Cap. 15- De volta a sala branca

A medida que a ambulância acelerava pelas ruas e se aproximava mais do hospital a sirene soava alto para os carros na frente abrirem passagem, porém o barulho era cada vez menos perceptível aos ouvidos de Anthony.

Médico- Se não estivéssemos chegado a tempo esse cara tinha morrido nas mãos daquele maluco. Olha só o estado dele!

Enfermeira- Esse rapaz já passou dos limites com as suas maldades! Como pode? Ele não devia agir dessa forma!

Anthony- Ele confessou que matou uma tal de Beth. - Revela com dificuldade para respirar.

Médico- Não pode ser! Oh... Não se esforce tanto cara! Você precisa ficar bem, ok?

Anthony- Chame a Isabelle por favor! Acho que meu telefone ainda está em meu bolso.

Enfermeira- O celular está com a tela um pouco quebrada, mas dá para acessar a agenda e ligar para alguém. - Comenta logo após pegar o celular no bolso da calça de Anthony.

A enfermeira vasculha a agenda e liga para a Isabelle que atende de primeira.

Isabelle- Oi Tony! Já está vindo?

Enfermeira- Olá, Isabelle?

Isabelle- Sim.

Enfermeira- Desculpe, mas estou com o celular do Tony.

Isabelle- E o que ele está fazendo com você? - Questiona decepcionada ao ouvir que é uma voz de mulher.

Enfermeira- Calma! Não é o que está pensando. Eu sou enfermeira. O Tony foi espancado e quase morto pelo Steve. Ele foi levado para um galpão abandonado, mas a polícia chegou a tempo e nos chamou, e agora estamos levando o Tony para a emergência do hospital San Luca.

Isabelle- Minha nossa! Tony!? Moça ele saiu para justamente ver a mãe dele no hospital e agora está me dizendo que ele está ferido? - Pergunta desesperada com a voz trêmula e chorosa.

Enfermeira- Pela situação em que ele está vai precisar de alguém o acompanhando, pode vir ficar com ele?

Isabelle- Eu saí hoje de manhã com meu filho desse hospital, a mãe dele foi internada ao meio-dia e agora ele também?

Enfermeira- Infelizmente parece que vocês estão nadando numa maré de azar. E eu sinto muito. Vou ficar com o celular dele até lá, mas depois que deixá-lo na emergência provavelmente terei que sair para novos atendimentos.

Isabelle- Obrigada por me informar. Vou ver se a June fica com as crianças para eu poder ir para o hospital ficar com ele.

Enfermeira- Certo. Até breve então!

Isabelle- Tchau! Obrigada.

Enfermeira- Isso não foi nada.

A enfermeira encerra a ligação, volta sua atenção para o médico e pergunta:

Enfermeira- Quem é Beth?

Médico- Se a Beth que ele está falando for a que estou pensando, ela é a filha de uma amiga da minha esposa. Pelo que soube a jovem teve um curto relacionamento com esse Steve. A mãe dela sempre culpou esse rapaz pela morte da filha, mas não conseguiu reunir provas para comprovar e colocar ele atrás das grades.

Enfermeira- Pelo estado que ele deixou o filho da Rose, não duvido dele ter feito isso com a garota. Só precisa relatar isso para o delegado Harris. Ele com certeza vai levar esse caso adiante.

Médico- Espero que esse cara resista! Assim ele poderá depor contra aquele ordinário que usa sempre o poder que o pai tem para fazer maldades e ainda sair impune.

Enfermeira- Ainda bem que ele não veio com a gente. - Comenta aliviada.

Médico- Esses cortes nos braços e pernas devem ser desinfeccionados antes de alguma bactéria entrar em seu sangue.

Enfermeira- Cuidarei disso agora.

Enquanto as feridas são limpas, o médico fica monitorando o aparelho que está ligado ao corpo de Anthony. De repente o aparelho detecta a desaceleração dos batimentos cardíacos de Anthony.

Médico- Ele está tendo uma parada cardíaca! Me passe o desfribilador!

O desfribilador cardíaco é posicionado no peito de Anthony e acionado. A primeira tentativa não surtiu efeito.

Médico- Mais uma vez!

E assim foi feito, com a segunda tentativa os batimentos cardíacos de Anthony voltam a ficar estáveis. A ambulância chega na emergência e Anthony é levado para sala onde é atendido. O seu rosto e o seu corpo estão bastante machucados. E a notícia da entrada dele chega até a sua mãe que estava fazendo uma bateria de exames. Anthony entra na sala dormindo por causa da exaustão provocada pela tortura e quando ele menos espera se vê de volta na sala branca de onde tinha saído pouco tempo atrás.

Ao olhar para a pessoa que estava em sua frente fica assustado. Não era mais o gordinho estressado e sim um homem alto e magro, com aparência zangada, nada amigável e com uma prancheta na mão analisando o conteúdo nas folhas, fita seu olhar em Anthony e cumprimenta:

Homem- Olá senhor Zayan Williams! Você foi enviado de forma incorreta para um corpo que não te pertence, então... - Fala, mas é interrompido por Anthony.

Anthony- Onde está o gordinho que estava aqui antes? Quem é você, afinal? Só para constar foi o gordinho que me deu uma nova chance para ajudar as pessoas que precisam ainda de mim lá.

Homem- E por causa disso ele foi rebaixado. Eu sou o substituto dele. E aqui não podemos cometer erros!

Anthony- Por que rebaixaram ele se o erro não partiu dessa sala? Ele me falou que o erro veio de outra seção!

Homem- Eu sei disso. Só que ele permitiu que você fosse para um lugar que não lhe concedia ir.

Anthony- Isso não tem lógica! Ele disse que o corpo iria ficar em coma por muito tempo até a família dele decidir desligar os aparelhos e só então eu sairia dessa sala para a eternidade.

Homem- De fato, ficaria aqui por um tempo, porque você acompanhou o corpo dele e não o seu naquela noite, por isso aguardava seu retorno para te enviar para onde já deveria ter ido.

Anthony- Eu não posso! Eu tenho que voltar para lá! - Fala firme.

Homem- Isso não tem a ver com você querer ou não. Essa é a regra! Seu corpo até já está sepultado.

Anthony- Mas o de Anthony não! Eu decidi viver a minha nova vida mesmo estando dentro do corpo desse cara. Você viu o quanto a família dele precisa de mim!?

Homem- Não me convém opinar e principalmente, você decidir algo aqui! Eu apenas cumpro ordens e você deve obedecê-las também!

Anthony- Eu não posso aceitar! Fiz promessas e preciso cumpri-las! Eu sempre fui um homem de palavra e não vou retroceder agora!

Homem- Não vai conseguir dessa vez, Zayan!

Anthony- Não sou mais Zayan! Zayan agora é meu filho! Desde que me decidi ao acordar naquele hospital e ser feliz com aquela família linda, eu não sou mais Zayan e sim Anthony!

Homem- Você é bem irritante!

Anthony- O gordinho da outra vez também me disse isso! E ele também me disse que a minha alma tem afinidade com aquele corpo, e a alma covarde que habitava ele não se importou com o tesouro que tinha, e simplesmente desistiu de tudo!

Homem- Isso não vem ao caso! Por mais que sua alma seja compatível com aquele corpo, ainda sim, não é o seu corpo!

Anthony- Mas passou a ser os últimos dias.

Homem- A minha sorte é que a sua alma não enraizou naquele corpo nesse período de tempo. Assim, não terá problemas em ficar aqui um pouco, antes do seu corpo falecer.

Anthony- Acabou de afirmar que aquele corpo lá é meu.

Homem- Erros na colocação das palavras, digo... - Responde gaguejando.

Anthony- Você vacilou nas palavras, então isso só quer dizer uma coisa, se eu voltar para lá, meu novo corpo vai me permitir permanecer nele para sempre, não é?

Homem- Sim! Mas você não vai mais sair daqui. - Assevera com firmeza.

Anthony- Não posso ficar aqui! Você não entende! Aquela família já sofreu bastante! E apesar daquele covarde trazer muitas tristezas, os filhos e a mãe deles precisam... precisam de mim agora!

Homem- Não posso te deixar voltar...

Anthony- E o que vai acontecer com aquele corpo se eu não voltar?

Homem- Sem a alma dele, ele vai morrer em breve!

Anthony- Naaão! - Grita nervoso. - Não posso permitir isso! Quanto mais tempo passar aqui, menos chance terei de permanecer ao lado deles!

Homem- Senhor, Anthony!

Anthony- Espera, do que me chamou?

Homem-...

Anthony- Até você também concorda que eu preciso voltar... Por favor!

Homem- Não posso descumprir as ordens!

Anthony- Onde era mesmo a passagem por onde passei da última vez?

Anthony corre para a parede por onde o Delegado do destino havia deixado ele passar na última ocasião e se joga nela com o intuito de atravessá-la e ir direto para o seu corpo como da outra vez. Mas infelizmente o portal não é aberto, e como consequência ele bate em cheio na parede, com o impacto ele cai para trás sentado no chão.

Homem- Só conseguiria passar, se eu abrisse esse portal... e não farei isso!

Barulhos de desespero se ouve do outro lado do parede.

Anthony- Por que ouço esse som? O que está acontecendo? Essa voz é da dona Rose.

Rose- Tony! - Grita desesperada e cai no chão da sala de emergência.

Médico- O que ela faz aqui? Ela não pode entrar nessa sala! Já está difícil mantê-lo vivo...

Enfermeiro- Doutor, o coração dela parou. Ela não tem pulsação. - Diz ao pegar no pulso dela para sentir os batimentos cardíacos.

Médico- Nossa! Não me diga que os dois vão morrer aqui! Use o desfribilador nela também.!

Enfermeira- Sim senhor!

Rose é colocada numa maca ao lado do filho e tentam reanimá-la, mas sem sucesso. O corpo de Anthony volta a ficar estável, mas o de Rose não.

Enfermeira- Doutor, ela não volta.

Médico- Ela já está morta! - Afirma ao olhar o semblante da Rose e não sentir seus batimentos. - Horário do falecimento: 21 horas e 12 minutos.

Na sala branca, Anthony só consegue ouvir o que se passa do outro lado da parede, por isso se levanta vai em direção ao Homem que o está aprisionando naquele local e pergunta:

Anthony- O que aconteceu com ela?

Homem- Ela morreu!

Anthony- Mas como? Ela estava tão bem.

Homem- Aparentemente estava aos olhos de vocês, mas ela estava muito doente.

Anthony- Então por isso que ela ficou internada? Faz sentido. Ela vai passar por aqui?

Homem- Ela não vai passar por essa sala. Ela já está na sala que você deveria estar, se não tivesse sido teimoso e ter entrado no corpo do Anthony.

Anthony percebe um dispositivo no paletó daquele carrasco. Em sua mente é a chave de saída desse lugar, avança em cima do Homem, toma o dispositivo e o aciona, abrindo o portal na parede.

Homem- Não pode fazer isso!

...Continua......

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