Capítulo 3

Ana Júlia 

-Acorda, meu bem. Está na hora de levantar para se arrumar para o colégio. -dei um beijo na bochecha de Alice.

-Hum... só mais cinco minutinhos mamãe. -pediu sonolenta ainda de olhos fechados.

-Se você demorar, vai ficar atrasada e não poderá comer um pedaço de bolo de cenoura com cobertura de chocolate, que a dona Marta trouxe ontem a noite. -disse saindo pela porta.

Ainda pude ouvi-la do corredor dizendo um "Já estou de pé, já estou de pé", de uma Alice bem disposta enquanto batia os pés pelo piso de madeira do quarto.

Ri de sua euforia infantil, Alice era louca com esse tal bolo da dona Marta, parecia até uma formiguinha ao ouvir a menção do mesmo.

Dez minutos depois ela apareceu na cozinha vestindo sua saia azul royal, e a camisa branca com a gola e as mangas no mesmo tom da saia e no peito o slogan do Instituto Educacional Antônio Morales, o melhor colégio da rede privada da cidade.

-Cadê os sapatos, mocinha? -indaguei olhando para seus pés descalços.

-Ah mamãe, eu vou calçar. Deixa eu só pegar um pedacinho... -ela foi esticando seus pequenos dedinhos em direção a travessa onde estava o bolo.

-Nananinanão, senhorita. Vá calçar primeiro, depois você come. Não quero que se resfrie porque ficou andando descalço nesse chão frio. -afastei suavemente sua mão.

-Aaaaah. -ela resmungou baixinho, mas mãe é mãe, e eu consegui escutá-la mesmo estando fora de vista.

-Eu ouvi, hein?! -exclamei para que ela me ouvisse.

Alice retornou no instante seguinte, agora já utilizando suas inseparáveis sapatilhas de paetê cor de rosa.

-Agora sim, princesa. -sorri e lhe servi um copo com vitamina de morango.

-Está delicioso, mamãe. Prova só! -me ofereceu seu pedaço.

-Eu pegou outro, querida. Não se esqueça de agradecer a dona Marta mais tarde.

-Tá bom. -respondeu com a boca cheia.

-Olha os modos, Alice. -a repreendi.

Alguns minutos depois, Alice estava totalmente pronta e com a mochila nas costas. Peguei minha bolsa no sofá e tranquei o apartamento.

Dentro do elevador segurando a mão de Alice, cumprimentamos alguns vizinhos que entravam e saíam pelas portas metálicas, até que chegamos a recepção.

-Bom dia, Rogério. -disse ao porteiro.

-Bom dia, meninas. Animada para mais uma semana de aula, senhorita Alice? -o senhorzinho perguntou para minha filha.

-Tô sim, seu Rogério. Diz para dona Marta que eu ameiii o bolo dela. -ela jogou charme com seu sorriso exuberante que derreteu o pobre coração do velhinho de felicidade.

-Digo sim, menina Alice. Tenham um bom dia. -ele acenou quando nos despedimos.

Já do lado de fora do prédio, fiz sinal para um táxi que havia acabado de esvaziar e entrei com Alice. Passei o endereço para o motorista e me virei para minha filha.

-A senhorita, pode parar com isso. -estreitei meu olhos em sua direção.

-Com o que? -ela se fez de desentendida piscando seus olhinhos cor de esmeralda.

-Com essa carinha de boneca que você faz para o seu Rogério e a Dona Marta. Aqueles velhinhos são muito bobos por sempre caírem nesse seu truque para angariar bolos de cenoura com cobertura de chocolate da pobre mulher. -balancei a cabeça em negativa enquanto observava o carro parar no semáforo que estava fechado no momento.

-Mas eu não fiz nada. -sorriu de maneira inocente.

-Você não tem jeito mesmo. -sorri beijando seus cabelos cacheados.

Ao chegar em frente ao colégio, descemos do táxi logo após eu pagar pela corrida. Segurei em sua pequena mão e caminhamos pelos portões de bronze da entrada.

Ao pararmos em frente sua sala de aula me abaixei para ficar em sua altura.

-Tenha um bom dia, princesinha. Faça todas as tarefas, respeite os coleguinhas e as professoras, ok? -relembrei o mesmo aviso de todos os dias.

-Tá bom, mamãe. -pulou animada querendo sair correndo de encontro as amiguinhas que já estavam dentro de sala na maior correria.

-E divirta-se. Mamãe te ama, querida. -beijei sua bochecha.

-Também te amo. -retribuiu o beijo e saiu em disparada.

-... bom dia tia, Elena. -ouvi sua voz fina dizer ao longe, e quando estava para me afastar Elena apareceu na porta.

-Bom dia, diretora Elena. Alice tem se comportado? -perguntei enquanto caminhávamos em direção ao portão de saída.

Elena era uma excelente diretora para o colégio, amorosa com as crianças porém muito firme quando necessário. Ele era uma mulher bonita e sabia conquistar desde o corpo docente, funcionários de outras especialidades até as mais variadas faixas etárias de alunos que frequentavam o instituto.

-Bom dia, Ana Júlia. -sorriu com seus dentes brancos e enfileirados a mostra.  -Isso, sequer é uma pergunta lógica. -respondeu rindo.  -Sua filha é um amor de menina, muito educada e sempre gentil. Quem dera alguns alunos serem metade do que ela é. -elogiou e senti um orgulho de minha pequena se espelhar dentro do peito.

-Bem, tenho que ir para o trabalho agora. -disse olhando para o relógio em meu pulso que marcava sete horas e cinquenta minutos.

Alice entrava em aula às oito horas, como o escritório ficava a poucos quarteirões dali, era o suficiente para que eu chegasse no serviço às oito e meia, que era o horário normal para o início do expediente, na Clean home Corretora.

-Tenha um bom dia. -desejou Elena.

-Um bom dia para você também. Nos vemos mais tarde. -respondi me referindo ao horário de buscar Alice.

Enquanto acenava já distante para um simpática Elena, não vi o movimento a minha frente e quando dei por mim já estava trombando com algo no caminho.

-Ai, caramba! -exclamei de susto ao mesmo tempo que minha bolsa aterrissava no chão da calçada do lado de fora dos portões do colégio.

-Desculpa, deixa que eu te ajudo. -uma voz grave chegou aos meus ouvidos enquanto eu me abaixava para recolher meus pertences.

-Não precisa. -respondi sem nem olhar quem era o dono de tal voz.

Suspirei exausta e irritada pelo imprevisto que me atrasaria em alguns bons minutos.

-Tudo bem, sem problema. -a pessoa a minha frente ajuntava meus papeis e os óculos de sol que haviam escapado da bolsa enquanto eu pegava algumas canetas que haviam rolado, blocos de anotação e clipes.

-Aqui. -ele estendeu os objetos em minha direção depois que eu havia colocado algumas coisas de volta na bolsa.

Só então é que me dignei a olhar para cima, e me deparei com grandes olhos verdes cor de esmeralda, me encarando. Um pequeno sorriso contido emoldurava seus lábios grossos.

-Obrigada. -agradeci após alguns segundos.

-Imagina. A culpa foi minha por essa bagunça toda. -ele sorriu como se estivesse constrangido.

Balancei a cabeça em negativa e me levantei. Eu é que não estava olhando para frente quando nos batemos, mas eu não iria insistir em um assunto banal que já estava resolvido.

Seu rosto quadrado e bronzeado era muito bonito, e sua barba por fazer o deixava com uma aparência bem sensual mesmo sem querer ser. O nariz reto e não muito grande, completava o visual deslumbrante.

Sacudi a cabeça levemente, por que eu estava pensando naquilo enquanto reparava um estranho no meio da rua? Provavelmente eu deveria estar parecendo uma louca. Com um aceno, retirei-me em passos rápidos para longe do sujeito.

Já do outro lado da rua, encontrei com minha amiga Michele no mesmo ponto de encontro de sempre e nos encaminhamos para o trabalho.

-Por que tinha um bonitão olhando para você naquela calçada e você parecia que estava fugindo de um assalto, mulher? Por acaso aquela delicinha era um assaltante? -indagou Michele revoltada com a atitude de poucos minutos atrás.

-Ai, esquece isso. Ele só estava me ajudando, só isso. -retruquei sem saber que tal interação era observada por minha amiga há alguns metros de distância no momento do ocorrido.

-Não, ele estava acenando com o braço para você, acho que estava te dando tchau ou te chamando, sei lá. -Michele deu de ombros sem saber.

    *

Ana Júlia ainda virou a cabeça para trás como se pudesse vê-lo, entretanto não podia, já estavam muito distantes do local do estranho acontecimento.

Já dentro dos portões do instituto, Elena de la Vega observava a cena que ocorria na calçada com o semblante indescritível. Instantes depois, quando seu amigo e patrão, Henrique Morales atravessou os portões cor de bronze, Elena sorriu como o gato Cheshire em Alice no país das maravilhas.

Henrique tampouco percebeu a mudança nas feições da amiga e se limitou somente a retribuir o sorriso da amiga.

-Bom dia, de la Vega. -ele a cumprimentou com um abraço.

-Bom dia, Morales. Vamos entrar. Como foi de viagem? -passou o braço pelo dele e seguiram para dentro do colégio.

-Normal como sempre. Olha, eu e uma moça nos esbarrando ali fora e as coisas dela foram parar no chão. Ela acabou esquecendo o celular para trás, eu até tentei chama-la, mas acho que ela não ouviu. -ele estendeu o aparelho para Elena. -Você conhece ou já viu aquela mulher? Ela pode ser conhecida de alguém daqui. -disse se referindo ao colégio.

Elena ponderou por alguns segundos e uma ideia veio rápida em sua mente.

-Desculpa, Henrique, não sei de quem você está falando, porque eu nem mesmo vi a pessoa. Toma, fica com ele, qualquer coisa ela vai ligar quando perceber que o perdeu. -colocou o iphone de capinha vermelha na mão do amigo.

-Tudo bem. -guardou o objeto no bolso de sua jaqueta de couro.  -Agora vamos até sua sala conversar, e saber porque você me trouxe para essa cidade. -e caminharam rumo a sala da direção que pertencia a Elena.

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Comments

Cristina Santos

Cristina Santos

Autora coloca FOTOS por favor 😍👏👏👏

2024-08-26

0

Cristina Santos

Cristina Santos

Olha a Elena sendo cupido kkk 👏👏👏

2024-08-26

0

Fatima Gonçalves

Fatima Gonçalves

fingida que não conhecia a dona do celular

2024-08-17

1

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