O sepultamento do pai aconteceu o mais cedo possível.
Violet queria apenas poder voltar para casa, sentar num canto e pensar, pensar muito, para talvez conseguir chorar, já que não tinha conseguido derramar uma lágrima sequer ainda.
Pensar muito, tentar acreditar que aquilo não era um pesadelo.
Precisava processar aquele filme de terror que estava a passar pela sua vida, chegando em casa ligou para o café onde trabalha, explicou a dona Mirna o que acontecera, aquela simpática senhora falou que ela podia ficar o dia em casa.
O dia foi a passar e Violet andava de um lado para o outro sem saber bem o que fazer, se perguntando a todo instante o porquê em tão pouco tempo a sua mãe e o seu pai foram embora para sempre.
Meu Deus tudo tão trágico, será que terei forças para seguir ir em frente sozinha?
Minha mãe se estivesse aqui me diria《 Filha, nunca esqueça as lições aprendidas com a dor 》
Então ali cansada, com a sua cabeça fazendo redemoinhos com tantas perguntas sem respostas, ela adormeceu no sofá da sala.
As horas passaram como loucas e quando acordou levou alguns instantes para lembrar de tudo o que acontecera.
Um pouco tonta foi até o banheiro tomou um banho, e já tentando achar forças para ir trabalhar foi até a cozinha tomar um café forte.
Agora mais do que nunca precisava muito desse trabalho.
Ainda tenho um teto, e com o pouco que ganho vou me virando.
Sim isso.
Tenho um teto, (pensamentos).
Os meus pais deixaram-me essa casa que é simples mais é o meu "lar doce lar".
Aqui ainda tem o cheirinho da minha mãe.
Um cheiro de cravo com tomilho e canela, a minha mãe fazia essa mistura para dar um cheiro aconchegante e único pra a nossa casa. "era o cheirinho da minha mãe".
Violet \= preciso vestir uma roupa que seja quente, porque olhando pelo vidro, vejo pessoas caminhando já cedo pelas ruas, indo de encontro aos seus trabalhos e estão superagasalhadas, aqui é janeiro e o frio é intenso.
Estou a tentar agir como se o meu coração não estivesse também virado em uma pedra de gelo.
Parece que ouço a minha mãe falando.
Querida filha, és jovem, doce, por onde passa encanta a todos, dona de uma força divina, mesmo em meio a tantos problemas nunca desista de acreditar que tudo o que acontece na nossa vida têm um propósito.
Sim, era isso que ela me falaria.
Saio de casa com destino ao meu trabalho, vou caminhando, pois ainda tenho um tempo.
Passo comprimentando algumas pessoas, mesmo sem conhecer é gostoso interagir e faz-me sentir um pouco menos sozinha.
Chego no café e sinto-me bem, aquele cheiro, vejo alguns rostos já conhecidos, parece que era disso que eu estava precisando pra esquecer os dois dias anteriores em que me vi tão perdida e só.
Dona Mirna quando me vê chegando, apresa-se em vir ao meu encontro ,me abraça carinhosamente, aquele abraço é bom.
DONA MIRNA
Dona Mirna \= sinto muito minha querida, mais seja forte, as perdas ensinam-nos muita coisa.
Os seus pais foram chamados para voltar para casa.
Cumpriram o que vieram fazer e precisaram voltar.
Agora seja uma boa menina, e não fique se questionando, apenas espere o tempo passar e siga.
Esperar não significa parar de lutar, mas usar esse tempo para alargar-se, para entender qual seria a escolha certa e, só assim, seremos ungidos por algum resquício de devoção quanto as demoras.
Agora vá colocar o seu uniforme, e mãos à obra, nada melhor do que se ocupar para esquecermos as amarguras da vida.
Muitas pessoas nesse café, estão a sentir falta do seu carinho e carisma na hora de servi-los.
Violet \= sim essa era minha intenção.
Visto o meu uniforme e já venho para as mesas anotar os pedidos.
Vou a uma mesa no canto onde uma moça ruiva muito linda e elegante está sentada, à mais ou menos uma semana que a vejo aqui diariamente, todas as manhãs de certeza e na mesma mesa sentada sozinha, o olhar sempre distante e vago.
O pedido é sempre o mesmo.
Sempre pede o típico café escocês.
Ele é constituído por ovos, bacon tomates grelhados, salsicha, feijões, torradas e black pudding.
Moça \= olá, bom dia flor do dia, senti a sua falta, estava de folga?
Violet \= bom dia senhorita.
Nunca imaginei que a senhorita havia-me notado.
Sim, eu estive de folga para resolver problemas familiares.
Moça \= pode-me chamar de Donatella.
Sinto os seus olhos tristes, e o seu sorriso sempre tão cativante, hoje está forçado.
Algum problema?
Como se chama querida?
DONATELLA
Violet \= chamo-me Violet senhorita.
Aquela bela moça passava-me a impressão de estar a precisar de alguém para conversar e puxava assunto comigo.
Como pode, tão linda, com certeza para frequentar um café desse nível era também de um nível financeiro alto.
Isso faz-me entender que se olharmos para o lado sempre encontraremos alguém com problemas até piores que os nossos.
Porque essa moça com esse olhar vago não estava nada bem.
Isso era nítido.
Violet \= sim, estou com alguns problemas que só o tempo poderá amenizar.
Perdi a minha amada mãe à (três) meses, vítima de um câncer, e à dois dias perdi o meu pai. na verdade, perdi o meu pai na hora que sepultamos a minha mãe, foram só questão de dias para que ele se fosse.
O meu pai não aguentou e caiu na bebida, morreu atropelado na saída de um bar.
Antes de ontem sepultei-o.
Eles foram-se e deixaram-me.
Éramos só nós três.
Donatella\= hOo bambina sinto muito.
Violet \= senhorita se me da licença preciso servir outros cafés.
Obrigado pelo carinho.
Violet seguio servindo várias mesas, o café estava cheio, o frio que estava fazendo, incentivava os clientes à entrarem no local que era tão aconchegante.
O dia passou rápido, eram quase 17 horas,Violet foi para o seu armário trocar de roupas.
Era seu horário de saída.
Engraçado essa sensação que sinto de que algo ainda está para acontecer, esse sentimento acompanhou-me por todo o dia.
Deve ser porque ainda me encontro em estado de choque, nada mais me pode ser tirado, não tenho mais ninguém.
Vou caminhar um pouco até chegar em casa para espairecer.
💭 Aquela senhorita Donatella impressionou-me muito, uma moça fina cheia de requinte, perdendo o tempo querendo conversar com uma simples empregado de mesa. Parecia mais infeliz do que eu…
"Coitada"
💭
Eu ainda lembro do tempo em que era fácil viver.
O mundo caía aos pedaços e sem eu pedir nada, havia um par de braços no meu redor a proteger-me que me dizia que eu não ia cair.
Eu ainda lembro do tempo em que era fácil querer levantar-me.
Exigia apenas uma lágrima.
Uma respiração profunda.
E erguer-me de um salto para seguir o meu caminho.
Hoje apagaram-me os caminhos.
E não está fácil.
Sinto dois braços distantes de mim, ainda crentes na minha força. E sinto a lua apagada no céu.
E o mar com ondas de mentiras.
A CAMINHO DE CASA .
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Atualizado até capítulo 98
Comments
Anilda Alves da Cruz
você vai vencer /Drool/
2024-04-22
6
Adriane Alvarenga
Começando...27/07/2023....e já estou gostando.....qta tristeza....😞😞😞😞
2023-07-27
5
Fatima Maria
MUITAS DAS VEZES PENSAMOS E DIZEMOS. PORQUE ISTO ESTÁ ACONTECENDO COMIGO!!!!!! MAIS TUDO NA VIDA TEM UM PROPÓSITO. SÓ DEUS SABE DÁ CONTINUIDADE PARA TODAS AS COISAS.
2023-06-14
1