Lutando contra mim

Estou sonhando...

É o piquenique anual da polícia. Wanessa está feliz e linda como sempre, usando um vestido longo verde esmeralda em um tecido leve, tem um coque baixo na base da cabeça e usa um chapéu na cor creme com algumas flores em tons de rosa claro para se proteger do sol. Ela é radiante e cheia de vida, chama atenção de maneira positiva e eu só consigo ficar como bobo olhando pra ela.

Martín falando:

- Você é a mais bela das mulheres.

Wanessa falando:

- Você precisa me deixar ir Martín, eu preciso disso e você também.

Não consigo entender o que ela me diz e quando percebo estamos sozinhos em um lugar totalmente branco, com ela vestida de branco e os cabelos negros soltos. Não usa nenhuma maquiagem e sua beleza crua é tamanha que me faz sentir o peito doer. Ela segura nas minhas mãos e me diz que o tempo dela está acabando e que não pode mais ficar aqui.

Wanessa falando:

- Preciso que você seja feliz Martín, só assim eu vou ter paz de ir e te esperar no infinito.

Acordo ofegante, confuso e com uma sensação de saudade mais do que forte na minha mente.

-Droga, eu estou acostumado com os pesadelos mas isso foi diferente.

Completamente sem forças me arrasto para fora da cama e sinto que hoje não vai ser um bom dia.

Faço meu ritual da manhã e pego a primeira roupa que vejo na frente: jeans, camiseta de manga curta na cor preta e um blazer preto. Calço um tênis baixo e nem me importo se vai combinar ou não.

Desço as escadas e me forço a comer um iogurte com aveia, não quero acabar com meu pequeno progresso por causa de um sonho estranho.

Depois de comer, encho meu copo térmico com café e me encaminho pro trabalho.

Mr. Robinson fala comigo assim que ponho meus pés na delegacia.

- Bom dia Martín! Preciso do relatório sobre ontem a noite com sua percepção dos fatos.

Dei uma olhada no material que você e Paco trouxeram para cá no plantão da noite e preciso dizer que vocês foram sensacionais.

Mais uns dias e já temos um caso robusto contra eles!

Eu balanço a cabeça.

- Muito obrigado mas o astro da noite foi Paco. Ele é muito focado no que faz!

Meu parceiro entra na conversa.

- Sou mesmo, sem mim vocês estariam perdidos.

O chefe e eu damos risadas e quando ele se encaminha para sua sala eu sento à minha mesa para escrever meu relatório, Paco faz o mesmo. Levamos a manhã inteira para terminar e acabamos na hora do almoço.

É quando o telefone do meu parceiro toca e ele atende :

📲- Oi Aileen, pode falar...

Ele escuta alguma coisa.

📲 - Claro! Mas vamos em outro restaurante, vou pedir ao Martín pra levar a gente. Chegamos aí para te buscar em dez minutos.

Já sacando tudo, pego meu blazer e minhas chaves.

- Vamos lá, bonitão!

Pegamos Aileen e ela está especialmente perfumada hoje. Noto o olhar de Paco para ela e fico o mais quieto possível para não atrapalhar a conversa dos dois.

Dirijo até o Shitake, um restaurante japonês que fica nas imediações da delegacia.

- Espero que vocês gostem. O Shitake é o melhor japa da cidade.

Aileen fala animada.

- Adoro comida japonesa.

Paco não está tão animado quando ela.

- Eu sou péssimo com os pauzinhos.

Eu dou uma risada.

- Não esquenta, você pode comer com o garfo.

O Shitake tem uma decoração simples mas muito bonita. É tudo em preto, vermelho e dourado. Uma fonte com bambu e flores de lótus artificiais fica bem na entrada, uma música ambiente em estilo oriental é transmitida por caixinhas de som que ficam nos cantos das paredes.

O cheiro é delicioso: uma mistura de gengibre e outras especiarias.

- Puxa Martín, que lugar legal. Você é um ótimo guia turístico. Aileen fala olhando pra tudo e Paco concorda com ela.

- É mesmo cara, a gente tem que sair a noite. Tenho certeza que você conhece as melhores baladas.

- Vamos ver... Quem sabe na nossa folga?

Nos sentamos e olhamos o cardápio, decidimos dividir uma barca de sushi e pedimos coca cola com limão e gelo.

Depois de comer igual um louco e morrer de rir junto com Aileen vendo o Paco tentar comer de hashi, pedimos a conta e vamos embora.

O restante do dia foi a base de café e trabalho. Mas volta e meia eu me pegava pensando no sonho estranho que tive e pior, na moça loira de nome Alex.

Afasto os pensamentos sobre ela tentando me convencer de que é só interesse profissional pelo fato de ela estar ligada ao caso que estamos envolvidos.

💭Quinta feira precisa chegar o quanto antes. Tenho que desabafar com o Dr.Frank 💭

O relógio marca quatro e vinte e um da tarde quando meu telefone do disfarce toca. Embora o número não esteja salvo na minha lista de contatos sei que é Vincent, ele é o único estranho que tem aquele número.

Atendo no terceiro toque:

📲 - Javier Castro falando.

📲 - Javier meu querido! Quero um trabalho seu e do seu irmão. Queremos montar um esquema de pirâmide em cima de fundos imobiliários. Vocês podem nos encontrar hoje a noite no Danger?

Olho para Paco que já está a postos percebendo que estou falando com o inimigo.

📲 - Claro que sim Vincent, às 20:30 está bom para você?

📲 - Perfeito meu amigo, te aguardo. Até mais!

Paco me olha com expectativa, me levanto e o chamo para irmos até a sala do chefe e contar a novidade.

Bato na porta e ele pede para eu entrar.

- Chefe, eles morderam a isca! Vincent acabou de me ligar pedindo para que montemos um esquema de pirâmide em cima de fundos imobiliários.

Paco vem logo atrás de mim.

- O pessoal da inteligência vai ter de entrar em ação chefe. Vamos precisar de documentos de primeira linha.

- Ótimo! Vou telefonar já para eles e pedir agilidade e uma história bem montada para esse propósito. Cuidado, a chance do líder deles estar presente essa noite é grande e com certeza ele é um homem perspicaz.

Saímos da sala enquanto Mr. Robinson pegava no telefone para realizar a ligação.

Olho para Paco e não consigo conter minha alegria e ansiedade.

- Você tem noção do grande passo que estamos dando para acabar com essa gangue?

*********

Hoje decidimos vestir ternos completos, estamos indo a negócios e vamos fazer de tudo para impressionar e ganhar mais confiança.

Paco veste um terno azul marinho com uma blusa em um tom de azul mais claro. A gravata é preta com um prendedor prata e abotoaduras em pedra polida na cor preta nos punhos.

Eu vou com um terno grafite, camisa de botão preta e gravata combinando com terno. Meu prendedor e abotoaduras são na cor prata.

Nossos acessórios de espionagem ficam nos anéis hoje, eu com a câmera e Paco com o microfone.

Vamos nos nossos carros, entramos pela porta da frente e paramos no balcão. Alex nos cumprimenta:

- Olá rapazes, bem vindos de volta! Cerveja?

Ela está mais bonita do que eu me lembrava.

Um rabo de cavalo alto e perfeitamente alinhado na cabeça, usando um vestido preto de mangas 3/4 e o comprimento midi.

Respondo rápido demais:

- Por favor!

Noto Paco me olhando e prendendo o riso.

Ele toma a frente da situação.

- E então gatinha, como vão as coisas por aqui?

Alex pega as cervejas.

- Tudo na mesma...Homens patéticos aqui no salão e esbanjadores escondidos lá atrás. Por falar nisso, Garcia já está esperando vocês.

Olho para o lado e o brutamontes faz um gesto para que eu e Paco entremos no local secreto onde os poderosos se reúnem.

- Estão esperando por vocês.

Paco entra na frente e já ouvimos todos o saudando. Ele impressionou mesmo esse pessoal.

Vincent é o que fala mais alto:

- Diego meu querido, venha cá! Você está muito elegante hoje hein?! Um verdadeiro galã. Se sirva de Whisky e tome aqui um charuto.

Paco já entrou no personagem, ri e conversa com todos com naturalidade e eu também entro na onda.

- Olha pra você Javier, outro galã. Toma aqui um Whisky e um charuto.

Eu abro um sorriso falso.

- O charuto eu dispenso Vincent, mas esse Whisky eu não vou negar.

Ele fala com nós dois.

- Espero que vocês não tenham jantado ainda. O cardápio hoje está especial!

A comida estava divina. Era cordeiro com batatas assadas, uma cerveja importada que não sei o nome acompanhava o prato. Um mousse de chocolate fechava o jantar de sobremesa.

Depois de comer começamos a conversar sobre o que eles queriam. Paco conduziu a conversa com maestria.

- Tudo que eu peço meus amigos é que vocês me dêem um prazo de dois dias para que eu arrume os primeiros documentos. Podemos dizer que estamos fazendo um empreendimento de um novo shopping e alguns condomínios em uma área em outro estado. A venda fica por conta do meu irmão Javier que tem uma lábia mais do que boa para enganar os otários.

Entro na conversa afirmando o que Paco diz:

- Diego tem uma precisão cirúrgica para falsificar documentos. Ele consegue fazer até plantas arquitetônicas, tudo com o mais perfeito capricho.

Vincent vai direto ao ponto.

- Qual o valor do investimento?

Paco responde de maneira firme.

- Duzentos mil dólares para começar. Mas o potencial de lucro para vocês chega em até um milhão e meio.Claro que se vocês quiserem fazer mais nós podemos mudar o plano, mas vamos começar com esse básico primeiro. Vocês gostando podemos expandir.

Vincent parece considerar a proposta. Pede licença, e sai para fazer uma ligação.

Nesse momento tenho certeza de que ele está falando com o líder da gangue.

Depois de alguns instantes ele volta e diz que nós temos o aval para começar a pôr em prática o plano.

Quando um dos homens mais velhos me pergunta para quê era preciso os duzentos mil dólares, eu respondo naturalmente, dizendo que é com esse dinheiro que vamos pagar os rendimentos para as primeiras pessoas que entrarem no esquema de pirâmide.

- Desse jeito, pagando para o primeiros, é que eles vão ter confiança de chamar os conhecidos para entrarem no investimento também. Quando atingirmos o lucro esperado, nós sumimos com o dinheiro e deixamos os trouxas sem nada!

Paco e eu damos uma risada forçada quando aqueles nojentos explodem na gargalhada só de se imaginar ganhando milhões de dólares em cima de pessoas de boa fé.

Saímos dalí com uma mistura de sentimentos. Felizes e animados por nosso plano estar se encaminhando para o sucesso e enojados com a maldade que aqueles homens podem ter.

Ao passar pela porta dos fundos noto Alex conversando com alguém no telefone, ela parece agitada e consigo ouvir ela dizendo:

- Eu não aguento mais essa vida de prisioneira que eu levo com você.

Quando é que esse tormento vai ter fim?

A limosine se aproxima, a porta abre e ouço uma voz masculina lá de dentro dizendo que ela tem que parar de dar chilique porque se não fosse ele, ela estaria morta agora.

Vejo Alex entrar de má vontade naquele carro e me contenho para não arrancar ela dalí.

- Amigo, não tenho a ver com sua vida mas preciso te dizer...

Mate qualquer sentimento que você possa estar tendo por essa mulher, porque é mais do que nítido que ela tem cheiro de problema.

Paco me traz de volta a razão.

- Vamos para a delegacia deixar o material que conseguimos hoje. Lá eu te conto um pouco sobre a minha vida e você vai entender o porquê de eu estar interessado nela.

Chegamos na delegacia e depois de cumprirmos nosso dever nos sentamos. Já é quase meia noite, mas o chefe nos deu a manhã de folga no dia seguinte por causa do jantar de hoje. Então conto para Paco toda a minha história. Inclusive o sonho que tive com Wanessa na última noite.

- Acho que vocês está apaixonado por essa mulher.

Faço uma careta.

- Ainda está cedo pra isso. Mas admito que ela me deixou encantado.

Ele concordar com a cabeça.

- Isso é nítido.

Mudo de assunto.

- E você e a Aileen?

Ele me olha meio desconfiado.

- O que tem nós dois?

Eu estreito os olhos pra ele.

- Ah, qual é?! A intimidade de vocês é nítida. E você fica todo bobo perto dela.

Ele finalmente admite.

- Nós nos beijamos uma vez em uma balada. Mas ela estava muito bêbada, sabe como é...

Ela é linda e só me vê como um amigo mas eu tenho uma queda por ela. Encontra-la denovo foi muito bom, me faz ter esperanças.

Balanço a cabeça concordando.

- Acho que vocês dois combinam muito. Dá um tempo, se tiver que ser vai ser. Agora vamos que já está tarde.

Nos despedimos e eu vou para casa.

Tomo um banho e me deito na cama com meu livro. Leio dois capítulos e depois decido dormir; foi um dia longo e até que não foi tão mal quanto pensei que seria.

Decido deixar meu corpo e minha mente relaxar e adormeço.

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