A Sombra no Porão
Marina sempre evitou o porão da velha casa que herdara de sua avó. Desde pequena, havia histórias sobre sons estranhos, sussurros, e até vultos que os vizinhos juravam ter visto pelas janelas empoeiradas. Mas agora, adulta e morando sozinha, ela decidiu enfrentar o que considerava apenas superstições.
Era quase meia-noite quando ela desceu as escadas rangentes com uma lanterna em mãos. O cheiro de mofo e algo mais forte ferro, talvez - invadiu suas narinas. Cada degrau parecia afundar sob seu peso, como se a casa tentasse engoli-la.
No fim da escada, encontrou caixas antigas, um espelho coberto por um pano preto e um velho armário que parecia trancado há décadas. Quando puxou o pano do espelho, sentiu algo quente e viscoso escorrer em sua mão. Sangue.
A lanterna começou a falhar, piscando. E, entre um lampejo e outro, ela viu uma figura. Alta, magra, com braços longos e ossudos que terminavam em dedos deformados. A criatura não tinha rosto, apenas um buraco negro onde deveria estar sua boca, e dela vinham sussurros incompreensíveis.
Marina tentou recuar, mas sentiu algo agarrar seus tornozelos. Olhando para baixo, viu mãos saindo do chão, cobertas por pele cinzenta e apodrecida. Elas a puxaram com força, derrubando-a. Gritando, tentou se libertar, mas as mãos a arrastavam em direção ao armário.
Quando a porta do armário se abriu, ela viu o impossível: um corredor infinito, cheio de corpos pendurados pelas pernas, como carne em um açougue. Alguns ainda se mexiam, gemendo em agonia, enquanto outros estavam irreconhecíveis, rasgados até os ossos.
A criatura apareceu atrás dela, inclinando-se até seu ouvido. "Agora você é minha", murmurou, com uma voz que parecia o som de unhas arranhando metal.
Marina foi puxada para o armário, gritando e lutando, mas ninguém ouviu.
No dia seguinte, a casa estava silenciosa, como sempre. Apenas um espelho, agora limpo, refletia a sala vazia. Mas se você olhasse com atenção, podia ver Marina do outro lado, batendo no vidro, os olhos cheios de terror enquanto a sombra ria ao fundo.
FIM