ERIC E MAIY
MAIY
Estou desperta, mais uma vez. Olho para a janela. Apesar do quarto fechado, posso sentir o calor de alguns raios solares atravessarem as cortinas e tocarem-me. Que dia é hoje? Estou confusa. Pego imediatamente meu celular.
"Domingo, dia 25 de abril
09:00 AM"
— 09:00h — digo, deitando-me novamente na cama. Fecho os olhos e continuo: — domingo; fim de semana — faço uma breve pausa. — Não tenho aula. — permaneço na cama. Estou cansada; continuo com sono; quero voltar a dormir, mesmo sabendo que não posso.
Depois de ter tomado banho e me arrumado, vou até à cozinha, tomar meu café da manhã. Detalhe: moro sozinha, não tenho pais.
Estou à mesa. Vejo meu adorável amigo de quatro patas a me olhar.
— Está com fome, Rick?
Ele apenas olha para mim e solta um miado. Faço de conta que disse “sim” e lhe dou um pedaço do meu pão. Alguns segundos depois, meu celular, que estava sobre a mesa, começa a vibrar.
— Ligação? De quem? — me pergunto. — Pego o celular, olhando para a tela inicial de chamada, penso: quem mais me ligaria, se não ela? De imediato, atendo.
— Bom dia, tia — digo assim que ela termina de falar “Bom dia, minha florzinha!”
Depois de me encher de perguntas, diz para eu ir à sua casa, assim que possível.
— Entendi… não vou demorar. Logo estarei aí.
“Chamada encerrada”
— Por que ela tem que se preocupar tanto comigo? — sempre me pergunto. Talvez ela sinta pena de mim, por ter perdido meus pais? “Perdido”, como se fossem objetos que não estão à vista. Estão escondidos, preciso encontrá-los. O fato é: NÃO TENHO PAIS. NÃO ESTÃO PERDIDOS, ESTÃO MORTOS. Não voltarão mais, nunca mais.
Recomponho-me.
— Tenho que termina logo de tomar o café. Preciso limpar a casa.
Poucas horas depois, já estou pronta, terminei meus afazeres. Em frente a porta, me despeço do meu adorável amigo.
— Fica aqui, Rick. Não vou demorar.
Ele fixa seus belos olhos negros nos meus, como se dissesse: “Tenha cuidado. Estarei a sua espera.”, com este pensamento em mente, me conforto. Tenho alguém que ficará esperando pelo meu retorno.
Ao sair pela calçada, inclino minha cabeça, olhando para o céu.
— Que lindo dia! — sinto-me tranquila, debaixo dessa imensidão azulada. Começo a caminhar, tenho um destino.
Passo por uma rua com o fluxo de pessoas baixo, não vejo quase ninguém. Começo a me aproximar de um beco, onde até um surdo escutaria os gritos de fúria de alguém cuja voz me é familiar. Olho para o beco, não me surpreendo, tinha certeza de quem era aquela voz grotesca. Eric!
— Aquele idiota, está arrumando briga de novo! — solto, de modo que apenas eu escute. A passos largos, saio do local. Não quero problemas com ele. Apesar de não querer arrumar briga, sei que ele mesmo fará isso, ele sempre arruma uma maneira de brigar comigo. Não tenho medo dele. Tento evitá-lo, mas quando ele começa a praguejar, não consigo ficar quieta. Infelizmente, estudamos juntos e tenho que aguentá-lo todos os dias. Deveria ganhar o Oscar de “pessoa que mais suporta o Eric”. Não entendo por que ele é assim. Sempre arruma briga, deve gostar de brigar. Deve se sentir o “rei da selva”. Talvez ele seja fraco, briga com os outros para tentar provar o contrário. Quer mostrar que tem força. Odeio ter que aceitar a realidade e admitir, ele é forte.
— Por que será que desta vez ele estava brigando? — este pensamento ecoa em mim. Minha curiosidade aumenta e tento contê-la. — Não sei. Isso não me importa. Não quero saber por que ele estava brigando!
Apresso-me mais. Logo consigo ver a casa da minha tia. Falta pouco para chegar à casa dela — penso. Poucos minutos depois, já estou em frente de sua casa. Um “ding-dong” e ela logo abrirá a porta. Toco a campainha. Como imaginei, depois de soar o “ding-dong”, a porta se abre. Uma mulher de trinta e dois anos, com uma orquídea tatuada no ombro esquerdo, que na maioria das vezes está exposto, como hoje, me recebe, com um enorme sorriso estampado no rosto.
— Minha florzinha querida! — ela exclama, alegre. Como se fosse uma criança, admirando um exuberante arco-íris no céu, ela olha para mim. — Entra, florzinha!
“Florzinha”, ela me chamar assim sempre. Sendo sincera, eu não gosto desse apelido, mas não posso fazer nada, desde que a conheci, ela me chama assim. Não me importo.
— Chegou na hora certa. Acabei de terminar o almoço. Você está com fome?
— Estou — respondo.
— Que ótimo! — ela exclama. — Sente-se aqui. Vou preparar um prato agora mesmo para você!
Pouco tempo depois, ela me entrega um prato absurdamente cheio de comida.
— Isso é muito, tia!
— Não, não, não! Você tem que comer tudinho, hein! Ainda está na fase de crescimento, deve se alimentar direitinho!
Com um prato desses, talvez ela queira me deixar obesa. E “fase de crescimento”? Eu tenho quase 17 anos. Não acho que posso crescer ainda mais.
— A senhora irá viajar, não é mesmo? — pergunto, mesmo já sabendo a resposta.
— Vou, sim. Por esta razão, quero que você passe o resto do dia comigo. Quero passar um pouco mais de tempo com a minha florzinha!
Passamos bastante tempo juntas. Quando não estou trabalhando ou na escola, meu tempo é praticamente todo dela, apesar disso, ela sempre quer minha companhia.
Algumas horas se passam. O sol já havia se posto. A noite já estava tomando conta de toda a cidade, com sua escuridão profunda, que não é tão profunda por causa do brilho prateado da lua que nos ilumina. Estou de partida. Minha tia me abraça.
— Tenha uma boa viagem amanhã — digo.
— Se cuida bem, minha florzinha! — ela diz, de forma doce e com certa preocupação.
— Vou ficar bem! — tento convencê-la a não se preocupar. Ela me abraça forte, como se fosse nosso último abraço, como se não quisesse me soltar. Mas me solta e com um sorriso doce e triste na face, me diz:
— Tchau, florzinha!
Despeço-me e saio pela porta, a caminho de casa, da minha casa. Olho para o céu, vejo nuvens escuras sobre mim, estão por toda a parte. Provavelmente, logo irá chover — concluo em pensamento.
Momentos depois, chego em casa; abro a porta.
— Finalmente... em casa! — suspiro, tranquila. Olho em volta, como se estivesse procurando algo perdido.
— Rick? Onde você está? — pergunto, o procurando. Ele deve estar em algum lugar. Quando estiver com fome sei que vai aparecer.
Pela janela, olho para fora. Está chovendo. Começo a me sentir sonolenta. Quero dormir, preciso dormir. Vou para meu quarto. Algumas horas depois, quando desperto, vejo Rick deitado ao meu lado.
— Rick — o acariciou e ele ronrona.
— Você deve estar com fome, não é? - levanto-me, vou até à cozinha, Rick me acompanha e se mostra animado quando encho sua tigela com comida para gato. O observo comer.
— Estou com fome também. Vou preparar algo. Após fazer minha refeição, pego meu celular e converso com meu melhor amigo, que mesmo distante, passa a sensação de que está ao meu lado. Quando termino de conversar com ele, deito-me do sofá e ligo a TV, mas não fico muito tempo assistindo, pois no dia seguinte terei aula. Preciso acordar cedo. Possuo uma rotina e não posso quebrá-la.
No dia seguinte, hoje, no caso, como sempre, acordei cedo. Tenho que ir à escola. Começo a me arrumar, faço meu café da manhã e alguns minutos depois, me despeço do meu adorável amigo e começo a caminhar para a escola, que fica a alguns metros. Faço isso sempre. Minha rotina, ou até mesmo minha própria vida, poderia ser resumida com uma única palavra: “monótono”. Como se estivesse presa no tempo, vivendo todos os dias, o mesmo dia.
— Espero que o Eric não queira discutir hoje. - suspiro. Apesar de não gostar das brigas, elas fazem meu relógio do tempo se mover.
Continuo a caminho da escola, em menos de dez minutos, já estou na sala. Não tem ninguém, a não ser aquele idiota que, todos os dias, arruma briga comigo. Chegou cedo — digo, em pensamento. Não nos damos bem. Ele é como uma espinha, indesejável e estressante. Meus olhos se atraem por algo e acabo fixando meus olhos nele. Machucados. Hematomas. A causa? Obviamente, a briga de ontem. Como um ato inconsciente, acabo o encarando.
— O que foi? Está me achando tão atraente assim? — a fala sai com tom de ironia e convencimento. Isso me irrita.
— Claro que não! — exclamo, sem exaltar minha voz.
— Então por que está me encarando? — fala alto, querendo impor respeito.
Começou.
— Não estou te encarando, Eric! — bufo.
— Certo. Para de olhar para mim, então! — pelo tom de voz, já sei que está irritado. Dou de ombros e sento no meu lugar. O dia mal começou e esse idiota já está caçando briga.
Outras pessoas entram na sala, a maioria, rapazes, amigos de Eric.
— Eric, o que aconteceu contigo, cara? — um rapaz chamado André, pergunta, tentando conter uma gargalhada.
— Nada, idiota! — Eric exclama. — Não aconteceu nada! — percebo que não há irritação em sua voz. Se fosse comigo, ele já estava rugindo, feito um leão.
— Se você está dizendo. — André diz. Sei que ele não tem interesse em saber o motivo dos hematomas de Eric.
Segundos depois, uma garota aparece em minha frente, a conheço, estudamos juntas, afinal.
— Bom dia, Maiy! — sorri e olha para mim, esperando minha resposta.
— Bom dia — respondo, sem nenhuma animação na voz.
— Que frio, né? — ela diz, querendo manter um bom diálogo entre nós.
— É — respondo.
Meus olhos a acompanha, enquanto ela procura um lugar para se sentar. Ouço risadas, vindo do fundo da sala, fico curiosa e olho para trás.
— O que foi isso, Eric? — André pergunta, rindo.
— Do que cê tá falando? — Eric diz, aparentemente intrigado.
— Você aí, ficou olhando tão obcecado pra Maiy!
— O quê? — sua voz sai exaltada. — Claro que não, seu idiota! Não fiquei olhando pra ela! — afirma.
— Aham! — André gargalha. — Fala sério, cara, você estava, sim, olhando pra ela! — afirma, como se fosse a coisa mais óbvia.
Começo a encarar Eric e ele me lança um olhar mortal.
— O que foi? — fala, sem ao menos tentar esconder sua raiva. — Por que está me olhando?
"Por que está me olhando?”, você que estava me olhando, não é? E agora, é eu que tenho que dar satisfações? Fala sério!
— Idiota! — exclamo.
— Idiota é você, garota! — retruca, de forma arrogante.
Felizmente, não tem como continuarmos nossa “discussão matinal”. O professor entra na sala. Finalmente.
As horas passam rápido, logo, a sétima aula chega ao fim. Já podemos sair, ir para casa. Começo a guardar minhas coisas na mochila. Mesmo não querendo, escuto os planos dos rapazes, depois que saírem da escola.
— Bora pra quadra hoje? — André pergunta.
— Tá! Pode ir indo na frente — Eric responde, como se a pergunta tivesse sido apenas para ele. Se ele se concentrar mais nos esportes, talvez me esqueça. Me ignore. Me torne invisível.
Saio da sala. Quinze minutos depois, já estou em casa.
— Rick, cheguei! — coloco minha mochila no sofá e olho em volta, o procurando. — Cadê você?
Não tenho tempo para o procurar, preciso fazer meu almoço e depois, ir para o trabalho. Assim que termino de cozinhar, vejo que meu adorável amigo retornou.
— Estava esperando eu terminar de cozinhar, não é? — me inclino para baixo, o acariciando.
Acordei, mais uma vez. Estou deitada na cama, ainda sonolenta. Quero dormir, mas...
— Amanheceu... - balbucio.
Mais um dia ou menos um dia? Não tem muita diferença, todos os dias são iguais...
— O que estou fazendo da minha vida, hein? — sempre me pergunto. Não sei o que realmente quero. Vivo ou sobrevivo todos os dias? A resposta é simples. Sobrevivo. Preciso de um motivo para viver? Para continuar em frente? Sim, preciso. Estou presa no tempo. Há anos, não me sinto viva.
Dou longos suspiros de desânimo. Sinto-me deprimida. Sem alegria. Sem vida. Estou sozinha. Olho para a janela, não sinto nenhum raio invadir o quarto. Está frio. Sinto algo estranho, algo desconfortante. O que poderia ser?
Levo minha mão esquerda até meu peito, há algo estranho comigo, sinto isso. — Esse... pressentimento de novo — fecho os olhos, respiro calmamente. — Não deve ser nada - tento me convencer. Porém, o melhor é encarar a verdade. — O dia será desagradável!
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Suellen Rocha
Estou começando agora espero gostar
2022-06-12
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