Quando eu despertei, já era dia, mas eu estava deitada no chão num lugar repugnante, lembrei dos meus irmãos, mas não sabia onde eles poderiam estar. Ali naquele chão frio eu já não me preocupava mais com nada de ruim que acontecesse comigo e Moacir soube ser mais cruel que a morte.
- Por favor, não continue, eu não vou suportar. Mariana estava em prantos, soluçava alto e João aproximou-se dela abraçando-a.
- Calma Mariana, nós vamos cuidar da Cássia e eu prometo encontrar seus irmãos. Mas ela precisava continuar contando.
- Quando eu despertei, olhei devagar ao redor, era tipo um sótão, com uma única janela e bem pequena, eu sentei ali no chão mesmo, não tinha nenhum móvel naquele ambiente, só sujeira, de repente a porta se abriu e ele trazia um copo com água, eu olhei para ele cheia de ódio e gritei: “Porque não me mata logo, seu assassino?”, mas ele me olhou de um jeito sombrio.
“- Você é muito gostosa para eu desperdiçar uma bala com você.” Naquela hora ele colou fita adesiva nos meus braços e na minha boca, depois um capuz na minha cabeça e me arrastou pelo braço até um carro, pelo barulho parecia uma pampa velha e percorremos por umas duas horas, depois paramos, eu estava morrendo de fome, mas não queria nada das mãos daquele homem. E assim quando entramos na casa ele tirou o capuz da minha cabeça e disse: “- Se você tentar fugir, coloco uma bala na sua cabeça.” Aquilo era o que eu queria, então assim que ele saiu eu tentei fugir, mas eu não conseguia nem me mexer, pois ele me amarrou numa coluna da casa, minhas mão também estavam presas, então fiquei ali por horas sozinha, já era noite quando ele voltou, estava bêbado e fedia como um gambá, eu fiquei apavorada quando ele se aproximou de mim alisando minha pele, mas o verdadeiro pavor ainda estava por vim, ele rasgou minha roupas enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto, eu não podia gritar pois o adesivo ainda estava na minha boca, ele me estuprou diversas vezes aquela noite até eu não senti mais dores. Foram muitos dias que eu perdi totalmente as contas, até minha barriga começar a crescer e eu senti enjoos e vomitava todas as vezes que ele chegava perto de mim, agora estou aqui.
Já haviam passado duas semanas e Moacir não havia aparecido, Cássia havia contado tudo que ele tinha feito com ela e com sua família com detalhes e João passou a odiá-lo. Mas, naquela madrugada Cássia acordou gemendo alto e segurava a barriga com as mãos, a hora estava chegando e Mariana se apressou, João lhe trouxe panos limpos e água quente. Deitada numa cama pequena aquela pobre adolescente de 16 anos suava constantemente, a dor que sentia era infernal e avassaladora, suas forças estavam se acabando, mas se renovava toda vez que Mariana gritava:
- Vamos lá, força, mais força. Ela respirava fundo arrancando de dentro de si toda a força que tinha e uma bela garotinha saiu. Mariana sorriu, mas preocupou-se quando sentiu o cordão umbilical preso. João pegou a menina e levou até a bacia para lavá-la, mas Cássia pedia para tocá-la, ele colocou a menina nos braços da mãe quando sua esposa gritou pedindo ajuda.
- Há outro bebê, eu preciso de ajuda João. Empurre a barriga com força. Cássia sussurrou.
- Não posso continuar, não tenho mas forças.
- Precisa ser forte, vamos lá. Quando Mariana alcançou a cabeça do bebê puxou seu corpinho para fora, mas a criança nem se mexeu, ela recostou a mão suavemente em seu peito, não sentiu seus batimentos, nem sua respiração, deu duas palmadas no bumbum, mas a criança permaneceu imóvel.
- Mariana meu bebê está morto? Ela colocou a criança em volta de um pano branco e disse:
- São duas belas crianças, um menino e uma menina, mas o menino não sobreviveu.
- Eu quero vê-lo. Ao se aproximar com o bebê nos braços, ela tocou-lhe o rosto suavemente com os dedos, as lágrimas desciam pelo seu rosto uma após outra. Os olhos de Mariana também lacrimejaram, mas ela tentou sorri e disse:
- A menina é linda.
- Pena parecer com o pai. Aquela garota olhou para Mariana e lhe fez um pedido estranho. - Eu sei que não passarei de hoje, cuida da minha menina.
- Não fale isso Cássia, eu não levo jeito com crianças, você precisa estar aqui para cuidar dela.
- Por favor, cuide dela para mim e lhe dê o nome de Ruama, era o nome da minha mãe. Mariana ficou em pé olhando Cássia dá seu último suspiro, seu corpo paralisou por alguns segundos, lembrou da sua mãe, seu passado era triste. Lembrou da mãe suspirando após o nascimento do seu irmão que nasceu morto levando com ele sua única família, as lágrimas correram pelo seu rosto pálido, João a abraçou e chorou também. Antes que o dia amanhecesse, Moacir chegou na pousada, entrou no salão falando:
- Eu quero um café, estou faminto. Poucos segundos depois João saiu cabisbaixo, mas em seus olhos as chamas do ódio se acendiam.
- Não vamos atender ninguém hoje, principalmente você.
- Oh João meu amigo, eu trouxe-lhe uma coisa. Ele sorriu com sarcasmo. - Charutos, eu sei que gosta. João mudou completamente o semblante e fechando os punhos deu um soco no nariz de Moacir fazendo-o cair do banco, ele levantou rapidamente e empurrou João. - Mas o que está acontecendo? Neste instante Mariana apareceu, seu semblante era triste.
- João, não temos tempo para discutir com esse homem, venha comigo. Ele deixou aquele homem no meio do salão e seguiu sua esposa, Moacir não se conteve e os acompanhou, mas reclamou assim que viu a cena.
- Que porra está acontecendo aqui? O que vocês fizeram com ela?
- Você fez isso com ela, seu monstro, você fez isso com ela. A voz de Mariana era rouca, ela estava em prantos. Cássia estava deitada numa tábua em volto de um lençol branco e o bebê ao seu lado. Moacir estava sem palavras, aproximou-se devagar do corpo gelado e descobriu seu rosto, depois descobriu o bebê e disse baixinho:
- Meu filho era um menino e nasceu morto. Ele saiu furioso, atravessou todo o salão em passos largos, passou por uma trilha estreita e entrou no seu barraco.
Numa noite ainda muito fria, Mariana alimentava seus hospedes com sopas quentes e apimentadas, quando um homem branco e corpulento entrou elegantemente no salão, tinha cabelos loiros e olhos esmeralda, observava com muita atenção tudo ao seu redor. A dona daquele recinto olhou-o atentamente e pediu a jovem que lhe ajudava que o acompanhasse até o balcão, e assim ela fez.
- Seja bem-vindo senhor, sopa?
- Oh, sim, mas antes gostaria de um conhaque e um quarto, preciso descansar.
- Aqui está o conhaque e vou providenciar o quarto. O homem balançou a cabeça como se dissesse sim, tomou o conhaque num só gole e a seguiu.
- A quanto tempo mora aqui dona?
- Porque a pergunta?
- Porque já passei por essa região a alguns anos e não tinha casas por aqui.
- Menos de vinte anos. Mariana parou diante da porta, abriu-a, entregou a chave para ele e perguntou:
- O que realmente faz por aqui? Ele ficou parado olhando suavemente para ela, depois sorriu e disse:
- Não precisa ter medo, eu sei que você e seu marido cuidam da Cássia, eu vim buscá-la.
- Chegou tarde demais senhor. Os olhos de Mariana umedeceram. A Cássia se foi a alguns meses, os bebês também foram com ela. Porque demoraram tanto? O homem passou as mãos em seus cabelos loiros, ficou algum tempo em silêncio, depois olhando diretamente em seus olhos disse:
- Vá embora dessa região, Mariana.
- Eu não disse meu nome, quem é você?
- Já disse que não precisa ter medo, sei que a Cássia morreu e que o menino foi com ela, mas a menina continua viva. Essa região deve continuar como sempre foi, sem habitantes.
- Você sabe demais para um viajante.
- Eu não disse que era viajante, sou só um amigo. No dia seguinte quando aquele homem se foi, Mariana chamou João e disse.
- Vamos embora daqui, pegamos nossa menina e partimos.
- Que conversa é essa mulher? Você nunca quis sair daqui.
- Eu acho que a família de Cassia era muito poderosa e querem se vingar do Moacir e todos nós podemos ir junto.
- Deixe de bobagens, só um irmão de Cassia ficou vivo e ele foi para outro país com medo, nem quis saber da irmã.
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Atualizado até capítulo 87
Comments
Day
👀👀👀👀👀👀👀
2023-02-20
1
Anonymous
viciante.
2023-01-23
1
Amanda
🤔🤔🤔🤔
2023-01-19
1