Ao sabor do destino

Já havia se passado dois meses desde que o filho do voltou da Europa. Adrielle estava assumindo o cargo de secretária no lugar de sua mãe que ainda não tinha saído do coma.

Uma ou duas vezes ela vira a noiva do filho do dono da empresa, mas não simpatizou com ela. A tal Manuela era arrogante e muito mandona.

Adrielle tinha suas preocupações com a saúde da mãe, com o término da faculdade que estava cada vez mais perto. Além de agora ocupar um cargo diferente do que pretendia por sua formação.

Ela confidenciava suas preocupações e perspectivas com sua amiga Simone.

- O que vai ser de mim agora. Minha mãe não acordou ainda. Meu pai não sabe o que fazer. Trabalha durante o dia e vai todas as noites ficar com minha mãe. Eu tive que abandonar o estágio porque tinha que ficar no lugar da minha mãe. Ainda bem que as provas acabaram. Não sei se vou participar da formatura com toda essa situação. E enquanto minha mãe não melhorar eu não posso sair da empresa e procurar um emprego condizente com minha formação.

- Não fica assim, amiga. Tenha fé em Deus que sua mãe vai se recuperar e você vai poder encontrar o emprego dos seus sonhos. Mais duas semanas e estaremos formadas.

- Tem outra coisa. Essa função de secretária não é pra mim. Esses dias eu quase dei na cara de uma fulana que é noiva do filho do Senhor Taylor. Que mulherzinha antipática e arrogante. Acha que todo mundo é capacho dela. Pede uma coisa, depois reclama, aí já quer outra e depois dispensa. Como se não tivesse mais nada pra fazer além de ficar atendendo as vontades dela.

- Eu não tenho paciência com esse tipo de pessoa não. Eu dou logo um fora.

- Não posso fazer isso. Depois o senhor Taylor me manda embora e quando minha mãe melhorar vai estar desempregada por minha causa.

- Você é muito apegada a essa empresa.

- Não é apenas apego. É gratidão. Minha família sempre trabalhou com os Taylor e foi ele quem pagou a minha bolsa de estudos. Meu pai me contou depois do acidente de minha mãe.

- Entendi. Mas você não deve abaixar a cabeça para esse tipo de pessoa. Você tem uma formação profissional. Não aceite ser diminuída por qualquer uma.

- Tomara essas duas semanas passem bem rápido. Quero receber meu certificado. Depois eu converso com meu pai a respeito de procurar emprego condizente com minha formação. Ele vai ter que entender que não estudei pra ser apenas uma secretária.

- Pode ser difícil de entender no começo, mas creio que ele não ficará chateado com você por isso.

Simone e Adrielle achavam que tudo daria certo depois que concluíssem sua faculdade.

Ninguém imaginava que o destino fosse fazer tudo virar de cabeça para baixo.

Na véspera da formatura Adrielle ouviu a discussão sobre a empresa entre seu patrão e o filho dele. Depois que o Senhor Taylor saiu, ela ainda estava terminando um trabalho quando viu o filho dele entrar no escritório feito um furacão, sem perguntar a ela se o pai estava ou não.

Pouco depois o filho retornou e finalmente se dignou a perguntar.

- Onde está o meu pai? Está em alguma reunião?

O cheiro que exalava dele era repugnante. Ele estava completamente alcoolizado.

- Senhor Taylor saiu logo depois que discutiram. Ele foi embora aborrecido.

Steve saiu da empresa sem falar nada. Nem um boa tarde ou um obrigado. Parecia bastante transtornado.

Adrielle ficou terminando seu trabalho e pensando no que teria acontecido após a discussão entre pai e filho.

Porém, ela sabia que não era da conta dela se preocupar com o filho do seu patrão.

Chegando em casa, percebeu que seu pai já havia saído para o hospital, onde passava as noites ao lado da esposa, na esperança de que ela despertasse em algum momento.

Adrielle já estava acostumando com essa rotina. Ela preparou um lanche e foi tomar um banho e descansar, porque no dia seguinte teria a formatura. Ela só iria na missa e depois na colação de grau. Não tinha mais ânimo para participar da festa.

Simone estava numa alegria só. Já fora contratada pela empresa e iria comunicar a todos durante a festa.

Simone até tentou conversar com Adrielle e fazer com que ela mudasse de ideia, todavia, nada mais fazia sentido sem a presença do pai e da mãe dela.

Adrielle estava entristecida pela doença de sua mãe e a ausência de seu pai. O momento que ela tanto sonhara e se preparara não iria acontecer. Tios e primos não preenchiam seu coração atormentado. Ela só não queria chorar naquele momento. Queria parecer forte ao receber o tão esperado certificado.

Quando amanheceu ela arrumou seus cabelos para comparecer à missa. Depois da missa tomou um café da manhã na lanchonete do hospital e foi visitar a mãe. Sua colação de grau seria no final da tarde.