Capítulo 4

Alice 

-Malu, Malu! -chamei minha amiga que corria com sua mochila vermelha da Hello Kitty do outro lado da sala.

Seus cachinhos ruivos se agitando para toda as direções a faziam se parecer com uma personagem animada, a princesa Merida. Tal semelhança fez com que Maria Luíza fosse apelidada de Merida por nossos colegas do colégio, entretanto somente eu, Vitória, Thalita e Rebeca ainda a chamamos de Malu, que é como ela gosta de ser chamada.

-Ali! -ela respondeu vindo em minha direção.

Nos abraçamos e caminhamos para nossas carteiras.

-Tenho uma coisa muito importante para contar. -eu disse rapidamente.

-Malu, Ali. Cadê a Vivi? -Thalita perguntou se sentando na cadeira a minha frente.

-Eu não sei. Mas ela tem que chegar logo. Quero conversar sobre uma coisa com vocês. -me dobrei por cima da mesa para me aproximar mais das minhas amigas.

O que eu tinha para falar era um segredo, então eu tinha falar baixo para que as outras pessoas não ouvissem o que eu tinha para dizer.

-Então fala logo, que eu tô ficando curiosa! -Thalita disse empurrando com o dedo indicador os óculos que deslizavam por seu nariz.

Seus cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo apertado e a franja escura que lhe cobria a testa, dava-lhe uma aparência angelical, coisa que de longe, minha amiga era. Seus olhos puxadinhos era a coisa que eu mais achava engraçada. Quando conheci a Tata, a vi há alguns metros de distância, então perguntei para minha mãe se aquela garota estava com sono. Mamãe riu e depois me explicou o verdadeiro motivo de Thalita ter olhos naqueles formatos.

-Bom diaaaa! -gritou Rebeca da porta com Vitória em seu encalço.

Rebeca era a garota mais alta da nossa turma e também a mais bonita. Com seus enormes olhos castanhos e o cabelo loiro e muito liso que lhe batia na cintura, ela era o sinônimo de garota perfeita. Sempre muito estudiosa e muito simpática, não havia sequer uma pessoa que não gostasse dela.

Vitória se sentou no lugar atrás de Malu e não disse uma palavra a qualquer uma de nós. Todas estranharam seu comportamento. Por mais que Vivi não seja a menina mais animada que conheço, também não era a mais... o que ela parecia? Triste. Vitória parecia estar triste com alguma coisa.

  Seus olhos cor de mel estavam concentrados nos próprios tênis da menina, enquanto com um dedo enrolava distraidamente uma mecha castanha de seu cabelo.

-O que foi, Vivi? -perguntei baixinho ao cutucar seu braço.

-Nada. -respondeu sem dirigir o olhar para mim.

Eu ia perguntar novamente quando o sinal que anunciava o início das aulas soou nos interrompendo.

-A gente conversa depois, hein?! -estreitei os olhos em sua direção.

Vitória deu uma risadinha abafada e concordou com um aceno de cabeça ainda olhando para os pés.

-Bom dia, turma! Como foi o final de semana de vocês? -Sérgio, nosso professor de idiomas perguntou com um sorriso em frente ao quadro negro preso a parede.

* * *

Mais uma vez o sinal soou e agora todos os alunos saíam em disparada pela porta da sala, estava no horário do recreio.

-Gente, vamos ao banheiro primeiro antes de irmos para o refeitório? Temos alguns assuntos para resolver. -eu disse erguendo uma sobrancelha.

-Vamos logo, então. Todo mundo deve estar lanchando agora, então lá deve estar vazio, pelo menos os banheiros daqui de baixo. -Malu nos alertou e saiu puxando Rebeca e Thalita pelo braço para que pudéssemos acelerar o passo.

Vitória e eu ficamos para trás enquanto as outras meninas iam apressadas na frente.

-Agora me diz, Vivi. -passei meu braço por seu ombro e seguimos as outras.

-Ah, Ali. Eu acho... eu acho que meus pais vão se separar. -confessou por fim.

-E por que você acha isso? -perguntei assustada.

-Porque, ouvi os dois brigando ontem a noite. Eu estava escutando atrás da porta do quarto deles. Mamãe disse um monte coisas, bom, na verdade ela meio que gritou que não queria mais aquilo. E que não aguentava mais essa vida. Não consegui entender o que o meu pai respondeu, só sei que o que quer que ele tenha dito fez ela chorar. -ela deu de ombros cabisbaixa.

-Vivi, pode ser que você tenha entendido errado, talvez eles... discutiram por outro motivo. Seus pais se amam, todo mundo sabe disso. Ele nunca vão se separar, eu prometo. A tia Michele e o tio André vão ficar juntos para sempre. Não é isso que as pessoas que se amam fazem? Elas se casam e vivem felizes para sempre. -eu disse sincera.

-Não sei, Ali. Mas espero que você esteja certa. -Vitória respondeu dessa vez olhando diretamente para meu rosto.

Sorri empurrando a porta do banheiro para meninas e entramos logo em seguida.

-E aí, Alice? O que é tão importante que você tem para nos contar? -Malu indagou curiosa.

-É, o que você aprontou dessa vez, Ali? -Thalita disse me olhando através do reflexo do espelho enquanto passava um batom cor de rosa na boca.

-Na verdade, é o que nós vamos aprontar. Eu preciso da ajuda de vocês para bolar um plano. É o seguinte... -comecei a explicar tudo o que eu tinha em mente até aquele momento.

-Hum, eu acho isso meio... arriscado. Sua mãe não vai ficar brava com você, Ali? -Vitória perguntou em dúvida.

-É claro que não, sua bobinha, a mãe dela nem sabe que ela vai fazer isso. -Rebeca rebateu fazendo parecer o óbvio.

-Eu acho, que é uma ótima ideia, Alice! -Malu exclamou.

-Eu também. Só precisamos começar por o plano em pratica e... até o final do ano, a tia Ana vai estar namorando! -Thalita comentou animada.

-Então é isso, gente . Vamos começar a montar algumas coisas no intervalo da aula de ciências. Está bem? -eu disse.

-Tá. Agora vamos comer, que eu tô morta de fome. -sentenciou Malu.

-Quem chegar por último no refeitório, é a mulher do padre! -gritou Rebeca.

E nos levamos do chão aonde estávamos sentadas há alguns segundos atrás e saímos correndo do banheiro as gargalhadas.

Ao virarmos a esquina no final do corredor, acabei batendo em alguém que vinha no sentido contrário e quase fui de encontro ao chão se não tivesse sido amparada pelas mãos da pessoa a minha frente.

-Ei, pequena. Cuidado! -um homem disse me pondo de pé novamente.

-Desculpa. -respondi ajeitando minha saia e olhei para seu rosto.

Era uma homem alto e diferente, eu nunca o havia visto no colégio.

-Aonde ia com tanta pressa, mocinha? -perguntou cruzando seus braços grandes.

Olhei para frente e vi que minhas amigas já haviam desaparecido pelo corredor a fora. Suspirei, eu iria com certeza chegar por último.

-Você falou que nem minha mãe, "mocinha". -a imitei na última palavra.

Rimos.

-Eu estava indo para o refeitório com minhas amigas. Agora tenho que ir, minha mãe já falou para eu não conversar com pessoas estranhas, e  estou fazendo justamente o contrário do que ela mandou, agora. -balancei a cabeça.

-Ela parece ser uma pessoa inteligente, então, obedeça o que ela disser. -ele piscou para mim.

-Tchau, pessoa estranha. -eu disse ao retornar a correr.

-...tchau, menina esperta. -o ouvi responder.

    *

Henrique se afastou ainda pensando na esperteza da menina com quem falara a pouco tempo. Era uma garotinha muito nova para ter tamanha perspicácia e sinceridade para sua tenra idade.

Enquanto divagava em seus pensamentos, Henrique sentiu seu peito tremer, mais precisamente vibrar, naquele momento. Ao tatear com os dedos sobre a jaqueta, ele descobriu a fonte da agitação. Era o aparelho celular que ele tinha em mãos no momento, sua tela se iluminava e trepidava entre seus dedos.

Henrique ficou nervoso, não sabia o que fazer no momento. Ele deveria atender aquela ligação? Talvez. Deveria ouvir a voz da pessoa do outro lado da linha? Provavelmente. E se o fizesse, teria de encarar quem quer que fosse, independente das batidas descompassadas de seu coração.

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Comments

Fatima Gonçalves

Fatima Gonçalves

,,5 anos há minha neta usava da Barbie

2024-08-17

0

Grace 🌻🌷

Grace 🌻🌷

Batom?! 💄 na boca?!😱
São mesmo crianças com quê Idade?😒

2024-05-17

1

Grace 🌻🌷

Grace 🌻🌷

😎😎😎 calma princesa.

2024-05-17

0

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