mapa que o Henrique fez não entrei ou caí em nenhuma sala errada.

Fiquei chateada nos últimos dias, pois percebi que ele não fez muita questão de se aproximar, mas seus olhares pra mim dizem que não era isso que ele queria.

Com a ajuda da Alice e do Gabriel aprendi o que preciso fazer aqui, então tudo se tornou bem mais fácil e eu não preciso mais incomodá-los.

Há duas semanas o pessoal do nosso andar decidiu sair pra um barzinho hoje, pois é aniversário do Gabriel.

Além de ser aniversário do Gabriel, hoje também é sexta feira e está calor. Então decido fugir um pouco do padrão social e coloco um vestido soltinho, mas comportado. Solto o cabelo e levo minha nécessaire pra fazer uma maquiagem um pouco mais forte mais tarde.

Me sento pra tomar café com meus pais e até Matheus me elogia.

- Nossa\, Luí. Você tá linda hein. - Matheus diz enquanto me sento

- Meu Deus\, vai chover! Você elogiando sua irmã. - Minha mãe brinca ao ouvi-lo me elogiar

- É porque ela está realmente linda\, mãe.

- Obrigada\, Matheus. Se você falou então estou realmente linda.

- Como tá sendo o trabalho\, Luí? - Meu pai pergunta enquanto coloca o café na minha xícara.

- Agora que aprendi tá sendo bem fácil\, pai. Estou gostando muito.

- Seu avô continua reclamando\, Luí. Ele ainda não aceita que você esteja na concorrente dele\, e eu não sei o que responder.

- Ah mãe. A Lannuz é a segunda melhor do ramo\, por isso quis ir para lá. E uma hora sei que vou acabar indo para a Lemari de qualquer forma\, então pelo menos vou saber o que fazer quando for. - Disfarço. Embora meus pais tenham sido sempre presentes, não perceberam o que estava acontecendo debaixo do nariz deles, então não sabem o real motivo do meu distanciamento entre mim e o meu avô. - Agora preciso ir antes que me atrase. Vou sair com o pessoal da empresa depois do expediente\, provavelmente chegue mais tarde.

- Ok filha\, se divirta. - Meus pais respondem quase simultaneamente.

Me levanto da mesa e vou até meu quarto. Escovo meus dentes e pego minha bolsa pra ir pra empresa.

Tento ligar meu carro e ele simplesmente não funciona. Fico tentando ligar até a bateria acabar, até que desisto e encontro meu pai saindo de casa pra ir trabalhar quando decido pedir um carro por aplicativo.

- O que houve? - Meu pai pergunta ao descer o vidro do carro

- O carro não quer ligar\, vou ter que pedir um táxi.

- Vamos\, te dou uma carona. Na volta você pede um táxi.

- Obrigada\, pai. - Respondo ao entrar no carro

Conversamos mais um pouco no caminho até a empresa. Dou um beijo no meu pai e nos despedimos.

Cumprimento a Letícia, a recepcionista que foi simpática comigo no primeiro dia, e pra não me atrasar entro no elevador com mais duas pessoas.

Passo boa parte do dia trabalhando com a Alice e com o Gabriel, só paramos pra almoçar, e só nos damos conta da hora quando recebemos a mensagem da Vanessa, no grupo do aplicativo de mensagem.

- Alice\, vou no banheiro retocar minha maquiagem. - Digo enquanto me levanto e junto minhas coisas.

- Tá bom\, Luí. Vamos te esperar lá na recepção.

- Não vou demorar\, prometo.

Como estou sem carro, pedi carona pra Alice. Vou no banheiro e retoco rápido a maquiagem, pra não fazê-las esperar demais.

Quando saio do banheiro me esbarro com o Henrique, que me olha como se quisesse me empurrar de volta para o banheiro e me devorar. Sinto meu rosto esquentar com o pensamento e percebo que devo estar vermelha como um tomate.

- Me desculpe\, Sr Lannuzzi. Acabei saindo com pressa.

- Tudo bem\, Srta Caccini\, acontece. Posso saber o motivo de tanta pressa? Vai se encontrar com o namorado?

- Não tenho namorado\, Sr Lannuzzi. As meninas estão me esperando lá na recepção\, vamos num barzinho comemorar o aniversário do Gabriel. O Senhor não vai?

- Talvez eu passe por lá mais tarde. - Ele responde depois de me olhar de cima a baixo

- Apareça sim\, vou estar te esperando. - Digo tão espontaneamente que só me dou conta depois que já falei.

- Irei aparecer\, srta Caccini. Com licença.

Ele vai em direção a sala dele e eu fico parada uns segundos tentando acreditar no que acabei de falar.

Balanço a cabeça negativamente e vou em direção ao elevador.

Fico tão distraída pensando na forma como ele me olhou que dessa vez nem sinto medo de estar no elevador. Que efeito diferente é esse que ele causa em mim?

Encontro as meninas na recepção e vamos de carro com a Alice até um barzinho onde o pessoal da empresa costuma se reunir.

Gabriel já está sentado bebendo com outras pessoas. Entrego pra uma bolsa com uma blusa que comprei pra ele de presente.

- Obrigado\, Luí. Não precisava.

- Que nada\, Gabriel. Espero que goste.

Alice entrega um presente pra ele e pela primeira vez o vejo diferente do habitual.

- Obrigado\, Alice\, mas preferia que fosse você o presente. - Gabriel responde\, enquanto a olha maldosamente

- Quem sabe um dia\, Gabriel. Não quero que pensem que estou sendo interesseira. - Ela desvia o olhar

- Sabe que não é assim\, desde sempre sou afim de você. - Ele responde sem graça

Alice fica quieta e nos chama pra sentar. Eu não sou muito de beber, mas hoje é um dia de comemoração então decido beber também.

Acompanho todos na cerveja e Alice pede um suco de laranja, pois está de carro e não gosta de dirigir quando bebe.

Noto alguns olhares entre a Alice e o Gabriel e acabo ficando curiosa

- Alice\, o Gabriel é mesmo afim de você?

- Como ele disse\, desde sempre\, Mari. - Ela responde sem jeito

- Entendi.

- A gente já ficou uma vez\, mas a estagiária que trabalhava no seu lugar começou a fazer fofoca\, dizendo que eu fiquei com ele pq queria ser efetivada na empresa. - Alice responde ao perceber que fiquei sem graça.

- Que cobra.

- Pois é\, acabei me deixando influenciar e acabei me afastando dele. Eu também sou afim dele\, estaria mentindo se falasse que não.

- Desculpa a sinceridade\, mas acho que vocês estão perdendo tempo. Vocês se gostam e sabe que não depende só dele pra você ser efetivada. - Termino de falar e viro o restante da bebida no copo

- Eu sei\, mas não sei como voltar atrás do que já falei. - Ela me responde olhando para ele\, que sorri

- Viu? Ele gosta de você! Então pense\, antes que algum dos dois canse de esperar o outro.

Gabriel pede mais uma rodada pra gente e eu bebo.

O tempo vai passando e penso no Henrique, percebo que ele não veio e confiro a hora quando veio que já está escuro.

Não sei pq mas fico chateada por ele não ter ido. Vanessa percebe.

- Pq tá tão pensativa\, Luí? - Vanessa me pergunta num tom mais alto\, por estarmos com duas cadeiras no nosso meio

- É que convidei uma pessoa pra vir\, mas pelo jeito ele não vem. - Respondo sem querer estender o assunto

- Quem seria? Por acaso seria o Henrique\, vulgo Sr Lannuzzi? - Sinto um tom de deboche em sua voz.

- Sim\, me encontrei com ele quando estava saindo do banheiro e o convidei.

- Luí\, cai na real\, o Sr Lannuzzi nunca saiu com a gente antes\, hoje não seria diferente. - Diz num tom ameno\, talvez por me ver insatisfeita.

- É\, eu me iludi em pensar que ele seria simpático hoje.

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