O som do piano ecoava suavemente pela sala de música vazia. Theo tocava com os olhos fechados, os dedos deslizando pelas teclas como se cada nota fosse uma confissão. Era sua forma de existir quando o mundo lá fora parecia barulhento demais.
Sentado na porta, escondido entre as sombras, estava Noah. Ele não era músico, mas passava por ali todas as tardes, só para ouvir. Aquela melodia que Theo criava — triste, calma, quase tímida — era o único som que fazia sentido nos dias cinzentos.
Um dia, Theo parou de tocar no meio da música. Seus olhos se abriram e se voltaram direto para onde Noah achava estar invisível.
— Você vem aqui todo dia — Theo disse, sem se levantar.
Noah congelou. Pensou em correr, mas a voz de Theo não tinha acusação. Era um convite.
— Sua música me acalma — confessou ele, saindo devagar da sombra.
Theo sorriu, meio surpreso, meio aliviado.
— E sua presença me dá coragem.
Naquele instante, não havia plateia, rótulos ou medo. Apenas dois corações que se reconheceram no silêncio entre as notas.