O Chamado do Poço
No coração de uma floresta esquecida, onde o sol mal tocava o solo, havia um poço antigo, selado por tábuas velhas e correntes enferrujadas. O povoado vizinho conhecia o lugar como o "Poço do Chamado", e poucos ousavam sequer mencionar seu nome. Diziam que algo dentro do poço chamava por você, algo que conhecia seus medos mais profundos e seus desejos mais secretos.
"Nunca olhe para dentro," alertavam os mais velhos. Mas a curiosidade humana é uma força incontrolável.
A Chegada de Miguel
Miguel era um homem cético, forte e racional. Ele não acreditava em superstições ou lendas. Após ouvir sobre o poço durante uma visita ao povoado, decidiu enfrentá-lo. “É apenas um buraco na terra”, ele dizia com desdém.
Naquela noite, Miguel pegou uma lanterna e seguiu pela trilha até o poço. O vento uivava como se sussurrasse segredos proibidos. Quando chegou ao local, o cenário era ainda mais sombrio do que ele imaginara. As árvores pareciam se curvar em direção ao poço, como se o reverenciassem.
Ele hesitou por um momento ao ouvir um som fraco, quase imperceptível: "Miguel…"
Seu coração disparou, mas ele sacudiu a cabeça. “É só o vento”, murmurou para si mesmo. Com um movimento decidido, ele arrancou as tábuas e as correntes.
O Primeiro Olhar
A luz de sua lanterna não alcançava o fundo. O poço parecia infinito, mas o som continuava. "Miguel… você me chamou." Era uma voz feminina, doce e ao mesmo tempo cheia de dor. Ele sentiu um calafrio na espinha, mas não podia recuar agora.
De repente, algo refletiu a luz no fundo. Um brilho pálido, quase como olhos. Ele inclinou-se mais, hipnotizado, quando uma mão gélida e pegajosa o agarrou pelo pulso.
Ele gritou, recuando, mas a mão desapareceu tão rápido quanto havia surgido. O poço estava novamente silencioso. Tremendo, Miguel se virou para ir embora, mas percebeu que não estava mais na floresta.
O Outro Lado
Ele estava em um corredor de pedra úmida, iluminado por tochas que crepitavam em uma chama azul. O ar cheirava a podridão. À sua frente, uma figura encapuzada caminhava lentamente, murmurando palavras incompreensíveis.
“Ei! Onde estou?” Miguel gritou, mas sua voz ecoou como se o lugar fosse infinito. A figura parou, virando lentamente. Não tinha rosto, apenas um vazio negro. Do vazio, saiu a voz familiar: "Miguel… você me chamou."
Ele correu pelo corredor, mas parecia não ter fim. Paredes surgiam ao seu redor, cada uma coberta de olhos que o observavam, piscando e girando. Ele ouviu gritos, alguns reconhecíveis como os de pessoas do povoado. O som crescia, tornando-se ensurdecedor.
Finalmente, chegou a uma porta. Era de madeira antiga, marcada com símbolos que ele não reconhecia. Quando a abriu, viu a si mesmo pendurado sobre o poço, mas desta vez, algo subia lentamente para ele.
O Chamado Final
Miguel percebeu que era tarde demais. Ele não enfrentava apenas o medo, mas a própria entidade que habitava o poço – algo antigo, insaciável, que não buscava apenas sua vida, mas sua alma.
Quando ele foi puxado para o vazio, ouviu a voz novamente, suave e zombeteira: "Você me chamou. Agora somos um."
No dia seguinte, os moradores encontraram o poço novamente selado. Apenas um detalhe novo havia surgido: Miguel, agora uma figura gravada na pedra do poço, com os olhos arregalados e uma expressão de puro terror, como um aviso eterno para os que ousassem chegar perto.
Mas o poço ainda sussurra à noite. E, às vezes, ele chama seu nome.