Capítulo 17

Leonardo, virando seus olhos, em direção a luz da lua, que toca o mar escuro e gelado daquele dia. Valentina deitada em seu colo, amparada pelos seus braços no mesmo instante em que o som de cada onda quebrada bate sobre o casco do barco interrompendo o silêncio.

Leonardo acaricia a pele de Valentina, com um beijo em sua testa se levanta e pega algo para cobri-la, onde a conduz até o chão do barco onde a deita, se posiciona por detrás dela, envolve-a com um de seus braços, enquanto com o outro faz de travesseiro, encaixando em Valentina de tal forma que é possível sentir seu coração bater, adormecendo então logo em seguida.

É de madrugada ainda, quando os pássaros gorjeiam sobrevoando de encontro ao horizonte despertam Leonardo, que , abrindo lentamente os olhos, encosta sua boca na nuca de Valentina, enquanto respira bem próximo a seus ouvidos, sussurrando, tenta acorda-la. Lentamente, Valentina abre os olhos, lembra de onde está ao mesmo tempo que ouve Leonardo dizer:

– Temos que ir!

Valentina então senta de uma vez, ao mesmo tempo em que Leonardo assume a direção do barco, guiando de volta ao cais, enquanto o sol nasce atrás deles.

Ancorando o barco, Leonardo segura nas mãos de Valentina, entram no carro, sem trocarem nenhuma palavra, enquanto Leonardo dirige em direção ao condomínio onde mora.

Chegando em casa, mais uma vez Leonardo convida Valentina para que suba até seu apartamento, tome um banho e descanse um pouco. Valentina por sua vez, agradece a gentileza, diz que precisa encarar aquilo logo, que o dia seria difícil demais, que embora ela soubesse das atitudes de seu falecido marido, mesmo assim não seria fácil. Renato sempre foi o único homem para ela, se conheceram muito jovens, casaram muito cedo, e todo o tempo junto não poderia ser apagado assim tão fácil, as lembranças de tudo o que havia acontecido passavam como um flash na mente de Valentina, que nem se dá conta que já chegou em seu apartamento, fazendo tudo de modo automático e mecânico. Se pega sorrindo lembrando dos bons momentos e melancólica lembrando dos dias que Renato a entristeceu, sem conseguir escolher qual memória deveria recordar, se permite apenas chorar.

Passa no quarto de Alice que dorme, decide não brigar com ela, nem questionar o porquê de Lucas está deitado ao seu lado. Tenta em vão lembrar da noite em que passou ao lado de Léo, lacrimejando escolhe sua melhor roupa, entra no banheiro e a água que cai do chuveiro e de seus olhos se misturam e caem, lavando seu corpo e sua alma.

Alice acorda e também chora, Lucas que decidindo ir embora, é convencido por Valentina a ficar lá, que Alice precisaria dele naquele momento. Alice era muito apegada ao pai, mesmo que ele fosse um pai ausente, nunca esteve presente nos ritos mais importantes para Alice. Virou moça, teve o coração partido, amigos que foram para longe, aniversários até que tornou uma mulher. Mesmo assim, era suficiente para ela, foi seu herói, aos olhos dela ele era perfeito, o único pai que ela poderia querer.

Algum tempo depois, Leonardo liga para Valentina e deixa um veículo a disposição dela, diz que não irá ao velório mas que já tinha resolvido tudo, que ela não precisaria se preocupar com nada naquele momento, assim como havia prometido ele fez.

Ao descer, tinha um carro aguardando Valentina, Lucas e Alice. O motorista deixou os três no funeral e esperou no carro, avisando a Valentina que ele recebeu ordens expressas a ficar ao lado dela a disposição para o que fosse preciso. Que além disso, ele deixaria Leonardo inteirado sobre tudo o que acontecia naquele lugar.

As pessoas mais íntimas começam a chegar, Valentina ao lado do caixão, com um óculos escuros já não chora mais, olha ao seu redor e vê o qual vazio está aquele lugar. Ninguém, do lugar onde Renato trabalhou por mais de 30 anos, apareceu. Restando apenas poucos amigos, alguns parentes, além de suas irmãs e cunhada. Leonardo encomendou flores que foram depositadas enquanto o caixão descia ao túmulo, choros foram ouvidos enquanto as pás jogavam a terra que cobria aos poucos o caixão, encerrando assim aquele ciclo.

Valentina põe Alice e Lucas no carro e pedem para ir sem ela.

Caminhando sem rumo, com seu salto de 7 centímetros em sua mão, com os pés descalços percorre as ruas, quando Leonardo, com um carro de capota baixa, anda bem lentamente ao seu lado, convidando para que entre, ela olha para Leonardo e aceitando o convite, aceita também para que Leonardo a leve finalmente para seu apartamento, no que Leonardo diz.

– Não hoje.

Dizendo que levaria Valentina de volta para casa, no que ela diz, que ele poderia leva-la para qualquer lugar, que a filha estaria bem, que a levasse para algum lugar que a fizesse esquecer.

Leonardo, dizendo que não existe esse lugar, e que para qualquer lugar que ele a levasse, seu sofrimento estaria junto, que o melhor a fazer seria enfrentar o luto.

Convencendo então Valentina a ir para casa, eis que , ao chegar, encontra Letícia em seu apartamento, Leonardo despede-se na porta deixando as duas.

Valentina enfrentando Letícia.

– A partir de hoje, me de a chave de meu apartamento, trocarei a fechadura e você continuará a ser bem vinda aqui, porém não irá mais conviver conosco, aqui você será apenas visita.

Letícia, chorando e se lamentando apenas ouve sem refutar, ao mesmo tempo em que Valentina continua.

– Há muito tempo eu já percebi, suas insinuações, suas intenções, bastou uma oportunidade para consumar o ato ainda por cima na minha casa.

– Ele me pegou a força.

Diz Letícia.

– Mentira! exclama em um tom mais firme Valentina que continua.

– Você se entregou, afinal você queria né?facilitou, não fez nada, eu vi tudo através da fresta da porta do quarto, incrédula sobre o que acontecia, a ficha estava caindo.

Ajoelhada Letícia implora por seu perdão, enquanto Valentina, com ar de superioridade pegando no queixo da irmã, pede que ela levante, pare de se humilhar, ela é culpada sim, mas se não fosse com ela seria com outra, mesmo assim, sua decisão seria a mesma, que a partir daquele dia, Letícia seria apenas visita.

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