Fadado ao sofrimento

Bernardo

Ao deixar Beatriz em casa,eu soltei o ar que segurei por todo tempo que ela esteve ao meu lado no carro. Sai meio sem rumo,eu precisava ficar só, precisava entender porque doía tanto se eu já me sentia curado...

Estacionei o meu carro próximo a praia e caminhei até uma área mais vazia e me sentei na areia,não conseguiria mais trabalhar com um turbilhão de sentimentos dentro de mim.

A imagem de uma família feliz que eu tanto idealizei ao lado dela,já não saia mais da minha cabeça. A voz do médico dizendo que eu era o pai ,insistia em me atormentar.

Eu disse para mim mesmo: -- Reage Bernardo,não entra novamente nesse buraco,você já superou...

Superei? Eu estaria assim se tivesse superado?

Quando dei por mim,já era noite e eu nem almocei, A essa hora eles devem estar comemorando e eu aqui confuso com os meus sentimentos.

Segui para o meu carro e ao entrar ,vi que meu celular permanecia no banco do carona desde que saí do carro. Acendi a tela e vi dezenas de chamadas perdidas,mas não desbloqueio para ver quem tinha me ligado,não estava em condições de falar com ninguém...

Apenas o desliguei e recostei minha cabeça no volante por alguns minutos.

Liguei o carro e fui para casa.Tudo que eu precisava era de um banho e uma boa noite de sono. Vou acordar melhor,eu preciso acordar melhor.

Tomei um longo banho e minha mente estava tão cansada,que depois do banho eu apaguei.

Acordo na primeira hora do dia com o som desesperado da campainha. Levantei-me ainda tonto e sonolento,procurando algo para vestir,pois ,usava apenas uma samba-canção.

Alcancei rapidamente uma camiseta e uma calça e caminhei sem demora até a porta.

André: Cara,onde você se meteu?

Perdi as contas de quantas vezes eu te liguei...

Bernardo: Desculpe,tive um imprevisto...

André: Você ainda não sabe da Duda né?

Bernardo: Não falo com ela desde ontem,ela deve estar furiosa comigo...

André: Ela está no hospital Bernardo.

Bernardo: Hospital? Como assim? O que houve?(desnorteado)

André: Ela foi atropelada ontem a tarde,quando estava saindo do fórum.

Bernardo: O que?( num tom alto)

André: Tentaram te ligar,mas você não atendeu,então acharam um cartão do escritório na bolsa da Duda e ligaram pra lá. Tentei te ligar dezenas de vezes a caminho do hospital,mas você sumiu...

Bernardo: Qual hospital? Vou pra lá agora...

André: Se arruma que eu te levo.

Me arrumei rapidamente e segui para o Hospital com o André.

Minha cabeça latejava de tanto pensar! Como eu pude abandonar a Duda no momento em que ela mais precisou? Porque não a procurei a invés de me isolar? Será que ela vai me perdoar?

*Chegando ao hospital,fomos direto pedir informações na recepção.

Fui informado que ela estava fora de perigo, mas que estava sendo e examinada naquele momento, mas que poderia entrar apenas um para vê-la.

Deixei André na recepção e caminhei até o quarto que me foi informado. Senti um calafrio tomar conta de todo meu corpo. Como pude ser tão irresponsável e fraco?

A porta estava entreaberta, eu a empurrei lentamente, avistando o médico ao lado da cama. Me aproximei sem chamar a atenção e me dirigi ao médico antes de encará-la, ainda estava tomando coragem.

Bernardo: Bom dia!

Como ela está?

Medico: Você é...?

Bernardo: Namorado dela...( eu quero acreditar que ainda sou)

Medico: Ela vai se recuperar logo,é forte...

Mas sinto muito pelo bebê, a pancada que ela levou foi fatal para ele.

Médico: Vou deixa-los a sós, mais tarde eu passo para vê-la.

Eu estava em choque,ainda não assimilei direito o que o médico me disse...

Ela estava grávida? Eu perdi meu filho sem saber de sua existência? Abandonei minha namorada grávida enquanto ajudava minha ex?

Que espécie de monstro eu sou...

Criei coragem e olhei na direção da cama e meus olhos se entristeceram com aquela imagem...

Duda estava com o olhar longe e com lágrimas que insistiam em rolar por seus hematomas.

Sentei na cadeira ao lado da cama em silêncio e aparei suas lágrimas com os meus dedos.

Duda: Por onde você andou Bernardo? Eu perdi nosso filho e você não estava aqui para me apoiar,ninguém conseguiu falar com você...

Bernardo: Eu estou aqui agora,descanse,depois nos conversamos com calma.

Duda: Eu não quero que fique,olhar pra você agora,me faz lembrar que estou passando por tudo isso sozinha desde ontem.

Bernardo: Me perdoa Duda, não me afasta,eu preciso de você...

Duda: Esse é o seu problema Bernardo,você não só pensa em você,no que você precisa. E eu,você já se interessou em saber o que eu preciso?( já sem conseguir conter o choro)

Bernardo: Desde quando sabia da gravidez?

Duda: Soube no dia anterior,eu ia te fazer uma surpresa ontem,mas não deu tempo...( deixando as lágrimas rolarem)

Quando ela disse surpresa, me lembrei das alianças. Meu Deus! Por que? Teríamos uma noite maravilhosa com o pedido de casamento e a surpresa da gravidez...

Parece que estou fadado ao sofrimento...

Continua*...

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