A Floresta dos Galhos de Ossos
No coração de uma vila esquecida pelo tempo, a Floresta dos Galhos de Ossos se erguia como um monumento ao medo. Ninguém ousava entrar. Diziam que as árvores eram feitas dos ossos das almas que a floresta devorava, seus galhos torcidos como dedos apontando para um céu indiferente. Mas, como todo lugar cercado por mistérios, sempre havia aqueles que desafiavam as histórias.
Naquela noite, Clara, Lucas, Mariana e Gabriel, quatro jovens entediados com a monotonia da vila, decidiram explorar a floresta. Armados com lanternas e bravatas, atravessaram a fronteira proibida.
A escuridão lá dentro era mais densa do que deveriam ser. O ar tinha um cheiro acre, de carne velha e terra úmida. A luz das lanternas parecia ser engolida pela escuridão, iluminando apenas vultos fugidios entre os galhos retorcidos.
Logo perceberam algo perturbador: os galhos das árvores não eram apenas parecidos com ossos. Eles eram ossos. Crânios deformados brotavam dos troncos, olhos vazios parecendo observá-los.
— Isso é algum tipo de brincadeira? — perguntou Gabriel, mas sua voz tremeu.
Mais adiante, encontraram um pequeno altar de pedra, coberto por símbolos gravados à faca. No centro, havia um crânio humano com dentes afiados, como se houvesse sido moldado para morder.
Mariana ouviu um sussurro. Era seu nome, suave como o vento:
— Mariana...
Ela virou-se, mas não havia ninguém. Quando voltou-se para os amigos, viu que eles estavam imóveis, os olhos arregalados. Algo estava atrás dela.
Quando Clara gritou, todos correram. Mas a floresta parecia viva, fechando caminhos e abrindo outros. Eles se separaram sem perceber, cada um mergulhado em um pesadelo próprio.
Lucas
Lucas tropeçou em raízes que pareciam mãos, tentando agarrá-lo. Ele caiu em uma clareira onde o chão era coberto por corpos. Cada um deles tinha um rosto conhecido: amigos, familiares... e ele mesmo. Quando tentou gritar, uma mão saiu do chão e puxou-o para a escuridão.
Mariana
Mariana seguiu os sussurros, incapaz de resistir. Eles a levaram a uma árvore com uma abertura que parecia uma boca. Lá dentro, viu o rosto de sua mãe, chorando e pedindo ajuda. Ao se aproximar, a boca da árvore se fechou, engolindo-a com um som grotesco.
Gabriel
Gabriel, sempre o cético, desafiou a floresta. — Isso é só uma ilusão! — gritou. Mas quando viu seu reflexo em um lago negro, percebeu que algo estava errado: o reflexo sorriu antes dele. Um braço ossudo saiu da água e o puxou para dentro.
Clara
Clara foi a última. Ela encontrou a árvore maior de todas, um colosso feito de milhares de ossos entrelaçados. No centro, havia um rosto humano, os olhos brilhando como brasas.
— Você liderou todos à morte, Clara — disse a voz, ecoando dentro de sua mente. — Mas não se preocupe. Você ficará aqui para sempre.
A árvore começou a envolvê-la com galhos, apertando até que seus ossos estalassem. Antes de perder a consciência, Clara ouviu um sussurro final:
— A floresta não toma; ela devolve.
O Aviso
Na manhã seguinte, os aldeões encontraram um único galho branco na entrada da floresta, com uma mensagem gravada em sangue seco:
"Para cada passo que você der, ela tomará mais do que você pode oferecer."
Desde então, ninguém ousou se aproximar da Floresta dos Galhos de Ossos. Mas nas noites mais silenciosas, os ventos trazem um sussurro:
— Mariana... Gabriel... Clara... Lucas... — Chamando pelos próximos.