Eu estava sozinho, caminhando pela ilha Jeju, em uma viagem que era para ser uma simples pescaria, um descanso depois de um trabalho cansativo. O lugar estava tranquilo, bonito até demais para ser real, e o cheiro do mar misturado com o ar fresco das árvores fazia o tempo passar quase imperceptível. Mas algo naquela ilha parecia errado, como se houvesse algo escondido sob sua calmaria.
Na tarde do segundo dia, eu ouvi rumores de uma caverna nas proximidades, um lugar que ninguém ousava explorar. Os locais falavam sobre "dangeos, portais magicos e monstros que devoravam homens" e "e formigas gigantes". Eu, cético, ignorei a maioria das histórias, achando que eram apenas mitos. Mas, naquela tarde, algo dentro de mim, talvez a curiosidade ou a necessidade de algo mais, me levou até lá.
Quando entrei na caverna, senti imediatamente que o ar estava mais pesado, mais denso. Cada passo ecoava mais alto, e um frio intenso se espalhava pela minha pele, como se o lugar fosse vivo, respirando. À medida que adentrava, a escuridão parecia se fechar atrás de mim, como se me engolisse. Eu liguei minha lanterna, mas ela parecia lutar contra a escuridão, mal iluminando o que estava à frente. O som das minhas botas no chão ecoava, mas algo me dizia para parar. Algo estava lá, esperando.
Foi quando eu ouvi o primeiro ruído. Um som vibrante e retumbante, como se o chão estivesse se mexendo sob meus pés. Achei que fosse o vento ou um deslizamento de terra, mas então o chão começou a tremer. E foi então que vi.
A primeira coisa que percebi foi o movimento — uma enorme sombra se arrastando nas profundezas da caverna. Quando minha lanterna finalmente iluminou o que estava à frente, meu coração quase parou.
Era uma formiga gigante. Não uma formiga qualquer, mas uma criatura. Suas pernas eram tão grandes que o chão tremia com cada movimento, e sua carapaça reluzia com um brilho sombrio, como se fosse forjada no próprio inferno. Seus olhos, enormes e completamente negros, se fixaram em mim, e, por um momento, eu senti que estava sendo consumido por eles. Não apenas fisicamente, mas minha alma parecia ser atraída para aquele olhar. A criatura fez um som gutural, um zumbido profundo que reverberou na caverna, como um grito de guerra.
Eu não sabia o que fazer. Minha mente dizia para correr, mas o medo me paralisava. Essa formiga, ela não deveria existir. Ela não era do nosso mundo, mas ali estava, tão real quanto eu. O tremor do chão aumentou quando ela deu um passo na minha direção. O cheiro da sua presença, um odor de decomposição e terra molhada, invadiu minhas narinas. Eu tentei recuar, mas algo me impediu. O ar ficou mais pesado, como se a própria natureza estivesse me pressionando para ficar, para assistir.
A formiga levantou uma de suas enormes patas dianteiras e, com uma força aterradora, deu um golpe no chão, fazendo a caverna tremer ainda mais. Eu caí de joelhos, e foi quando a criatura se aproximou de mim. Seu rosto estava coberto por uma exoesqueleto escuro, mas os olhos... aqueles olhos penetrantes, cheios de uma inteligência maligna, observavam-me como se me estudassem, como se soubessem exatamente quem eu era, como se tivessem acompanhado minha vida inteira.
Eu senti uma dor lancinante na cabeça, como se algo estivesse tentando se infiltrar na minha mente, uma sensação de frio cortante, de desespero absoluto. No fundo da minha mente, uma voz sussurrava, uma voz que não era minha: "Você não vai sair daqui... Não há escapatória".
O pânico tomou conta de mim. Eu finalmente me levantei e corri, corri como nunca. O som do meu coração batendo no peito era ensurdecedor, mas, mais forte, eu ouvia o som dos passos da formiga atrás de mim, cada batida no chão fazendo o ambiente tremer ainda mais. Eu não olhei para trás, não ousaria. O medo me impedia de pensar, de respirar, mas algo dentro de mim sabia que a criatura estava me caçando, que ela não iria me deixar ir.
Quando finalmente consegui sair da caverna, o ar pareceu mais leve, mas o terror não me abandonou. Eu sabia o que eu tinha visto, sabia que aquilo não era um pesadelo, e o mais aterrador era o que eu sentia no fundo da minha alma. A formiga gigante, essa coisa aterradora, não estava ali por acaso. Ela não estava apenas caçando. Ela estava esperando. E eu, de alguma forma, era a presa.
Eu nunca mais voltei àquela ilha. Mas até hoje, sempre que fecho os olhos, vejo os olhos da formiga, e escuto aquele sussurro macabro que nunca vai me deixar em paz.