capítulo 4

Doze horas de plantão concluído com sucesso, guardo tudo na maleta, passo na enfermaria para despedir do Carlos que está aqui na pediatria, visitando o bebê e a mãe que ele ajudou a fazer o parto, porém nasceu com má formação na uretra e precisará de uma cirurgia. Carlos sempre foi assim na verdade eu e André também somos assim, dedicados com nossos pacientes. Encontro ele sentado na cadeira, cantando a enfermeira Paty que só ri das investidas do meu amigo.

- Cara, já falei que Paty é muito areia pra esse seu caminhãozinho – brinco dando um tapa em sua cabeça. Ele gira a cadeira ficando de frente para mim.

- Cara, a esperança é a última que morre, essa belezinha ainda vai estar sobre minha cama – ele diz depois da Paty ter saído. Carlos é como eu não cria laços e não tem relacionamento sérios, porém motivos diferentes.

- Você um dia vai encontrar alguém que te pegará pelas bolas – Ele bate na madeira da mesa rindo.

- Joga essa praga pra mim não Pedro, tô feliz assim. Sabe que não sirvo pra viver preso. Bom, já tá indo?

- Já sim, só vim me despedir de você – falo dando um tapinha nas costas dele.

- Eu vou só lá me despedir da princesinha e já tô indo também. Bom descanso pra tu – ele dá um toque de mãos comigo e vai embora pegando sua mochila da mesa.

Estou indo embora quando vejo Paty arrumar a bandeja com as medicações de um menino chamado Lucas.

- Paty essas medicações são pro quarto 25b – pergunto

- Sim, pra esse mesmo.

- Deixa que eu mesmo faço isso, eu mesmo dou as medicações pra ele. Obrigado Paty– Não sei porque mas sinto vontade de fazer isso, dificilmente eu administro medicação de um paciente internado, geralmente são as enfermeiras. Mas eu sei o que é, saudades do garotinho do sorriso encantador.

 Termino de preparar os remédios e pego a bandeja indo ao quarto do meu garotinho. Quando estou na porta do quarto, ouço vozes discutindo baixinho mas não sei o teor da discussão. Bato na porta e entro, encontro meu garoto na cama chorando baixinho, meu peito fica pequeno por ver aquela cena. Olho para o lado e vejo um homem negro com uma barriga saliente e um bigode no rosto.

- Ei campeão você tá sentindo alguma coisa? – coloco a bandeja em cima da mesinha que tem no quarto, e vou verificar seu soro e sua mão pra ver se o acesso perdeu.

- Não douto – ele sussurra que quase não escuto, estranho pois ele não me chama de Dr.

- Tem certeza? – ele sacode a cabeça em um sim.

- Saiba que não acredito em você –  cochicho em seu ouvido. Ele me olha com seus olhinhos banhados em lágrimas e não diz nada. Bufo contrariado porque meu menino está tão estranho?

Começo a preparar as coisas pra aplicar os medicamentos, quando o homem se levanta e vem até a mim.

- Boa noite! Você deve ser o médico que está cuidando dele. Sou Antônio o pai do Lucas – Lucas estremece na minha frente mas é imperceptível olhando de longe eu só sinto pois estou segurando seu braço.

- Sim sou o pediatra responsável pelo Lucas, bom te ver – Aperto firme sua mão, olhando dentro dos seus olhos, pra gravar na memória sua fisionomia. Jamais vou esquecer os hematomas no corpo do menino.

Troco a bolsa de soro dessa vez com o medicamento. E estendo um copinho com gotas de outro remédio pra ele. Pego um copo com água pra ele tomar depois.

- Toma tudo tá bom – digo pra ele que cheira o medicamento, balança o copinho mais não toma.

- É ruim? – ele pergunta fazendo uma careta.

- Um pouquinho, mas o tio jamais daria alguma coisa que não fosse necessário – ele concorda com a cabeça.

- Toma logo essa merda, larga mão de ser frouxo, quer que eu dê pra você? – o homem diz em um tom severo que me dá asco, Lucas toma as gotas todas de uma vez, vomitando logo em seguida, só deu tempo de dar um pulo pra trás. Nunca é bom forçar a criança tomar remédio, ela associa isso a algo ruim. E Lucas tomou sobre pressão do Antônio e deu no que deu. Aperto um botão pra chamar a enfermeira, minutos depois ela entra.

- Dayse pede pra limparem aqui por favor?

- Claro Dr. Pedro.

- Seu moleque olha o que você fez, se a gente tivesse em casa a gente teria uma conversa de homem – cara eu tô quase calando a boca dele com um soco no meio da cara.

- Desculpa douto – ele pede com a cabeça abaixada, muito triste. E eu quero quebrar a cara de quem deixou meu menino alegre, sem o sorriso dele.

- Não tem problema OK? – levanto sua cabeça pra olhar em meus olhos e sento em seu lado de frente para ele.

- Mas é importante você tomar esse medicamento, pra você ficar bem. Então temos 2 opções, a gotinha e o que vai direto na sua veia, porém ela arde um pouquinho. Qual você vai querer? – exponho meus pensamentos, não queria dar via endovenosa, pois esse medicamento arde e quis manter ele longe disso, dado como ele reagiu na hora do acesso.

- Pode ser o último, assim eu não faço ninguém mais ficar bravo comigo.

- Ei o tio não tá bravo com você tá bom. O tio vai arrumar seu remédio, quer passear comigo? – Ele balança a cabeça contente em um sim, depois olha para o projeto de homem.

- Senhor Antônio, eu vou levar o Lucas pra sair um pouco do quarto, tudo bem?

- Leva logo esse garoto, por mim você pode desaparecer com ele – respira Pedro respira, repito esse mantra Três vezes, você não pode assustar o menino.

Paro o soro da mão de Lucas, desconectando e tampando pra não pegar nenhuma bactéria. Pego o chinelo de dedos do garoto e dou a ele. Desço ele da cama pra ele não pisar no vômito. Ele segura em minha mão e andamos de mãos dadas pra fora do quarto. Já fora do quarto me abaixo ficando da sua altura

- Lucas tá vendo aquele cara grandão lá, que tal ficar um pouquinho com ele? Enquanto o tio conversa com o Antônio é rapidinho

- Não, por favor – ele segura firme meu braço, com medo.

- Tá tudo bem, o tio é grande e sabe se proteger. Agora faz o que o tio te falou hum?  - ele olha pra mim, por alguns segundos, depois corre pro lado do segurança, eu faço um sinal pra ele, que entende e leva o menino acredito eu pra brinquedoteca.

- Quero saber qual o teu problema com o garoto? Ele é uma criança, ele não é seu filho? Como você faz isso com ele? – Entro no quarto já elevando minha voz. O cara que estava com os olhos fechados abre e me olha com pouco caso, se levanta e fica na minha frente

- Eu pai daquela coisa, Deus me livre. Eu tô com a gostosa da mãe dele, ô delicinha, apertada e quente.  É um trabalho fingir pra mãe dele que gosto daquela peste. Mas vale a pena – Quando dei por mim eu já desferi um soco na cara dele quebrando seu nariz e fazendo sangrar.

- Bater em criança é fácil. Quero ver bater em homem – ele vai me socar desvio e dou um chute na lateral do seu corpo fazendo ele se ajoelhar no chão.

- Lucas até ontem não tinha quem lutasse ou brigasse por ele. Mas agora ele tem. Se eu sonhar que você encostou um dedo se quer nele, eu quebro seus dentes, o nariz foi pouco. E nem pense em me denunciar por agressão, que eu te coloco na cadeia por maus tratos, é cara eu tenho provas e você só tem sua palavra contra a minha. Então olhe lá o que você vai fazer – me viro saindo do quarto.

Vou atrás do Lucas e o encontro brincando no mini escorregador com outra criança, ambos estão alegres e sorrindo. Me encosto no batente da porta e agradeço ao segurança que vai para seu lugar.

- Ei campeão o que acha de tomarmos o remédio agora? – está tão distraído brincando que nem me ouviu.

- Não sabia que você era pai doutor – uma senhora que estava lá falou porém quando vou responder, ela sai da sala.

- Campeão – dessa vez chamo um pouco mais alto – Vamos tem que tomar o medicamento agora -. Falo assim que ele olha pra mim

- Ah, mais um pouquinho – ele tenta me driblar com aqueles lindos olhos pidões, quase cedo, quase.

- Tá na hora Lucas, amanhã você volta – ele vem com um bico fofo e uma carinha brava.

- Que saco isso – ele resmunga e cruza os braços me olhando emburrado.

- Amanhã antes do almoço eu venho aqui e libero você para brincar, o que acha? – falo andando, porém ele continua parado no mesmo lugar.

- Lucas vem – falo mais firme, mas ele não se move, respiro umas quatro vezes – Tudo bem, quando você estiver pronto para ir você me avisa – paro encostado na parede e olho meu relógio, ótimo já se passaram 30 minutos da medicação dele. Cinco minutos se passam e ele vem até a mim e segura minha mão.

- Desculpa, mas eu queria brincar. Odeio ter que tomar remédios a cada 5 minutos

- Eu entendo você, tudo bem não gostar de algo. Mas quando é preciso infelizmente temos que fazer mesmo que isso seja chato.

Consigo preparar a medicação dele, com ele sentado na enfermaria sendo paparicado por enfermeiros e médicos e pela primeira vez em anos. Não tenho pressa de ir pra casa. Hoje tá sendo um dia bem atípico.

- Vamos Lucas – ele vem andando do meu lado conversando do novo amiguinho dele que fez na brinquedoteca, o menino não é meu paciente e sim do Flávio, um homem mau humorado até com suas crianças. Ele é bem rígido.

Lucas entra procurando eu acho que o carrasco de homem.

- Ele não tá aqui, ele foi embora – digo colocando a bandeja em cima da cama.

- E quem vai ficar comigo? – ele vem até a mim e põe as mãos na cintura me encarando com seus lindos olhos verde.

- Eu, até sua mamãe chegar. Eu vou ficar do seu lado o tempo todo. – vejo ele abrir um gigante sorriso e me abraçar pelas pernas, Lucas é muito espontâneo e alegre. Percebe-se de longe quando algo não está bem Pego ele no colo e coloco sentadinho na cama olhando pra mim. Ele quando vê a seringa com a agulha arregala os olhos.

- Vai me furar de novo?

- Não, relaxa. Ele sai – tiro a agulha ficando só  a seringa com o líquido dentro – Viu só, a agulha é pra proteger e não contrair nenhuma bactéria – explico

- Me dá sua mãozinha – ele estende ela pra mim, e começo a aplicar o remédio devagarinho, ele solta uns gemidos sofridos.

- Tio isso queima – Lucas sendo exagerado como sempre.

 Em pouco tempo eu aprendi muito sobre o Lucas, sei quando tem medo, quando mente, quando está bravo e não quer conversar com ninguém. Conheci seu jeito alegre, seu jeito tímido, seu jeito dramático.

- Lucas você está exagerando, ele arde mas é bem pouquinho

- Pois eu vou perder minha mãozinha, você não gosta de mim, tá corroborando com isso – ele diz emburrado e eu seguro a risada.

- Você não vai perder sua mão. E o tio gosta de você tanto que tá te ajudando a ficar forte de novo. E a palavra certa é colaborando – termino o que estou fazendo -  Pronto seu dramático, viu sua mão tá inteirinha ai -  ele move a mão com o acesso olhando inteirinha pra ela

- Você é bom, não deixou eu perder minha mão – eu dou risada ele me acompanha rindo

- Agora já pro banheiro, tomar banho, sua janta daqui a pouco chega, e você precisa voltar pro soro – ele faz uma careta.

- Não gosto de soro, eu não posso fazer nada por conta dele.

- Mas é um resmungão mesmo, para de resmungar e vai tomar banho.

- Mas eu preciso de ajuda, minha mão tá com isso – ele balança a mão na minha frente – E minha mamãe não chegou ainda – ele disse como se todos os problemas dele fosse explicados

- Ah boa desculpa pra não tomar banho cascão. Mas eu tô aqui e vou te ajudar – ele bufou, mas me obedeceu ajudei ele a tomar banho,  com a cueca, pois ele estava com vergonha de mim, então respeitei ele  virei de costas quando foi lavar suas partes íntimas. Peguei a única roupa que tinha aqui dele, um shorts bem velhinha, uma camiseta com alguns furos e um chinelo de dedo.

                        

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Comments

Anonymous

Anonymous

Achei muito estranho pois quando uma criança chega ao hospital com sinais de maus tratos imediatamente a polícia é chamada, e com o Lucas não aconteceu nada disso, vai voltar pra casa e ser maltratado novamente

2025-01-09

1

Hacher Nanley

Hacher Nanley

Tadinho do Lucas /Sweat/ porquinha roupa coitado.

2024-09-08

0

Angela Rodrigues

Angela Rodrigues

Que lindos,ele vai salvar o Lucas do namorado da mãe cafajeste e o Lucas vai salvar ele da solidão 🥰🥰

2024-04-13

0

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