Já eram sete e meia da noite e Camila ainda não havia chegado, Lucas já tomou banho, conectei ele ao soro de novo, de baixo de seus protesto. Já tinha dado uma organizada aqui no quarto, levando as bandejas de remédios pra enfermaria, arrumei a cama do pequeno. Aproveitei e conheci melhor ele, soube da sua cor favorita, o que ele mais gosta de comer, só “porcaria” por sinal. Ele contou de um primo dele, chamado Davi com bastante entusiasmo que fiquei com vontade de conhecer esse menino.
Agora eu estava sentado na cama e ele tinha a cabecinha sobre minhas pernas, e eu fazia um cafuné nele.
- E você tio?
- O que tem eu Lucas?
- Eu só falei de mim, e eu não sei nada de você. Conta um pouco sobre você.
- Hum... Ok... Eu Tenho 29 anos
- É legal ter tudo isso de idade tio?
- Mais ou menos tem os prós e contras – digo rindo, esse foi o jeito dele me chamar de velho.
- Então conta tio, tô ansioso pra saber de você
- Então não me interrompa – beijo seus cabelos – Minha cor favorita é verde, da cor dos seus olhinhos. Gosto de legume e verduras – falo e arranco um eca dele – mas também gosto de pizza de vez em quando.
- Você tem irmãos? Ou primos?
- Não tenho irmãos, e tenho primos gêmeos que não nos falamos muito.
- Também não tenho irmãos, queria ter um irmãozinho, mas mamãe não quer me dar.
- Que chato isso né?
- Muito chato, tio como são feitos os bebês? Minha mãe explicou que eu vim da barriguinha dela, só que ela não me explicou como fui parar lá. Me explica?
- Bom, quando sua mamãe conheceu seu papai, o seu papai depositou uma sementinha na barriguinha da mamãe, aí você ficou lá por 9 meses até nascer - espero ter explicado de um jeito simples sem ter sido explícito.
- Hummm – Ele põe a mão no queixo como se pensasse sobre isso – e como a sementinha foi parar na barriga da mamãe? – esperto esse menino, sabia que não ia ficar por isso mesmo – Acho que é pela boca, igual comida, ou seria pelo umbigo? É mais próximo da barriga – Enquanto ele divaga sobre como as sementes vão parar na barriga, eu que não vou me intrometer no raciocínio do menino, a porta abre e a copeira entra trazendo a janta do meu garoto.
- Boa noite, Doutor Pedro você aqui ainda?
- Pois é – dou riso sem graça
- Vim só deixar a dieta do Lucas, bom descanso doutor – ela coloca a marmita em cima da mesa
- Obrigado Laura – agradeço, ela me dá um sorriso e sai pela porta.
- Chegou a melhor hora – Ele se ajeita na cama, e eu trago a mesinha móvel pra perto dele, quando abro a marmita Lucas já faz uma careta. Deu até fome, Arroz, feijão, frango desfiado com cenoura e chuchu e purê de beterraba, vem junto um suco e uma maçã – consegue comer sozinho ou precisa de ajuda? – pergunto
- Eu até consigo comer sozinho, mas eu tô no soro né – ele me acusa como se o culpado fosse eu
- Só tô te ajudando, um dia você vai me agradecer ainda – Pego os talheres de plásticos.
- Tio, tem coisa verde ai
- É chuchu já comeu? – ele nega e eu rio – Então você experimenta e se não gostar, não te dou mais, Combinado? – ele concorda e dou a primeira garfada pra ele, pegando chuchu no caminho, ele olha estranho pro garfo mais come. Ele umastiga, bem concentrado na tarefa de mastigar.
- Eu gostei tio, pode me dá mais – ele fala depois de engolir a comida.
E assim foi, ele gostou do chuchu, da cenoura, só não gostou do purê de beterraba, mas tá comendo bem, quando estávamos na última garfada a mãe dele chega e toma um susto comigo aqui.
- Oi, não sabia que estava aqui, cadê o Antônio? – Ela pergunta e faço cara de desgosto, só de ouvir esse nome meu estômago embrulha.
- Não sei mamãe, fui na brinquedoteca, e ele não estava mais aqui quando voltei.
- Lucas não pode falar com a boca cheia, é feio – ele acena e termina de mastigar
- Desculpa tio.
- Mas, se eu soubesse que você estaria aqui, eu teria dado um jeito de vim mais rápido, ele não ligou pra mim, será que aconteceu alguma coisa? – ela pega o telefone e liga pra alguém, acredito que para o embuste.
- Você conseguiu fazer ele comer?– ela pergunta chocada, olhando para o prato.
- Sim, mamãe comi chuchu e cenoura também, é bem gostoso, quando formos pra casa você faz pra mim?
- Claro meu amor – ela parece ainda muito surpresa pela comida, ela coloca a bolsa em cima da poltrona e tem uma mala pequena junto, creio eu com roupas dela e do pequeno.
- Obrigada Dr Pedro por ficar com meu filho. Foi difícil colocar esse cascão embaixo do chuveiro? – diz beijando a cabecinha do filho.
- Que nada, ele tentou se esquivar mas não deu em nada – digo me levantando pra ir embora.
- Bom descanso Dr Pedro e mais uma vez obrigada – ela assume minha posição na cama se aconchegando ao pequeno.
- Tio você já vai embora?
- Já sim campeão, mas amanhã o tio volta pra te ver – ele me olha com o olhar triste e perdido.
- Pode dormir aqui? – ele pede em expectativa.
- Lucas, o Doutor deve ter coisas para fazer, deve ter uma família esperando por ele. – Camila repreende o pequeno.
-AH! – ele abaixa a cabecinha
- O tio não pode dormir aqui, mas não por esse motivo. Mas porque o tio não tem roupa aqui, e o tio precisa tomar banho. Mas eu fico mais um pouquinho com você e depois tenho que ir embora você entende? – ele levanta a cabeça rápido demais e bate na parede – Cuidado Lucas! – reclamo, ele esfrega o local onde bateu.
- Verdade tio? Viu mamãe o tio vai ficar mais um pouquinho – o menino tá radiante.
Ligo a televisão e passa um desenho de um tal menino gato e largatixo, eu não faço ideia do que seja. Mas o Lucas parece gostar. Então sento na cama mesmo, todos nós encostados na parede de frente para a TV, Lucas no meio. O garoto deita na perna da mãe, não sei em que momento ficamos assim. Mas minha mão cobre a de Camila em cima da cabeça do pequeno. E olhando pra essa cena eu percebo que quero ter uma família, quero ter Lucas pra sempre na minha vida. Estou feliz como a muito tempo não estive. O desenho acaba e percebemos que Lucas dormiu então Camila arruma ele na cama e eu ajudo com os fios.
Camila me acompanha até a entrada da pediatria.
- Camila eu...
- Não espera, deixa eu falar se não eu perco a coragem, Dr. Pedro sou muito grata pelo que fez pelo meu menino, fazer ele comer, inclusive os legumes, pelo carinho e dedicação. Mas eu gostaria que o senhor mantivesse contato somente como médico dele. Eu vi Doutor os olhinhos do meu menino brilharem, como a muito tempo não via. Não depois que o pai dele morreu, ele tinha apenas dois anos, mas os olhos deles brilhavam pra ele como brilham para o senhor. Entenda não é ser mal agradecida, longe de mim. Mas é protegendo meu menino.
- Mas porque você gostaria de proteger ele de mim?
- Porque eu e Lucas não somos da sua classe social, do seu círculo de vida. Somos pobres e eu sou uma batalhadora pra conseguir dar pelo menos o pouco para o meu filho. E sei que uma hora você encontrará uma mulher e terá filhos com ela e como meu menino fica com isso? A gente já passou por muitas coisas e sobrevivemos, vamos sobreviver a você, melhor já cortar o mal pela raiz.
- Sabe Camila você está me julgando sem me conhecer, jamais magoaria o Lucas, não propositalmente. Você não conhece minha vida o tanto que sofri, mas o Lucas em um dia me devolveu a felicidade.
- Me desculpa Pedro, mas não posso arriscar.
- Tudo bem Camila, vou respeitar sua decisão. Afinal você é a mãe e sabe o melhor para o Lucas – ela sacode a cabeça em um sim – Mais uma coisa mantenha aquele imprestável longe do Lucas, Porque se ele fizer meu menino chorar de novo, ou encostar a mão em um fio de cabelo sequer do Lucas, o nariz quebrado que ele ganhou, vai ser o menor dos problemas dele. Passar bem Camila – Ela me olha com os olhos arregalados, e eu me viro saindo de perto dela.
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Aparecida Fabrin
também pensei a mesma coisa, foi dura com o médico que está ajudando o pobre garotinho, mas deixa o crapula do amante bater no Filho e não faz nada
2025-02-23
0
Hacher Nanley
Pq ela não defende o filho do monstro que tem em casa...
2024-09-08
3
Hacher Nanley
"Só porcaria" /Joyful//Joyful//Joyful/ coisa de criança Dr.
2024-09-08
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